
por Gerson Soares
Em algumas de minhas crônicas, tenho dito que raramente vi Mané Garrincha triste. Mas houve uma época em que o Gênio das Pernas Tortas viveu um momento desses, que, no entanto, não foi somente dele: também meus irmãos e eu ficamos muito tristes.
Foi no período em que Mané resolveu assumir, mesmo que oficiosamente, o romance com EIza. Ele não imaginava que o casal e nós, filhos, sofreríamos uma avalanche de represálias por causa da decisão. Não vou, aqui, descrever alguns daqueles episódios lamentáveis, pois não caberiam nesta página ou até mesmo em todas as páginas desta edição dominical. Porém, uma das ações praticadas por desalmados hipócritas não sai de nossa memória até hoje, devido à falta de sensibilidade e respeito por dois patrimônios nacionais: Garrincha e Elza Soares.
Após a vitoriosa Copa do Mundo de 1962, Mané voltou como o grande artífice do título. Foram jogadas magníficas, dribles desconcertantes, gols fundamentais, passes decisivos. Trouxe a Taça Julies Rimet, a faixa de bicampeão, alguns troféus belos e caros, mas, para nós, crianças, o que mais nos agradou na sua rica bagagem foi aquele cãozinho preto que invadira o campo na partida contra a Tchecoslováquia.
O povo chileno, em agradecimento pela exibição de gala de Garrincha, deu-lhe o animalzinho de presente. Com certeza, para Mané esse também foi o troféu mais significante trazido do Chile. Como não ligava para badalações, dinheiro, medalhas, troféus, faixas, pois tudo isso não lhe respondia aos anseios, aquele cão, que batizamos de Bi, tornou-se um amigo fiel, inseparável de nós todos, principalmente de seu dono.
Saímos da casa no bairro da Urca. Alguns torcedores do Botafogo, muitos deles induzidos por um radialista de má índole, apedrejavam sempre nossas janelas, atiravam ovos nas paredes e telhados. E por não serem reprimidos como deveriam, passaram a nos provocar, indo e vindo, diante do portão, com um caixão de defunto. Choravam e gritavam, lamentando, o que eles diziam ter sido a morte de Garrincha.
Isso tudo na casa da Ilha do Governador. Ainda me lembro que recebemos visitas ilustres, solidários em nossa via-crúcis: Elizeth Cardoso, Grande Otelo, Clara Nunes... Mas a perseguição a todos nós continuou.
Na bela casa, Mané tratava dos péssaros e íamos dar uma volta na praia, sempre acompanhados de Bi, que despertava a curiosidade dos fãs e daqueles que o viram entrar no gramado e ficar mundialmente conhecido. Muitas crianças iam até a nossa casa apenas para ver o dócil Bi, que gostava de ser acariciado por elas.
Numa manhã, Mané, depois de cuidar dos pássaros, pegou uma vara de pescar e me convidou para ir à praia. Aceitei de imediato. Ao sair, Mané assobiou para chamar Bi, que adorava esbaldar-se na areia da praia. O cachorro não atendeu. Não era a primeira vez que não atendia. Mas não nos preocupamos, porque, às vezes, ele gostava de ficar dormindo até mais tarde. Depois então, sozinho, ia nos encontrar.
Por volta das 11 horas voltamos para casa sem ter pescado nada. Mané estranhou a ausência de Bi. Provavelmente, Elza ou algum de meus irmãos não o deixou sair, talvez por estar doente. Chegamos em casa e procuramos por Bi, que continuava a não responder aos chamados. Não o encontramos. Logo suspeitamos de que havia sumido ou que tivesse sido roubado. Mas o pior estava por chegar ao nosso conhecimento. Um gari, que nos conhecia e a ele, encontrou-o num terreno abandonado que ficava atrás da nossa casa. Isso mesmo: Bi estava morto. Depois, soubemos que Bi fora envenenado por aqueles algozes covardes, que, por não conseguirem atingir Mané ou Elza, encontraram em Bi a maneira de expressar a inveja e o ciúme que a união dos dois provocou.
Mané ficou triste e por quase uma semana não foi à rua. E por muito tempo não sorriu.
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Fonte: www.sosserve.com.br
Em algumas de minhas crônicas, tenho dito que raramente vi Mané Garrincha triste. Mas houve uma época em que o Gênio das Pernas Tortas viveu um momento desses, que, no entanto, não foi somente dele: também meus irmãos e eu ficamos muito tristes.
