No final de 2010, recebi um
telefonema do advogado catarinense Maurício Neves de Jesus, rubro-negro de
coração, que se apresentou a mim oferecendo os originais do livro “1981: o
primeiro ano do resto de nossas vidas”, um diário do ano mais vitorioso da
história do Club de Regatas do Flamengo, justamente quando “O Mais Querido”
conquistara três títulos importantíssimos no curto espaço de três semanas: a
Libertadores da América (em 22 de novembro), o Campeonato Carioca (em 6 de
dezembro) e o Mundial em Tóquio (a 13 de dezembro), arrasando os ingleses do
Liverpool.
Como editor, meu compromisso é com
a história do futebol brasileiro e mundial, seus ídolos, craques e lendas. Por
isso, o editor botafoguense e o autor rubro-negro se uniram para lançar a obra.
O livro tem uma proposta
interessante. Escrito em forma de diário, o autor reuniu o material que já tinha
no meu acervo – jornais, revistas, livros. Depois, passou à pesquisa nas fontes
da época, principalmente jornais, do Brasil e do exterior. Anotados os trechos
fundamentais, passa a escrever com o material selecionado como fonte principal.
Os relatos dos jogos são baseados no maior número possível de jornais que
fizeram a cobertura da partida e também nos vídeos disponíveis, de modo a
evitar que a impressão de um único cronista vicie o texto. Para mim, Maurício
criou um estilo que vale a pena levar adiante. Motivado por isso e pela
aproximação das comemorações dos 80 anos de nascimento de Mané Garrincha, pedi
a ele que escrevesse...
1962: O ANO MANÉ
assim mesmo, já com o título
pronto; e o subtítulo “Diário do ano mais vitorioso do Anjo das Pernas Tortas”.
A princípio relutante, Maurício
aceitou fazer o livro, percebendo que a história era maior que a rivalidade. Em
meio ao trabalho, eu brincava com ele, dizendo que seria duro mesmo era
escrever sobre o dia 15 de dezembro, justamente quando Mané Garrincha arrasou
com o Flamengo, 3 a 0 no final do Campeonato Carioca, com certeza a sua derradeira
atuação individual de gala, dois gols e um chute que provocou um gol contra.
Mas depois daquele dia, Mané nunca mais foi Garrincha.
A partir dali, os demônios venceram
o frágil Manoel dos Santos, que virou “joão” do álcool e das mazelas físicas
que o acompanharam em toda a sua vida.
É preciso, contudo, louvar sempre,
lembrar para não esquecer, quem foi Mané Garrincha. Um gênio dos gramados, um
craque acima de muitos os que hoje se enchem de dinheiro e glórias. Um índio
simples, vítima do alcoolismo e de problemas físicos incontornáveis, quem sabe
presa da ganância dos que precisam fazê-lo jogar mesmo à custa de injeções e
infiltrações para que suportasse as dores nos joelhos.
Naquele 1962, Mané produziu
performances extraordinárias, o ponto máximo da sua brilhante carreira. Com a
Seleção Brasileira, durante o Mundial do Chile, jogou por ele e por Pelé, que
se contundira no segundo jogo.
E Mané fez chover nos gramados
andinos. Contra Espanha, Chile e Inglaterra, jogou mais do que se podia esperar
dele. Sem Pelé em campo, Mané jogou como o peladeiro de Pau Grande, que gostava
mesmo era de jogar de meia-esquerda. Fez gol de perna esquerda e até de cabeça,
saltando contra os altos zagueiros ingleses. Desmontou a defesa da Fúria
espanhola para deixar Amarildo na cara do gol e virar um jogo que se encaminhava
para um fracasso e nos tiraria da Copa. E o fazia com a mesma tranquilidade com
que jogava pelo seu Botafogo num estadinho qualquer do subúrbio carioca.
