por Pedro Motta
Gueiros
excertos de O
Globo
20.01.2013
Despido das convenções sociais, o craque preferia
viver no mato, caçar passarinhos e flechar corações. Ainda na infância, as
onças não o intimidavam, assim como as cobras e as assombrações. Apelidado com
o nome de um pássaro, Garrincha é a própria lenda que vive para sempre na raiz
da serra fluminense.
– “Nunca vi camarada tão sortudo. Era bom na
espingarda, aquela de socar a pólvora com chumbo” - diz Malvino [amigo de
infância], antes de revelar outras habilidades do amigo. – “A gente ia pescar
com bomba de estopim amarrada numa pedra. Tinha que entrar na água para o peixe
vir. Na explosão, subia tudo: cará, mandi. Depois de frito, a gente ia para o
coreto da igreja destrinchar tudo com cachaça”.
De caçador a caça, Garrincha tinha que ser tirado da
mata para entrar em campo nos jogos do Pau Grande, um clube alvinegro e
centenário como o Botafogo. Mesmo reduzido pela construção de muros, o campo
atual, com 113 metros de comprimento por 80 metros de largura, ainda é maior
que o da maioria dos estádios brasileiros. Cercado por montanhas baixas que
pintam de verde um contorno semelhante ao das arquibancadas do Maracanã, o
gramado tem a dimensão da natureza livre e exuberante de Garrincha.
“Ele não tremia, não tinha medo de nada. Podia ter
medo só de onça, que tinha muita nessa mata quando a gente era criança.” –
completa Malvino.
2 comentários:
gênio!
E há quem o acuse de ser 'burro'. 'Burros' assim não me importava de colecionar como amigos. Quanto ao tão reverenciado e entronizado Pelé dispensava a amizade dele...
Abraços Gloriosos!
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