terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Presente (?) de grego


por Gerson Soares
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Mané fazia sua caminhada matinal pela Praia da Barra da Tijuca. Um comerciante, botafoguense fanático, ao vê-lo, convidou-o para conhecer a sua agência de automóveis. Após longa conversa, fotos com o craque, e só do craque em alguns deles em exposição, mandou Mané escolher um. Ele gostou de um Fusca bege e o levou para casa. E me fez uma bela surpresa.

"É seu, Juca! Para você não reclamar dos bondinhos de Santa Teresa", brincou.

Na época, eu me preparava para o vestibular e morava com meus padrinhos, Claudionor e Maria Aparecida, no lúdico bairro de Santa Teresa.

Que surpresa! Ganhara um carro. Saí dirigindo meu Fusca do Joá, onde Mané e Elza moravam, até Santa Teresa. Ao chegar, foi aquela festa. Claudionor desconfiou, achava que havia algo estranho na documentação do veículo, que não estava no meu nome.

Pouco me importavam os documentos do carro. Eu estava feliz como uma criança que acabara de ganhar um brinquedo novo. Desfilava garbosamente com meu Fusca bege pelo bairro e dizia com orgulho ter sido presente de Mané Garrincha.

Na sala de aula do cursinho, sentava-me ao lado de uma bela jovem chamada Neide, que eu tentava conquistar há tempos. Era uma mulher linda, doce brancura, cabelos lisos e longos, olhos negros, nariz afilado, lábios finos, modelados: moça deslumbrante. Cobiçada pela maioria do homens da sala. Certa vez me mostrou uma reportagem sua numa revista, pois ganhara um concurso estudantil de beleza.

Numa noite, após tímidas tentativas, ela, enfim, aceitou a carona no meu carro novo. Radiante, ainda incrédulo, fantasiava os momentos que há muito vinha pretendendo ao lado dela.

Ao fim da aula, descemos juntos as escadas a caminho do estacionamento. Neide aceitou dar uma esticada até a Praia de Copacabana, andarmos pelo calçadão, aproveitando a bela noite de verão, antes de irmos para casa. Eu não me continha de tanta ansiedade, o coração parecia querer explodir. Eu estava apaixonado.

No entanto, ao chegarmos ao estacionamento dois homens me aguardavam encostados no carro. Um se identificou como oficial de Justiça e apresentou mandado de apreensão do veículo, por falta de pagamento. De início, fiquei sem entender nada. Estava envergonhado, decepcionado.

Neide foi compreensiva quando contei que ganhara o carro de presente. Fomos caminhando pelas ruas do Centro, até que o amigo Cláudio, que também tentava conquistar Neide, apareceu dirigindo o seu carro e nos ofereceu uma carona. Deixou-me na estação dos bondinhos e levou minha conquista para casa.

No dia seguinte fui à casa do Joá e contei o acontecido a Mané, que foi sucinto:

"O dono mandou eu escolher um carro. Pensei que fosse de graça. O cara ficou me ligando um tempão para eu devolvê-lo, mas eu dizia que o carro estava com você. Devolveu, Juca? Então está bom!", explicou Mané.

Fui embora chateado, frustrado, depois de três meses curtindo o Fusca bege. Estava com uma das mais belas mulheres na mão e vi tudo sumir de repente. Não senti raiva de Mané Garrincha, que fora mais uma vez usado. Acredito que tenha se vingado do comerciante por ter usado sua imagem indevidamente.

Perdi o Fusca, o presente de grego que Mané me dera. Mas não perdi a namorada.
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Fonte: www.sosserve.com.br 

2 comentários:

snoopy em p/b disse...

adoro essas histórias, rui.
muito bom!

um abraço

Ruy Moura disse...

Destas só tenho mais uma, Snoopy.

Abraços Gloriosos!

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