Em dezembro, na final do Carioca,
perante mais de 155 mil pessoas, Garrincha tomou conta do gramado e desfilou
seu repertório de “manjadíssimos” dribles pela direita – ele só sabia driblar
por ali. Com 10 minutos de jogo, passou como quis por Gérson e Jordan, abrindo
o placar, pulando por cima dos repórteres e fotógrafos e dando início ao seu
baile particular. Mais 25 minutos, de novo a mesma jogada, uma bomba pra gol
que explodiu no goleiro Fernando, quebrou o nariz do zagueiro Vanderlei para
fechar o primeiro tempo em 2 a 0.
O segundo tempo nem começou e lá
estava ele de novo, pelo meio da pequena área, aproveitando o rebote do goleiro
Fernando numa temível “tesoura voadora” do Quarentinha, para fechar o placar.
Lamentavelmente, depois daquele
sábado, 15 de dezembro, Mané nunca mais foi Garrincha. Aos poucos, seu brilho
foi se acabando, ele ainda tentou a sorte em outros times, Olaria, Flamengo e
Corinthians, mas era então uma pálida lembrança da Alegria do Povo, do Anjo das
Pernas Tortas, do Demônio da Copa... ele voltara a ser apenas Manoel do Santos,
sem o “Francisco” que a mídia acolheu depois que ele quis homenagear o pai,
incorporando-lhe o nome.
Neste 18 de outubro, Manoel dos
Santos completaria 80 anos. Infelizmente, em outra data redonda, ele nos deixou
há 30, nem bem completado meio século de vida. Este livro é uma forma de
homenagear o craque, agradecer pela alegria que trouxe aos nossos olhos e
corações. Pelos dribles, pelos gols, pela molecagem, pelos títulos.
Minibiografia do Autor
Maurício Neves de Jesus é advogado
e professor universitário. Na área jurídica, é autor da obra “Adolescente em
Conflito com a Lei: Prevenção e Proteção Integral”. Como cronista esportivo,
foi editor do blog Jogo Aberto, do jornalista Lédio Carmona, e publicou
os livros “1981 – O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas”, sobre o ano mais
glorioso da história do Flamengo, e “Aquelas Camisas Vermelhas”, a história do
Internacional de Lages, campeão catarinense de 1965.
Pergunta ao Autor
Como você, um notório rubro-negro,
recebeu o convite para escrever este livro?
Com alegria e como um desafio.
Garrincha é um caso raro de alguém que está acima das paixões clubísticas e o
livro definitivo sobre ele já foi escrito, pelo também rubro-negro Ruy Castro.
Assim, a intenção foi esmiuçar o ano mais intenso da vida de Mané,
reconstituindo dia a dia sua trajetória pessoal e também as temporadas do
Botafogo e da Seleção Brasileira, seus habitats naturais no mundo da
bola. Pode-se perceber como eram diferentes o cotidiano de um clube de futebol
e a preparação da seleção para um Mundial, e como a vida dos grandes jogadores
era menos vigiada do que atualmente.
Serviço 1962: O ANO MANÉ
(Diário do ano mais vitorioso do
Anjo das Pernas Tortas)
Prefácio: A primeira vez em
que vi Mané Garrincha, por Péris Ribeiro
Posfácio: A última vez em que
vi Mané Garrincha, por Roberto Porto
Editor: Cesar Oliveira
Capa: Marcelo Fonseca da Rocha
(MQuatro Design)
Revisão: Bia Barreto
Produto Oficial do Botafogo FR
Formato: 14 x 21cm
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Páginas: 148
ISBN 978-85-65193-02-3
Preço: R$45
Lançamento: dia 11 de novembro, a
partir das 19 horas, no Café Lamas (Rua Marquês de Abrantes, 18 – Flamengo)
Informações: Cesar Oliveira Tel.:
(21) 3172-0450 – Cel.: (21) 988-592-908 cesar.oliveira@livrosdefutebol.com
Anexos: Degustação das vinte
primeiras páginas do livro; Imagem da capa em alta resolução
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