quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Botafogo 0x0 São Paulo – a frustração de um domínio total ineficaz

O voleio foi bonito, mas a ineficácia foi o mote desde o início. Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

O Botafogo iniciou a partida dando o mote com Savarino, que rematou de voleio um excelente cruzamento de Alex Telles para o centro da grande área, fraco e à figura do goleiro – isto é, o mote de não marcar um único gol em, pelo menos, oito oportunidades flagrantes na 1ª parte!

A essa sucederam-se inúmeras oportunidades: logo depois, aos 12’, Vitinho serviu Thiago Almada livre para rematar junto ao poste; aos 26’ Savarino cobrou escanteio à medida da cabeça de Bastos, que rematou rente ao poste; aos 34’ Savarino recebeu a bola de Luiz Henrique e acertou o travessão; aos 38’ Marlon Freitas endossou a bola a Igor Jesus na ala esquerda, já dentro da grande área, que rematou também rente à trave; aos 40' Thiago Almada teve uma soberba oportunidade na meia-lua para inaugurar o marcador e rematou por cima da baliza; a finalizar a 1ª parte do jogo Luiz Henrique driblou um zagueiro e na cara da baliza também chutou por cima.

O São Paulo, desde o minuto inicial, mostrou ao que tinha ido: empatar o jogo e decidir em casa, fazendo cera escandalosa que o árbitro permitiu.

Em suma, o Botafogo rematou, rematou, rematou… e John assistiu sem ter que operar uma única defesa. As chances de inaugurar o marcador e colocar o São Paulo num grande dilema, foram imensas, sendo 7 delas claramente para conversão em gol.

Todavia, nada aconteceu. As jogadas eram vistosas, o futebol praticado pelo Glorioso era muito bom, mas… conforme mencionei na análise ao último jogo, falta treino de mira à baliza. O Botafogo foi tão massacrante e rápido na 1ª parte, que esgotou o fôlego para a 2ª parte. Fez o inverso do último jogo: em vez de jogar com mais calma e certeiro nos arranques súbitos, foi com tudo para cima do São Paulo, mas como a mira foi ruim, insistiu na pressão durante 45 minutos sem parar e acabou sem fôlego para os restantes 45 minutos.

Na 2ª parte houve, talvez, duas únicas oportunidades, cujos remates foram novamente fracos e à figura do goleiro. Aliás, o São Paulo poderia ter ganho o jogo quando um atacante surgiu cara a cara com o goleiro John e desperdiçou a oportunidade jogando para fora. Foi a única grande oportunidade do São Paulo em toda a partida.

Em suma, uma equipe tentou empatar e decidir em casa, e conseguiu; a outra equipe jogou para vencer, mas a mira é absolutamente um desastre nesta equipe – e vai ter que repensar a sua postura no Morumbis.

Sendo o melhor ataque do campeonato brasileiro, já imaginou o leitor se tivéssemos boa mira?... O Botafogo seria um campeão à moda de 1910: goleada após goleada.

Nem Luiz Henrique – que opinou fazer “coisas extraordinárias” no Botafogo –, nem Thiago Almada, nem Igor Jesus, nem Savarino conseguiram converter as suas bonitas e inúmeras jogadas com selo de gol. É preocupante. Veremos como reage a Comissão Técnica e a equipe nos próximos jogos no que se refere a eficácia que as oportunidades de gol criadas exigem que seja elevada, porque temos equipe para bater o São Paulo fora de casa. Mais um desafio e um novo aprendizado para Artur Jorge e companhia.

