por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo
Três pontos ganhos. G4 na classificação geral. Dever cumprido. Galera feliz. Mas…
…não gostei deste jogo em que pouco foi conseguido do ponto de vista da evolução processual. A eficácia foi brutal (3 gols) em relação à produção, cuja eficiência deixou a desejar em vários capítulos.
O Fortaleza possui uma boa equipe e, aparentemente, só por acaso está na lanterna do campeonato. Estudaram bem a equipe do Botafogo, defenderam-se com rigor e contra atacaram sempre que havia uma brecha para o efeito. Quanto ao Botafogo, foi burocrático, lento, desinspirado, mesmo sendo favorecido por jogar contra 10 a maior parte do tempo.
Desde o início do jogo o Botafogo deixou-se envolver numa correria favorável ao Fortaleza, já que a correria pode fazer o que muita gente gosta de designar como jogo ‘eletrizante’, mas que é sinônimo de plano de jogo descontrolado que muitas vezes favorece os contra ataques das equipes com menos recursos no momento. E o Botafogo foi nisso: correu, correu, correu, em vez de rolar a bola, efetuar variações, cansar o adversário e entrar nos buracos da agulha que conseguisse criar.
O Fortaleza optou por encaixar uma alta pressão sobre o seu meio campo e, com isso, desequilibrar as linhas do Botafogo, encontrar espaços entre linhas e disparar para a nossa baliza. E foi assim que acabou chegando ao gol, jogando nas costas de Daniel Borges, mal posicionado, e que aos 17’ presenteou uma oferenda ao Fortaleza: a abertura do placar.
Daí para a frente o Fortaleza mostrou capacidade organizativa e o Botafogo incapacidade de sair do seu meio campo em triangulações e de penetrar na defesa adversária, errando muito no posicionamento em campo, comprometendo sucessivamente os seus passes, quer os longos quer muitas vezes os de curta distância, e falhando sucessivamente todos os cruzamentos para a área, prontamente rechaçados pelo Fortaleza. A versatilidade evidenciada noutros jogos falhou neste.
Entretanto o Fortaleza continuou a explorar a sua arma letal: passes diagonais para explorar o contra ataque nas costas da zaga alvinegra, não ampliando o placar por mero acaso.
E depois ocorreu o momento talvez mais crucial da partida: Ceballos foi infantil tomando o segundo amarelo e sendo expulso, tendo a cobrança de falta iniciado o lance formidável em que Erison entra como um raio na pequena área e de cabeça empata a partida aos 41’. É notável o oportunismo deste atleta, que faz gols de toda a maneira e aparece sempre de modo inesperado para concluir com categoria.
Se o primeiro tempo correu mal ao Botafogo, o segundo tempo foi lastimável. O Fortaleza defendeu-se como um Leão e o Botafogo mostrava-se incapaz de fazer perigar seriamente a baliza adversária, embora pudesse ter virado com Tchê Tchê aos 51’ ou com Erison, que fez gol mas estava com um pé à frente do último adversário e viu o gol invalidado.
O Fortaleza ainda teve a chance de tornar a marcar, sempre nas costas da nossa defesa. Neste particular, creio que Saravia fez um jogo muito fraco, recuperou mal do ataque e acabou por ser sucessivamente vencido. Aliás, Saravia é um dos atletas que muitas vezes corre, corre, corre, sem largar a bola, prejudicando a dinâmica coletiva. É um sério caso para, futuramente, sermos derrotados devido ao seu posicionamento em campo. Bruno Henrique fez o quis dele no jogo contra o Flamengo, e ontem foi semelhante. Luís Castro devia tê-lo substituído bastante mais cedo, assim como alterar a tática mais cedo já que beneficiava de 11 contra 10. Só a entrada (tardia) de Vinícius Lopes acrescentou alguma versatilidade ao ataque.
Os números da partida, fora a posse de bola – muitas vezes sem eficácia –, mostraram equilíbrio e o jogo foi-se arrastando favoravelmente ao Fortaleza. O Botafogo fazia rotação do setor intermédio, com posse de bola segura, mas sem assustar e com penetração quase nula no último reduto adversário. Os escanteios não surtiram efeito, os cruzamentos também não e os remates sem direção completavam a ineficiência.
Até que a sorte nos bafejou quando tudo se encaminhava para um empate sem glória. Aos 88’, após muita insistência pelo meio, Patrick de Paula cobrou uma falta, o goleiro esgueirou-se para defendê-la pelo lado direito da baliza, a bola bateu em Pikachu e desviou-se para o lado contrário, traindo o goleiro e fazendo a virada a favor do Botafogo. E como a sorte gosta de companhia, Daniel Borges entrou na área pelo lado direito já nos acréscimos, chutou, o goleiro defendeu, a bola voltou a ele, tentou então centrar, mas um desvio levou a bola ao fundo da baliza: 3x1 Botafogo.
