
Manoel Baltazar Agonia do Couto, ‘Mestre Baltazar’, português da Póvoa do Varzim, grande construtor de barcos, exímio treinador de ioles e um dos maiores ícones do remo do Botafogo de Futebol e Regatas, faleceu no dia 31 de Dezembro de 2009 aos 87 anos de idade.
Mestre Baltazar foi referenciado no Mundo Botafogo no passado dia 14 de Dezembro, no artigo “General” Osmar de Souza, no qual Wilson Reeberg relatava as ‘aventuras’ do ‘General’ e referia-se a Mestre Baltazar do seguinte modo:
“General chegava no Botafogo lá pelas 10 horas, depois que o treino tinha acabado e os remadores ido embora, salvo os come-e-dorme que lá moravam, entre os quais eu me incluía. Ficava jogando conversa fora com Manoel Baltazar Agonia do Couto, português de Póvoa de Varzim, grande construtor de barcos e exímio treinador de ioles, o qual adorava uma conversa.”
Noutro artigo, o mesmo Wilson Reeberg refere-se assim a Mestre Baltazar:
“Numa tarde de 1965, estava eu na garagem de remo do Botafogo F.R. quando Baltazar Agonia do Couto, carpinteiro do clube, apresentou-me a um senhor bem alto, magro mas forte, de braços e pernas muito compridos. “Este é Engole Garfo”, disse Baltazar. Por um instante, não acreditei. Eu, que já o conhecia de nome, estava agora diante de um dos maiores mitos do remo carioca e brasileiro, do começo do século 20. Apertei-lhe a mão grande e áspera, quase uma pá de remo, enquanto ele sorria meio sem jeito, tal como fazemos todos nós, remadores, quando somos apresentados a alguém e mencionam nossos apelidos, nem sempre publicáveis. Foi um contato rápido, uma mera apresentação, pois em seguida ele foi com Baltazar, rumo à carpintaria. Eu fiquei ali, meio sem reação, vendo uma importante personagem da História do remo afastar-se.”
Verdadeiro luso-brasileiro, Mestre Baltazar era um apaixonado torcedor botafoguense [quem disse que os vascaínos ‘são’ portugueses?...] e associado de longa data da Casa dos Poveiros, sita na Rua do Bispo, nº 502, no Rio de Janeiro. Na Casa do Poveiro, comemorando o Dia do Poveiro, Mestre Baltazar declamou o poema “Oh, Maldito Abençoado Mar”, o qual homenageia os pescadores náufragos da madrugada trágica de 27 de Fevereiro de 1892, durante o qual um forte vendaval açoitou a costa norte portuguesa e, em pouco tempo, converteu o mar num cemitério de náufragos, no qual morreram, só na Póvoa, 70 homens afogados.

O poema baseia-se nos antagonismos de uma natureza protagonizada pelo mar e expressa os sentimentos de dor e alegria típicas de quem nasceu numa aldeia de pescadores:
“Quantas vezes te maldigo;
Quantas vezes te abençoo.
Te mal digo pelo quanto tens de traição,
Te abençoo pelo quanto tens de riqueza e bondade.
Sim, abençoado mar.
Foi de tua riqueza que consegui tirar os frutos para meu sustento
Foi, graças à tua bondade que meus pais me criaram,
E constitui minha família, que é a razão de minha vida e de minha luta.
Sim, maldito mar! Maldito mar! Eu te maldigo pelo quanto me fizeste sofrer.
Lembraste daquela noite de vinte e sete de Fevereiro? Quando calmo e sereno
Estavas, convidaste a todos para que, com nossos barcos, fossemos buscar
O que sempre nos ofereceste, uns peixinhos, que eram um nada da tua grande riqueza;
Mas quando penetramos em seio, tu mar maldito, movido pelo impulso
Do ódio e da traição, covardemente levaste para tuas entranhas, cento e cinco
Pobres pescadores, que até hoje os conservas em tuas profundezas, e desgraçadamente
Deixaste ao abandono esposas sem maridos, filhos sem pais, pais sem filhos,
Mães velhinhas sem seu único amparo, numa das tuas grandes fúrias assassinas.
Hoje, usando as mesmas artimanhas, arrastaste para ti meus companheiros, meu barco,
Enfim, tudo perdi, só eu me salvei.
Agora, alquebrado e vencido, ainda me restam forças para te dizer:
- Oh! Abençoado mar que tudo me deste,
- Oh! Maldito mar que tudo me levaste.
Manuel Baltazar do Couto”
Entre tão profundos sentimentos de gratidão e de revolta, a verdade é que Mestre Baltazar jamais abandonou o mar, tornando-o uma saga na sua vida e transformando-se numa das grandes figuras do remo botafoguense.
No momento em que cada qual encerra a sua presença à face da Terra, não importa saber-se como é que morreu, mas saber-se como é que viveu. E a vida de Mestre Baltazar merece aplausos.
Fontes principais:
Blogue Mundo Botafogo
http://garatujando.blogs.sapo.pt/65924.html
http://pedrasrolantes.blogspot.com/2008_04_01_archive.html
http://www.remolivre.com/rio_a_santos.html
Mestre Baltazar foi referenciado no Mundo Botafogo no passado dia 14 de Dezembro, no artigo “General” Osmar de Souza, no qual Wilson Reeberg relatava as ‘aventuras’ do ‘General’ e referia-se a Mestre Baltazar do seguinte modo:
“General chegava no Botafogo lá pelas 10 horas, depois que o treino tinha acabado e os remadores ido embora, salvo os come-e-dorme que lá moravam, entre os quais eu me incluía. Ficava jogando conversa fora com Manoel Baltazar Agonia do Couto, português de Póvoa de Varzim, grande construtor de barcos e exímio treinador de ioles, o qual adorava uma conversa.”
