Botafogo 3x2 Macaé

A minha primeira sensação, que perdurou praticamente até ao fim da primeira parte, foi a de ‘ano novo, vida velha’. Eu explico.

O Botafogo começou por jogar desarticulado com pouco ligação entre os seus setores, correndo muito, mas mal, e evidenciando uma defesa muito frágil que praticamente ofereceu os dois gols do Macaé.

Na verdade, eu esperava isso. Costumo dizer que não percebo de futebol porque não é a minha profissão; no ‘fazer’ eu domino o que devo fazer, mas no ‘lazer’ sou apenas um leigo torcedor. Não obstante, penso que há coisas óbvias que qualquer torcedor deve compreender, mas que pelo menos Maurício Assumpção e André Silva, na qualidade de torcedores botafoguenses, incrivelmente não sabem: que a construção de uma equipa começa no goleiro e finda no ataque.

Quero com isto evidenciar que o Botafogo começou a reforçar-se ao contrário: começou pelo ataque (reforçando-se bem), passou ao meio campo (reforçando-se entre mediano a mal) e esqueceu-se da defesa uma vez mais (reforçando-se mal). Creio que isto mostra que o ‘bando dos quatro’ para o futebol são apenas três e que a equipa não é obra de Estevam Soares, mas dos empresários que levaram para o Botafogo as suas sobras, salvo raras exceções, a coberto da Corte dos Gordos que continua a dominar o futebol sem dele nada perceber.

Em função disso, e da clara falta de entrosamento dos jogadores devido a iniciarem a época tardiamente, sobressaíram os fracos esquemas defensivos do Macaé e do Botafogo. À exceção do golaço de Lúcio Flávio, os demais quatro gols foram, sobretudo, o resultado de defesas muito abertas devido à correria de todos os jogadores em campo e ao consequente desligamento dos setores. Durante a primeira parte temi pelo resultado final do encontro.

Não obstante, um inspiradíssimo Lúcio Flávio, um surpreendente Herrera de combate, um seguríssimo Jefferson e um Marcelo Cordeiro em franco crescimento durante o jogo, conseguiram virar o placar em cima da virada do Macaé e garantir a vitória final ainda na primeira parte.

Apesar de eu não ser fã de Lúcio Flávio, creio que ele foi prejudicado em 2009 por Reinaldo e Victor Simões, que não jogaram nada e não souberam aproveitar muitos dos seus passes. Hoje, Lúcio Flávio fez um golaço e deu os passes mortíferos para os outros dois gols, além de ter organizado o ataque e dado pelo menos mais dois passes de gol feito, um dos quais desperdiçado por Jorge Luiz, que não mostrou nenhuma qualidade especial nesta partida.

Na meta, Jefferson ia salvando algumas brechas da defesa, não tendo levado mais gols devido à grande fase que atravessa. Entretanto, Herrera foi fundamental em movimentação à frente e parece-me que poderá ser um excelente complemento de Loco Abreu, que seguramente saberá aproveitar passes mortíferos de Herrera e Lúcio Flávio.

Na medida em que o Botafogo terminou a primeira parte com uma vitória de virada e o Macaé não teve a mesma disposição no segundo período de jogo, o Botafogo acertou as falhas de marcação e segurou o Macaé no seu terreno, limitando-se praticamente a gerir o resultado – tendo agido mal, porque julgo que deveria ter assegurado o 4º gol – e acabou por ganhar com o resultado da 1ª parte.

Digamos que, de certo modo, eu vi um ‘ano novo, vida velha’, mas a vontade mostrada pelos jogadores, a maior calma apresentada na segunda parte e os desempenhos, sobretudo, de Lúcio Flávio, Herrera, Jefferson e Marcelo Cordeiro, agradaram-me sobremaneira. Creio que Loco Abreu dará um potencial de fogo importante ao ataque e que faltam, ainda, os reforços que Estevam Soares falou e que o presidente e os seus acólitos não entenderam o quanto são importantes: um meia que complemente o jogo cadenciado de Lúcio Flávio com jogadas mais fortes de ‘carregador de piano’ e zagueiros dignos desse nome.

Alessandro, Antônio Carlos, Wellington e Fahel foram mal durante o jogo - e surpreendentemente também Leandro Guerreiro, aparentemente fora de forma. Particularmente não compreendo o que ainda faz Fahel no plantel do Botafogo.

Duas palavras sobre os mais jovens, os quais, ao contrário de alguns torcedores que pedem mundos e fundos para a sua nomeação na equipa principal, creio que não estão preparados para se afirmarem como titulares. Na verdade, Estevam Soares deu hoje a chance a Jorge Luiz e a Caio, mas não me parece que possam fazer parte já da equipa principal. Quanto a Jorge Luiz, nada de especial foi visto e no que respeita a Caio, que foi melhor que Jorge Luiz, o rapaz mostrou ser egoísta e individualista, chutando por duas vezes quase sem ângulo quando podia passar a bola em dois passes potencialmente mortíferos – não será desse modo que se irá afirmar visto que o essencial é que se mostre peça de coletivo. Creio que os ‘afamados’ juniores ainda não serão a ‘chave de ouro’ de 2010, tal como aliás venho afirmando há muito tempo. A ‘prata da casa’ não deve ser atirada aos leões, mas gerida de modo especial, coisa que nem as comissões técnicas nem os torcedores apressados perceberam ainda.

Veremos como será a evolução da equipa no próximo jogo e, sobretudo, como se apresentará frente ao Vasco da Gama dentro de uma semana.

FICHA TÉCNICA
Botafogo 3x2 Macaé Esporte Clube
» Gols: Herrera 2', Lúcio Flávio 36' e Marcelo Cordeiro 43' (Botafogo); André 4' e Fernandão 32' (Macaé)
» Competição: campeonato carioca
» Data: 16/01/2010
» Local: Estádio Godofredo Cruz, Campos dos Goytacazes (RJ)
» Arbitragem: João Batista de Arruda (RJ); Marco Aurélio dos Santos (RJ) e Luiz Felipe Guerra (RJ)
» Cartões amarelos: Fahel (Botafogo); Bill, Diego e Da Siva (Macaé)
» Botafogo: Jefferson; Alessandro, Antonio Carlos, Wellington e Marcelo Cordeiro (Edson); Leandro Guerreiro, Fahel, Eduardo e Lúcio Flávio; Jorge Luiz (Caio) e Herrera (Diguinho). Técnico: Estevam Soares
» Macaé: Lugão; Thiago Maciel (Fred), André, Otávio e Bill (Léo Santos); Gedeil, Da Silva (Amaral), André Gomes e Diego; Anderson e Fernandão. Técnico: Toninho Andrade