sábado, 18 de novembro de 2023

Xisto Toniato: um dirigente entre sucessos e polêmicas

 
Crédito: Revista do Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Zeferino Xisto Toniato nasceu no dia 13 de fevereiro de 1922, em Itarana, no estado do Espírito Santo, filho de Luiz Toniato e de Maria Covre Toniato. Foi Vice-presidente do Botafogo de Futebol e Regatas na gloriosa época dos anos 1960-1970.

Desde cedo Xisto Toniato envolveu-se em inúmeras atividades na sua cidade de nascimento, tendo sido presidente do Flamengo Futebol Clube, Benemérito da Prefeitura de Itarana e, mais tarde, Benemérito da Lira de Itarana.

Em 1912 foi criada a Lira Figueirense, na Vila Figueira de Santa Joana; em 1942 passou a denominar-se Lira Itarana; em 1964 Itarana tornou-se município e a banda passou a designar-se Associação Musical Lira Zeferino Xisto Toniato, tendo sido declarada de utilidade pública pela aprovação unânime da Lei nº 1152/2015, cujo Projeto Lei foi da autoria do Vereador Diego Vinício Fardin.

Como empresário Xisto Toniato era proprietário da empresa Frigorífico Toniato S.A. e, segundo algumas fontes, também fundador da transportadora Estrela Solitária, constando que apoiou financeiramente o Botafogo em algumas ocasiões, antes de a sua empresa contrair uma série de dívidas.

Porém, voltando atrás na fita do tempo, em 1955 Xisto Toniato mudou-se para o Rio de Janeiro e tornou-se dirigente desportivo do Botafogo, além da sua profissão de ‘industrial’, tendo sido sucessivamente Diretor do Futebol infanto-juvenil, juvenil e profissional até aos primeiros anos da década de 1970.

Chegou a Vice-presidente do clube e foi fundamental na construção da equipe bi-bi Campeã Carioca e da Taça Guanabara em 1967 e 1968 e vencedora da Taça Brasil de 1968, assim como a quase imbatível equipe de 1971, que sucumbiu ao oba-oba de ‘campeão antecipado’ e acabou tendo o título carioca sido sonegado pela arbitragem na célebre final desse ano contra o Fluminense. A equipe base era formada por Ubirajara Mota; Carlos Alberto Torres, Hércules Brito Ruas, Sebastião Leônidas e Paulo Henrique; Nei Conceição e Carlos Roberto; Zequinha, Nílson Dias, Jairzinho e Paulo César ‘Caju’.

Entrevistado pela Revista do Esporte e pela Revista do Botafogo (1972) o dirigente referiu-se a muitas alegrias e algumas tristezas durante mais de uma década ao serviço do Glorioso. E também, deve-se acrescentar, a algumas polêmicas.

Aquando da saída de Gérson assegurou que o Botafogo não tinha dívidas, mas sabia-se que a situação financeira era de crise, com luvas e salários de jogadores em atraso e até ocorreu um corte de fornecimento de eletricidade. No entanto, o dirigente proclamou que se dependesse dele Gérson não teria sido vendido e que o compraria de novo “por um bilhão velho à vista, é claro, se o São Paulo quiser”, o que, segundo a Revista do Esporte, “a todos deixou de queixo caído”.

Crédito: Revista do Esporte.

Tal reação coletiva tinha a ver com os salários em atraso, que Xisto Toniato garantia que era “tudo exagero, acabamos de acertar tudo e quem disser o contrário está mentindo” e que “os invejosos arranjam dívidas para o Botafogo”. Tais afirmações de ‘riqueza’ provocaram a reação de Paulo César ‘Caju’ , exigindo os 70 mil cruzeiros que foram prometidos como reajustamento do seu contrato. Segundo a Revista do Esporte, “por prometerem de mais, por fazerem contratos fabulosos com seus campeões do mundo, quando o clube não tem renda suficiente para pagá-los, é que o Botafogo deve a todo mundo”.

Porém, a principal polêmica de Xisto Toniato acabou por eternizar Afonsinho na história do Botafogo. Inicialmente, Xisto Toniato defendia que Afonsinho fosse o capitão da equipe, apesar de, em sua opinião, o jogador defender os demais atletas relativamente aos salários atrasados e às premiações prometidas, mas com o tempo a relação entre ambos deteriorou-se.

Entretanto, o técnico Zagallo tinha um esquema de jogo para o qual não contava com Afonsinho, e a situação do jogador foi-se agravando entre 1968 e 1970, chegando a nem sequer estar no banco de reservas. Então, contra todas as ‘regras’ informais, Afonsinho peitou Zagallo, que argumentou contra o visual de Afonsinho, considerado subversivo devido à barba e aos cabelos cumpridos, ‘desrespeitando’ a doutrina de ‘bom rapaz’ atribuída pela classe média de clubes sociais.

O Vice-presidente Toniato colocou-se então ao lado de Zagallo e terá dito a Afonsinho que “essa aparência não tem nada a ver com jogador de futebol, desse jeito que você está parece mais um cantor iê-iê-iê, tocador de guitarra” e acabou por chamar Afonsinho de “líder negativo”. Evidentemente que Afonsinho não rapou a barba nem cortou o cabelo, não houve acordo entre eles, e acabou emprestado para o Olaria. Tal situação levou Afonsinho e o seu advogado, em 1971, a entrarem na justiça em busca do ‘passe livre’ de modo a que o atleta se libertasse do Botafogo e pudesse exercer livremente a sua profissão. Após decisão negativa da justiça, Afonsinho impetrou um recurso e ganhou-o por unanimidade, marcando uma sensacional reviravolta no futebol brasileiro.

Não obstante, Xisto Toniato acabou por ficar gravado na história do Botafogo como um destacado dirigente que, além dos títulos, também obteve sucessos em situações difíceis como a complexa conjuntura relativa à iminente saída de Jairzinho. Leia sobre o assunto no Mundo Botafogo clicando em Xisto Toniato: um louco podia ver que dois milhões pelo Jairzinho era um sinal.

Em 1972, ao mesmo tempo que era contestado internamente, Xisto Toniato foi agraciado com o título de ‘Cidadão do Estado da Guanabara’ pelos diversos serviços prestados.

Fontes: Blogue Mundo Botafogo; Miranda, Roberto Lopes. Roberto Lopes Miranda (depoimento, 2011). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2011. 42p; Revista do Botafogo, nº 1, 1972; Revista do Esporte, nº 590, 1970; www.camaraitarana.es.gov.br; www.efdeportes.com; www.facebook.com; www.itarana.es.gov.br.

2 comentários:

Sergio disse...

Me lembro do Xisto Toniato montando aquele timaço em 71, que perdeu não só pelo oba oba s o assalto na final, mas quando perdeu seu melhor atacante, o Furacão da Copa, que estava numa forma esplêndida, mas teve sua perna fraturada contra o Vasco, numa das maiores covardias que vi em jogos de futebol (estava no Maracanã ). Infelizmente o Nilson Dias que foi um atacante muito bom, naquele momento ainda não estava preparado para substituir o Jairzinho. ABS e

Ruy Moura disse...

Do tipo Tiquinho Soares lesionado e o Botafogo perdendo desde aí a sua enorme vantagem...
Abraços Gloriosos.

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