Foi no período em que Mané resolveu assumir, mesmo que oficiosamente, o romance com EIza. Ele não imaginava que o casal e nós, filhos, sofreríamos uma avalanche de represálias por causa da decisão. Não vou, aqui, descrever alguns daqueles episódios lamentáveis, pois não caberiam nesta página ou até mesmo em todas as páginas desta edição dominical. Porém, uma das ações praticadas por desalmados hipócritas não sai de nossa memória até hoje, devido à falta de sensibilidade e respeito por dois patrimônios nacionais: Garrincha e Elza Soares.
Após a vitoriosa Copa do Mundo de 1962, Mané voltou como o grande artífice do título. Foram jogadas magníficas, dribles desconcertantes, gols fundamentais, passes decisivos. Trouxe a Taça Julies Rimet, a faixa de bicampeão, alguns troféus belos e caros, mas, para nós, crianças, o que mais nos agradou na sua rica bagagem foi aquele cãozinho preto que invadira o campo na partida contra a Tchecoslováquia.
O povo chileno, em agradecimento pela exibição de gala de Garrincha, deu-lhe o animalzinho de presente. Com certeza, para Mané esse também foi o troféu mais significante trazido do Chile. Como não ligava para badalações, dinheiro, medalhas, troféus, faixas, pois tudo isso não lhe respondia aos anseios, aquele cão, que batizamos de Bi, tornou-se um amigo fiel, inseparável de nós todos, principalmente de seu dono.
Saímos da casa no bairro da Urca. Alguns torcedores do Botafogo, muitos deles induzidos por um radialista de má índole, apedrejavam sempre nossas janelas, atiravam ovos nas paredes e telhados. E por não serem reprimidos como deveriam, passaram a nos provocar, indo e vindo, diante do portão, com um caixão de defunto. Choravam e gritavam, lamentando, o que eles diziam ter sido a morte de Garrincha.
Isso tudo na casa da Ilha do Governador. Ainda me lembro que recebemos visitas ilustres, solidários em nossa via-crúcis: Elizeth Cardoso, Grande Otelo, Clara Nunes... Mas a perseguição a todos nós continuou.
Na bela casa, Mané tratava dos péssaros e íamos dar uma volta na praia, sempre acompanhados de Bi, que despertava a curiosidade dos fãs e daqueles que o viram entrar no gramado e ficar mundialmente conhecido. Muitas crianças iam até a nossa casa apenas para ver o dócil Bi, que gostava de ser acariciado por elas.
Numa manhã, Mané, depois de cuidar dos pássaros, pegou uma vara de pescar e me convidou para ir à praia. Aceitei de imediato. Ao sair, Mané assobiou para chamar Bi, que adorava esbaldar-se na areia da praia. O cachorro não atendeu. Não era a primeira vez que não atendia. Mas não nos preocupamos, porque, às vezes, ele gostava de ficar dormindo até mais tarde. Depois então, sozinho, ia nos encontrar.
Por volta das 11 horas voltamos para casa sem ter pescado nada. Mané estranhou a ausência de Bi. Provavelmente, Elza ou algum de meus irmãos não o deixou sair, talvez por estar doente. Chegamos em casa e procuramos por Bi, que continuava a não responder aos chamados. Não o encontramos. Logo suspeitamos de que havia sumido ou que tivesse sido roubado. Mas o pior estava por chegar ao nosso conhecimento. Um gari, que nos conhecia e a ele, encontrou-o num terreno abandonado que ficava atrás da nossa casa. Isso mesmo: Bi estava morto. Depois, soubemos que Bi fora envenenado por aqueles algozes covardes, que, por não conseguirem atingir Mané ou Elza, encontraram em Bi a maneira de expressar a inveja e o ciúme que a união dos dois provocou.
Mané ficou triste e por quase uma semana não foi à rua. E por muito tempo não sorriu.
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Fonte: www.sosserve.com.br
8 comentários:
Amigo Rui,
A hipocrisia é um dos males que assola a humanidade.
Se todos nós seguissemos o grande conselho do mestre JESUS (quem nunca cometeu pecado que atire a primeira pedra), acredito que o mundo seria um pouco melhor.
Salve nosso querido MANÉ e a Elza.
Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!
Realmente uma covardia !
