por
RUY MOURA
Editor
do Mundo Botafogo
José de Oliveira Brandão Filho nasceu a 27 de outubro de
1902, em Ubá, estado de Minas Gerais, e foi um importante dirigente do Botafogo
nos seus tempos de maior glória futebolística.
Filho de família
abastada fez os seus primeiros estudos em Ubá, chegou ao Rio de Janeiro em 1917
e tornou-se botafoguense:
- O Botafogo é um prolongamento de minha casa.
Tinha 15 anos quando cheguei ao Rio. Um dia passei pela porta de General
Severiano. De curiosidade, entrei. Gostei do alvinegro, nunca mais meu coração
pulsou por outro clube.
Entretanto,
diplomou-se pela Faculdade Livre de Direito, no Rio de Janeiro, obtendo o grau
de bacharel.
No ano seguinte
Brandão Filho foi nomeado Delegado de Polícia, tendo cumprido serviço em 3
delegacias, 25 distritais e 4 especializadas. Depois foi Inspetor Geral da
Polícia, Delegado Regional do Rio (2ª Região) e Diretor da DPPS no governo de
Getúlio Vargas. Posteriormente foi nomeado Chefe de Polícia substituto e na
década de 1960 encontrava-se no Gabinete do Ministro do Trabalho como
Assistente Técnico do titular da pasta. Brandão Filho também foi guarda-costas
de Getúlio Vargas.
Brandão Filho
jogou futebol na equipe de juvenis dirigida por Las Casas, mas considerava-se
medíocre na função. Atuava como médio direito e viu-se completamente
atrapalhado quando teve que marcar o ‘pequeno’ grande Nilo Murtinho Braga.
Nesse tempo, entre
os seus companheiros encontravam-se Rivadávia Corrêa Méier, Nequinho e Celso
Coelho de Souza. Dos 17 aos 20 anos também foi remador no Botafogo, atuando
como ‘solta proa’.
Foi
Vice-presidente do Clube, membro do Conselho Fiscal por longo período, dirigente
de futebol em diversas diretorias, Brandão Filho foi um destacado Diretor de
futebol do Botafogo, promovendo Paulo Amaral a treinador principal (1959-1961),
num tempo em que o Botafogo foi campeão carioca de profissionais (1961), de
aspirantes (1958-1959) e de juvenis (1961-1962-1963-1964) e possuía um celeiro
de promissores atletas, maioritariamente formados nos juvenis, tais como
Paulistinha, Amoroso, Édson, Marcelo, Bruno, China, etc.
Histórico do
Clube, Brandão Filho era truculento e autoritário e esteve envolvido em
diversas polêmicas, entre as quais a fofoca provocada por Sandro Moreyra para
virar Nilton Santos contra o Clube. O Enciclopédia cortou praticamente relações
com o dirigente, mas acabou por se retratar dizendo que o Botafogo o havia
tratado muito bem ao nível financeiro, tendo inclusivamente sido remunerado
acima do previsto inicialmente.
Aliás, no
Botafogo aconteceu, mais tarde, coisa semelhante com Garrincha (incitado por
personalidade alheia ao Clube), que acabou também por se retratar assegurando
que já era dono da sua independência financeira, ao contrário das falsas
notícias que circulavam sobre o Botafogo ter explorado sem escrúpulos o
fabuloso craque, entre as quais a relacionada com o seu joelho e infiltrações
para poder jogar, já que era o próprio Garrincha que queria jogar para ganhar o ‘bicho’
do jogo e que rejeitava a operação proposta pelo Botafogo.
A instabilidade
de Garrincha a diversos níveis prejudicou o Clube, quer por razões de relação
amorosa quer por ser incitado externamente a contrariar diretivas do Botafogo, faltando
muitas vezes a treinos, desaparecendo sem se saber onde estava, recusando ser
operado no Clube e realizando a operação em privado, que não correu muito bem.
Como Brandão
Filho tinha um temperamento autoritário e não era uma figura das mais
populares, as suas desavenças com Garrincha foram diversas, incluindo ir
buscá-lo a Pau Grande armado para o levar ao treino, estando disposto a dar-lhe
voz de prisão – o que não ocorreu porque Garrincha estava na casa da cantora e o
dirigente ainda não estava bem a par do assunto.
Um desfecho
negativo ocorreu com Quarentinha. Num dia em que marcara três gols contra o
America pelo campeonato carioca, Quarentinha foi saudado por Brandão Filho com
tapinhas nas costas. O sisudo Quarentinha não gostou, respondeu asperamente, o
dirigente também não gostou e exigiu retratação que não foi feita pelo
artilheiro, e logo em seguida foi vendido para um clube colombiano.
Brandão Filho foi
também um dos botafoguenses históricos que, juntamente com Nei Cidade Palmeiro,
Altemar Dutra de Castilho, Zeferino Xisto Toniato e mais 22 membros, se opôs a
diversas cláusulas da escritura com a Companhia Vale do Rio Doce, que acabou
por ser votada favoravelmente por 97 votos contra 26.
A advertência do
ex-presidente Sérgio Darcy, construtor da sede de General Severiano, e venerado
entre os seus pares como grande ‘patriarca’ do Clube, ao lado de Adhemar
Bebiano, Paulo Azeredo e Carlito Rocha, não foi seguida: - «Somos poucos.
Unidos, é difícil. Desunidos, é impossível».
Brandão Filho foi eleito Benemérito em 1959 e Grande
Benemérito em 1975.
Fotos: Revista do Esporte, nº 58. Fontes: Revista do Esporte, nº 58; revista Placar, nºs
354 e 686; Carlos Ferreira Vilarinho (2016): O
Futebol do Botafogo 1961-1965. Edição do Autor: Rio de Janeiro, pp. 268 e
271.
2 comentários:
Grande homenagem. Dirigentes também são de carne e osso. Com virtudes e defeitos.
Verdade, companheiro. Brandão Filho era personagem bem à medida da complexidade humana. E nessa complexidade, por vezes excessiva, destacava-se uma grande paixão: a de defender sempre com unhas e dentes os interesses do Botafogo. Um dirigente à altura do cargo, esquecido na bruma do tempo, mas não pelo Mundo Botafogo.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário