segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O dia em que conheci a lenda Nilton Santos…

por Thayssa Bravo
2 de dezembro de 2010

…e ela era realidade!

Na porta da confortável clínica de repouso na Gávea, um afago – “aqui mora um botafoguense feliz” – e uma ameaça – “entre, mas não fale mal do Botafogo”.

Sentado numa cadeira, Nilton Santos comia bolo com a ajuda da Lili, a enfermeira, e segurava, trêmulo, uma caneca de Natal. Tudo era preto e branco – o sofá, a bandeja, as almofadas, os pôsteres nas paredes…

Em cima da geladeira, muitos chocolates, mas não todos – Nilton pede que Dona Coeli, sua mulher há mais de 40 anos, esconda das visitas os seus preferidos.

Sentada ao lado do maior lateral de todos os tempos, descobri que Nilton Santos não era uma lenda – ele era realidade. Sofrendo com mal de Alzheimer, Nilton falou pouco. Mas sorriu muito.

Ele não lembrava se havia ou não almoçado naquele dia, mas lembrou o nome do pai do Brito enquanto Dona Coeli contava suas histórias. Nilton se emocionou quando falamos de Carlito Rocha: “ele era tudo”. Mas torceu o nariz quando citamos Heleno. Nilton era como um pai para Garrincha, e a foto dos dois grudada no mural em frente à cama foi a que mais me emocionou.

Apesar da amizade com Garrincha, o companheiro de quarto de Nilton nas concentrações era Didi – “seu irmão preto”. “Por que você dividia quarto com Didi e não Garrincha, Amor?”, perguntou Dona Coeli. “Devia ser superstição”, respondeu Nilton, para a gargalhada geral.

Garrincha foi o maior ídolo do Botafogo. Mas ninguém foi e é tão fiel, tão comprometido, tão Botafogo como Nilton Santos. Talvez por isso ele tenha arrancado outras gargalhadas quando perguntou a Dona Coeli onde ele estava no pôster do Botafogo Campeão Carioca de 2010. Entristecida, ela conta também que tem dias que Nilton acorda com pressa, pedindo o uniforme do Botafogo. “Vamos, Coeli, não posso me atrasar para o treino”. Às vezes não tem argumento que o convença, e ele não sossega enquanto não veste a bermuda e a camisa do Botafogo.

Entre uma bala e um beijo carinhoso da Dona Coeli, Nilton autografou a réplica da sua camisa de bicampeão mundial, que comprei durante a Copa. E no final dessa tarde inesquecível, ele levantou da cadeira com dificuldade e disse: “velhice é uma merda”.

Deixei a clínica na Gávea com um misto de felicidade e tristeza, orgulho e lamentação. Em 17 anos de carreira, Nilton Santos conquistou 42 títulos com o Botafogo e a seleção brasileira, e nunca perdeu uma final. Nós, botafoguenses e brasileiros, também nunca vamos te perder, Nilton. Não há mal que apague o seu e os nossos sorrisos.

Obs.: Um agradecimento muito especial ao Márcio Padilha, amigo pessoal da família do Nilton, que proporcionou a mim e ao Evaldo José esse momento inesquecível.

12 comentários:

Leonel disse...

É até difícil comentar um encontro tão melancólico com nosso grande ídolo...
Que Deus o proteja sempre!

Júlio Melo disse...

Emocionante essa história. Não é a toa que a torcida do Bota coloca uma faixa nos estádios dizendo: "Nilton Santos, o maior botafoguense de todos os tempos". Este sim era exemplo de jogador. Belas histórias da "Enciclopédia"...

Eu queria parabenizar a reporter Thayssa Bravo (pelo texto) e ao locutor Evaldo José (ambos da Rádio CBN). Já faz tempo que acho o Evaldo José o melhor locutor de futebol do rádio carioca; e a Thayssa uma excelente reporter... essa dupla, junto ao comentarista Alvaro Oliveira Filho faz qualquer jogo, até quando não do Bota, ser interessante. Só ouço o futebol da CBN... já faz muito tempo que eu não sei o que é ouvir uma partida pela Rádio Globo...

