domingo, 29 de setembro de 2024

Botafogo 0x0 Grêmio: dificuldades avolumadas

O melhor no estádio, o Mosaico da Torcida Botafoguense. Crédito: Vitor Silva | Botafogo

Em toda a minha vida adulta apercebi-me que há dois elementos fundamentais para o funcionamento de grupos humanos, desde o grupo ‘povo’ até ao grupo ‘restrito’: a liderança e a visão do líder. É certo que é necessário outro elemento: capacidade de realização dos grupos e consequentemente necessidade de competências para o sucesso.

Todavia, a inteligência dos grupos não é suficiente, isto é, as suas competências não asseguram, por si só, o sucesso de um grupo ao nível operacional, ao nível da realização. A liderança e a visão são decisivas para a organização e a condução do grupo. Os exemplos do futebol são muitos, mas mencionam-se aqui apenas dois: equipes com craques extraterrestres sucumbiram rotundamente (p.e., Real Madrid de Vanderlei Luxemburgo); equipes sem craques alcançaram títulos impensáveis (p.e., Leicester de Claudio Ranieri).

Dito isto, considero absolutamente descabida a visão de Artur Jorge para o jogo de ontem contra o Grêmio. Ah… sei, visão tipo: como o Grêmio atravessa uma fase difícil, vamos poupar, vamos rodar, vamos ganhar e dentro de 7 dias estaremos afinadíssimos contra o Atlhetico e, quem sabe, até poderemos golear.

Absolutamente errado!!!

Em 1º lugar, tendo nós uma semana para recuperar jogadores, não fazia qualquer sentido poupar – e escusado seria entrar com 4 atletas remanescentes de 2023, sobretudo com aquele que mais evidenciou ter sido psicologicamente muito abalado. Já o afirmara noutro caso anterior, em que considerei que devíamos entrar com a equipe principal; fomos com metade de substitutos e também não ganhamos – tal como ontem.

E ontem com uma agravante: até Bruno Lage percebera há um ano que Tiquinho Soares tinha que ir para o banco na pós-lesão porque não produzia coisa alguma no ataque, mas AJ tem ouvidos moucos no que respeita a Tiquinho, e não se trata de persistência, não, porque quando a persistência não alcança resultados, passa a ser teimosia. Perdoem-me os leitores discordantes, mas o tempo de Tiquinho já foi e ontem atuamos com 10 jogadores durante 77 minutos!

Na pior das hipóteses para alguém com um mínimo de visão, Tiquinho teria saído ao intervalo substituído por Júnior Santos, que em apenas 15 minutos conseguiu produzir duas jogadas capazes de área, contra nenhuma de Tiquinho, que falha constantemente cabeçadas, domínio de bola e é excessivamente faltoso para atacante.

Nunca supus que AJ mantivesse Tiquinho após o intervalo, e nunca supus que a entrada de Savarino – essencial! – fosse por substituição de Thiago Almada. Dito isto, mesmo atendendo a alguma desgaste pelo jogo da Libertadores, considero que os dois pontos perdidos são totalmente imputáveis a Artur Jorge, porque se liderança tem, a visão está deixando muito a desejar na sua 1ª experiência de liderar uma equipe grande e num contexto futebolístico diferente daquele que melhor conhece.

Dir-se-á que estou a ser muito exigente depois de AJ nos conduzir à liderança do Brasileirão e chegar à semifinal da Libertadores. Em 1º lugar, já anteriormente havia escrito que o patamar a que chegamos, e tendo em conta todo o investimento feito por John Textor neste ano, a minha tolerância ao erro crasso seria ZERO; em 2º lugar, amigos, vamos falar sério: casar é fácil, difícil é alimentar o casamento; ter um filho é fácil, difícil é encontrar o modo certo de o educar e desenvolver; criar uma empresa é fácil, difícil é mantê-la e fazê-la crescer; chegar à liderança do Brasileirão pode ser relativamente fácil mediante certa conjugação de fatores conjunturais, difícil é chegar a campeão brasileiro.

Ontem o Botafogo adotou um esquema tático assente na confiança atacante de Tiquinho. Isso poderia resultar nos tempos pré-lesão de Tiquinho, mas não nos tempos atuais – e isso é tão, tão, tão evidente!... Com uma defesa fechadíssima como a do Grêmio – que chegou para lutar essencialmente por um ponto – era necessário força total no meio campo, e AJ retira Almada em vez de o manter ao lado de Savarino.

Estamos vivendo novos tempos maravilhosos, mas não nos deslumbremos, porque é preciso cada um de nós atue como Sentinela crítica e avisar os líderes do Clube que não queremos ‘morrer na praia’.

Adiante.

