sábado, 25 de agosto de 2012

O nosso futurinho


Tenho lido nos últimos dias que uma parte de torcedores botafoguenses parabenizam o time por ter vencido na ‘garra’. Ora, não venceram na ‘garra’, mas apenas se aperceberam que o esfarrapado e desconchavado time do Palmeiras era frágil e covarde. Só se aperceberam disso no 2º tempo, porque além de fracos tecnicamente há uma grande parte de atletas mentalmente lentos, como é o caso de Fábio Ferreira, Antônio Carlos ou Elkeson, cujo pensamento ocorre muito depois dos acontecimentos.

Mas se admitirmos que o Botafogo venceu na ‘raça’ e na ‘garra’ tem que se admitir que é tecnicamente medíocre, porque um time que precisa apelar à ‘raça’ e à ‘garra’ perante um time desfigurado, desmembrado e sem banco, é porque tecnicamente não presta mesmo. O apelo à ‘raça’ faz sentido quando se está perante um grande equilíbrio ou quando se é tecnicamente inferior.

Eu não quero um Botafogo com ‘raça’; eu quero um Botafogo técnico que leve os adversários de vencida pela sua qualidade. Esta coisa da ‘raça’ faz-me lembrar aqueles que fazem as coisas com pouca qualidade e argumentam que se esforçaram muito. Ah, sim… como se esforço fosse saber, técnica ou coisa parecida. Há quem com menos esforço faça mais e com mais esforço faça menos. O que interessa realmente é que o esforço – seja ele qual for – tenha uma contrapartida de resultado qualitativamente válido e não um produto sofrível e qualitativamente indiferenciado.

Claro que tenho o ‘problema’ de ter pertencido à juventude ‘make love not war’, ‘The Beatles’ e ‘Rolling Stones’, maio de 68 em França e abril de 74 em Portugal, manifestação contra as últimas ditaduras europeias dos coronéis gregos e dos fascistas da Península Ibérica e as ditaduras da América do Sul de inspiração americana, a contestação a valores arcaicos que abriu caminho a novos valores de liberdade, cidadania e solidariedade social, que permitiu lançar definitivamente as mulheres para a vida pública, que questionou o capitalismo selvagem, a destruição ambiental e os desequilíbrios planetários norte-sul.

Tudo contrário aos ‘vendilhões’ que oportunistamente assolam a vida social.

Em suma, jamais apoiarei quem não esteja na senda do progresso ou se conforme com ‘trocos’ ou ‘benefícios’ baratos e deixe para os outros as notas grandes e o exercício da dominação; jamais contemporizarei com os fatalistas, os puxa-sacos e os parasitas sociais; jamais pactuarei com a incompetência, a falta de qualidade, a ausência de coragem, ousadia e inovação; jamais darei cobertura a dirigentes que de visão e de estratégia situam-se no ponto zero; jamais darei cobertura a comissões técnicas que nunca se formaram em estratégia, tática e outros preceitos da profissão de treinador; jamais parabenizarei um time que tecnicamente nada fez a não ser vencer um depauperado adversário cujo banco de reservas tinha um goleiro e quatro defesas; jamais me conformarei com o que se passa no Botafogo – cuja diretoria, que com o argumento da criação de estruturas e de novas modalidades esportivas, afunda o futebol pelas mãos de um presidente dedicado às modalidades olímpicas, de um gerente excessivamente ‘empresarializado’ e de treinadores que após arrumarem as chuteiras como atletas acharam-se soberbos para dirigirem – e enterrarem – as equipas de futebol.

Lamento que, além da tradicional imbecilidade cathartiforme, também haja no Botafogo de Futebol e Regatas torcedores que contemporizem com o estado de coisas que o Botafogo enfrenta. Mas, claro, o Botafogo já não é o que era: talvez jamais torne a dispor de dirigentes como Paulo Antônio Azeredo, Carlito Rocha, Renato Estelita ou Adhemar Bebiano, de jornalistas torcedores como João Saldanha, Armando Nogueira, Oldemário Toguinhó ou Sandro Moreira, de atletas como os campeões do mundo Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Zagallo, Jairzinho ou Roberto Miranda, de torcedores como Peixoto, Tolito, Tarzã ou Russão.

Definitivamente, se os torcedores botafoguenses não encontrarem líderes capazes de gerarem uma forte corrente opositora e construtora de uma alternativa credível e futurível, estaremos definitivamente entregues a Maurícios Assumpções, Andrés Silvas e Andersons Barros, apoiados por Montenegros, Palmeiros, Rolins e Mantuanos, sob os auspícios das organizadas recheadas de camisinhas, bandeirinhas e bilhetinhos de ingressos que nada custaram.

Tudo ‘inhos’ para a grandeza do futuro ‘botafoguinho’…

6 comentários:

MAM disse...

Pois é, ou a gente assume de vez que viramos clube pequeno ou nos indignamos com isso tudo
A torcida esta na encruzilhada!


Brilhante texto. Penso da mesma forma.

Ruy Moura disse...

Sintetizou tudo, amigo Marco Antonio.

Abraços Gloriosos!

Gil disse...

Rui,

Ao sair do estádio, escutando entrevista do OdeO fiquei pensando se os repórteres ou os torcedores acreditam no que ele fala. Houve apenas uma pergunta sobre a falta de atacantes e ele diz que com essa escalação e esquema somos o terceira melhor ataque no brasileiro.
Ninguem contestou ou rebateu! Se somos o terceiro sem atacantes, com apenas um de ofício, seria ou poderíamos brigar, com mais chance, pelo primeiro lugar.

Todas as vezes que vou ao estádio vejo pessoas com "camisinhas" das organizadas vendendo "bilhetinhos" que recebem de graça.

Como disseste é e está tudo “inho”!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Eu assisti ao que ele disse, Gil. Como é que um homem de argumentos tão medíocres se dá ares de intelectual da bola?...

Pois é, Gil, todas as vezes que vais ao estádio fez o 'futurinho' à porta... A tendência de apequenamento começa a parecer difícil de regredir. Estamos precisados de um tsunami gerencial...

Abraços Gloriosos!

Émerson disse...

Rui e amigos, o pior de tudo é que há dezenas de conselheiros, beneméritos e eméritos, que batem palmas para toda essa safadeza que vem sendo perpetrada por esse presidentezinho e por esse gerentezinho.
O que está acontecendo é um crime de lesa-Botafogo, às nossas barbas, e ninguém faz nada. Os torcedores comuns, como eu, nada podem fazer, além de bater neles diariamente pela internet; os torcedores das ditas "torcidas organizadas", só se manifestam quando os dirigentes lhes cortam certas regalias, como ingressos, por exemplo; mas, os sócios, não sei o que eles esperam para derrubarem aqueles que tanto mal vêm fazendo a uma instituição tão gloriosa.
Saudações Botafoguenses, cada vez mais desiludido...

Ruy Moura disse...

Émerson, por um lado, os interesses pessoais, por outro lado, a tendência para a resignação, fazem uma convergência para a manutenção do stato quo.

O presidente, devido ao cargo que ocupa, ainda poderia ser o único a ganhar coragem e ser ousado, mas talvez se tenha deixado enredar demasiadamente...

Abraços Gloriosos!

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