terça-feira, 6 de maio de 2008

Ser botafoguense: uma história de arquibancadas


por Jorge Alberto

Não, vocês não sabem o que é ser botafoguense. Somente o grupo de loucos, digo, apaixonados que torcem por este clube sabem o que é ser conduzido pela Estrela Solitária. Por isso, e se a minha memória ajudar, contarei algumas passagens vividas por mim em campos de futebol e no coração.

Houve tempo, que não queremos lembrar, mas que a história registrou, no qual a venerada camisa 7 vestiu jogadores que não a honraram, não por própria culpa, mas por uma fatalidade do destino. Desde meados da década de 70 até o festejado 21 de junho de 1989, passamos por penúrias, humilhações e momentos de incerteza; porém, jamais deixamos de acreditar que um dia chegaríamos lá. Sendo assim, idilicamente idolatrávamos o time bicampeão de 1967/68. Era uma verdadeira Seleção Brasileira.

Em uma tarde de domingo, não lembro o ano, mas sei que foi nos fins dos anos 70 e início dos anos 80 estava eu nas hoje antigas arquibancadas de concreto armado do Maracanã. Contava 18 anos de idade e jamais havia visto o Botafogo ser campeão. Também não lembro qual era o jogo. Lembro, sim, que o ataque do Botafogo era o que chamávamos na época de “ataque cardíaco”. Só dava desgostos aos nossos corações. Vejam qual foi um dos trios de atacantes: Cremilson, Puruca e Tiquinho. Uma tristeza de dar dó. Pra completar, na lateral direita o inominável Perivaldo, o Peri da Pituba, que era incapaz de acertar um cruzamento sequer para dentro da grande área adversária.

O primeiro tempo foi sofrível. Todos nós por pouco não tivemos uns três ataques cardíacos ao ver o referido trio não conseguir jogar bola. Ao findar o primeiro tempo, ouço uma série de soluços, diria mesmo que pareciam lamentos. Achei estranho. E os soluços de choro continuavam. Vez ou outra paravam e logo em seguida continuavam…
Comecei a procurar de onde viria este som, e ao virar-me para trás, vejo um homem de uns 40/45 anos segurando um envelope de papel pardo do tamanho que cabia uma folha de papel A4. Era ele quem chorava. Abria o envelope, retirava algo lá de dentro, suspirava e começava a chorar. Fez isso umas três vezes antes que eu me aproximasse para saber o que estava acontecendo.

Eu imaginei que poderia ser um atestado de óbito, um documento atestando a separação da mulher amada, um resultado de exame que lhe dera alguns dias de vida… Ao chegar perto…

“ - Amigo, está passando mal?”
“ - Não… (de cabeça baixa e segurando o envelope)”
“ - Aconteceu alguma coisa?”
“ - Também não… (e o envelope fechado)”

Eu estava curioso para saber o que havia ali dentro. Sem que eu pedisse, ele abriu o envelope e me mostrou o motivo de seu pranto…

“ - Olha… olha só….”

Ao ver o que era, eu não sabia se ria, chorava ou ficava solidário.
Era uma foto. A foto do time de 1968. Metade deste time e mais o técnico trouxeram a Taça Jules Rimet para o Brasil em 1970.

Ele a olhava e certamente se lembrava dos dias de alegria, começava a soluçar e chorar. Observava por uns tempos e a guardava novamente no envelope.

Eu o deixei só e voltei para o meu lugar e fiquei pensando: Caramba, eu não vi esses caras jogarem… o que será que eu perdi?

Fonte
http://recantodaspalavras.wordpress.com/

6 comentários:

Anónimo disse...

Rui, Saudações Alvinegras!

Fico contente por você ter postado em seu blog este texto que escrevi e hoje faz parte de um livro.

Grande abraço,

Jorge Alberto

Anónimo disse...

Bela historia!!!!

Ando sumido pela falta de tempo.

Conversando com amigos, alguns flamenguistas, cheguei a conclusão que ser qualquer outro time é seguir a maré, ser Botafogo é uma escolha é um ato de amor.

O engraçado é que fui atleta do flamengo, onde nadei e joguei polo aquático no final dos anos 70.

Fiquei muito animado com o anúncio das parcerias no Engenhão. Fico imaginando que estamos cada vez mais estruturados, acredito que mais alguns anos estaremos ganhando tudo.

Em contra partida, na Gávea se desfaz a parceria com a maior empresa de material esportivo do mundo.


Saudações alvinegras!!!!!!

Ruy Moura disse...

Oi, Jorge Alberto!

O texto é muito giro. Se tiver interesse eu cito o próprio livro também na fonte. Dê-me o título do livro, a data, o local e a editora.

Um abraço grande com SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES

Ruy Moura disse...

Oi, Guy!... Você é a prova de que foi eleito pelo Botafogo e não o inverso!... rsrsrs... Eu acho que fui eleito pela estrela solitária quando o brilho dela se cruzou com o meu olhar pela primeira vez!...

Sem menosprezo para ninguém, sempre achei que pertencer às maiorias, e sobretudo à 'situação', tira às pessoas a profundidade da vida. Um flamenguista, um corinthiano, um benfiquista, um madrilenho, um juventino, nunca saberá certas coisas acerca da paixão por um clube. O 'conforme' desconhece a 'inovação'... Tal como os americanos desconhecem pequenas coisas fabulosas espalhadas por esse mundo... E, todavia, nós conseguimos percebê-los. Por exemplo, a comemoração rubro-negra foi feita, entre outras coisas, com um jogador a enfiar uma chupeta na boca... Simplesmente ridículo e vulgar para homens crescidos... Mas quem sabe a chupeta seja um hábito do dito jogador... Enfim, as maiorias não conhecem as particularidades de êxtase das minorias... Seja no que for na vida... Por mim, sempre tive horror em pertencer a maiorias, seja um clube, um partido, uma religião... Sempre foram as minorias - e as elites - que conduziram as massas...

Sobre o Engenhão acho que têm sido feitas muitas asneiras... Espero ansiosamente pelas eleições de Novembro para a nova diretoria. O Emgenhão está a ser desperdiçado, pelo menos até agora, e já lá vão oito meses sem nada acontecer...

Eu apostaria na elaboração de um plano pluri-anual a médio e longo prazo para que então fossemos realmente grandes. E aí ganharíamos muitos títulos. Mas tem que ser uma diretoria ambiciosa e não fazer esta política de contratações mixurucas. Valha o Carlos Alberto agora... Vamos ver...

SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES

Anónimo disse...

Caro Rui,

Vale lembrar que estávamos destroçados como instituição há muito pouco tempo.
O trabalho de reconstrução saiu de menos do que zero.
Quanto ao Engenhão é um assunto todo novo, precisamos aprender a usá-lo.
Temos sorte, no Flamengo, muitos vivem de cafetinar o clube e a torcida.
Já no nosso Botafogo não cabe isso.
Estamos no caminho certo, talvez não com a velocidade desejada, mas com certeza no caminho certo.
Melhor ser minoria esclarecida do que maioria cega!!!!!

Abraços e saudações alvinegras.

Guy

Ruy Moura disse...

Eheheh... Essa faz lembrar os 'déspotas esclarecidos'!... rsrsrs... O 'meu' problema não são os reaprendizados que o Botafogo precisa fazer; o 'meu' problema é a falta de vontade para o aprendizado...

SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES

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