sexta-feira, 12 de julho de 2019

Xisto Toniato: um louco podia ver que dois milhões pelo Jairzinho era um sinal


por FRANCO FERREIRA | Soesporte.com.br

O problema da renovação de contrato do Jairzinho apresentava certa gravidade. Havia, no caso, uma grande projeção do jogador, a imagem que o Jair havia construído com suas atuações no Mundial do México.

Então, para ser sincero, aquele negócio começou a nos preocupar. Nós temos, ainda, um contrato de seis meses, que podíamos usar. Mais um mês antes de terminar o atual contrato, a questão começou a nos preocupar. Eu falei com o presidente, mostrei-lhe a minha preocupação. Porque eu não admitia sequer que alguém sonhasse em vender o Jairzinho, o presidente me respondeu: Está bem, então você procure resolver. Eu comecei a me entender com o procurador do Jairzinho, o furacão da Copa 70, mas o negócio começou a ficar difícil. Ele queria ganhar uma importância, que com toda a sinceridade, eu achava que o Jair merecia ganhar. Mas nem o Botafogo, nem clube nenhum, poderia pagar aquela importância a um jogador de futebol. Aí veio o impasse: nós não queremos vender o Jairzinho, não podemos, mas também não podemos pagar o que ele pede.

Depois da quinta reunião com o procurador do Jair, nós achamos que o assunto podia ser resolvido. Ele baixava e nós chegávamos mais um pouco. Foi o primeiro momento que as  negociações abriram um pouco de esperança. Aí me entra o Flamengo na jogada!

O Flamengo me ofereceu dois milhões de cruzeiros à vista pelo Jairzinho. Perguntam-me se foi o Richer. O Richer é o presidente do clube e, no caso, tinha cobertura do mesmo grupo que havia apoiado o Flamengo na compra de Paulo César. Eu rejeitei. Isso foi no sábado, num almoço na Barra. No domingo, fui ao Maracanã e dois membros do grupo ou da comissão de assessores, confirmaram plenamente as palavras de Richer. Era para valer. Dois milhões à vista pelo Jairzinho.

Pensei que a investida do Flamengo ia ficar mais ou menos escondida. Eles me disseram que queriam o negócio em segredo e o segredo para mim era altamente conveniente. Saí pensando que, realmente, nada diriam. Mas, no dia seguinte, a imprensa publicou. E o noticiário refletiu-se psicologicamente no Jair e no seu procurador. Porque a minha resposta foi muito seca. Eu disse que o Jairzinho, na minha gestão, não seria vendido pelo Botafogo. E ainda fui mais claro:

Se eu me vir obrigado a vender o Jairzinho (foi o que eu disse) peço a minha demissão para que outro dirigente venha para o meu lugar e venda.
À vista o preço é muito bom, ou não é?
Olha, mesmo sendo um sujeito muito maluco, esse dirigente que vinha para meu lugar, ia ver logo que dois milhões de cruzeiros serviriam apenas para dar de sinal pelo Jairzinho. Essa foi minha resposta.

Parada dura

Mas foi um episódio desconcertante por causa do efeito psicológico. Ele pensou: bom, se ele não me vender por dois milhões de cruzeiros, também não vou baixar o meu preço. Na véspera do embarque tivemos uma reunião na casa do Jairzinho, ficamos conversando até dez horas. O pobre do Ricardo foi um dos repórteres que permaneceu em baixo, esperando. Eu deixei o meu carro no clube e fui a pé. Eles começaram a me procurar e dizer: o Toniato está por perto. Até que descobriram e foram se plantar na porta. Nessa reunião assentou-se que o Jair deixava um contrato assinado em branco e depois o procurador que tem amplos poderes, fecharia com o Botafogo. Ele viajou e nós ainda tivemos três ou quatro reuniões sem chegar a um acordo. Era muito difícil mesmo.

A boa imagem

Foi quando numa reunião da diretoria o nosso vice-presidente de divulgação apresentou um plano de trabalho. O plano incluía a contratação de dois homens que trabalhassem como o departamento, no que ele chamava divulgar ou vender uma boa imagem do Botafogo. O vice é o Aníbal. O plano muito bom. Daqueles dois homens que ele precisava, um era o Nilton Santos. O Nilton estava na reunião como dirigente, e colocou-se logo a disposição do Departamento de Divulgação. O segundo foi indicado por meio de votação. Estava presente a diretoria toda, menos um segundo elemento previsto para indicar o segundo elemento previsto no plano de divulgação, o Jairzinho foi eleito por unanimidade. Tinha que ser um jogador atuante. Tratava-se de selecionar um atleta nosso, do passado, um jogador que já parou mais que ainda fosse um nome, juntamente com um jogador do primeiro time, famoso, que gozasse de boa imagem perante a opinião pública.

Me abriram um caminho

O plano era sedutor, foi examinado e aprovado sem nenhuma restrição. Descia os pormenores e eu posso revelar alguns: Em relação ao Jairzinho, por exemplo, a imagem e a voz do jogador poderão ser usadas em rádio e TV, jornais, slogans. O próprio jogador participará de festas representando o Botafogo. No Brasil ou até no exterior, por isso o Jairzinho tem dois contratos com o Botafogo. Um como atleta profissional de futebol e outro como elemento do Departamento de Divulgação. Então, quando Jairzinho foi eleito, unanimemente, eu falei:

Bom, gente, vocês me abriram um caminho. Agora eu posso fazer um acordo com o Jairzinho e aceitar as bases que o procurador tem insistido em receber.

Realmente, depois daquilo, eu tive mais duas reuniões com ele, e na terceira, conseguimos chegar a um acordo; assim o Jairzinho vai ganhar 35 mil cruzeiros por mês, por dois anos de contrato.

Fonte: http://soesporte.com.br/futebol-arte-e-ciencia-coisas-que-so-acontecem-ao-botafogo-2/

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