sexta-feira, 29 de julho de 2016

Me toque

por LÚCIA SENNA, escritora e cantora
escrito para o blogue Mundo Botafogo

Ontem li uma matéria, sobre a importância do toque, que me tocou profundamente. Sim, todos sabem o quanto ele é fundamental em nossas vidas, e que sem ele nos tornamos pessoas mais frágeis, pois o nosso sistema imunológico, já está comprovado, fica ‘caidinho’, sem defesas, anêmico. Ainda assim, muitos de nós resistimos a ele como uma forma de proteção da nossa privacidade, criando uma perigosa barreira que não nos defenderá de nada, ao contrário, porta aberta para a infelicidade.

Mário Quintana nos ensina, com seu jeito simples, bacana, que “se a gente cresce com os golpes duros da vida, também pode crescer com os toques suaves na alma”. Que delícia de toque...

Mas, apesar de não haver nenhuma contraindicação, podendo ser usado a qualquer hora, a todo o momento, dele ainda temos certo medo, que, quem sabe, teve início muito cedo, lá na infância, quando éramos crianças e os mais velhos gritavam nos nossos ouvidos: “Não toque na planta, ela tem espinho”; “Não toque no gatinho, ele é muito pequenininho”; “Não toque ali, nem acolá...”; “Não toque na flor, ela pode murchar!”; “Não tooooooooque, vai cair e quebrar!!!”.

Recado dado e  devidamente armazenado: não toque e não se deixe tocar, é muito arriscado e você pode sair machucado.

Mais tarde, já na adolescência, ao descobrirmos os prazeres na pele do próprio corpo, cheios de hormônios saindo pelo ladrão e nos dedicando de corpo e alma à prática da masturbação, lá vem alguém pra nos dizer que tal ato é extremamente prejudicial, imoral e, além de tudo, todo mundo fica sabendo, não dá pra fazer escondido, pois o dedo fica cabeludo e muito comprido!

Recado dado e devidamente armazenado: sentir prazer tocando no corpo é coisa do Demo, é pecado mortal, etc... e tal! E lá vamos nós, vida afora, carregados de "não me toques".

Ao nos tornarmos adultos nos damos conta que, apesar de querermos muito, temos problemas com o Toque. Tocamos tambor, piano, cavaquinho e violão, tocamos até campainha, mas ser humano não tocamos, não. Podemos ser processados por invasão de privacidade! E tudo isso por causa das lições aprendidas e apreendidas na primeira idade...

Estenda a mão na direção da mão do seu vizinho, do seu colega de trabalho, dê um grande e terno abraço no seu amigo, toque as suas pessoas e deixe-se tocar por elas. O toque traz energia e uma boa dose de vitalidade.

Ser humano tocado é ser humano feliz!

Texto: LÚCIA SENNA; Imagem: FERNANDO MOURA PEIXOTO.

10 comentários:

Anónimo disse...

Li título da crônica errado: "Me troques!"
Um susto grande levei mas, após enfoques
Conferidos e te ter visto atrás do texto
Inspirei já liberto do choque dos choques,
A verve tua, mais um petisco no cesto!

Sérgio Sampaio,
um poetinha e gourmet de palavras.

Lúcia Costa disse...

Me tocaste com teu acróstico tão cativante.
Escreves de forma divertida e instigante.
Das palavras, és mesmo um gourmet. Um gigante!
Adorei,
bjs

Anónimo disse...

Mais uma crônica super interessante e verdadeira.
Bom tema para reflexão!
Obrigada por mais um texto que nos faz pensar.
Abraço,

eunice oliveira disse...

Amiga,
E verdade sim!! por isso tenho um cachorro, pois com ele exercito o meu momento do toque.. toco e sou tocada! e uma delicia e ainda, politicamente correto..
bom, e o que tenho pro momento, ta funcionando!!

bj amiga

Lúcia Costa disse...

Eu é que te agradeço pelo comentário.
Desejo que possamos continuar compartilhando idéias e
emoções.
Abraços,

Anónimo disse...

Sempre adorei abraços, beijos fraternos, beijos de amor. O toque é mesmo vital e, é verdade, sempre fomos muito reprimidas, como se tocar fosse pecado mortal. Com essa tua crônica de alerta, fica abolido qualquer distanciamento do toque, em especial o de alma, presente nessa tua crônica tão verdadeira. Gostei. Maria Inês Galvão - jornalista e escritora.

Lúcia Costa disse...

Oi, querida
Estás certa. Um animal é excelente companhia. Nise da Silveira, renomada
psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung, chegou a utilizar animais na terapia
de seus pacientes. Considerava-os co- terapeutas.
Animais de estimação são, sem dúvida, de grande importância para o nosso
equilíbrio emocional.
Bjs,

Lúcia Costa disse...

E eu, agora, aproveito para te dar um toque: deverias publicar os teus
textos, crônicas, poesias e contos em algum blogue. São simples e complexos;
suaves e fortes; longos e curtos, mas sempre de extraordinária beleza.
Teus escritos tocam nossas almas e nos fazem pensar...
Fica a sugestão. Um toque amigo. E não me venha com " não me toques".

Bjs,

Anónimo disse...

LÚCIA,
De vez em quando entro no blog com o intuito único de ler tuas crõnicas. São sempre muito especiais e relaxantes. Funcionam quase como um LEXOTAN e , com a vantagem, de não deixar efeitos colaterais. E , se efeitos colaterais deixam, são os de otimismo e alegria na vida.
Como o Mario Quintana que citas no texto, tuas crõnicas também tocam suavemente as nossas almas. Essa que acabo de ler, fala exatamente sobre a importância do toque. E que belo toque
nos dás. Não entendi porque houve tão poucos comentários. Saiba que o texto me tocou profundamente. Obrigado pelos toques.
ARNALDO MORAES

Anónimo disse...

Bom dia, Arnaldo
É com imenso prazer que leio teu comentário. Confesso que já não esperava receber uma mensagem para essa crônica. Minha surpresa deve- se ao fato dela ter sido uma das primeiras postadas no nosso MUNDO BOTAFOGO.
E lá se vão mais de dois anos...
Fico feliz em saber que revisitaste meu texto. Toques são de suma importância: um abraço amigo, um aperto de mão, um beijo carinhoso, um toque na alma- todos esses pequenos/ grandes toques diários fazem uma diferença e tanto na nossa rotina.
Elogios são toques coloridos. Obrigada pelo arco- íris que me trazes para enfeitar meu dia.
Grande abraço,

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...