PS: (1) Perdoem-me os leitores que discordam, mas tudo o que tenho escrito sobre Tiquinho Soares, desde a sua 1ª lesão em 2023, quando era o 'craque' da equipe e passou a banco com B. Lage, se confirma e reconfirma: o futebol de Tiquinho desvaneceu-se e outra solução preferencial tem que ser encontrada no banco. (2) Devido a estar assoberbado de trabalho somente há pouco pude publicar esta análise-síntese do jogo, e agora estava ouvindo a Coletiva com Marlon Freitas e Artur Jorge. Ambos falam em ineficiência da equipe. Discordo: há aqui um problema de conceitos: 'eficiência' significa o desenrolar de um processo bem feito e, neste caso, o Botafogo foi tremendamente eficiente urdindo jogadas espetaculares com muitas chances de gol; 'eficácia' é o alcande do objetivo e, neste caso, marcar gols, algo que o Botafogo não conseguiu devido ao último toque para a baliza não ter, em caso algum, atingido o objetivo, sendo ineficaz. Donde, fomos muito eficientes e totalmente ineficazes.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 0x0 São Paulo

» Gols: –

» Competição: Copa Libertadores

» Data: 18.09.2024

» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)

» Público: 37.037 pagantes; 40.089 espectadores

» Renda: R$ 2.466.890,00

» Árbitro: Esteban Ostojich (Uruguai); Assistentes: Nicolás Tarán (Uruguai) e Carlos Barreiro (Uruguai); VAR: Leodán González (Uruguai)

» Disciplina: cartão amarelo – Luiz Henrique e Bastos (Botafogo); Rafinha e Arboleda (São Paulo)

» Botafogo: John; Vitinho (Mateo Ponte), Bastos, Alexander Barboza e Alex Telles (Marçal); Gregore, Marlon Freitas (Tchê Tchê) e Thiago Almada; Luiz Henrique (Tiquinho Soares), Igor Jesus (Matheus Martins) e Savarino. Técnico: Artur Jorge.

» São Paulo: Rafael; Arboleda, Alan Franco (Ferraresi) e Sabino; Rafinha (Wellington Rato), Luiz Gustavo, Bobadilla, Lucas Moura (Michel Araújo) e Welington; William Gomes (Luciano) e Calleri (André Silva). Técnico: Luís Zubeldía.

9 comentários:

Sergio disse...

Comentei em várias oportunidades que o número de gols perdidos pelo Botafogo é um absurdo, e não foi somente ontem, isso tem sido uma constante. É necessário treinar mais as finalizações. Se ontem o Botafogo convertesse 1/3 das oportunidades no primeiro tempo sairia com 3X0 tranquilamente.
O fato claro é que o SP veio com a clara intensão de jogar para não perder e por uma bola, e quase consegue o seu intento, fora isso, a conivência com a cêra, o que é um dos absurdos das arbitragens nas competições sul americanas.
Gosto do Artur Jorge, mas achei as suas substituições equivocadas, tiraram a velocidade do time. Penso que deveria ter entrado com o Allan ao invés do Tchê Tchê, Tiquinho no lugar do Igor e o Mateus Martins no lugar do LH.
Penso que para o segundo jogo o SP tem duas opções: joga por uma bola esperando o Botafogo ou sai para o jogo. Essa segunda opção vai ser muito arriscada para o time do SP, pois dará espaço para o time do Botafogo. Na primeira opção o SP vai ser amassado igual foi ontem, porém, cabe ao Botafogo não perder tantos gols, o que é para acontecer em ambas os casos. Sinceramente não vejo qualidade construtiva no time do São Paulo, mas futebol tem suas peculiaridades, é um esporte que nem sempre consagra os melhores times, é muitas vezes cruel, mas acredito na classificação do Botafogo
Abs e SB!

Dinafogo disse...

Gostei da análise! Tenho o pensamento que o Botafogo confunde quando tem que entrar amassando e quando precisa ser eficaz e agir de forma inteligente. Confesso que ontem a postura me animou, mas aquele ímpeto acelerado me preocupada devido ao cansaço. Acredito que jogar para amassar deve ser no BR contra determinados adversários, principalmente aqueles que lutam na zona de rebaixamento e que demonstram fragilidades, além de serem times que não podemos perder pontos. O SP é time de meio de tabela para cima e tem alguns destaques, juntamente a isso vieram para empatar, inclusive o próprio Lucas Moura deixou claro em uma entrevista. Eles fizeram a mesma estratégia do Bahia.
Enfim, agora é colocar a cabeça no lugar e ter não ceder a pressão, que o gol e a classificação sem os pênaltis é super possível.

PS: não sabia a diferença entre ser eficiente e ser eficaz. Mundo botafogo também é educativo!