O Grêmio foi o primeiro a criar perigo aos 6’e o Botafogo só chegou à baliza adversária aos 21’, quando Vitinho, completamente isolado na área adversária cabeceou para fora. Não, não foi Tiquinho, foi mesmo Vitinho na linha da pequena área…

E depois disso o 1º remate perigoso com uso do pé foi de LH já na 2ª parte, aos 48’. E o Grêmio respondeu logo em seguida, mostrando que era perigoso e difícil de bater nessa noite, com um chute aos 49’ rasando o poste. E foi ainda do Grêmio a melhor oportunidade seguinte, aos 70’, quando o Botafogo desguarneceu toda a defesa em busca do gol e foi Vitinho a salvar in extremis para escanteio.

A partir dos 74’ o Botafogo resolveu apertar o cerco, sobretudo após a entrada de Júnior Santos aos 77’. Aos 83’ uma falta perigosíssima foi desperdiçada com remate ao lado; depois foi o passe de Júnior Santo para o gol de Bastos em impedimento.

E depois disso gerou-se a confusão total entre os jogadores com o árbitro totalmente perdido em campo.

E na última jogada da partida, com o Botafogo atacando totalmente desordenado, o zagueiro Kannemann disparou a partir da sua área, ultrapassou sucessivamente quatro jogadores do Botafogo e fica frente a frente com John, que salvou.

Esses foram os ‘grandes’ momentos do Botafogo ainda líder, mas sem visão.

O ‘afamado’ ataque botafoguense marcou apenas 6 gols nos últimos 7 jogos, e isso indicia que a nossa chave essencial para arrastar zagueiros e abrir defesas poderá ser o ‘saca-rolhas’ Júnior Santos – se atuar pelo menos durante 45 minutos.

Estamos invictos há 10 jogos, mas com muitas dificuldades ultimamente e com a liderança do Brasileirão a perigar.

Os melhores do estádio: Torcedores do Botafogo de Futebol e Regatas (e SAF).

PS: Somente agora, 12h50 de Brasília, assisti à Coletiva de Artur Jorge. É espantosa a falta de qualidade da mídia, o que muito ajuda um treinador a defender-se dos seus erros, às vezes crassos. Os repórteres perguntaram sobre a Libertadores, sobre a importância da data FIFA, sobre a divisão de atenções em duas competições, sobre o comportamento da torcida de Brasília, mas concretamente sobre opções táticas para jogo, escalação, substituições (tardias), obtenção de informações concretas acerca da partida para acrescentar algo aos teleespectadores e ao debate, pouco ou nada se ouve. Assim, qualquer técnico, respondendo vagamente a perguntas vagas, passa incólume por entre as gotas da chuva e escapa-se de ser confrontado com os seus erros. E tenderá a persistir...

FICHA TÉCNICA

Botafogo 0x0 Grêmio

» Gols: –

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 28.09.2024

» Local: Estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF)

» Público:  30.735 pagantes; 30.312 espectadores

» Renda: R$ 3.626.255,00

» Árbitro: Maguielson Lima Barbosa (DF); Assistentes: Nailton Junior de Sousa Oliveira (CE) e Brígida Cirilo Ferreira (AL); VAR: Marco Aurélio Augusto Fazekas Ferreira (MG)

» Disciplina: cartão amarelo – Bastos, Luiz Henrique e Igor Jesus (Botafogo); Villasanti, Kannemann e Marchesín (Grêmio); cartão vermelho – Monsalve (Grêmio)

» Botafogo: John; Vitinho, Bastos, Alexander Barboza e Marçal (Alex Telles); Danilo Barbosa (Allan), Tchê Tchê e Thiago Almada (Savarino); Luiz Henrique, Tiquinho Soares (Júnior Santos) e Matheus Martins (Igor Jesus). Técnico: Artur Jorge.

» Grêmio: Marchesín; João Pedro, Gustavo Martins, Kannemann e Reinaldo; Villasanti, Edenilson (Igor) e Pepê (Dodi); Cristaldo (Monsalve), Braithwaite (Ronald) e Aravena (Nathan Fernandes). Técnico: Marcelo Salles.

6 comentários:

Sergio disse...