Noutro artigo, o mesmo Wilson Reeberg refere-se assim a Mestre Baltazar:
“Numa tarde de 1965, estava eu na garagem de remo do Botafogo F.R. quando Baltazar Agonia do Couto, carpinteiro do clube, apresentou-me a um senhor bem alto, magro mas forte, de braços e pernas muito compridos. “Este é Engole Garfo”, disse Baltazar. Por um instante, não acreditei. Eu, que já o conhecia de nome, estava agora diante de um dos maiores mitos do remo carioca e brasileiro, do começo do século 20. Apertei-lhe a mão grande e áspera, quase uma pá de remo, enquanto ele sorria meio sem jeito, tal como fazemos todos nós, remadores, quando somos apresentados a alguém e mencionam nossos apelidos, nem sempre publicáveis. Foi um contato rápido, uma mera apresentação, pois em seguida ele foi com Baltazar, rumo à carpintaria. Eu fiquei ali, meio sem reação, vendo uma importante personagem da História do remo afastar-se.”
Verdadeiro luso-brasileiro, Mestre Baltazar era um apaixonado torcedor botafoguense [quem disse que os vascaínos ‘são’ portugueses?...] e associado de longa data da Casa dos Poveiros, sita na Rua do Bispo, nº 502, no Rio de Janeiro. Na Casa do Poveiro, comemorando o Dia do Poveiro, Mestre Baltazar declamou o poema “Oh, Maldito Abençoado Mar”, o qual homenageia os pescadores náufragos da madrugada trágica de 27 de Fevereiro de 1892, durante o qual um forte vendaval açoitou a costa norte portuguesa e, em pouco tempo, converteu o mar num cemitério de náufragos, no qual morreram, só na Póvoa, 70 homens afogados.

O poema baseia-se nos antagonismos de uma natureza protagonizada pelo mar e expressa os sentimentos de dor e alegria típicas de quem nasceu numa aldeia de pescadores:
“Quantas vezes te maldigo;
Quantas vezes te abençoo.
Te mal digo pelo quanto tens de traição,
Te abençoo pelo quanto tens de riqueza e bondade.
Sim, abençoado mar.
Foi de tua riqueza que consegui tirar os frutos para meu sustento
Foi, graças à tua bondade que meus pais me criaram,
E constitui minha família, que é a razão de minha vida e de minha luta.
Sim, maldito mar! Maldito mar! Eu te maldigo pelo quanto me fizeste sofrer.
Lembraste daquela noite de vinte e sete de Fevereiro? Quando calmo e sereno
Estavas, convidaste a todos para que, com nossos barcos, fossemos buscar
O que sempre nos ofereceste, uns peixinhos, que eram um nada da tua grande riqueza;
Mas quando penetramos em seio, tu mar maldito, movido pelo impulso
Do ódio e da traição, covardemente levaste para tuas entranhas, cento e cinco
Pobres pescadores, que até hoje os conservas em tuas profundezas, e desgraçadamente
Deixaste ao abandono esposas sem maridos, filhos sem pais, pais sem filhos,
Mães velhinhas sem seu único amparo, numa das tuas grandes fúrias assassinas.
Hoje, usando as mesmas artimanhas, arrastaste para ti meus companheiros, meu barco,
Enfim, tudo perdi, só eu me salvei.
Agora, alquebrado e vencido, ainda me restam forças para te dizer:
- Oh! Abençoado mar que tudo me deste,
- Oh! Maldito mar que tudo me levaste.
Manuel Baltazar do Couto”
Entre tão profundos sentimentos de gratidão e de revolta, a verdade é que Mestre Baltazar jamais abandonou o mar, tornando-o uma saga na sua vida e transformando-se numa das grandes figuras do remo botafoguense.
No momento em que cada qual encerra a sua presença à face da Terra, não importa saber-se como é que morreu, mas saber-se como é que viveu. E a vida de Mestre Baltazar merece aplausos.
Fontes principais:
Blogue Mundo Botafogo
http://garatujando.blogs.sapo.pt/65924.html
http://pedrasrolantes.blogspot.com/2008_04_01_archive.html
http://www.remolivre.com/rio_a_santos.html
2 comentários:
A família informa que o ´Mestre Baltazar´ sofria de um câncer na bexiga detectado há 5 meses. Até essa data ele ainda trabalhava diariamente na oficina de remo do clube. A morte foi causada por complicações advindas desse câncer. A autópsia foi dispensada pela família para evitar maior sofrimento, portanto, sem ´causa mortis´ identificada.
Baltazar faleceu em casa, logo após ao despertar no dia 31/12/2009.
A família agradece sensibilizada a homenagem prestada nesse blog e também concorda com a idéia de que a imagem a ser lembrada do Mestre Baltazar é a mensagem da sua vida, ficando apenas o registro da doença para esclarecer aos amigos e companheiros que sentiram a sua ausência.
André Luiz do Couto e Sousa
Neto do Sr.Baltazar
IFP 08050687-6
Muito obrigado pelos esclarecimentos, André Luiz. Para que todos saibam que a Gloriosa e ativíssima vida de Mestre Baltazar estendeu-se formidavelmente até aos 87 anos!
Aceite os meus sinceros sentimentos.
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