quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Botafogo 0x2 Cuiabá – entre a razão e a emoção

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Eu não podia assistir ao jogo e programei a gravação, mas perante tal resultado confesso-me indisponível para gastar uma hora e meia vendo o Botafogo perder para… o Cuiabá e em casa!

Perdemos dois jogos do campeonato com o Cuiabá por 2x0 e novamente contra uma equipe lutando contra o Z4, repetindo tantos outros passados recentes. É inaceitável, porque o antigo Botafogo levado à beira da falência pelas suas diretorias já devia ter morrido e um novo Botafogo está chegando!

Donde, o que estou escrevendo inspira-se numa leitura rápida da Lancenet e na minha experiência como torcedor.

Ao contrário da maioria esmagadora dos torcedores eu sempre apreciei mais os goleiros e os técnicos do que os que marcam os gols, assim como sempre dei muito mais importância a uma defesa bem estruturada do que a um ataque avassalador.

Em primeiro lugar porque é muito mais difícil defender do que atacar, já que a iniciativa e o imprevisto partem sempre de quem ataca e quem defende tem que ‘adivinhar’ o movimento seguinte de quem ataca.

Em segundo lugar, porque os ´vilões’ ou os ‘bodes expiatórios’ são sempre os goleiros e os técnicos. Os goleiros porque não podem falhar, caso contrário são os vilões das derrotas, segundo os torcedores; os técnicos não podem falhar porque então sendo ‘burros’ e assim se adaptam facilmente, em última análise, à figura de bode expiatório, na medida em que é muito mais simples despedir um técnico do que meia equipe que, por exemplo, falha gols sucessivos em frente à baliza e o ‘malvado’ técnico não foi lá para chutar por eles.

Parece que ontem Tiquinho, Júnior Santos, Jeffinho, Tchê Tchê e talvez outros falharam gols inacreditáveis em frente à baliza ainda no 1º tempo e antes do gol adversário, que por sua vez terá sido fruto de mais uma desatenção da zaga, que continua se desconcentrando durante a partida, segundo o que pude ler. Ora, bastaria um gol para o Cuiabá ter que mudar de estratégia e abrir-se mais a eventuais contra ataques do Botafogo.

Por outro lado, quem é Jacob Montes para entrar no meio campo? E porque razão Patrick de Paula, que fora bem no último jogo, ficou o tempo todo no banco? Castro dirá que nós torcedores e eles comentaristas não sabem tudo o que se passa por dentro dos bastidores e consequentemente não têm dados para julgar. Ora, por favor, caro Luís Castro… Você mesmo disse que erra, o que é normal. O que não é normal é não emendar os erros atempadamente.

Mas, além disso, o ataque teve mais 50 minutos para, pelo menos, empatar após o gol do Cuiabá, mas o que sucedeu foi o Cuiabá ampliar logo no início da 2ª parte e praticamente liquidar quaisquer esperanças do Botafogo, que ainda não descobriu como penetrar em defesas muito fechadas.

Porém, há algo que considero talvez ainda mais importante do que o que escrevi até aqui: trata-se das expectativas para a pré-Libertadores, que podem estar gerando muita ansiedade na equipe.

Já vi, em todo o mundo, muitas vitórias e derrotas resultantes de expectativas excessivamente otimistas ou excessivamente pessimistas. Umas e outras são más para o futebol, no âmbito não apenas dos torcedores mas, sobretudo, dos jogadores.

Questiono-me: se não estamos ainda matematicamente garantidos na Copa Sul-americana, se as previsões de Textor e de Castro eram a classificação entre o 9º e o 12º lugar do Brasileirão, e consequentemente a classificação para a Copa Sul-americana, porque razão se queimou essa etapa ainda não atingida e se passou a objetivar a pré-Libertadores?

Pois bem, em minha opinião esse foi o erro maior: ter-se começado a focar ansiosamente a Libertadores com uma equipe saída da 2ª divisão e ainda ‘em construção’, criando um peso acrescido sobre os ombros dos jogadores.

Se estamos ‘em construção’ é racional que queiramos já a Libertadores – que não temos condições de ganhar – em vez de nos focarmos na garantia de classificação para a Sul-americana e podermos, em 2023, conquistar dois títulos que almejamos há muito tempo, como sejam a Copa do Brasil e a Copa Sul-americana?

Que sejamos nós torcedores a embarcar nas nossas próprias emoções desfocando-nos do alvo acessível e com possibilidades de vitória, em vez de nos focarmos numa prova que não deve ser o nosso objetivo para 2023, eu compreendo, mas que seja o próprio treinador a subir a fasquia e a tornar os ombros dos atletas mais pesados, então já não compreendo.

Sendo Castro imensamente racional, porque razão não se centrou naquilo que seria a sua grande conquista em 2022 classificando-se com tranquilidade e aplausos para a Copa Sul-americana, na qual tem fortes possibilidades de fazer a equipe brilhar, e passou a focar-se no enorme risco de uma Libertadores cujos resultados são totalmente incertos? E seguindo esse caminho talvez até chegasse à pré-Libertadores com naturalidade, sem obrigação…

Já acompanhei os comportamentos de muitos técnicos e tenho a certeza que quando se sai de uma situação de diminuição (no caso, saída da Série B e acesso à Série A) a prudência deve ser um grande trunfo para uma trajetória consistente e bem-sucedida. Castro e uma boa parte de comentaristas e torcedores lançaram peso excessivo na equipe ao subirem a fasquia, e parece que ontem Castro voltou a mencionar que essa fasquia está ao alcance.

Meus amigos, em casos como o nosso, os treinadores mais bem-sucedidos focam-se no jogo seguinte, na vitória seguinte e nada mais. Não distraem os jogadores com conjeturas abstratas: concentram-se na conquista dos 3 pontos do jogo seguinte e nada mais.

