Tenho
lido nos últimos dias que uma parte de torcedores botafoguenses parabenizam o
time por ter vencido na ‘garra’. Ora, não venceram na ‘garra’, mas apenas se aperceberam
que o esfarrapado e desconchavado time do Palmeiras era frágil e covarde. Só se
aperceberam disso no 2º tempo, porque além de fracos tecnicamente há uma grande
parte de atletas mentalmente lentos, como é o caso de Fábio Ferreira,
Antônio Carlos ou Elkeson, cujo pensamento ocorre muito depois dos
acontecimentos.
Mas
se admitirmos que o Botafogo venceu na ‘raça’ e na ‘garra’ tem que se admitir
que é tecnicamente medíocre, porque um time que precisa apelar à ‘raça’ e à ‘garra’
perante um time desfigurado, desmembrado e sem banco, é porque tecnicamente não
presta mesmo. O apelo à ‘raça’ faz sentido quando se está perante um grande
equilíbrio ou quando se é tecnicamente inferior.
Eu
não quero um Botafogo com ‘raça’; eu quero um Botafogo técnico que leve os
adversários de vencida pela sua qualidade. Esta coisa da ‘raça’ faz-me lembrar
aqueles que fazem as coisas com pouca qualidade e argumentam que se esforçaram
muito. Ah, sim… como se esforço fosse saber, técnica ou coisa parecida. Há quem
com menos esforço faça mais e com mais esforço faça menos. O que interessa
realmente é que o esforço – seja ele qual for – tenha uma contrapartida de
resultado qualitativamente válido e não um produto sofrível e qualitativamente
indiferenciado.
Claro
que tenho o ‘problema’ de ter pertencido à juventude ‘make love not war’, ‘The
Beatles’ e ‘Rolling Stones’, maio de 68 em França e abril de 74 em Portugal, manifestação
contra as últimas ditaduras europeias dos coronéis gregos e dos fascistas da
Península Ibérica e as ditaduras da América do Sul de inspiração americana, a
contestação a valores arcaicos que abriu caminho a novos valores de liberdade,
cidadania e solidariedade social, que permitiu lançar definitivamente as
mulheres para a vida pública, que questionou o capitalismo selvagem, a
destruição ambiental e os desequilíbrios planetários norte-sul.
Tudo
contrário aos ‘vendilhões’ que oportunistamente assolam a vida social.
Em
suma, jamais apoiarei quem não esteja na senda do progresso ou se conforme com ‘trocos’
ou ‘benefícios’ baratos e deixe para os outros as notas grandes e o exercício
da dominação; jamais contemporizarei com os fatalistas, os puxa-sacos e os
parasitas sociais; jamais pactuarei com a incompetência, a falta de qualidade,
a ausência de coragem, ousadia e inovação; jamais darei cobertura a dirigentes
que de visão e de estratégia situam-se no ponto zero; jamais darei cobertura a
comissões técnicas que nunca se formaram em estratégia, tática e outros
preceitos da profissão de treinador; jamais parabenizarei um time que
tecnicamente nada fez a não ser vencer um depauperado adversário cujo banco de
reservas tinha um goleiro e quatro defesas; jamais me conformarei com o que se passa
no Botafogo – cuja diretoria, que com o argumento da criação de estruturas e de
novas modalidades esportivas, afunda o futebol pelas mãos de um presidente
dedicado às modalidades olímpicas, de um gerente excessivamente ‘empresarializado’
e de treinadores que após arrumarem as chuteiras como atletas acharam-se
soberbos para dirigirem – e enterrarem – as equipas de futebol.
Lamento
que, além da tradicional imbecilidade cathartiforme, também haja no Botafogo de
Futebol e Regatas torcedores que contemporizem com o estado de coisas que o
Botafogo enfrenta. Mas, claro, o Botafogo já não é o que era: talvez jamais torne
a dispor de dirigentes como Paulo Antônio Azeredo, Carlito Rocha, Renato
Estelita ou Adhemar Bebiano, de jornalistas torcedores como João Saldanha,
Armando Nogueira, Oldemário Toguinhó ou Sandro Moreira, de atletas como os
campeões do mundo Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Zagallo, Jairzinho
ou Roberto Miranda, de torcedores como Peixoto, Tolito, Tarzã ou Russão.
Definitivamente,
se os torcedores botafoguenses não encontrarem líderes capazes de gerarem uma
forte corrente opositora e construtora de uma alternativa credível e futurível,
estaremos definitivamente entregues a Maurícios Assumpções, Andrés Silvas e
Andersons Barros, apoiados por Montenegros, Palmeiros, Rolins e Mantuanos, sob
os auspícios das organizadas recheadas de camisinhas, bandeirinhas e
bilhetinhos de ingressos que nada custaram.
Tudo
‘inhos’ para a grandeza do futuro ‘botafoguinho’…
6 comentários:
Pois é, ou a gente assume de vez que viramos clube pequeno ou nos indignamos com isso tudo
A torcida esta na encruzilhada!
Brilhante texto. Penso da mesma forma.
Sintetizou tudo, amigo Marco Antonio.
Abraços Gloriosos!
Rui,
Ao sair do estádio, escutando entrevista do OdeO fiquei pensando se os repórteres ou os torcedores acreditam no que ele fala. Houve apenas uma pergunta sobre a falta de atacantes e ele diz que com essa escalação e esquema somos o terceira melhor ataque no brasileiro.
Ninguem contestou ou rebateu! Se somos o terceiro sem atacantes, com apenas um de ofício, seria ou poderíamos brigar, com mais chance, pelo primeiro lugar.
Todas as vezes que vou ao estádio vejo pessoas com "camisinhas" das organizadas vendendo "bilhetinhos" que recebem de graça.
Como disseste é e está tudo “inho”!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Eu assisti ao que ele disse, Gil. Como é que um homem de argumentos tão medíocres se dá ares de intelectual da bola?...
Pois é, Gil, todas as vezes que vais ao estádio fez o 'futurinho' à porta... A tendência de apequenamento começa a parecer difícil de regredir. Estamos precisados de um tsunami gerencial...
Abraços Gloriosos!
Rui e amigos, o pior de tudo é que há dezenas de conselheiros, beneméritos e eméritos, que batem palmas para toda essa safadeza que vem sendo perpetrada por esse presidentezinho e por esse gerentezinho.
O que está acontecendo é um crime de lesa-Botafogo, às nossas barbas, e ninguém faz nada. Os torcedores comuns, como eu, nada podem fazer, além de bater neles diariamente pela internet; os torcedores das ditas "torcidas organizadas", só se manifestam quando os dirigentes lhes cortam certas regalias, como ingressos, por exemplo; mas, os sócios, não sei o que eles esperam para derrubarem aqueles que tanto mal vêm fazendo a uma instituição tão gloriosa.
Saudações Botafoguenses, cada vez mais desiludido...
Émerson, por um lado, os interesses pessoais, por outro lado, a tendência para a resignação, fazem uma convergência para a manutenção do stato quo.
O presidente, devido ao cargo que ocupa, ainda poderia ser o único a ganhar coragem e ser ousado, mas talvez se tenha deixado enredar demasiadamente...
Abraços Gloriosos!
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