segunda-feira, 30 de maio de 2022

Botafogo 0x1 Coritiba – breves comentários

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

O caminho a percorrer afigura-se longo, longo, longo…

Claro que é um projeto para sucesso a médio prazo, mas isso exige que o processo – neste caso refiro-me apenas ao processo de desenvolvimento do plantel – evolua gradualmente. Sei que o plantel não é ‘fabuloso’ e que algumas contratações – que me pareceram bastante erradas – nem sequer vão funcionar. No entanto, é necessário identificar progressos a cada jogo. E desde o jogo contra o Flamengo – porque o do Ceilância foi mais treino do que jogo – a evolução praticamente estagnou, verificando-se tão somente uma melhoria na qualidade do passe (mas antes da entrada da grande área) e maior posso de bola.

O Botafogo apresenta os mesmos erros que fez contra o Fortaleza e o América Mineiro. Entra mal no jogo, depois equilibra e descansa, até que toma gol – sempre na primeira parte – e depois vai em busca do prejuízo na segunda parte. Uma vez conseguiu a vitória no fim, outra vez chegou ao empate, agora levou a derrota. Eu já avisara… E contra o Coritiba era pelo menos para empatar.

Parece haver falta de vontade no início da partida, falta rapidez sobre a bola, falta concentração para não tomar gols como o de ontem, falta pontaria e ou força no remate – sobretudo fora da área – falta capacidade criativa, falta rapidez sobre a bola, falta variedade de jogadas no ataque, falta aproveitar bem as bolas paradas, falta também verticalidade para alternar com posse de bola, falta jogadas ensaiadas. O volume ofensivo é muitas vezes fútil e uma parte significativa da % de posse de bola do Botafogo é feita no nosso próprio meio campo. Falta tanto, tanto, tanto…

Observe-se retroativamente os últimos três jogos do campeonato (incluindo o de ontem) e a semelhança no desempenho é quase total, quer da muita passividade na primeira parte, quer da carência de eficácia no volume de jogo em busca dos três pontos na segunda parte – porque a vitória sobre o Fortaleza teve uma grande dose de sorte.

Destaques de ontem no Botafogo: a Torcida do Botafogo e Gatito, evidentemente; Oyama, jogador praticamente sozinho no meio campo inexistente do Botafogo; Saravia, novamente o destaque negativo – não creio rigorosamente nada neste jogador – ao qual se juntaram Piazon, ocasionalmente Kanu, que falhou grosseiramente no gol do Coritiba por falta de concentração e rapidez sobre a bola, e também o técnico Luís Castro com escalação e algumas substituições equivocadas – embora eu reconheça as suas dificuldades numa equipe a costurar partindo de retalhos. Espero que se redima rapidamente e dê outra força, outro ânimo, outra concentração e outra objetividade à equipe de modo a ultrapassar as suas claríssimas deficiências técnicas e o fraco discernimento na hora de decidir.

E no Coxa, três atletas essenciais: Alex Muralha nos dois momentos decisivos de gol para o Botafogo, Matheus Alexandre que não deixou passar nada na sua defesa; Igor Paixão, que infernizou diversas vezes a defesa do Glorioso. Vitória justa.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 0x1 Coritiba

» Gols: Igor Paixão, aos 27’

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 29.05.2022

» Local: Couto Pereira, em Curitiba (PR)

» Árbitro: Braulio da Silva Machado (SC); Assistentes: Kleber Lúcio Gil (SC) e Henrique Neu Ribeiro (SC); 4º Árbitro: Leonardo Ferreira Lima (PR); VAR: Emerson de Almeida Ferreira (MG)

» Disciplina: cartão amarelo –  Victor Cuesta, Erison e Chay (Botafogo) e Guillermo, Val, Alex Muralha, Guilherme Biro e Clayton (Coritiba)

» Botafogo: Gatito; Saravia (Hugo), Kanu, Victor Cuesta e Daniel Borges (Rikelmi); Luís Oyama, Del Piage (Lucas Fernandes) e Chay (Matheus Nascimento); Diego Gonçalves (Lucas Piazon), Victor Sá e Erison. Técnico: Luís Castro.   

» Coritiba: Alex Muralha; Matheus Alexandre, Guillermo, Marcio Silva e Guilherme Biro (Diego); Willian Farias, Val (Bernardo) e Thonny Anderson (Régis); Igor Paixão, Fabrício Daniel (Pablo García) e Léo Gamalho (Clayton). Auxiliar Técnico: ‘El Toro’ Acuña.

6 comentários:

Sergio disse...

É claro que não se pode de deixar de criticar o Luís Castro, inclusive ele assumiu a responsabilidade pela derrota. O elenco é limitado e parece que ainda não entendeu o que está sendo proposto, pois as oscilações e falhas individuais por pura falta de atenção tem custado caro; o gol de ontem foi um exemplo de total falta de atenção.
É claro que o treinador tem uma parcela de culpa maneira de jogar do time, porém é preciso ressaltar que algumas decisões equivocadas dos jogadores ao longo da partida não podem ser atribuídas ao treinador. Me lembro de uma entrevista do Zagallo em que ele falou sobre esse aspecto: " a gente treina situações de jogo, as melhores alternativas de jogo, entretanto o treinador não tem como tomar as decisões corretas dentro do jogo, isso cabe aos jogadores".
Verdade seja dita que o Textor foi bem claro que essas contratações poderiam dar certo ou não, e que na segunda janela faria as devidas correções. Além disso o americano assumiu com a temporada iniciada e contratar jogadores de qualidade com a maioria destes com contratos vigentes e multas rescisórias com alto valor impede boas contratações. O John Textor é rico mas não é louco e mesmo assim gastou bastante dinheiro. Talvez o fato mais relevante é que o time não tinha uma espinha dorsal, haja visto a fraca campanha no fraquíssimo carioca. A herança deixada em termos de elenco foi muito ruim.
Finalmente há de se levar em consideração o desnível físico do elenco, jogadores em fim de temporada, outros sem jogar há algum tempo e o treinador desconhecendo o elenco. E foi interessante que ele falou mais ou menos aquela famosa frade do Didi: "treino é treino, jogo é jogo", além do que os adversários tem o mesmo objetivo do Botafogo.
Se olharmos a classificação e os jogos podemos perceber o equilíbrio da competição, bastante nivelada, e nivelada por baixo. Por exemplo, o América Mineiro venceu o Galo, ontem massacrou o Corinthians que empatou por acaso e como li de um torcedor corintiano que o time do Corinthians consegue empatar mesmo jogando mal. A diferença entre a pontuação do primeiro coçado e a do Botafogo é de 3 pontos. O problema é que a torcida comprou a idéia ilusória que esse time brigaria pelas primeiras posições, e aí uma chuva de críticas absurdamente infundadas.
O time atual é para meio da tabela, e vamos torcer que a segunda janela traga jogadores que possam realmente fazer a diferença, pois o que temos no momento e agradecer por ter feito 12 pontos. E um pequeno detalhe, jogar bem e bonito depende muito da qualidade dos jogadores, sem isso acho difícil ver grandes exibições desse time. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Concordo consigo na generalidade, Sergio. No entanto, a expressão do Didi "treino é treino, jogo é jogo" não merece a minha concordância. Há muitos treinadores na Europa que só escalam quem treina bem. Mesmo que seja craque, treinou mal, não está apto para jogar no fim de semana. Recentemente, o treinador do Sporting prescindiu de um grande jogador por causa dele não se aplicar no treino, e foi obrigado a procurar clube. Iso impõe discilina e exigência na aplicação tanto no treino como no jogo. Também penso que o Castro não se refere exatamente a isso quando mencionou que as equipes que mais jogam são as que mais vencem. Ele está falando da Europa, o Brasil não é a Europa. Em primeiro lugar, há muito mais jogos no Brasil do que na Europa, na generalidade. Depois, a temperatura a que se joga no Brasil é muito superior à temperatura europeia e desgasta muito mais os jogadores. Além disso, os jogadores não têm a disciplina de tipo europeu nem a preparação física tão robusta como na Europa. Então, não concordo com o Castro sobre essa matéria, porque é necessário treinar, sobretudo no caso do Botafogo, que ainda é uma manta de retalhos que necessita de ser bem cozida. Tem que haver equilíbrio entre o número de jogos e o tempo para treinar, caso contrário o número de jogos prejudica a preparação e a má preparação resulta mal no decorrer dos jogos. Creio que ele ainda não se apercebeu que as condições brasileiras são diversas da Europa e precisa adaptar-se a algumas delas. E, por outro lado, adaptar outras ao estilo de jogo que quer impor.

Quanto à qualidade, a equipe é realmente de meio da tabela, mas, ainda assim, é preciso que se possa ver progressos, porque se assim não for qualquer Enderson Moreira serviria. Ou ele consegue algo realmente melhor rapidamente em termos de dinâmica de jogo e de entrega dos jogadores ou a conversa sobre o BFR ser uma família não procede. Aliás, não gosto dessa conversa. Nem dessa nem da conversa de que treinador é "um pai" - treinador não pode ser pai, tem que ser líder. O futebol do Botafogo não pode ser uma família, tem que ser algo profundamente profissional, com muito empenho, muita luta, muita exigência. Família é outra coisa.