É curioso que Marcelo Boeck não teve que efetuar nenhuma defesa verdadeiramente difícil, porque o Botafogo chutava fraco à figura ou para fora, e todavia tomou três gols: dois com sorte nossa, e um devido a Erison ter sido mais eficaz sobre a bola do que o goleiro.
Só vos digo, companheiros de escudo, que, após este jogo mal conseguido, há muito trabalho a fazer, muita coisa a corrigir, há atletas que não servem para o esquema de jogo de Luís Castro, a necessidade de reforços é fundamental.
Adiante para o novo objetivo: ganhar ao América Mineiro!
FICHA TÉCNICA
Botafogo
3x1 Fortaleza
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Gols: Erison, aos 41’, Patrick de Paula, aos 88’, e Daniel Borges, aos 90+3’
(Botafogo); Moisés, aos 17’ (Fortaleza)
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Competição: Campeonato Brasileiro
» Data:
15.05.2022
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Local: Estádio Olímpico Nílton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
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Público: 21.782 pagantes; 23.616 espectadores
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Renda: R$ 577.396,00
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Árbitro: Jefferson Ferreira de Moraes (GO); Assistentes: Alessandro Álvaro
Rocha de Matos (BA) e Fabrício Vilarinho da Silva (BA); VAR: Daiane Caroline
Muniz dos Santos (SP)
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Disciplina: cartão amarelo – Kanu, Patrick de Paula e Diego Gonçalves
(Botafogo) e Ceballos (Fortaleza); cartão vermelho – Ceballos (Fortaleza).
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Botafogo: Gatito Fernández; Saravia (Hugo), Kanu, Cuesta, Daniel Borges; Luís
Oyama, Tchê Tchê (Patrick de Paula), Lucas Fernandes (Chay); Victor Sá, Diego
Gonçalves (Vinícius Lopes) e Erison. Técnico: Luís Castro.
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Fortaleza: Marcelo Boeck; Tinga, Marcelo Benevenuto e Brayan Ceballos; Yago
Pikachu, Felipe, Hércules, Lucas Lima (Renato Kayzer) e Lucas Crispim (Igor
Torres); Moisés (Juninho Capixaba) e Sílvio Romero (Titi). Técnico: Juan Pablo Vojvoda.
4 comentários:
Perfeito Ruy, realmente o Botafogo ontem não foi bem e o Luís Castro falou algo muito parecido em vários pontos com o que você escreveu.
Sem dúvida o time ainda carece de jogadores que façam a diferença, em especial um jogador de meio que pense o jogo, tenha habilidade para fazer o jogo correr, não temos esse jogador no elenco e com isso é evidente a dificuldade que o time do Botafogo tem contra time que se fecham bem.
Além do espaçamento que o time teve ontem, os erros de passes e a precipitação foram fatores preponderante para as enormes dificuldades que o time encontrou contra um adversário de qualidade e muito bem treinado, é estranho o Fortaleza estar na lanterna do campeonato.
Não hã dívida que pelo que ouvi na coletiva do treinador botafoguense pelo que observou, há muito trabalho de correções esta semana.
Ontem a sorte esteve ao nosso lado, mas o Botafogo não pode nem deve contar com a sorte. ABS e SB!
Totalmente de acordo com as suas observações. Especialmente em relação a algo que não mencionei desta vez explicitamente - talvez porque já o fizera em comentários a jogos anteriores - é a inexistência de um verdadeiro pensador de jogo. Por exemlo, um Seedorf...
Mas também faltam ponteiros e mais um homem de área que possa substituir Erison em momentos cruciais de jogo oupor impossibilidade do Erison. Portanto, 4 reforços seria fundamental na próxima janela de transferências.
Abraços Gloriosos.
Ontem Saravia, Daniel Borges, Victor Sá estiveram muito abaixo do que podem, e Lucas Fernandes foi igualmente uma decepção. Quem se sobressaiu com uma atuação brilhante foi Victor Cuesta. A lanterna do Fortaleza é mentirosa, enfrentamos um grande adversário. Textor irá abrir a carteira para a segunda janela de transferências, se estivermos no G-4 no período, lutaremos pelo título. Esse campeonato tem tudo para ser o mais equilibrado dos últimos anos.
Abraços, saudações alvinegras!
Concordo, Saulo. Esses 4 estiveram mal. Em minha opinião, a eles pode-se juntar o Chay, que não me parece jogador para equipe grande da Série A. Foi útil na B, mas na A...
Também tenho o mesmo sentimento/pressentimento sobre o Textor: vai abrir os 'cordões à bolsa' e talvez contratar uns 4 jogadores para posições cruciais. Aí então talvez possamos pensar um pouco mais alto do que a meta definida à partida (meio da tabela). Porém, o campeonato é longo e difícil, e por agora os jogadores devem pensar apenas e exclusivamente numa meta: ganhar o próximo jogo. E depois o próximo jogo. E a seguir o próximo jogo... (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
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