Gosto do Artur Jorge, mas tenho que colocar na conta dele o empate ontem. Quando vi a escalação inicial, em especial no meio campo com Danilo e Tchê Tchê , falei para mim mesmo: com esse meio campo o Botafogo não ganha esse jogo, e foi o que aconteceu. Para agravar, as substituições foram muito equivocadas. Tirar o Almada e colocar o Savarino foi de cair o queixo, mantendo o Danilo e o Tchê Tchê, e mais grave, insistir no Tiquinho que está muito mal. E vem outra pergunta: por que poupar meio time de tem uma semana sem jogo?
Não sou treinador, mas ficou evidente que sem o Marlon Freitas e o Gregori o meio além de ficar sem marcação, a criatividade ficou zero. Creio que o correto seria voltar para o segundo tempo com o Savarino no Lugar do Mateus Martins e o Igor Jesus no lugar do Tiquinho, ou o Junior Santos que em pouco tempo teve um bom aproveitamento.
E fica outra pergunta: por que não entrar com o time titular e tentar fazer o resultado e então poupar alguns jogadores?
Infelizmente não é a primeira vez que o Artur Jorge escala de forma equivocada o 11 inicial. Foi assim contra o Criciúma, contra o Juventude, contra o Cruzeiro. Curiosamente nestes jogos ele entrou com um meio campo que marcava mal e pouco criava, em especial na insistência com o Oscar Romero, que minha opinião e jogador para entrar com o jogo em vantagem.
O campeonato é difícil e se torna mais difícil com as arbitragens escandalosamente favoráveis ao Palmeiras, ou seja, o Botafogo não pode perder pontos preciosas em jogos teoricamente menos complicados, na realidade é que são nesses jogos que está a diferença na pontuação.
Infelizmente ontem foi um empate frustrante. Espero que o Artur Jorge tenha a humildade e a inteligência de reconhecer seus erros e corrigi-los, caso contrário, vai ser difícil conquistar algo ou pelo.memos briga até o fim pelas primeiras posições. Abs e SB!

jornal da grande natal disse...

Comentário perfeito. Sempre fico com um pé atrás com esse negócio de poupar jogador, sem estar lesionado, sem cartão. Pois se tratam de atletas de "alto" nível. Quanto aos jornalistas, atualmente, só perguntam o óbvio ululante. Nem precisa explicar os motivos. PS: parece que Tiquinho se apagou no desastre do ano passado...

Ruy Moura disse...

Totalmente de acordo, Vanilson. Rdar eu considero importante, até para manter oos 'reservas' afinados, o que não compreendo é entrar-se com as escações que entramos em alguns jogos e, clato, perdemos pontos!

Quanto a 'jornaleiros' não passam do óbvio ululante. Umalástima de classe em que se tornou.

Tiquinho: e se até o Lage percebeu logo - como eu percebi e escrevi - que o Tiquinho estava rendendo zero e devia ser banco, mas insistiram e acabou por perder o pênalti que mudaria destino da competição, como é possível que Lúcio Flávio, Tiago Nunes, Fábio Matias e Artur Jorge não compreendam que o Tiquinho está seriamente afetado tecnicamente e psiclogicamente. seu perfil, o seu ar abatido, não engana sequer um tolo. (Se calhar estou a exagerar no discurso, mas é por estar muito zangado com a partida que o AJ nos pregou ontem)

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Eu não sei se gosto ou não gosto do AJ, depende de como evoluir. O que sei é que perdemos alguns pontos exclusivamente na conta dele. Poderíamos estar alguns pontos acima do Palmeiras, mas o que está sucedendo é que de 5 pts. de vantagem passamos para 1 ponto e com a CBF a apoiar quem a gente sabe.

Por outro lado, AJ não mostrou até agora humildade alguma, pelo contrário, até acha que as coisas estão correndo bem e que não ganhamos por causa de uma muralha de 6 com outros 2 à frente. Não, AJ!!! Não ganhamos porque o meio campo escalado não cria e o atacante escalado para comandar a bola na rede já não sabe entrar na área e marcar gols.

Todos seus questionamentos estão certos, Sergio, mas o AJ discordará certamente, mais que não seja para contrariar a torcida, já que disse que nunca escalaria em função da torcida. Não quero que escale em função da torcida, quero é que ouça a torcida, que reflita, que cogite outra estratégia porque a continuar assim o Palmeiras tem a Taça assegurada.

Poupar com uma semana pela frente sem jogos?!?!?! Poupar havendo outra data FIFA?!?!?!

Estou ficando seriamente zangado por mais uma oportunidade que se configura caminhar para ficarmos no G4, e nada mais. Não é que eu esperasse tanto, mas quando se chega onde se chegou, há obrigação de continuar, porque desta vez, porque neste ano, o treinador tem o que quis ter ao nível dos recursos humanos necessários para disputar o título.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Ele está sem arranque. Perdeu a explosão. E o arranque. Até parece sem motivação. Talvez pela condição de suplente.

Ruy Moura disse...

É isso Vanilson: arranque zero, ar triste de desmotivação. Creio que interiorizou que o penalty decidiu o campeonato a favor do Palmeiras, e na verdade tratou-se de 6 pontos, 3 que perdemos e 3 que eles ganharam. Não acredito na sua recuperação. E está à beira dos 34 anos, o que para um atacante pode ser muito significativo.

Abraços Gloriosos.

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