Ocorre até que se a fasquia não fosse subida antes de tempo, talvez nos classificassemos mesmo para a pré-Libertadores, mas nesse caso sem ansiedade nem pesos excessivos. Subindo as expectativas antes de tempo e gerando-se ansiedade excessiva, o mais provável mesmo é não chegarmos a esse patamar. Talvez seja a nossa sorte…

E é claro que, concentrando-nos nos 3 pontos jogo a jogo e nada mais, galgaríamos os patamares de objetivos e chegaríamos realmente à Libertadores, mas então com muito mais consistência psicológica para a disputar sem esse peso em cima dos ombros de jogadores de uma equipe ‘em construção’ e que sequer ainda garantiu matematicamente a classificação à Copa Sul-americana. Parece-me, por isso, um erro de palmatória.

Sejamos positivos, sempre, crentes do regresso à Glória, mas sem esquecer que há 27 anos não conquistamos grandes títulos em futebol e que o caminho certo está agora próximo e tem que ser bem pavimentado, sob pena de algum temporal inesperado ser suficiente para quebrar o que está em construção.

Os sonhos constroem-se e crescem em tempos próprios. Como diz o provérbio original, “Rome ne fu pas fait toute en un jour (Roma não se fez em um dia).

Certamente uns estarão em acordo comigo e outros em desacordo, mas este foi o meu contributo reflexivo para que possamos agir mais racionalmente nas nossas expectativas e não amassarmos a nossa alma desnecessariamente. Precisamos dela serena e generosa para as conquistas no futuro próximo!

FICHA TÉCNICA 

Botafogo 0x2 Cuiabá

» Gols: André Luís, aos 40’, e Deyverson, aos 51’

» Data: 01.11.2022

» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)

» Público: 14.892 pagantes; 16.365 espectadores

» Renda: R$ 425.478,00

» Árbitro: Jean Pierre Goncalves Lima (RS); Assistentes: Marcelo Carvalho Van Gasse (SP) e Leirson Peng Martins (RS); VAR: Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral (SP)

» Disciplina: cartão amarelo – Luís Henrique (Botafogo) e Joaquim (Cuiabá)

» Botafogo: Gatito Fernández; Daniel Borges (Rafael), Adryelson, Victor Cuesta e Marçal; Tchê Tchê, Gabriel Pires (Jacob Montes) e Victor Sá (Lucas Fernandes); Júnior Santos (Matheus Nascimento), Jeffinho (Luís Henrique) e Tiquinho Soares. Técnico: Lúcio Castro.

» Cuiabá: Walter; Joaquim, Marllon e Alan Empereur; Marcão Silva, Rafael Gava (Camilo), Pepê (Denilson) e Igor Cariús; Jonathan Cafu (João Lucas), Deyverson (Rodriguinho) e André Luís (Felipe Marques). Técnico: António Oliveira.

4 comentários:

jornal da grande natal disse...

E virou freguês de um clube novato.

Sergio disse...

Amigo Ruy, em mais de 6 décadas assistindo futebol e em especial o Botafogo, vi derrotas inexplicáveis de grandes times e não só o Botafogo, mas com sinceridade, a derrota de ontem eu não consigo aceitar , embora seja do futebol.
Concordo com você quando coloca que essa e expectativa em torno de uma possível classificação para a LA criou uma ansiedade na equipe. A bem da verdade é que o clube ainda não conseguiu se livrar do espectro fantasmagórico do fracasso. Isso levará tempo, e só com atletas acostumados a títulos e a mudança de mentalidade que apequenou o clube por décadas é que o clube voltará aos títulos importantes.
Sobre o jogo o que aconteceu foi que até tomar o gol em parte por uma falha de marcação no lado direito o Botafogo poderia ter feito pelo menos 2 gols, mas aquela máxima de quem não faz leva prevaleceu. Eu, com tantas horas de Botafogo, quando vi o Botafogo perdenfo tantos gols e relativamente simples, pensei comigo: hoje essa bola não entra. Dito e feito.
O segundo tempo o Botafogo toma um gol logo no começo e nesse momento o time se perdeu, ficou descontrolado.
Confesso que não entendi o Luís Castro não ter utilizado o Patrick, acho que foi erro infeliz, mas na verdade todo o time depois do primeiro gol sofrido não jogou absolutamente nada.
Continuo acreditando no projeto e por mais otimista que poderia ser , não acreditava na classificação para a Libertadores.
E a triste constatação é que o Botafogo perdeu em torno de 21 pontos para times que estão brigando para não cair. Tivesse ganho a metade estaria com 57 pontos. Apesar disso posso dizer que o Botafogo fez campeonato de razoável para bom devido a um série de dificuldades bastante conhecidas.
Espero que para 2023 o Botafogo possa contratar pelo menos uns 5 a 6 jogadores de peso e que consiga um elenco minimamente com boas peças de reposição, então poderemos pensar em pelo menos disputar a Sul Americana e uma copa do Brasil com chances. Quem sabe? ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Bem triste... Botafogo sempre se dando ares de Robin Hood...
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Concordo com o seu comentário, Sergio. A derrota de ontem, face ao crescimento da equipe, é inaceitável. Castro continua a cometer erros, entre os quais enviar peso para cima dos ombros dos jogadores antes de tempo. Não é assim que se faz. Há uma componente psicológica do Botafogo que ele ainda não entendeu. Mas aqueles atacantes perdendo uns 4 ou 5 gols antes do gol do Cuiabá também é algo inaceitável. Estou desejando que acabe o ano, porque em 2023 já não há desculpa alguma.

Abraços Gloriosos.

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