
Osvaldo Orlando da Costa, o ‘Osvaldão’, nasceu em Passa Quatro (MG) a 27 de Abril de 1938 e faleceu em Araguaia a 4 de Fevereiro de 1974. Foi campeão de boxe pelo Botafogo de Futebol e Regatas e um dos principais guerrilheiros marxistas que integrou a Guerrilha do Araguaia no Norte do Brasil, por volta de 1966-67.
Osvaldão era um negro com 198 centímetros de altura e 100 quilos de peso, sapato 48 e uma barba cerrada. Foi membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e viveu na clandestinidade desde o golpe militar de 1964. Antes disso fora campeão de boxe pelo Botafogo e estudante de Engenharia de Minas, em Praga, na Checoslováquia.
Além do estudo em Engenharia de Minas, Osvaldão teve formação militar adquirida como oficial da reserva e frequentou o curso de Máquinas e Motores na Escola Técnica Nacional do Estado da Guanabara.
Osvaldão entrou na região de Araguaia com a missão de implantar uma guerrilha, tendo-se feito passar por garimpeiro e mariscador. À frente do Destacamento B, Osvaldão era um dos guerrilheiros mais temidos pelo Exército e participou com êxito de vários combates contra as tropas do governo.
Contam-se inúmeras lendas a respeito de Osvaldão, que era considerado imortal pela população. Eis uma delas:
“Um grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa, com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por ‘um negrão de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas pernas’, segundo descrição dos que o conheceram:
– Em vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim morre agora que fica mais fácil...
O grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão, homem justo.”
Outra:
“Estando de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada por que não tinha dinheiro para comprar comida para os filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se queria vender-lhe o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim que eu não poderei levá-lo agora para casa.”
Relatório Arroyo:
“Osvaldão morreu ali no Saranzal. Foi pegar comida e o Piauí deu um tiro nas costas dele. Era preto mesmo. Vi morto lá no São Raimundo, hericópiro levou ele.” [Depoimento de um índio Surui].
“Vi cortar a cabeça do Osvaldão. O sargento pegou a faca, lubrificou a faca e disse: ‘é bandido, tu agora não mia mais (...)’. Ai pegou a faca, pegou a cabeça dele, botou um pau em baixo e foi cortando. Foi cortando, cortando, cortando. E eu não tive coragem de olhar até ele terminar.” [Depoimento de um ex-guia do Exército]
“A Dina – diz que ela era baiana – foi pegada lá em Marabá: ia atravessar pro São Félix, mataram ela. O Osvaldão morreu sozinho – foi ali: nós vimos lá no São Raimundo [uma das pequenas bases de apoio do Exército dentro do mato], morto, pendurado pela corda no hericópire, por corda. Rapaz, ele era fogo mesmo – muito preto. Roupa dele não presta não, tudo rasgado. Enterraram todos no São Raimundo, mas já vieram buscar os ossos." 149 [Depoimento de um índio Surui].
“Levado morto para a base militar de Xambioá. Seu corpo foi mutilado por chutes, pedradas e pauladas dadas pelos militares e finalmente queimado e jogado no ‘buraco do Vietnã’ – depoimento de moradores a Comissão de Familiares que estiveram em Xambioá em 29/04/91.
A popularidade de Osvaldão devia-se ao seu carisma e aparência física. Essa popularidade foi confirmada pela professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Sandra Negraes Brizolla, que conheceu o guerrilheiro em Praga. Sandra acrescentou que era grande o sucesso do guerrilheiro entre as mulheres.
“Ele era bonito, chegou até a participar de filmes na Tchecoslováquia. Uma vez, foi a uma festa e fez o maior sucesso. Um dos presentes chegou a dizer: Vou embora. As tchecas estão a fim de negros e não de brancos.” [Depoimento de Sandra]
Sandra lembrou que Osvaldão ficou ainda mais famoso ao namorar uma loura que tinha quase a sua altura. O namoro aconteceu quando o guerrilheiro preparava a sua volta ao Brasil e a checa queria acompanhá-lo.
“– Aí ele me disse: - Sandrinha você acha que vou poder passear com uma lourona dessas em Copacabana? Vou ser linchado.”
O último comandante guerrilheiro a ser morto foi Osvaldão, o mais temido e procurado guerrilheiro comunista. Foi abatido à traição com vários tiros de espingarda, numa tarde de chuva fina em Fevereiro de 1974, quando comia um pedaço de milho num milharal de São Domingos, pelo ‘bate-pau’ maranhense que ajudava o Exército.
As principais homenagens a Osvaldão foram as seguintes:
· Nome da antiga Rua R, no Bairro Braúnas em Belo Horizonte – Dec. N.º 6392 – 16/09/93 (Rua Viva – Homenagem aos mortos e desaparecidos políticos mineiros – pag. 54).
· Nome da antiga Rua 01, no Residencial Cosmo, em Campinas, com início na antiga Avenida 03 Cid. Sat. Íris e término na Divisa Equip. Púb. Urbano SANASA – Lei nº 9497, de 20/11/97.