Ruy Moura disse...

Sergio, essa é uma das características que Braga tinha com o AJ: atacar, atacar, atacar... Nem sempre se pode, nem deve, fazer isso. Embora o Botafogo tenha indiscutivelmente jogado muito bem, gostei mais do ritm contra Corinthians. Eu iria para este jogo tal como fomos contra o Crinthians: jogar mais pausadamente e com arranques súbitos em cima de falhas dos adversários. Há duas entradas de banco que eu não faria: Tiquinho e Tchê Tchê. Até pode ser que nos treinos surtam efeito, mas no jogo real, em minha opinião, não se enquadram bem na dinâmica. Se em São Paulo jogarmos para o amasso, pode ser que saíamos amassados por uma derrota... Peço por tudo aos Deuses do futebol que iluminem o AJ. Porque com qualidade construtiva ou sem ela, se o Botafogo continuar na estratégia de amassar com a pontaria que tem tido, o São Paulo pode acabar por sorrir... (Juventude, 1999).

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

...o Botafogo confunde quando tem que entrar amassando e quando precisa ser eficaz e agir de forma inteligente." Ora, justamente, Dinali! No texto está dito de outra forma, mas o seu comentário diz tudo. O AJ tem um problema de 'obsessão atacante'. Com este naipe de jogadores até pode ser 'agressivo', mas os excessos - defender de mais ou atacar de mais - podem ser fatais aqui e acolá. E com um calendário tão duro pode acabar por tirar o fôlego da equipe. Ademais, as características de certas equipes no Brasileirão são 'ardilosas', no sentido em que é preciso não apenas jogar com inteligência, mas também com 'esperteza'.

Gosto muito mais do AJ do que do Abel Ferreira, mas a equipe do Abel sabe jogar o campeonato com 'ardis' estratégicos. O nosso inominável treinador de 2022-2023, acabado de ser despedido do Al-Nassr, percebeu isso finalmente em 2023 e a equipe iniciou o campeonato jogando nesse tom, e arrancou logo 5 vitórias seguidas apesar de sido amassado por alguns adversários, como o Flamengo e o Palmeiras, mas o inominável soube fechar todos os caminhos para a nossa baliza e ganhou-lhes com muito menos posse de bola, que era o que eu defendia nessa altura e nesse contesto, já que sempre considerei – ao contrário de muitos – que a equipe de 2023 era individualmente de nível médio no seu conjunto.

Não quero, nem de longe nem de perto, que o AJ faça como o inominável - porque o AJ é melhor e tem um plantel com características bem mais 'agressivas' -, mas sim juntar a este plantel e às equipes escaladas uma dose de 'esperteza' para jogar o Brasileirão e nos fornecer bons espetáculos de futebol com... eficiência e eficácia, e mantendo o bom estado físico dos atletas!

Na verdade, o AJ disse agora que vai com a força total até à nova Data FIFA. Pois eu já havia defendido isso quando o AJ jogou com uma equipe quase só de reservas, perdeu o jogo, e considerei que devia jogar sempre com a máxima força, porque tem plantel para isso, mas cuidando do estado físico, isto é, sem desgastar demais como aconteceu ontem. Ele negou na Coletiva que houvesse quebra, mas aí não foi verdadeiro à força de querer contrariar os jornalistas. Torneou o assunto e acabou por dizer, de certo modo, que houve desgaste. E houve. A equipe não soube dosear o seu jogo. Foi arrasadora na 1ª parte e na 2ª parte não criou oportunidades flagrantes (ou criou uma, no máximo).

Sobre conceitos há um terceiro muito importante: "efetividade", isto é, jogar bem (eficiência) e ganhar (eficácia) consistentemente, isto é, duradouramente no tempo. É isto que precisamos ter e que AJ tem certamente em mente. Não quero uma equipe que ganhe a Libertadores e no ano seguinte luta para não ser despromovida n Brasileirão (Fluminense); não quero ser bicampeão (Cruzeiro) ou tricampeão (São Paulo) brasileiro e de aí em diante as equipes nunca mais serem candidatas ao título.

