por ABILIO FERNANDES
escritor e poeta, Natal de 2016
Encantei-me com um
Papai Noel de Shopping, na véspera de
Natal.
As lojas já estavam
fechando, os letreiros se apagando e Noel caminhava em meio à multidão. Despertavam
minha atenção seus gestos delicados, seu andar compassado, sua voz pausada e
mansa.
Acenava em direção a
todos, sorria às crianças, posava em selfies
com marmanjos, contrastando com aquela gente barulhenta e apressada de chegar
ao estacionamento, formando funis junto às escadas rolantes e filas que ninguém
entende onde começam ou terminam, junto aos elevadores.
Mediano, ombros
largos, pele rosada, cabelos naturais e cacheados, misturando-se à barba
aparada, num branco de fazer inveja às nossas caras quando recebemos as faturas
dos cartões de crédito.
Aproximei-me no
momento em que arriou a mochila das costas para sacar uma garrafinha plástica,
buscando nos goles do precioso líquido ânimo para seguir em frente.
Pude notar, através
das lentes de aro fino, os olhos azuis a iluminar-lhe o semblante,
descortinando um sorriso perfeito, alvo e franco; simplesmente encantador!
Não resisti a uma
ideia! Perguntei a ele como iria regressar a casa…
Levando uma balinha
de menta à boca, Noel deixou-a dissolver um pouco, enquanto guardava o
papelzinho no bolso da jaqueta vermelha. Fitou-me nos olhos e só então
respondeu. – “Meu trenó está à porta do Shopping,
mas minhas renas estão cansadas de tanto viajar pelo mundo afora. Eu imaginei
chamar um Uber, porém, infelizmente, o cartão não passou. Mas vou pegar o Metrô
até a Barra e de lá em diante o BRT completa o percurso.”
GELEI !
Um Papai Noel digno
dos filmes de Walt Disney, que, quando crianças, adoraríamos ter levado para
casa, regressava de… Metrô e BRT! Não resisti! Com uma ideia na cabeça e um
Papai Noel na mão, fui direto ao ponto! – “Posso-lhe presentear com uma carona?”
Não respondeu logo...
Fomos caminhando lado a lado. Eu estava embasbacado, com a indumentária de caimento
perfeito, os bons modos, a simpatia, a inteligência e o bom humor desse Noel,
fora o charme do pompom balançando sobre o gorro vermelho.
DESISTIR, JAMAIS!
Imaginem!... Esse
Papai Noel, de banho tomado, ao lado da (sua) árvore de natal, (suas) fotos no
Instagram, clicadas junto às crianças, ao lado da mamãe, da vovó, da sogra, do
cachorro do genro... entregando (seus) presentes pessoalmente, com transmissão
ao vivo, pelo Face, com direito a dancinha no YouTube?
...Só para sacanear
esses amigos prosas e bobocas que infestam as redes sociais em pleno Natal, com
receitas de farofa na panela de pressão, pudim da bisavó com sobras de casca de
banana, churrasco de melancia – se riu, foi porque já experimentou.
E as fotos das
férias, na crise! Gozadas em Maricá, que não deixaram ninguém em Paes? (sic)
APELEI, É CLARO!
Levei a mão ao seu
ombro, devolvendo-lhe a fitada de olhos: – “Noel, pense bem, o Metrô a essa
hora está superlotado, sem ar condicionado, escadas paradas... e o BRT? Você
chacoalhando naqueles corredores estreitinhos, vai chegar em casa magro,
irreconhecível! Amassado, derretido igual torta de chocolate para viagem e
agitado, parecendo um espumante prestes a explodir!
Noel balançava o
pompom nervosamente. – “Tem razão! Eu me rendo, Aceito!”
GRITEI! Tamo junto?
Um abraço, uma selfie e selamos a parceria, e só não
postei porque não queria estragar a surpresa. Chegando ao estacionamento
coloquei sua mochila e minhas sacolas na mala do atrelado, acomodei Noel bem
confortável no banco do trenó com suas renas cansadas e arranquei a toda a
força com minha potente ‘duas rodas’.
Errei a saída do Shopping para ganhar mais tempo para
colocar meu plano em prática. Cheguei a agradecer à sorte um engarrafamento à
vista, e então perguntei:
– “Qual é o seu
destino?”
– “A Deus pertence". – respondeu Noel.
– “Referia-me ao
bairro onde mora, preciso programar o GPS…” – respondi sorrindo.
– “Nem se preocupe
com isso, pela hora e com o trânsito desse jeito, deixe-me em qualquer lugar.
Hoje, pra mim, só amanhã!”
Meu coração desandou
a dar pulinhos, respirei fundo e emendei: – “Se não se incomodar, pode passar a
noite na minha casa, com a minha família, é aqui pertinho, seria um prazer
inenarrável!”
Ele sorriu: – “Receio
não ter no saco um presente pra você!”
OPS! (Por isso eu
chamo de mochila!) Disfarcei, puxando conversa... – “Minha sogra ficou viúva
recentemente, comprei um conjunto de lingerie
com renda preta pra ela. Ia pedir à minha esposa, mas se você colocar na sua
mochila e fizer a entrega pessoalmente, ela vai delirar!”