Após a publicação deste artigo o meu amigo Danilo fez um comentário revelando que quando estudou no CEFET, antiga Escola Técnica Nacional, fez parte do Grêmio Estudantil, o qual foi denominado pelos estudantes do tempo de Danilo como “Grêmio Estudantil Osvaldo Orlando da Costa", em homenagem ao ex-aluno que dedicou sua vida à luta e à causa que defendia.
Fontes principais:
Acervo e pesquisa de Rui Moura
Acervo de Danilo Rosa Paiva
http://fomerlatdepefyrecodnanref-dmvyj.blogspot.com/
http://www.vermelho.org.br/
Osvaldão era um negro com 198 centímetros de altura e 100 quilos de peso, sapato 48 e uma barba cerrada. Foi membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e viveu na clandestinidade desde o golpe militar de 1964. Antes disso fora campeão de boxe pelo Botafogo e estudante de Engenharia de Minas, em Praga, na Checoslováquia.
Além do estudo em Engenharia de Minas, Osvaldão teve formação militar adquirida como oficial da reserva e frequentou o curso de Máquinas e Motores na Escola Técnica Nacional do Estado da Guanabara.
Osvaldão entrou na região de Araguaia com a missão de implantar uma guerrilha, tendo-se feito passar por garimpeiro e mariscador. À frente do Destacamento B, Osvaldão era um dos guerrilheiros mais temidos pelo Exército e participou com êxito de vários combates contra as tropas do governo.
Contam-se inúmeras lendas a respeito de Osvaldão, que era considerado imortal pela população. Eis uma delas:
“Um grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa, com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por ‘um negrão de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas pernas’, segundo descrição dos que o conheceram:
– Em vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim morre agora que fica mais fácil...
O grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão, homem justo.”
Outra:
“Estando de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada por que não tinha dinheiro para comprar comida para os filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se queria vender-lhe o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim que eu não poderei levá-lo agora para casa.”
Relatório Arroyo:
“Osvaldão morreu ali no Saranzal. Foi pegar comida e o Piauí deu um tiro nas costas dele. Era preto mesmo. Vi morto lá no São Raimundo, hericópiro levou ele.” [Depoimento de um índio Surui].
“Vi cortar a cabeça do Osvaldão. O sargento pegou a faca, lubrificou a faca e disse: ‘é bandido, tu agora não mia mais (...)’. Ai pegou a faca, pegou a cabeça dele, botou um pau em baixo e foi cortando. Foi cortando, cortando, cortando. E eu não tive coragem de olhar até ele terminar.” [Depoimento de um ex-guia do Exército]
“A Dina – diz que ela era baiana – foi pegada lá em Marabá: ia atravessar pro São Félix, mataram ela. O Osvaldão morreu sozinho – foi ali: nós vimos lá no São Raimundo [uma das pequenas bases de apoio do Exército dentro do mato], morto, pendurado pela corda no hericópire, por corda. Rapaz, ele era fogo mesmo – muito preto. Roupa dele não presta não, tudo rasgado. Enterraram todos no São Raimundo, mas já vieram buscar os ossos." 149 [Depoimento de um índio Surui].
“Levado morto para a base militar de Xambioá. Seu corpo foi mutilado por chutes, pedradas e pauladas dadas pelos militares e finalmente queimado e jogado no ‘buraco do Vietnã’ – depoimento de moradores a Comissão de Familiares que estiveram em Xambioá em 29/04/91.
A popularidade de Osvaldão devia-se ao seu carisma e aparência física. Essa popularidade foi confirmada pela professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Sandra Negraes Brizolla, que conheceu o guerrilheiro em Praga. Sandra acrescentou que era grande o sucesso do guerrilheiro entre as mulheres.
“Ele era bonito, chegou até a participar de filmes na Tchecoslováquia. Uma vez, foi a uma festa e fez o maior sucesso. Um dos presentes chegou a dizer: Vou embora. As tchecas estão a fim de negros e não de brancos.” [Depoimento de Sandra]
Sandra lembrou que Osvaldão ficou ainda mais famoso ao namorar uma loura que tinha quase a sua altura. O namoro aconteceu quando o guerrilheiro preparava a sua volta ao Brasil e a checa queria acompanhá-lo.
“– Aí ele me disse: - Sandrinha você acha que vou poder passear com uma lourona dessas em Copacabana? Vou ser linchado.”
O último comandante guerrilheiro a ser morto foi Osvaldão, o mais temido e procurado guerrilheiro comunista. Foi abatido à traição com vários tiros de espingarda, numa tarde de chuva fina em Fevereiro de 1974, quando comia um pedaço de milho num milharal de São Domingos, pelo ‘bate-pau’ maranhense que ajudava o Exército.
As principais homenagens a Osvaldão foram as seguintes:
· Nome da antiga Rua R, no Bairro Braúnas em Belo Horizonte – Dec. N.º 6392 – 16/09/93 (Rua Viva – Homenagem aos mortos e desaparecidos políticos mineiros – pag. 54).