'Saber jogar' o Brasileirão é um know-how a adquirir. Assim como ‘saber jogar’ a Libertadores, em que é necessário saber-se jogar de outro modo, sobretudo quando defrontamos clubes estrangeiros.

Abraços Gloriosos.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Ruy, Sérgio e o "novato" Dinali, não necessariamente nesta ordem, está completo e não preciso ler, ver e ouvir a imprensa tradicional (rádio, TV, jornal, revista e outros blogues e sites) para aprender e ler a leitura do desempenho Glorioso.

Ruy Moura disse...

Esse comentário, vindo de si, tem um valor inestimável, Vanilson!
Abraços Gloriosos.

Dinafogo disse...


Exatamente! No ano passado vencemos jogos sendo mais inteligentes do que tecnicamente superiores, por exemplo, os jogos contra o flamengo e palmeiras. Nessa época a diferença de plantel era grande, mas saímos com resultado positivo, exceto no segundo turno, onde faltou justamente o mental e a "malandragem" de um bom vencedor e outros fatores.

O Palmeiras do técnico Abel Ferreira é um time que oscila, mais diferente do flamengo, a meu ver, mantém uma constância maior e uma manutenção do seu elenco, repondo algumas peças e evitando perder jogos bobos (Ano passado a nossa derrocada final começou no jogo contra o Cuiabá, porque são jogos que guardando o devido respeito aos adversários, não são negociáveis), assim tornou-se um "bom entendedor" do campeonato. 

Por fim, concluo corroborando com a sua análise final, porque em um nível de profissionalismo, como o que estamos almejando, os clubes têm oscilações, contudo jamais perdem a apresentação vencedora e entre um ano ou outro frustrante, tem sempre uma boa safra de títulos e classificações dentro das grandes competições. Assim, será cada vez mais habitual vermos o Botafogo disputando a libertadores, copas e BR e sabendo quais jogadores utilizar e como encarar cada uma delas. Tenho esperança que o futuro será promissor.

Saudações Alvinegras, Gloriosas e Botafoguenses. 

Dinafogo disse...

Gratidão! Sempre um privilégio dividir experiências com a gloriosa torcida alvinegra. Um orgulho inigualável ser parte dessa constelação.

Ruy Moura disse...

O elenco cresceu depressa demais este ano, Dinali. Desde a chegada da SAF eu afirmava que era preciso termos paciência com os títulos, porque o mais importate era o crescimento paulatino da equipe de modo a firmar-se com consistência e, então, disputar títulos. 2022 foi de reconstrução da equipe e saneamento das finanças do Clube; 2023 devia ter começado já muito melhor, mas Textor entendeu fazer birra com a FERJ e acabou suprimindo a pré-época. O Carioca correu mal e o inominável contestado pela torcida e, então, decidiu moldar uma equipe para vitórias rápidas. Deu resultado, esperava os reforços prometidos para evoluir, mas nenhum se mostrou interessante. Depis foi a saída dele, a confusão do Lage e os inacreditáveis LF e TN. Este ano o F. Matias aguentou a crise e, finalmente, o Textor decidiu fazer contratações a sério, o AJ chegou com 'pelo na venta' e estamos a liderar o Brasileirão, mas a ascensão foi rápida de mais, e, por isso, ainda temos algumas oscilações. E há o problema da ansiedade da torcida em querer ser campeã brasileira, porque como quase o conseguiu no ano passado, este ano deposita muitas esperanças num elenco finalmente capaz (o de 2022 estava apenas na média, como muitas vezes escrevi) e num treinador em que acredita. Mas o turbilhão da subida foi muito rápido. Todos - jogadores, técnico, torcida - têm que manter uma certa serenidade, porque a disputa de títulos deve ser feita sem a ansiedade que tdos temos. Naturalmente que não sei o que vai acontecer ainda este ano, porque estamos em duas provas com adversários difíceis,mas creio que se mantivermos técnico e a equipe, de modo a crescerem junts, em 2024 será um ano de arranque definitivo para disutarmos títulos com frequência e sem a ansiedade que todos temos.

Abraços Golriosos.

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