por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Botafogo entrou jogando a mil, sufocando o Corinthians
durante toda a 1ª parte, desde a 1ª oportunidade criada por Savarino aos 3’, em
um súbito ataque por perda de bola adversária, até ao intervalo.
O Botafogo urdiu bem a teia em que enredou o Corinthians,
jogando com calma, tocando a bola na sua defesa, aproveitando as distrações do
adversário para atacar em profundidade com grande velocidade e abrir brechas à
entrada da grande área e criar grandes oportunidades de gol, especialmente pela
capacidade de Almada desmantelar a zaga paulista.
Ao contrário, a zaga do Botafogo cortava todas as bolas
que chegassem, não permitindo sequer a intervenção de John, que jogou mais
vezes a líbero do que a goleiro; o meio campo resguardava a defesa e municiava
bem o ataque, enquanto os laterais subiam no apoio e assim o Botafogo colocava
muita gente ao ataque quando as brechas surgiam na defesa corinthiana, criando
boas chances de gol.
O goleiro adversário foi uma grande figura que impediu a
abertura do placar cedo, principalmente aos 3’ quando Savarino aproveitou uma
perda de bola e quase inaugurava o marcador; aos 8’ quando Almada fuzilou o
guardião à queima rupa e ele defendeu no susto, com a defesa afastando no
rebote; ou aos 23’ quando Luís Henrique rematou e Igor Jesus à boca da baliza
perdeu gol feito.
A pressão do Botafogo era intensa e extensa: ocupava todo
o leque do terreno e à mínima oportunidade disparava em profundidade para a baliza.
A pressão sobre o adversário era simplesmente enorme e a vontade de marcar
concretizou-se numa belíssima jogada, aos 39’, em que Almada tirou o marcador
do caminho, tocou para o lado esquerdo para Savarino, que driblou o oponente e
centrou rasteiro para a pequena área e respectiva entrada fulminante de Luiz
Henrique, que empurrou a bola para as redes e finalmente inaugurou o marcador
num ‘golaço de jogada’. Botafogo 1x0.
Todavia, às vezes o Botafogo ainda comete erros de
palmatória. Após a pressão e o gol a equipa suspirou mais aliviada e eis que em
escassos dois minutos Marçal descuidou-se na marcação, o Corinthians irrompeu
pela área e Marçal ainda conseguiu o corte, mas o árbitro marcou pênalti.
Sobre o caso, duas notas: (a) revi o lance algumas vezes
e, em minha opinião, não foi pênalti, porque Marçal tocou primeiro na bola
antes dos dois atletas se enrolarem pelo gramado; (b) a jogada comprova a
necessidade absoluta de TODOS OS JOGADORES se concentrarem totalmente durante
os 90 minutos de jogo, porque quer no passado recente, quer já na ‘Era AJ’, as
distrações ocorrem por laxismo momentâneo, o foco perde-se e o adversário
marca.
Porém, o caso permitiu que John brilhasse ao defender 1º
pênalti ao serviço do Botafogo, numa noite em que a sua exibição foi bastante
boa nas poucas oportunidades que interveio, quer saindo melhor às bolas aéreas,
quer jogando ativamente com a defesa, quer mexendo-se apenas no último instante
para defender bem o pênalti e num segundo momento ainda enviar a bola para
escanteio face à aproximação de um adversário.
O intervalo chegou com sabor a coisa pouca: 2x0 ou mesmo
3x0 não seria injusto para o Corinthians, acantonado na sua defesa do início a
fim, incapaz de romper o bloqueio da nossa equipe e deparar-se com muita dificuldade
em conter os fulminantes ataques do Glorioso, alguns mal sucedidos pela
intervenção de Hugo Souza, que marcou pontos neste jogo – o que significa,
também, que a nossa afinação para os gols ainda não é a melhor e merece muito mais
treino.
No 2º tempo o Corinthians entrou com duas alterações que
melhoraram o lado esquerdo da sua defesa, por onde o Botafogo atacava mais, e
deram maior consistência ao ataque – e o jogo mudou de figura.
O Corinthians ganhou mais tempo de bola, o Botafogo tinha
mais dificuldade em sair a jogar e o ataque paulista começou acreditando que
era possível chegar à baliza adversária – e chegou. Num ataque pela ala direita
corinthiana, e já dentro da área junto à linha de fundo, Barboza ia ser perigosamente
ultrapassado e calçou o adversário antes de tocar na bola. Daronco entendeu que
não foi nada, o malfadado VAR interveio como sempre quando se trata de desfavor
ao Botafogo, Daronco foi ao vídeo, regressou com pouca convicção, mas confirmou
o pênalti, que Rodrigo Garro converteu aos 62’ e empatou a partida.
Sobre o caso, três notas: (a) o VAR está sempre contra
nós – como no 1º pênalti, que não foi pênalti, e Daronco não teve coragem de
desdizer o VAR –, mas neste caso considero que foi realmente pênalti, porque
Barboza tirou o adversário da jogada sem ter conseguido tocar na bola antes;
(b) não entendi porque razão Daronco regressou com pouca convicção após a
revisão da jogada no vídeo, porque no caso o VAR tinha razão; (c) considero
inútil, e de pouca inteligência, tanta reclamação de Marlon Freitas com o árbitro
após a confirmação do pênalti, sabendo-se que jamais um árbitro voltaria atrás
depois de coincidir com o VAR na decisão, e assim ganhou um amarelo que o
impede de jogar na próxima rodada.