Deus livre todos nós do caminho desses covardes,
Lamentável a decisão politiqueira de hoje prejudicando o Vasco da Gama.
O Vasco hoje não têm influência na federação mas também não é oposição. Porém calhou de surgir a oportunidade do ex-deputado prejudicar a nova administração vascaína e por consequência o clube. De quebra, ainda tem o interesse abjeto do fluminense, esse sim ligadíssimo a todo esse sistema que atrasa o futebol carioca há décadas. Uma vez que o ex-deputado se afastasse da federação, não duvido que a atual diretoria do vasco aderisse ao time de Rubinho e seus horcades. Como o ex-deputado não deve se afastar tão cedo, o vasco vai saber o que Botafogo e América vêm passando no Rio ao longo dos anos.
Outra coisa: se na mesma semana da 1ª rodada o vasco perdesse logo os pontos e de antemão já soubesse que tem menos 6 pontos, ele jogaria seus jogos com outro espírito e talvez não perdesse 2 pontos em casa para a Cabofriense. Com um golzinho ali e o julgamento de hoje definiria apenas a ordem de classificação entre vasco e flu, pois ambos já estariam classificados.
Vejam como são as coisas: há 2 anos o campeonato carioca vinha muito bem, regulamento excelente, apenas 12 clubes, o que permitia até que as finais de turno fossem em dois jogos. De repente, no seguinte aumentam para 16 e fazem aquela bizarrice de grandes só em casa. Agora, além das coisas em favor do Bangu na 2ª divisão, com o famoso jogo Bonsucesso x Bangu em que o notório Marcelo Lima Henrique deu WO, ainda fazem essa palhaçada de tumultuar o tribunal em favor de um ex-deputado e de um clube sem escrúpulos. Isso sem falar de um clube que só joga em 2 estádios, abre e fecha sua participação contra pequenos em casa, e ainda se diz “oposição”.
Infelizmente, Gil, a humanidade ocupa-se muito da discussão de pessoas e de cosias, em vez da discussão de ideias. Já estamos habituados, não é?...
Abraços Gloriosos!
O problema, Roberto, é que os cobardes (e os traidores) estão no nosso caminho... Então, resta-nos SACUDI-LOS PARA LONGE!
Saudações Gloriosas!
Fernando, classifico de 'canalhice'. O Rio dos 'flafluenses' quer mesmo ir para o charco. Quando estiverem só os dois repartem os cariocas ano sim ano não e... não ganham mais nada... Clubes sem visão...
Mas acredito que nós ainda ganharemos coisas fora do Rio... É uma questão de focalização, coisa que até agora ainda não fizemos.
Saudações Gloriosas!
Um absurdo isso que fizeram com o cãozinho e consequentemente com o Garrincha. Não estou me lembrando do autor frances que escreveu, no livro chamado "O Problema número um" : "a estupidez humana não tem limites". Falando em estupidez, se fosse um defunto que valesse a pena, este falecido e outrora grande campeonato carioca mereceria que se compusesse um réquiem. Mas na atual circunstância, que já vem de longa data, este torneiozinho vagabundo deveria ser enterrado sem honras. Aliás não só ele, mas esses dirigentes canalhas que na verdade são uns mortos vivos, matando o prazer de pessoas simples que apenas querem se divertir vendo o esporte que gostam. Poderia acrescentar a estes mortos vivos, governantes, políticos e autoridades brasileiras, mas aí já seria uma outra conversa, digna de uma tese de doutorado sobre o lixo em que está se transformando o nosso pobre rico Brasil. Ao nosso combalido futebol brasileiro, em especial o carioca, só nos resta desejar: "Requiem aeternam dona eis, Domine. (Dai-lhes o repouso eterno, Senhor. Abs e SA!
Sergio, por mim daria repouso eterno ao campeonato carioca, apesar da tradição. É coisa de bairro numa sociedade global. Além disso, se pertence aos urubus e aos laranjeiros, para quê preocuparmo-nos com tal? Por mim, seria competição para lançar juniores, preparar esquemas, etc. para as três outras competições: Copa Brail, Campeonato Brasil, Competição Sul-americana.
Antigamente, em Portugal, os distritos faziam campeonatos. Havia o campeonato de Lisboa... o Porto... Um dia tudo isso acabou... O Botafogo seria pioneiro ao contribuir para acabar com este 'campeonatinho de urubus rastejantes'...
Sauações Gloriosas!
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