Gil disse...

Querido Amigo Rui,

Viva Nilton Santos!
Viva o nosso Botafogo!
Queremos o nosso Botafogo de volta!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Milene Lima disse...

Mas assim é a vida e para isso nos encaminhamos. Imagino que isso ficará pra sempre na sua memória, mesmo o vendo tão debilitado.

Está linda a roupa nova do Blog, Rui. Decerto não gostarás do meu todo vestido de vermelho... Mas não há traição alguma. É só uma nuance, apenas uma nuance.

Meu coração é pra sempre alvinegro.

Beijos, querido.
Saudades daqui.

Ruy Moura disse...

Leonel, a melancolia é da narração, porque o Nilton é feliz. Eu mesmo o visitei na clínica e ele está muito bem, tendo em consideração a doença que sofre. Ele entende tudo, ri e todas as semanas o grande amigo Cacá visita-o e relembra-lhe imensas histórias que o fazem sorrir muito. Fala lentamente, mas sorri e lembras-e de tudo sobre futebol.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Que sorte, Júlio! Não sei se consigo pegar essa rádio aqui. O que tenho feito ultimamente - porque não suporto os comentadores do PFC, é colocar o volume da TV a zero e ouvir a Rádio Botafogo. O único inconveniente é que há 4 segundos de diferença entre o que se passa na TV e o que se ouve na rádio. Mas é melhor que ouvir locutores tão incompetentes, parciais e às vezes até mesmo imbecis.

Ainda ontem, os mesmos que dizem que os cathartiformes são hexa, apesar da CBF não validar, consideram o Fluminense bi e não tri com base no... critério da CBF! Que gente!

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Gil, o Garrincha é d elonge o maior craque. E até Jairzinho e Didi são internacionalmente mais conhecidos do que o Nilton, mas sem dúvida que ele é a maior referência botafoguense ao longo destas décadas.

Quando ele partir vai-nos fazer muita falta como símbolo vivo.

Diz-se sempre que a spessoas fazem falta e que as nações e as instituições ficam mais pobres. Não é cverdade. Outros chegam e acumulam riqueza à anterior. Mas no caso do NS, vai fazer muita falta à marca Botafogo.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Amada Milene, o vermelho é horroroso (mesmo na política prefiro o negro ao vermelho...). Mas tenho que te perdoar, porque afinal o vermelho do teu blogue significa paixão. Adoro-te, criatura botafoguense!

Dentro em breve estaremos mais próximos fisicamente. Estarei trabalhando em Brasília. Mas imaterialmente eu estou sempre por aí, juntinho a ti.

Beijos Gloriosos!

Anónimo disse...

Lindo texto, Niltao e sem duvidas meu maior idolo ^^

The Reaper

Ruy Moura disse...

The Reaper, acho que realmente o Garrincha, o Nilton Santos e o Didi são os grandes ídolos de sempre (além do 'velho' Heleno de Freitas), mas confesso que sempre tive um fraquinho pelas 'pontes' e pelos 'voos' do Manga. Foi o meu ídolo. De tal modo que eu só jogava futebol a defender as redes...

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

Rui nao se esqueca do Jairzinho, que tambem foi un grande Idolo, não so no Botafogo mas na seleção tambem.

a proposito te mandei um email com uma foto que aposto que vai gostar. daquele jogo onde o Zagallo usou 8 titulares do Botafogo na Seleção para enfrentar a argentina em 68.

S.A.

The Reaper

Ruy Moura disse...

Indubitavelmente, The Reaper. Mas o trio que citei (além do 'deus' Heleno) está na Seleção FIFA do século.

De resto, Jairzinho é conhecido em todo o mundo. Ele tinha muita alma em cima de grandes qualidades.

Abraços Gloriosos!

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