Noel virou-se no
banco, sacou a garrafinha e sorveu três goles rápidos, me oferecendo uma de
suas balinhas de menta.
Durante a viagem,
elogiei seu trabalho, seus modos, sua postura... Então, ele contou ter se
formado na Escola de Papai Noel, com roupa criada por estilistas, recebendo
aulas de teatro, dicção e canto e que, estando aposentado, sobrevivia de
eventos.
Belisquei-me,
orgulhoso. Antevia um Natal inesquecível, e entraria no Ano Novo saboreando os
milhares de acessos. Queria ver a cara daqueles babacas, que lêem tudo que
escrevo e não curtem por despeito!
Chego em casa com o
meu troféu, estaciono na garagem, entro pelos fundos, tiro a esposa da cozinha
para conhecer nosso convidado especial.
Ela chora de alegria
ao saber que Noel traz algo especial no ‘saco’ para sua mãe, e que vai entregar
os nossos presentes pessoalmente – que vou transferir para a sua mochila –,
destinados às crianças e convidados.
Noel entra comigo,
acomodo-o no quarto da empregada, que se encontra de férias em Inoan (pertinho
de Maricá). Indico-lhe o chuveiro e pergunto se aceita uma dose de whisky. Ele levanta a garrafinha, para
um brinde. – “Prefiro a minha, é purinha!”
TIM-TIM!
Conto todo o plano à
esposa, ganho um beijo gostoso, sabor melancia, convido os amigos colunistas,
Fernando M. Peixoto e Lúcia Senna para o evento, só para deixá-los com água na
boca; nem de helicóptero chegariam, e não chegaram a tempo!
Prometi que pediria à
minha netinha para enviar a fita por e-mail, fazendo uma montagem incluindo-os
na festa. Os detalhes estariam no blogue Mundo Botafogo, que com certeza o Ruy
Moura, que é massa, vai levar um 10 no quesito ilustração!
A festa rolou,
maravilhosamente. As crianças a-do-ra-r@m a ideia! Gravamos, fotografamos,
fizemos a fita para o YouTube com músicas baixadas por Papai Noel, que
distribuiu os presentes (a parte que eu mais gosto é a da sogra no trenzinho só
de calcinha e sutiã, seguida de Papai Noel, balançando o pomponzinho, com a
mochila atrás!) Já está tudo pronto e editado! Uma delícia!!!
APENAS QUE!...
Como reza o contrato
que a Escola nos enviou por e-mail, esse material só poderá ser divulgado e
colocado nas redes após o pagamento do cachê do Noel, dos direitos autorais, do
INSS e do ISS da nota carioca, que perfazem um total de 7.915,60, cálculo
válido até 29.12.16, último dia útil do ano.
Ficamos endividados,
vocês precisarão esperar um pouquinho para ver as imagens. Estaremos divulgando
conta corrente e banco para um crowfunding
entre amigos. Os mais curiosos poderão adquirir um maior número de cotas para
mais cedo se conseguir liberar o conteúdo das cenas inéditas, sem cortes!
ESCLARECIMENTOS:
- MEU NOEL
INESQUECÍVEL!
Um Projeto que só foi
possível porque Papai Noel me achou com a cara do ‘cliente alvo ideal’ no Shopping. E, graças ao meu desembaraço,
agilizando o processo para que ele não perdesse essa data, nos concedeu no black-friday um desconto de 50%, que
constará nos créditos.
- NOSSO HERÓI é
solteiro, apaixonou-se pela minha sogra, Dona Gertrudes, e vai morar com ela em
Senador Camará!
ESTAMOS ENDIVIDADOS,
COLABOREM!
É CARO, MAS É JUSTO!
Reatar minha amizade
com a sogra, ainda tirando-a de casa. Foi o Melhor Natal da Minha Vida!
- E ISSO NÃO TEM
PREÇO!
- - - - - - - - -
FELIZ ANO NOVO!!!
1 comentário:
Ter perdido essa festa, deixou-me quase em depressão!
Olha, Abílio, tu és formidável. Quem, nessa nossa cidade um tanto ou quanto cabisbaixa, teria a ideia de convencer Papai Noel a aceitar uma carona e ainda ser o grande protagonista da tua festa de natal? Pelo jeito, o bom velhinho fez a alegria não só da criançada como também dos mais velhinhos. Conquistou a sogra e - CARAMBA!!!- apaixonados, se mandaram pra Senador Camará... O amor é mesmo inexplicável, pois morar em Senador Camará, só mesmo estando cegos de paixão, né não?
Tua história é tão surreal quanto a minha, intitulada " o Porco, o Peru e o Tubarão ".
Se tiveres chance, dá uma lida. Acho que vais gostar.
Parabéns, meu amigo. És a ludicidade personificada.
Que tenhas um Ano Novo que combine contigo : alegre, mágico, brilhante!
Diga aos nubentes (kkkkkk) que o meu desejo é que sejam muito felizes ( !?!?) em Senador Camará. Desafio maior não há! (kkkk)
Beijos, querido.
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