sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Os primórdios da torcida Botafoguense

O futebol foi, nos primórdios da introdução do jogo no Brasil, lá pelos idos de mil novecentos e nada, coisa de gente finíssima. Praticado pela fina flor da mocidade, o violento esporte bretão foi encarado pelos sportmen como um duelo entre cavalheiros - pautado pelas regras da cordialidade, da fidalguia e dos valores civilizatórios europeus.

O comportamento da platéia - o termo é esse mesmo – não podia ser marcado pela rivalidade ou passionalismos que superassem o reconhecimento da grandeza do adversário. O resultado era o que menos importava. Fundamental - na vitória ou na derrota – era manter a dignidade de gentis homens em duelo.

Tudo muito bonito, e coisa e tal. Só que ao ler a fundamental e bem documentada tese de doutorado de Leonardo Affonso de Miranda Pereira Footballmania - Uma História Social do Futebol no Rio de Janeiro (a Nova Fronteira publicou e eu recomendo vivamente!), descubro que em 1907 os doutos apreciadores do ludopédio estavam preocupadíssimos com uma coisa - o comportamento inadequado da torcida do Botafogo, que, segundo jornais da época, começou a torcer de forma exagerada.

O Correio da Manhã, edição de 4 de junho de 1907, lamentava que "sportmen ligados ao Botafogo deixassem de lado a saudação do brilho das disputas para chorar nas arquibancadas a derrota de seu time". A direção do Fluminense fez uma repreensão por escrito ao comportamento dos botafoguenses, que introduziram no Rio de Janeiro, segundo os aristocratas tricolores, a "condenável prática de vaiar jogadores e juízes". Indignada, a direção do pó de arroz lamentava que em certo prélio, um jogador "teria mesmo agredido o juiz, sob a ovação geral dos sócios do Botafogo".

O mesmo Correio da Manhã, de 18 de junho de 1907, relatava cenas lamentáveis de um jogo do Carioca Football Club – um time infantil apadrinhado por sócios do Botafogo. Com fitas pretas e brancas nos chapéus, os botafoguenses – feito doidos de pedra - "torciam de maneira ostensiva e exagerada pelo time protegido, vaiando os adversários mesmo quando esses estavam machucados e invadindo o campo para comemorar os feitos do Carioca", em comportamento jamais presenciado nos gramados brasileiros.

O Correio se recusou a acreditar que tal furdunço fosse estimulado pelos sócios do Botafogo "tal o elevado conceito em que é tido este simpático club". No dia seguinte, porém, os botafoguenses assumiram os atos cometidos, atribuindo-os ao entusiasmo pelo clube.

A própria Liga Metropolitana de Futebol mostrou-se preocupada com os exageros botafoguenses. A Gazeta de Notícias, que considerava o Fluminense o ‘club chic’ por excelência, manifestou repudio aos atos tresloucados de torcedores do Botafogo, que chegavam mesmo a apupar senhoritas presentes aos estádios. Chocadas com a algazarra dos botafoguenses, as moças abanavam-se sem parar, abrindo seus leques franceses e ameaçando toda sorte de desmaios e faniquitos contra os deselegantes alvinegros. […]

É interessante […] constatar que os futebolistas, naqueles anos pioneiros do jogo em nossas terras, ressaltaram a surpreendente passionalidade que marcou a relação da torcida do Botafogo com o clube.

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