por FRANCO FERREIRA | Soesporte.com.br
O problema da
renovação de contrato do Jairzinho apresentava certa gravidade. Havia, no caso,
uma grande projeção do jogador, a imagem que o Jair havia construído com suas atuações
no Mundial do México.
Então, para ser
sincero, aquele negócio começou a nos preocupar. Nós temos, ainda, um contrato
de seis meses, que podíamos usar. Mais um mês antes de terminar o atual
contrato, a questão começou a nos preocupar. Eu falei com o presidente,
mostrei-lhe a minha preocupação. Porque eu não admitia sequer que alguém
sonhasse em vender o Jairzinho, o presidente me respondeu: Está bem, então você
procure resolver. Eu comecei a me entender com o procurador do Jairzinho, o
furacão da Copa 70, mas o negócio começou a ficar difícil. Ele queria ganhar
uma importância, que com toda a sinceridade, eu achava que o Jair merecia
ganhar. Mas nem o Botafogo, nem clube nenhum, poderia pagar aquela importância
a um jogador de futebol. Aí veio o impasse: nós não queremos vender o
Jairzinho, não podemos, mas também não podemos pagar o que ele pede.
Depois da quinta
reunião com o procurador do Jair, nós achamos que o assunto podia ser
resolvido. Ele baixava e nós chegávamos mais um pouco. Foi o primeiro momento
que as negociações abriram um pouco de esperança. Aí me entra o Flamengo
na jogada!
O Flamengo me
ofereceu dois milhões de cruzeiros à vista pelo Jairzinho. Perguntam-me se foi
o Richer. O Richer é o presidente do clube e, no caso, tinha cobertura do mesmo
grupo que havia apoiado o Flamengo na compra de Paulo César. Eu rejeitei. Isso
foi no sábado, num almoço na Barra. No domingo, fui ao Maracanã e dois membros
do grupo ou da comissão de assessores, confirmaram plenamente as palavras de
Richer. Era para valer. Dois milhões à vista pelo Jairzinho.
Pensei que a
investida do Flamengo ia ficar mais ou menos escondida. Eles me disseram que
queriam o negócio em segredo e o segredo para mim era altamente conveniente.
Saí pensando que, realmente, nada diriam. Mas, no dia seguinte, a imprensa
publicou. E o noticiário refletiu-se psicologicamente no Jair e no seu
procurador. Porque a minha resposta foi muito seca. Eu disse que o Jairzinho,
na minha gestão, não seria vendido pelo Botafogo. E ainda fui mais claro:
– Se eu me vir obrigado a vender o Jairzinho
(foi o que eu disse) peço a minha demissão para que outro dirigente venha para
o meu lugar e venda.
– À vista o preço é muito bom, ou não é?
– Olha, mesmo sendo um sujeito muito maluco,
esse dirigente que vinha para meu lugar, ia ver logo que dois milhões de
cruzeiros serviriam apenas para dar de sinal pelo Jairzinho. Essa foi minha
resposta.
Parada dura
Mas foi um episódio
desconcertante por causa do efeito psicológico. Ele pensou: bom, se ele não me
vender por dois milhões de cruzeiros, também não vou baixar o meu preço. Na
véspera do embarque tivemos uma reunião na casa do Jairzinho, ficamos
conversando até dez horas. O pobre do Ricardo foi um dos repórteres que
permaneceu em baixo, esperando. Eu deixei o meu carro no clube e fui a pé. Eles
começaram a me procurar e dizer: o Toniato está por perto. Até que descobriram
e foram se plantar na porta. Nessa reunião assentou-se que o Jair deixava um
contrato assinado em branco e depois o procurador que tem amplos poderes,
fecharia com o Botafogo. Ele viajou e nós ainda tivemos três ou quatro reuniões
sem chegar a um acordo. Era muito difícil mesmo.
A boa imagem
Foi quando numa
reunião da diretoria o nosso vice-presidente de divulgação apresentou um plano
de trabalho. O plano incluía a contratação de dois homens que trabalhassem como
o departamento, no que ele chamava divulgar ou vender uma boa imagem do
Botafogo. O vice é o Aníbal. O plano muito bom. Daqueles dois homens que ele
precisava, um era o Nilton Santos. O Nilton estava na reunião como dirigente, e
colocou-se logo a disposição do Departamento de Divulgação. O segundo foi
indicado por meio de votação. Estava presente a diretoria toda, menos um
segundo elemento previsto para indicar o segundo elemento previsto no plano de
divulgação, o Jairzinho foi eleito por unanimidade. Tinha que ser um jogador
atuante. Tratava-se de selecionar um atleta nosso, do passado, um jogador que
já parou mais que ainda fosse um nome, juntamente com um jogador do primeiro
time, famoso, que gozasse de boa imagem perante a opinião pública.
Me abriram um caminho
O plano era sedutor,
foi examinado e aprovado sem nenhuma restrição. Descia os pormenores e eu posso
revelar alguns: Em relação ao Jairzinho, por exemplo, a imagem e a voz do
jogador poderão ser usadas em rádio e TV, jornais, slogans. O próprio jogador
participará de festas representando o Botafogo. No Brasil ou até no exterior,
por isso o Jairzinho tem dois contratos com o Botafogo. Um como atleta profissional
de futebol e outro como elemento do Departamento de Divulgação. Então, quando
Jairzinho foi eleito, unanimemente, eu falei:
– Bom, gente, vocês me abriram um caminho.
Agora eu posso fazer um acordo com o Jairzinho e aceitar as bases que o
procurador tem insistido em receber.
Realmente, depois
daquilo, eu tive mais duas reuniões com ele, e na terceira, conseguimos chegar
a um acordo; assim o Jairzinho vai ganhar 35 mil cruzeiros por mês, por dois
anos de contrato.
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