O Corinthians poderia, eventualmente, ganhar um novo
fôlego para intensificar as suas tentativas, mas Thiago Almada tirou essa ideia
ao adversário apenas quatro minutos depois. Aproveitando mais um deslize da
defesa do Corinthians, Almada roubou a bola perto da meia-lua da grande área,
tirou espetacularmente dois adversários da jogada, rematou, a bola foi desviada
pelo zagueiro e acabou por entrar no ângulo superior direito da baliza à guarda
de Hugo Souza, que ficou fora da jogada e nada pôde fazer. Botafogo 2x1.
Daí em diante, percebendo a comissão técnica do Botafogo
que, apesar de o jogo ter mudado, o Corinthians não ameaçava com oportunidades
efetivas de gol, decidiu segurar o resultado com substituições nesse sentido,
que foram oportunas para o efeito em vista, incluindo a de Luiz Henrique, quer
por preservar o fôlego do jogador para a partida contra o São Paulo, quer porque
a ideia era fazer entrar jogadores que fechassem os caminhos do Corinthians
para a nossa baliza.
E assim foi até ao fim, sem nenhum intervenção importante
de John, já que o Corinthians fez apenas dois remates enquadrados com a nossa
baliza em todo o jogo, mostrando deficiência de penetração e total ineficácia
na finalização. Aliás, duas oportunidades que ocorreram já depois do placar em
2x1 foram ambas do nosso lado, evidenciando que, apesar das cautelas
defensivas, o ataque não era descurado.
Como nota final, realço que as substituições operadas no
Botafogo mostram bem que, finalmente, após longos anos de desequilíbrios, temos
um plantel à altura de novas ambições. E ainda falta gente como, por exemplo,
Júnior Santos e Eduardo.
Vitória indiscutível com os objetivos totalmente
atingidos: boa exibição e… 3 pontos no cofre da liderança!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x1 Corinthians
» Gols: Luiz Henrique, aos 39’, e Thiago Almada, aos 66’
(Botafogo); Rodrigo Garro, aos 62’ (Corinthians)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 14.09.2024
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 28.725 pagantes; 32.691 espectadores
» Renda: R$ 2.115.360,00
» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes: Rafael da Silva Alves (RS) e Lúcio Beiersdorf
Flor (RS); VAR: Igor Junio
Benevenuto (MG)
» Disciplina: cartão amarelo
– Marlon Freitas (Botafogo);
Matheus Bidu, André Ramalho e Rodrigo Garro (Corinthians); cartão vermelho – Ramón Díaz,
técnico (Corinthians)
» Botafogo: John; Vitinho (Mateo Ponte), Bastos,
Alexander Barboza e Marçal (Alex Telles); Danilo Barbosa (Allan), Marlon
Freitas e Thiago Almada; Luiz Henrique (Tiquinho Soares), Igor Jesus e Savarino
(Tchê Tchê). Técnico: Franclim Carvalho.
» Corinthians: Hugo Souza; André Ramalho, Gustavo
Henrique e Caetano (Héctor Hernández); Matheuzinho, José Martínez (Igor
Coronado), Raniele (Carrillo), Rodrigo Garro e Matheus Bidu; Talles Magno
(Breno Bidon) e Ángel Romero (Pedro Raul). Técnico: Ramón Díaz.
4 comentários:
Gostei da atuação do Botafogo, especialmente no primeiro tempo, que o time poderia ter saído com uns 3 ou 4 gols de diferença, e concordo com você, o time precisa treinar mais finalizações, e ontem não foi a primeira vez que o Botafogo perdeu tantos gols.
Já escrevi em outra oportunidade e repito: otem.me impressionado a atitude do time mesmo quando toma um gol não perde a calma e reage de forma bem contundente. E ontem foi a noite do Almada mostrar porque tem um valor alto, é craque e a tendência a medida que for se adaptando e mostrar o seu futebol em toda sua plenitude.
Finalmente temos um elenco consistente, o que dá ao treinador opções tanto no quadro inicial quanto nas mudanças durante o jogo.
Acho que o Artur Jorge precisa conversar com alguns jogadores da defesa e principalmente alertar aos jogadores que não devem ficar reclamando de marcações da arbitragem, pois nunca vi árbitro voltar atrás, e com esse var que é sempre contra o Botafogo, melhor esquecer.
Espero que todos no Botafogo tenham entendido que é jogo a jogo, e cada um deles é uma decisão. Abs e SB!
Oportunas as suas palavras, Sergio. A postura de reação da equipe, sem perder a calma, evitando o dito 'jogo eletrizante', que detesto e que não evidencia categoria técnica, é obra do AJ. O AJ acabou com as correias sem norte típicas do futebol brasileiro, que depois a mídia vem dizer que foi vitória na garra, e impôs a razão em vez da emoção à flor da pele, isto é, impôs o uso do cérebro e respectivo controlo emocional - coisa que, aliás, é o que distingue, em última análise, o ser racional dos seres irracionais. O Cérebro também é para ser usado no futebol aliando-se às qualidades técnicas que o uso da razão faz potenciar.
Depois de décadas de treineiros, temos UM treinador. Conhecia-lhe a carreira e surpreendeu-me positivamente, porque tinha algumas falhas que soube corrigir muito bem. Ademais é assertivo, fala olhos nos olhos e parece que é leal. Esperemos que não desiluda em nenhum deste quesitos. Que tenha sucesso e que não queira regressar a correr para a Europa.
Abraços Gloriosos.
Excelente o retorno do dueto das análises mais confiáveis de toda a rede!
Obrigado pelas suas palavras, Vanilson. O jogo foi bom em termos de racionalidade e assertividade, e simultaneamente urdindo jogadas que tocavam a nossa emoção e davam espaço aos desequilíbrios individuais, protagonizados sobretudo pelo Almada. Savarino em dia sim é uma peça fundamental de ligação meio campo/ataque. E Luiz Henrique, claro, é sempre perigoso nos ataques em profundidade.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário