quinta-feira, 24 de junho de 2010

Jogos inesquecíveis: Botafogo 4x0 Vasco (I)

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A maioria dos leitores do Mundo Botafogo guarda na memória duas recordações extraordinárias: o título carioca de 1989 e o título brasileiro de 1995. Em contrapartida, eu guardo na memória um dos maiores bailes de gala que ocorreu no Maracanã durante os anos sessenta do século passado: Botafogo 4x0 diante do Vasco da Gama na final do campeonato carioca de 1968 – eu estive no Maracanã nessa tarde maravilhosa!

Em 1948, há vinte anos atrás, o estádio de General Severiano estivera lotado para assistir ao Botafogo ser campeão com 3x1 em cima do Expresso da Vitória; em 1968 o Maracanã assinalava uma das suas maiores enchentes: 141.689 pagantes para verem o Botafogo se sagrar novamente bicampeão carioca.

O Botafogo entrou como favorito e com a vantagem do empate, situação que favorecia o esquema tático preferido de Zagallo: firmar-se bem na defesa e explorar os contra-ataques.

Se em 1948 o Expresso da Vitória se achara antecipadamente campeão, tal como o Fluminense em 1957, já em 1968 o esquema passou por uma semana de cerrada guerra de nervos do Vasco da Gama contra Gérson, o cérebro da equipa botafoguense. Bianchini, centroavante do Vasco, ex-Botafogo, sjeito ruim e muito catimbeiro, prometeu quebrar a perna do Canhotinha de Ouro, assegurando que Gérson, por covardia, iria esconder-se nem campo. Porém, seguramente por castigo pedido por Carlito Rocha ao Divino, Bianchini nem sequer jogou, porque contundiu o joelho durante o treino e acabou vetado para a partida.

Nove de julho, tarde ensolarada, dia da decisão. Os times já estão em campo. O Maracanã quase explode com o delírio da galera na entrada dos dois times, um em seguida do outro, praticamente juntos. Alinhados em suas posições, lá estão aguardando o apito do árbitro. Do lado do Botafogo, Cao; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo César. Do outro lado, Pedro Paulo; Jorge Luís, Brito, Ananias e Ferreira; Buglê e Danilo Meneses; Nado, Nei, Valfrido e Silvinho.


Como era normal na equipa de Zagallo, o Botafogo arma uma defesa cautelosa seguríssima: Rogério, Carlos Roberto e Paulo César fazem um bloqueio à frente da zaga, enquanto Jairzinho e Roberto Miranda aguardam no ataque os fabulosos lançamentos longos e mortíferos de Gérson.

O Vasco da Gama iniciou o jogo mais agressivo, porque precisava da vitória, adiantando os seus laterais Jorge Luís e Ferreira, mas mostrava-se menos organizado do que o Botafogo.

Aos 2 minutos Silvinho quase abriu a contagem para o Vasco, assustando a torcida botafoguense. Mas logo a seguir Gérson lança Jairzinho em profundidade, que enche o pé; o goleiro vascaíno defende parcialmente e Gérson pega o rebote estremecendo o travessão com seu tiro de canhota.

O jogo define-se conforme o esperado: o Vasco atacando mais, mas sem organização, enquanto a equipa botafoguense aguarda a oportunidade de surpreender o adversário. E aos quinze minutos de jogo Jairzinho atrai Ananias para fora da área, estica o passe a Roberto, que disputa a corrida com Brito, e o centroavante botafoguense chega primeiro e chuta forte para inaugurar inapelavelmente o marcador: Botafogo 1x0.


A torcida botafoguense enlouquece e o Vasco da Gama descontrola-se ainda mais, porque agora precisava de dois gols para ser campeão. Então, a equipa lança-se desordenadamente ao ataque, fazendo as delícias de Zagallo, e aos 33 minutos o jogo vai ficar praticamente decidido: Jairzinho recuado, com Ananias no seu encalço, lança para Paulo César no lado esquerdo, o extremo corre até a linha de fundo e cruza à meia altura, Jairzinho e Roberto não alcançam a bola, a qual sobra para Rogério que, em corrida e na diagonal, remata novamente de forma indefensável: Botafogo 2x0.

A torcida delira novamente e a angústia toma conta da torcida e da equipa vascaína. Ao intervalo o técnico Paulinho de Almeida quer fechar o miolo da área, mas, surpreendentemente o Botafogo, retorna mais ofensivo, e pressiona com insistência a área adversária.

Aos 15 minutos do segundo tempo, Paulo César, da meia-lua, encosta a bola para Jairzinho que, livre diante do goleiro Pedro Paulo, emenda para as redes vascaínas: Botafogo 3x0. O jogo acabara definitivamente.

A torcida botafoguense comemora a vitória, a bola rola de pé em pé botafoguense e a torcida exige “olé, olé” (tê-lo-ei pedido também?...). Aos 25 minutos do segundo tempo, o juiz assinala sobrepasso do goleiro Pedro Paulo, e Paulo César, com a barreira formada, toca de leve para Gérson que marca por cobertura: Botafogo 4x0.

No campo foi a loucura total com os jogadores abraçando-se eufóricos. Na torcida, foi a festa e o delírio com a conquista de mais um campeonato com uma gloriosa goleada.

Fotos: Gentileza de Cláudio Falcão

Pesquisa de Cláudio Falcão e Rui Moura, blogue Mundo Botafogo

10 comentários:

snoopy em p/b disse...

sensacional!

Gil disse...

Rui,

Nesse jogo estava com os ouvidos coladinho no radinho de pilha. No dia seguinte fui orgulhoso para a escola!
Torcer para esse time era quase uma obrigação dos meninos na época.
Lendo a tua mensagem mais uma vez voltei no tempo e percebi que tenho gravado no subconsciente a escalação dessa verdadeira seleção. Depois teve o contratação do zagueiro Brito.
Até hoje vejo que a perda do título para o time das laranjeiras (eterno time da terceirona), posteriormente, só mesmo com o roubo escancarado que houve. Esse foi o primeiro roubo que presencei contra o nosso amado Botafogo.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

E as férias?... Perfeitas, Snoopy?...

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Só podias, Gil! Não perdes uma do Botafogo há cinquenta anos! Que bom! É uma alegria!

Abraços Gloriosos!

snoopy em p/b disse...

otimas, amigo.
mas, como tudo o que eh bom dura pouco...

abraço

Ruy Moura disse...

Fica-se sempre com vontade de discutir logo as próximas férias, não é?...

Abraços Gloriosos!

Lewis Kharms disse...

Rui, assisti a esse jogo numa televisãozinha de tubo meio arredondado. Não sei se ao vivo, mas com certeza não foi ‘a cores’. Apesar de muito novo, me lembro da impressão que me causou e que tenho até hoje, que não veio por via do ‘placar elástico’ em si, mas de um time que jogou brilhantemente -- me lembro bem disso ou acho que me lembro.

Foi ao final dessa partida que decidi ser botafoguense. Eu queria ser ‘aquilo’. Ou seja, fiquei 21 anos para ver meu time ser campeão, já que não era oficialmente botafoguense antes da final de 68.

E não vi, pois em 89 estava vivendo fora do Brasil. ‘Ouvi’ por telefone uma gravação que fizeram da narração do gol do Maurício. Nem conseguia acreditar naquilo, porque viajei poucas rodadas antes do final do campeonato e tinha a impressão de um time limitado, o que não era de todo mentira. Mas foram invictos até o fim.

Será que o Maicosuel vai ensinar Alessandro, Fahel, Leandro Guerreiro e Sandro Silva a jogarem bola?

Saudações botafoguenses!

Ruy Moura disse...

Luiz, em 68 eu tomei uma boa furada no final do turno. Fui ao Maracanã e o Vasco ganhou de 2x0 ao Botafogo, na nossa única derrota. Fui para casa sem dizer palavra, mas no returno, no último e decisivo jogo, o meu pai vascaíno teve que me aturar desde o Maracanã até casa...

Em 89 não assiti, não ouvi, não li. Foi o ano da minha maior rotura profissional e estava investindo todas a sforças no futuro que eu desejava. E que consegui.

Em 1995 acompanhei a campanha, mas sem TV. No domingo seguinte fui ao Estádio José Alvalade, do Sporting, só para passear a minha bela camisa. E todo o mundo a comentou.

Abraços Gloriosos!

Paiva disse...

Garrincha, Didi, Paulinho, Edson e Quarentinha;
Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo;
Rogério, Gerson, Jairzinho, Roberto e PC Caju

Sinceramante, eu fui muito feliz, isso ninguém tira de mim... eu acompanhei tudo isso, Graças a Deus.

Ruy Moura disse...

Paiva, dos que você citou só não tive a felicidade de ver o Paulinho Tlim-Tlim-Tlim. Eu adorava ter visto a final de 1957. Mas era muito pequeno e ainda não vivia no Rio. Os outros também ninguém mos tira. Deixe-me acrescentar o Manga. Soberbos.

Abraços Gloriosos!

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