Mas acredito que com tempo ele possa alavancar o futebol do Botafogo, embora ainda não tenha a certeza que seja treinador para uma estadia de anos. Pode ser ou pode não ser, depende de como terminarmos o ano, e só terminamos bem se o JT puxar dos cordões à bolsa e gastar dinheiro a sério no reforço da equipe. Entãoé que veremos se o Luís Castro está encaminhado para a 2ª fase, isto é, a consolidação do trabalho efetuado em 2022.

Abraços Glorosos.

Sergio disse...


A questão do " treino é treino, jogo é jogo" eu entendo que as situações de treino e de jogo são distintas, não significa treinar bem ou mal e com ou sem afinco mas s que a motivação num jogo é distinta, porque o adversário busca o mesmo objetivo, num treino por mais empenho que exista nunca será igual a disputa. O Didi quando falou isso se referia ao Moacir Cabeça, que no treino jogava muito e no jogo não jogava nada,. Curiosamente o Didi chegou a ser reserva do Moacir. Lembrando que o Carli ficou muito tempo na reserva porque treinava mal. Acho que a distinção entre treino e jogo e mais ou menos o que o Garrincha perguntou a Feola: " o senhor combinou com o russos?". E o que o Castro falou sobre a distinção entre treino e jogo, pelo menos o que entendi foi a questão da motivação e do empenho do adversário, que é sempre maior do que num treino.
Eu as vezes comparo futebol com a minha profissão de músico de orquestra, um ensaio por mais concentrado e com bastante empenho nunca será igual uma apresentação aí vivo, o nível de concentração e adrenalina é muito maior, inclusive pela presença do público.
Evidentemente que não há espaço para a indolência num treino, mas para mim as situações de jogo e treino são distintas. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Nesse foco eu concordo consigo. A motivação dos três pontos é diferente do que se pretende num treino, mas a exigência deve ser máxima e o mais possível próximo do que se quer fazer em campo. Mas eu penso que não era sobre isso que o LC falava. Ele quis desvalorizar o excesso de jogos com o argumento de que quanto mais jogos mais ritmo. Certo, mas também quanto mais jogos mais saturação, mais desgaste, etc. Não concordo com ele. Eu penso que ele ainda não percebeu o quadro no qual evolui o futebol brasileiro nem o seu modo de jogar. Tem que estudar bem os adversários, que criar uma equipe base, porque ao fim dos jogos que já fez é altura de jogar com uma equipe base a partir da matéria prima de que dispõe e deixar-se de testes. Eu penso que ele devia ter já colocado alguns atletas na prateleira e jogar com os melhores (ou menos maus) que tem pelo menos até ter reforços, se é que o Textor alinha nesses reforços, porque parece que está mais interessado em comprar mais clubes do que focar-se em um ou dois. Em todo o caso, o LC precisa de dar mais dinâmica à equipe, definir um modelo de jogo que ainda não está realmente definido, a não ser a posse de bola pouco objetiva, e criar jogadas versáteis que ainda não vi. Jogadas surpreendentes ainda não vi nos últimos jogos de campeonato. Os adversários estão encontrando modos relativamente fáceis para anular o jogo do Botafogo. Em minha opinião, o único atleta imprevisível é o Erison, e um pouco, muito pouco, o Vitor Sá. Há o Matheus Nascimento, que tem técnica para fazer a diferença, mas ainda é muito jovem e pouco robusto fisicamente, precisando de ser muito trabalhado.

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Concordo que o Castro precisa de um time base, inclusive porque é pela repetição de um mesmo time que os jogadores se conhecem. E também concordo quando você diz que o LC ainda não se internou completamente da dinâmica do futebol brasileiro, que xiga- se de passagem é muito ruim. Com um campeonato brasileiro estressante como o nosso, não há mais sentido em se perder 3 meses com os estaduais que estão completando esvaziados. Enfim, estamos muito atrasados em termos de futebol, mas o pior é que estamos atrasados sob muitos aspectos. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Sergio, totalmente de acordo. O estadual, na medida em que é uma grande tradição de rivalidade, poderia ter o seguinte modelo: BFR, CRF, FFC, CRVG classificados automaticamente, todos os anos, para as quartas de final, onde defrontariam os 4 melhores classificados da 1ª fase (realizada, por exemplo, nos dois últimos meses de cada ano) com clubes 'médios' e 'pequenos'; os vencedores jogavam as semifinais e os vencedores respetivos iam à final. Fariam 3 jogos. Ou 4, caso a final fosse em duas mãos. Mantinha-se a tradição e aligeirava-se muito o calendário.

Abraços Gloriosos.

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