sábado, 16 de abril de 2022

Brandão Filho: histórico e polêmico dirigente botafoguense

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

José de Oliveira Brandão Filho nasceu a 27 de outubro de 1902, em Ubá, estado de Minas Gerais, e foi um importante dirigente do Botafogo nos seus tempos de maior glória futebolística.

Filho de família abastada fez os seus primeiros estudos em Ubá, chegou ao Rio de Janeiro em 1917 e tornou-se botafoguense:

- O Botafogo é um prolongamento de minha casa. Tinha 15 anos quando cheguei ao Rio. Um dia passei pela porta de General Severiano. De curiosidade, entrei. Gostei do alvinegro, nunca mais meu coração pulsou por outro clube.

Entretanto, diplomou-se pela Faculdade Livre de Direito, no Rio de Janeiro, obtendo o grau de bacharel.

No ano seguinte Brandão Filho foi nomeado Delegado de Polícia, tendo cumprido serviço em 3 delegacias, 25 distritais e 4 especializadas. Depois foi Inspetor Geral da Polícia, Delegado Regional do Rio (2ª Região) e Diretor da DPPS no governo de Getúlio Vargas. Posteriormente foi nomeado Chefe de Polícia substituto e na década de 1960 encontrava-se no Gabinete do Ministro do Trabalho como Assistente Técnico do titular da pasta. Brandão Filho também foi guarda-costas de Getúlio Vargas.

Brandão Filho jogou futebol na equipe de juvenis dirigida por Las Casas, mas considerava-se medíocre na função. Atuava como médio direito e viu-se completamente atrapalhado quando teve que marcar o ‘pequeno’ grande Nilo Murtinho Braga.

Nesse tempo, entre os seus companheiros encontravam-se Rivadávia Corrêa Méier, Nequinho e Celso Coelho de Souza. Dos 17 aos 20 anos também foi remador no Botafogo, atuando como ‘solta proa’.

Foi Vice-presidente do Clube, membro do Conselho Fiscal por longo período, dirigente de futebol em diversas diretorias, Brandão Filho foi um destacado Diretor de futebol do Botafogo, promovendo Paulo Amaral a treinador principal (1959-1961), num tempo em que o Botafogo foi campeão carioca de profissionais (1961), de aspirantes (1958-1959) e de juvenis (1961-1962-1963-1964) e possuía um celeiro de promissores atletas, maioritariamente formados nos juvenis, tais como Paulistinha, Amoroso, Édson, Marcelo, Bruno, China, etc.

Histórico do Clube, Brandão Filho era truculento e autoritário e esteve envolvido em diversas polêmicas, entre as quais a fofoca provocada por Sandro Moreyra para virar Nilton Santos contra o Clube. O Enciclopédia cortou praticamente relações com o dirigente, mas acabou por se retratar dizendo que o Botafogo o havia tratado muito bem ao nível financeiro, tendo inclusivamente sido remunerado acima do previsto inicialmente.

Aliás, no Botafogo aconteceu, mais tarde, coisa semelhante com Garrincha (incitado por personalidade alheia ao Clube), que acabou também por se retratar assegurando que já era dono da sua independência financeira, ao contrário das falsas notícias que circulavam sobre o Botafogo ter explorado sem escrúpulos o fabuloso craque, entre as quais a relacionada com o seu joelho e infiltrações para poder jogar, já que era o próprio Garrincha que queria jogar para ganhar o ‘bicho’ do jogo e que rejeitava a operação proposta pelo Botafogo.

A instabilidade de Garrincha a diversos níveis prejudicou o Clube, quer por razões de relação amorosa quer por ser incitado externamente a contrariar diretivas do Botafogo, faltando muitas vezes a treinos, desaparecendo sem se saber onde estava, recusando ser operado no Clube e realizando a operação em privado, que não correu muito bem.

Como Brandão Filho tinha um temperamento autoritário e não era uma figura das mais populares, as suas desavenças com Garrincha foram diversas, incluindo ir buscá-lo a Pau Grande armado para o levar ao treino, estando disposto a dar-lhe voz de prisão – o que não ocorreu porque Garrincha estava na casa da cantora e o dirigente ainda não estava bem a par do assunto.

Um desfecho negativo ocorreu com Quarentinha. Num dia em que marcara três gols contra o America pelo campeonato carioca, Quarentinha foi saudado por Brandão Filho com tapinhas nas costas. O sisudo Quarentinha não gostou, respondeu asperamente, o dirigente também não gostou e exigiu retratação que não foi feita pelo artilheiro, e logo em seguida foi vendido para um clube colombiano.

Brandão Filho foi também um dos botafoguenses históricos que, juntamente com Nei Cidade Palmeiro, Altemar Dutra de Castilho, Zeferino Xisto Toniato e mais 22 membros, se opôs a diversas cláusulas da escritura com a Companhia Vale do Rio Doce, que acabou por ser votada favoravelmente por 97 votos contra 26.

A advertência do ex-presidente Sérgio Darcy, construtor da sede de General Severiano, e venerado entre os seus pares como grande ‘patriarca’ do Clube, ao lado de Adhemar Bebiano, Paulo Azeredo e Carlito Rocha, não foi seguida: - «Somos poucos. Unidos, é difícil. Desunidos, é impossível».

Brandão Filho foi eleito Benemérito em 1959 e Grande Benemérito em 1975.

Fotos: Revista do Esporte, nº 58. Fontes: Revista do Esporte, nº 58; revista Placar, nºs 354 e 686; Carlos Ferreira Vilarinho (2016): O Futebol do Botafogo 1961-1965. Edição do Autor: Rio de Janeiro, pp. 268 e 271.

2 comentários:

jornal da grande natal disse...

Grande homenagem. Dirigentes também são de carne e osso. Com virtudes e defeitos.

Ruy Moura disse...

Verdade, companheiro. Brandão Filho era personagem bem à medida da complexidade humana. E nessa complexidade, por vezes excessiva, destacava-se uma grande paixão: a de defender sempre com unhas e dentes os interesses do Botafogo. Um dirigente à altura do cargo, esquecido na bruma do tempo, mas não pelo Mundo Botafogo.

Abraços Gloriosos.

Retrospecto Botafogo x Cruzeiro (1936-2024)

Créditos: Elson Souto. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo SÍNTESE DE TODOS OS JOGOS (1936-2024): 98 jogos, 23 vitórias, 33 empates e...