Tenho a sensação que o comportamento geral da equipa de juniores do Botafogo na Copinha foi uma espécie de “eu acho que eu acho que…”. Efectivamente, a equipa de juniores, composta por rapazes esforçados à procura do seu lugar ao Sol, pareceu-se, em muito, com a equipa principal, muitas vezes adormecida num futebol cadenciadíssimo que já não se usa, reagindo à adversidade do placar com ‘raça’ mas sem técnica, desenvolvendo um futebol muito mais reativo do que proativo, sem boa marcação na defesa, sem meio campo próximo dos atacantes, pouco veloz à frente – um futebol a medo e sem brilho.
Neste tempo de Copinha elogiei alguma organização tática da equipa e individualmente destaquei sobretudo Andrey e Sassá. Andrey pela salvação de alguns gols quase feitos e Sassá pela luta constante que manteve no ataque, muitas vezes desamparado pelos armadores.
Tais críticas não são de ontem: nos três jogos que comentei anteriormente as críticas eram óbvias e os alertas para novos caminhos foram evidentes. Não sou torcedor de ver tudo bem durante as vitórias nem tudo mal perante as derrotas. Não sou o portal do Botafogo, que a propósito do jogo em que o nosso clube chegou a estar perdendo infantilmente de 2x0 para o São José foi afirmado que o Botafogo virou “com muita raça e um ótimo futebol”.
Ora, se não houve realmente ótimo futebol foi na equipa botafoguense. Creio que os pessimistas que não indicam soluções e os otimistas que não geram críticas, não são os melhores sujeitos para incutir o debate, a crítica e a correção visando o desenvolvimento seja do que for.
Em quatro jogos o Botafogo não esteve a vencer durante o primeiro tempo uma única vez, chegando ao final dos quatro primeiros tempos empatado, apesar da fraqueza dos quatro adversários que defrontou. As entradas em campo do Glorioso foram ‘molengonas’, apáticas e displicentes. E ontem tomaram novamente um gol aos 6 minutos de jogo. Quem puder fazê-lo, reveja a sucessão impressionante de falhas na defesa botafoguense: um atleta baiano toma a bola dos pés de um alvinegro que tinha a bola dominada à entrada da área, faz um giro e passa entre (!) dois defensores, corre, centra rasteiro para a boca da baliza, a bola passa por outros dois zagueiros que pareciam estar bebendo água de côco numa praia baiana, balançando-se numa rede e observando placidamente o movimento do mar, o goleiro não sai à bola pensando que seria interceptada pela defesa e o Vitória inaugura o marcador.
O goleiro ficou de tal modo inseguro que aos 12 minutos saiu atabalhoadamente a uma bola que poderia ter dado o 2x0 devido à sua falha. É assim que se ‘criam’ frangos aos goleiros. Entretanto, os minutos passaram-se e bola no chão e chutes a gol eram coisa que não se via. As mudanças de flanco eram inexistentes e a faixa esquerda do ataque botafoguense estava invariavelmente sem povoação humana. A lentidão era muita, mas o Vitória, à boa moda das atuais equipas brasileiras – que se esqueceram da pujança do fenomenal futebol brasileiro de outrora – recuou, esperando fazer 2x0 num contra-ataque e acabou tomando um gol de bola parada, no decurso de um escanteio. Dória fez o empate de cabeça.
Estavam decorridos 21 minutos e o ‘brilhante’ narrador do PFC tratou logo de fazer contas à vida e anunciar, 69 minutos antes do fim, que a permanecer o empate haveria decisão nas grandes penalidades, e tratou de relembrar, pela enésima vez, a derrota por penalties que o Botafogo sofreu na sua única final da Copinha, em 1971. Bom locutor não é, mas afinal pode-se dedicar a ler o futuro e ganhar a vida como vidente ou tarólogo…
Mas voltemos ao assunto principal… Somente aos 29 minutos de jogo vi uma bola mudar de flanco no ataque botafoguense, aparecendo Sassá isolado à esquerda e rematando com perigo; aos 37 minutos vi pela segunda vez a mesma jogada, que resultou numa bola à trave – e não obstante o óbvio perigo que estas jogadas causavam devido a desarticularem a defesa adversária por exigências de reposicionamento, não tornei a observar nada parecido… E monotonamente se chegou ao fim do primeiro tempo com a sensação de que o Botafogo poderia estar a ganhar perante uma equipa fraca como a do Vitória, que se remeteu à defesa e aos contra-ataques, talvez ciente que este Botafogo não era para valer…
Veio a segunda parte, com muita correria, mas muito menos técnica ainda – de parte a parte, porque nenhum dos ataques em confronto tinha soluções técnicas para resolver a partida. Então, a equipa parece que se convenceu que mais tarde ou mais cedo o gol sairia. E saiu – a defesa do Botafogo falha novamente uma interseção de cabeça, a bola é atirada ao poste por um vitoriano e no rebote ocorre o segundo gol do adversário, perante a inércia absoluta da defesa do Glorioso que não se mexe a tempo de evitar o remate fatal.
A partir daí foi lamentável o que se viu em campo, com jogadores do Vitória a atirarem-se explicitamente para o chão supostamente lesionados a fim de fazerem passar o tempo. Uma vergonha que o árbitro não soube travar, que os dirigentes e os treinadores não querem eliminar e de que o futebol brasileiro é a principal vítima.
