sábado, 31 de maio de 2008

Mané Garrincha - um fim sem glória

Mané Garrincha foi o jogador mais imprevisível do mundo e alvo dos mais espantosos encómios no reino do futebol.

Armando Nogueira interpretou muito bem as necessidades de Garrincha em campo quando sentenciou que “para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio.”

Pelé fez-lhe o tributo merecidíssimo quando afirmou que “sem Garrincha, eu nunca teria sido tricampeão do mundo".

Na Copa de 1962, Gavril Katchalin, técnico soviético, disse dele: “Garrincha é um verdadeiro assombro. Não pode ser produto de nenhuma escola de futebol. É um jogador como jamais vi igual." E o Jornal El Mercurio, de Santiago, titulou no final da Copa: "Garrincha, de que planeta vienes?"

Garrincha foi o mais imprevisível jogador do mundo. Jogava por prazer, driblava por prazer, marcava gols por prazer. As suas histórias são incontáveis, mas além do futebol duas coisas marcaram a sua vida: mulheres e álcool. Sobre ambas as coisas conto apenas duas histórias.

A primeira história refere-se às mulheres. O Botafogo fazia uma excursão a cidades estrangeiras, nas quais Garrincha, antes de mais nada, ocupava-se de saber onde ficava a “Casa da Marocas” – no caso, a zona do meretrício.

Em uma dessas escapadelas do craque, o técnico Zezé Moreira pegou um táxi e resolveu ir atrás dele. Quando finalmente encontrou Garrincha numa boîte, Zezé foi-se aproximando de mansinho por trás do jogador, que, no entanto, percebeu a sua presença através de uma das paredes espelhadas do recinto. Mais rápido, Garrincha saiu-se com essa:

“ – Aí, hem, seu Zezé? O senhor também aqui, na zona???”

Desconcertado, Zezé Moreira tratou de dar meia-volta e regressou sozinho para a concentração do Botafogo.

A segunda história refere-se ao álcool. Numa excursão do Botafogo, o técnico Zezé Moreira já percebera que Garrincha tomava muita água tónica. Então resolveu ir à sua mesa conferir:

“ – Bebendo sua água tónica, Garrincha?...”
“ – É, é isso mesmo, seu Zezé.”
“ – Me dá um pouquinho, estou com sede”, pediu o treinador.
“ – Mas eu já bebi no gargalo”.
“ – Não tem importância, Garrincha”. E estendeu a mão para recebê-la.

Garrincha passou-lhe temeroso a garrafinha. Zezé bebeu e a água tónica queimou-lhe a boca. Cuspiu fora. Era gin puro.

Paulatinamente Garrincha foi-se entregando a esta última amante indesejada – a bebida. Com cinquenta anos apenas Garrincha morreu na miséria, no abandono e com os órgãos desfeitos pelo álcool. Após sair do Botafogo andou de clube em clube e acabou entregue à bebida que o destruiu ano a ano e pouco a pouco.

Os últimos tempos da sua vida foram dramáticos. Moacir Franco escreveu uma derradeira balada ao mítico dono da camisa nº 7, que intitulou precisamente ‘Balada Número 7’ e cuja letra foi a seguinte:

“Sua ilusão entra em campo no estádio vazio
Uma torcida de sonhos aplaude talvez
O velho atleta recorda as jogadas felizes
Mata a saudade no peito driblando a emoção

Hoje outros craques repetem as suas jogadas
Ainda na rede balança seu último gol
Mas pela vida impedido parou
E para sempre o jogo acabou
Suas pernas cansadas correram pro nada
E o time do tempo ganhou

Cadê você, cadê você, você passou
O que era doce, o que não era se acabou
Cadê você, cadê você, você passou
No vídeo tape do sonho, a história gravou.

Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado
Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado
No campeonato da recordação faz distintivo do seu coração
Que as jornadas da vida, são bolas de sonho
Que o craque do tempo chutou

Cadê você, cadê você, você passou
O que era doce, o que não era se acabou
Cadê você, cadê você, você passou
No vídeo tape do sonho, a história gravou”

O corpo de Garrincha foi velado no Estádio do Maracanã, onde milhares de fãs lhe prestaram a última despedida. A urna do “Chaplin do futebol” foi coberta por uma bandeira do Botafogo e ele foi levado para a sua cidade natal, Pau Grande.

No cemitério onde o corpo de Garrincha repousa existe um pequeno memorial expressando o amor do Brasil pelo bicampeão mundial: "Ele era uma criança doce / Falava com os passarinhos".

4 comentários:

Rodrigo Federman disse...

Ah, Mané....
Só o Botafogo é capaz, Rui! Só o Botafogo!
Abs e SA!!!

Ruy Moura disse...

Rodrigo, eu acho que o Mané é a verdadeira pérola do futebol brasileiro. É certo qe Pelé foi o Rei, o mais perfeito, mas pelé nem sequer influenciou nenhuma das conquistas do tri-campeonato.

Pelá era perfeito demais, mas era marcável. Foi-o algumas vezes, e não jogou nada nesses jogos. Mas Garrincha era imarcável!... Nunca vi coisa igual!... Nunca me canso de rememorar os gols que vi dele, nem de rever os vídeos do youtube. É simplesmente indizível!...

SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES

Jorge Costa disse...

Caro Rui
Garrincha foi, na minha opinião, o maior jogador do BRASIL de todos os tempos. Não vou entrar no mérito extra campo de Garrinha, atenho-me somente o que ele produziu em campo com as camisas do Botafogo e da Seleção Brasileira.
Nos outros clubes em que jogou, já estava em declínio por problemas por todos já conhecidos.
Nota: Pelé é fora de quaisquer listas.
Vá ao meu blog e veja as alterações feitas na postagem do SPORTING.
O 2ºjogo contra o MTK não publiquei por não dispor da súmula do jogo.
Abraços vascaínos

Ruy Moura disse...

Jorge, vou postar a súmula no seu blogue.

SAUDAÇÕES ALVINEGRAS

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