· Nome da antiga Rua 01, no Residencial Cosmo, em Campinas, com início na antiga Avenida 03 Cid. Sat. Íris e término na Divisa Equip. Púb. Urbano SANASA – Lei nº 9497, de 20/11/97.
Após a publicação deste artigo o meu amigo Danilo fez um comentário revelando que quando estudou no CEFET, antiga Escola Técnica Nacional, fez parte do Grêmio Estudantil, o qual foi denominado pelos estudantes do tempo de Danilo como “Grêmio Estudantil Osvaldo Orlando da Costa", em homenagem ao ex-aluno que dedicou sua vida à luta e à causa que defendia.
Fontes principais:
Acervo e pesquisa de Rui Moura
Acervo de Danilo Rosa Paiva
http://fomerlatdepefyrecodnanref-dmvyj.blogspot.com/
http://www.vermelho.org.br/
10 comentários:
Rui, sei também de outra homenagem ao Osvaldão: estudei no CEFET (a antiga Escola Técnica Nacional)no meu segundo grau e fiz parte do Grêmio Estudantil de lá. Nessa época, o batizamos de "Grêmio Estudantil Osvaldo Orlando da Costa", em homenagem ao ex-aluno que dedicou sua vida à luta e à causa que defendia.
Grande abraço!
Danilo
Amigo Rui!
Vivi a ditadura da minha infância até a adolescência. Os anos mais duros de repressão tinha entre 9 a 15 anos. Servi o exército no ano de 1975 e o comandante do quartel era um Coronel que só vivia a enaltecer o regime e queria nos convencer disso. Tanto que todos os dias, pela manhã, as 08h00min, a tropa perfilava para o seu discurso. Um autêntico ditador.
Até hoje tenho aversão pelos militares, e pelo momento que vivo na cidade do Rio de Janeiro com tanta violência tenho o mesmo sentimento pela Policia Militar do estado.
Ao mesmo tempo tenho uma simpatia muito grande por aqueles que lutaram contra a ditadura e a cada livro lido, sobre esse momento histórico vivido pelo Brasil, tenho a certeza que qualquer ditadura é maléfica para o desenvolvimento de uma nação. Saiba que a simpatia pelo Osvaldão era grande e ficou ainda maior por saber da sua ligação com o nosso BOTAFOGO.
Rui, a cada dia tenho convicção que ao ligar o micro não posso deixar de passar pelo MUNDO BOTAFOGO, pois a cada acesso adquiro cultura seja pelo nosso querido GLORIOSO ou sobre tudo que acontece ou aconteceu no Mundo.
Volto a repetir é SALUTAR passar por esse espaço, pois sempre aprendo mais um pouco.
Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!
Fazia falta hoje em dia um Osvaldão
no banco do Botafogo. Queria ver se seriamos tão roubados...
Leonel de Jesus
Bela informação, Danilo. Vou acrescentar.
Saudações Gloriosas.
Gil, vivi a ditadura brasileira desde o início até 1969. Cheguei a Portugal e vivi o fim de outra até 1974. Em 1973 entrei para o exército. Era um exército fascista que sustentava uma ditadura de 48 anos e mantinha uma guerra colonial já há 12 anos. Por isso, bainda em pior do que o que se passou no Brasil. Sei bem avaliar os seus sentimentos porque conheci e enfrentei os militares fascistas - porque eu sou militar de Abril. Participei na Revolução dos Cravos em 1974 e só saí do exército em 1975. O 25 de Abril de 1974 foi o acontecimento público mais importante da minha vida.
Creio que futebol e desporto também podem veicular cultura associada aos acontecimentos. Como dizia Gandhi, quem não perceber que a religião também é política, não sabe nada de religião. Eu direi que quem não perceber que desporto pode gerar cultura, não sabe nada de desporto.
Abraço, Gil!
Amigo Leonel, se o Osvaldão andasse por aí não só acabava com as roubos mas também com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro e a Confederação Brasileira de Futebol , com a Comissão de Arbitragem lá dentro!... rsrsrs...
Saudações Gloriosas!
Que história linda do Osvaldão! Os comentários, então, são igualamente extraordinários. li com muita atenção.
É uma história fascinante de doação, solidariedade e luta. E entre a lenda e a realidade a figura de Osvaldão é verdadeiramente mítica. Hoje o que se observa principalmente, destruídos que foram muitos dos sonhos da década de 1960, é o crescimento do egoísmo e da ganância, o desprezo pelo Outro e a procura da vantagem pessoal a todo o custo. E a pandemia, ao contrário do que se poderia esperar, veio globalmente pôr a nu essa faceta egocêntrica.
Abraços Gloriosos.
Valeu, pelo Osvaldão! Pela lembrança do Guerrilheiro. Pelo espírito da 'utopia, que eu também faço parte.
Grande e Glorioso abraço, Vitor!
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