Nos últimos 20 minutos de jogo viu-se quase só isso da parte do Vitória, ao que se somou um Botafogo à procura do empate sem força e sem chama, na base da insistência, embora com um futebol muito abaixo do que seria de esperar de uma equipa que sucede à equipa campeã estadual de 2011.
Apesar da ruindade do Vitória, o Botafogo não conseguia marcar em bola corrida e acabou por empatar no último instante, obviamente no decorrer de uma bola parada e com nova cabeçada do zagueiro Dória…
O que se seguiu no desempate por penalties foi absolutamente inexplicável: quatro cobranças da marca dos 11 metros e… três falhanços!
Eduardo Húngaro tem muito trabalho pela frente, incluindo a sua própria capacidade de melhoria tática, porque o posicionamento da equipa, apesar de alguma organização ser visível, necessita de muitas correções. Inclui, também, o treino intensivo de cobranças de grandes penalidades, de faltas e escanteios, de jogadas estudadas que não apareceram, de marcações cerradas e de uma velocidade muito maior.
Para o ano há mais, e que fiquemos invictos não ao fim de quatro jogos com eliminação mas ao fim de oito jogos com a faixa de campeão...
FICHA TÉCNICA
BFR 2x2 Vitória (BA) [1-3 pen.]
» Gols: Dória (2)
» Competição: Copa São Paulo de Futebol Júnior
» Botafogo: Andrey; Gilberto, Kazu, Dória e Allano; Jadson, Octávio (Vinícius), Dedé e Gegê (Romário); Wellington (Sidnei) e Sassá . Técnico: Eduardo Húngaro, o ‘Duda’.
Imagens: Gentileza do leitor e amigo Aurelio Moraes [http://aureliojornalismo.blogspot.com]
6 comentários:
Rui,
Mais uma vez, achei a equipe muito fraca, não condizente com as esperanças nela depositadas pela torcida.
Gostei de Andrey, Gilberto, Jádson, Otávio e Sassá. O restante é fraco.
Não gostei do treinador, porque todo mundo viu o Botafogo jogar muito mal, e ele não fez mudanças para a segunda etapa.
Outro ponto negativo foi a diferença física entre os jogadores dos dois times. Desde o Brasileiro sub-20, quando se encontraram, eu notei os jogadores do Vitória muito mais fortes fisicamente. Ou os jogadores deles têm média de idade maior, ou a preparação física dos nossos é deficiente.
Outra coisa: eu sendo da diretoria, não elevaria para os profissionais os 5 garotos agora, e ainda reforçaria esse time com Alex, Cidinho e Lucas Zen, para tentar vencer a Copa São Paulo.
Saudações Gloriosas!
O Botafogo teve garra para empatar no final da partida, após a falta de profissionalismo dos jogadores do Vitória, que simulavam contusão o tempo todo, caindo sempre dois de cada vez , quando estavam na frente do marcador. Está na hora dos juízes punirem com rigor jogadores que fingem estar contundidos, quando não há claramente nenhum problema. Fora isso, o time apesar de conseguir os dois gols, mandou uma bola na trave e perdeu alguns gols incríveis, na cara do goleiro do Vitória.
Nos pênaltis, faltou tranquilidade, tanto para o goleiro Andrey, que é bom mas pulava adiantado nas cobranças, quanto dos batedores.
Sassá foi o destaque do time na competição e já pode ser integrado ao time principal.
"Eu sendo da diretoria, não elevaria para os profissionais os 5 garotos agora, e ainda reforçaria esse time com Alex, Cidinho e Lucas Zen, para tentar vencer a Copa São Paulo."
Exatamente, Émerson. Eu reforçaria a equipa júnior com Alex, Cidinho e Lucas Zen. A diretoria não percebe o prestígio que teríamos com a conquista da Copa. É por estas e por outras que não estou tão otimista quanto parte da torcida no que respeita a 2012, porque os erros de visão continuam a imperar.
Abraços Gloriosos!
Aurelio, não que o Botafogo tenha perdido gols incríveis frente ao goleiro do Vitória, porque simoplesmente essas situações não foram criadas. Aliás, a melhor de todas as situações foi do Vitória e o ANdrey salvou milagrosamente.
Quanto ao Sassá, acho que devia estar mais tempo na equipa júnior para não lhe acontecer como aconteceu ao Caio, e ser preparado adequadamente para a subida. Os juniores devem ser integrados com sabedoria, cuidados especiais e muito apoio, caso contrário muitos deles afundam por impreparação ou por deslumbramento.
Abraços Gloriosos!
Rui,
Corrija-me se estiver errado!
Acho que existe uma cultura enraizada em GS (em todas as categorias de futebol) que nenhum profissional muda.
Quantos jogos perdemos desde 2007 desse mesmo modo?
Quantos gols levamos com a bola dominada? Entregue por um jogador de defesa ou meio de campo!
Quantas vezes, principalmente em jogo decisivo, o atacante prioriza voltar para ajudar a defesa e no início do segundo tempo perde o folêgo e desaparece?
Cada derrota parece "replay" de um filme catástrofe ou de terror!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Gil, relembro que foi em 2007 que o Cuca começou a treinar o Botafogo. Talvez custe muito aos 'cuquistas', mas a herança que ele deixou é tão fatalista quanto o semblante dele. Nunca vi uma marca negativa tão profunda no Botafogo em tão pouco tempo.
Abraços Gloriosos!
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