por blogue FogoEterno
Poderia escrever sobre o nocivo sentimento que mistura em iguais doses a
frustração e a irritação, sobre os efeitos devastadores de uma derrota desse
naipe nas novas gerações, sobre esse revés indigesto que faz mal à saúde do
novo e do velho botafoguense.
Poderia escrever ainda mais sobre esse infortúnio sacana que sempre nos
espreita, à espera de uma oportunidade grandiosa para nos visitar, ou melhor,
nos invadir, enfiando o pé na nossa cara e, com escárnio, nos jogar no chão e
nos dar a sensação de nocaute e nos fazer questionar tudo, da necessidade do
futebol nas nossas vidas até a existência dos deuses alvinegros – menos a fé no
Jefferson, que não merecia estar em campo e ver a rede balançar quatro vezes na
noite fatídica dessa amaldiçoada quarta-feira, 23 de outubro de 2013.
Poderia escrever milhares e milhares de palavras, todas igualmente amargas,
desesperançadas e inúteis.
Mas não, não vou escrevê-las.
Vamos falar um pouco do jogo – e ao que passa a importar, as consequências
dele.
Oswaldo foi igualzinho ao time que escalou: mal no primeiro tempo, ainda
pior na segunda etapa.
Logo nos primeiros minutos, Oswaldo começou a tomar uma goleada tática de
um técnico recém-promovido, que ganha 10 vezes menos do que ele. E assistiu,
impávido e imóvel, a ala direita do seu time ser totalmente dominada pelo
adversário (Gilberto, quem diria, deu saudades do Edilson – complet), sem
contar a lacuna entre o meio e a defesa, por culpa da omissão do Renato e de
uma noite horrorosa do Marcelo Mattos. Nosso treinador demorou muito, talvez
não tenha percebido até agora, que Paulinho e André Santos iriam atacar o tempo
inteiro em cima do Gilberto e não conseguiu esboçar nenhuma estratégia para
socorrer nosso jovem e envolvido lateral, muito menos explorar a ala esquerda
do adversário, que ficou desguarnecida diante de tanta ofensividade. Nesse
sentido, como fez falta um técnico como o Cuca que tem facilidade em ler o jogo
e muda estratégia ainda no primeiro tempo, protegendo quem precisa ser
protegido e equilibrando as ações diante do predomínio do rival.
E a coisa foi ficando ainda pior. O Botafogo, depois que tomou o primeiro
gol, foi se apagando até o futebol de todos simplesmente sumir. Seedorf esteve
estranhamente apático e, assim como contra o Cruzeiro no Mineirão, passou muito
longe de ser decisivo. Rafael Marques, lamentável; Lodeiro, inoperante e Sassá,
apenas vigor físico. Resultado: pouquíssimas chances criadas. Enquanto o
adversário deitava e rolava na nossa defesa.
Oswaldo entra pra história como o treinador do time que sofreu a maior
diferença de gols na história recente do confronto dos dois clubes – o último
4×0 a favor deles tinha sido em 1975. Seu time, o seu descansado time que não
entrou em campo no domingo para jogar uma batalha de vida-e-morte nessa quarta,
nos “presenteou” com a noite mais amarga desde a desclassificação para o River
Plate, no Monumental de Nuñez, em 2007. Sobram cicatrizes e hematomas; mais uma
vez, nosso coração foi machucado. E pisoteado – justo pelo maior rival. Justo
em um confronto decisivo. Justo na última chance de levantar um título nacional
em 2013.
Bem, mas e agora?
Agora, meus amigos, o nosso treinador terá que justificar seu altíssimo
salário e dar um jeito de impedir que a desclassificação desastrosa contamine a
luta, cada vez mais difícil, pela Libertadores, que é o que nos sobrou até o
fim do ano. Pra complicar um pouco mais, o São Paulo avançou e pode ganhar a
Sul-Americana, o que reduziria para três o número de vagas na competição
internacional.
Para assegurar uma vaga no G3, é preciso retomar o aproveitamento do
primeiro turno. É preciso novamente ter uma sequência de vitórias no
Brasileirão – e, depois do jogo de sábado contra o Atlético-MG, o adversário
será o rival direto, o Goiás, no Serra Dourada. É preciso jogar com vibração,
sangue nos olhos e malícia no cérebro, tudo o que faltou nessa quarta-feira.
Você vai conseguir fechar a escotilha, isolar essa derrota vexatória e
impedir a contaminação, Oswaldo?
Você vai conseguir nos poupar de mais uma dose cavalar de amargura,
Botafogo?
PS: Já estou na campanha “Loco Abreu para técnico do Botafogo”. Lógico que
ainda vai demorar algum tempo, ele precisa se aposentar direitinho, se preparar
e tal. Mas é preciso ter no nosso banco alguém com conhecimento tático e
técnico, identificação com o time e cojones, se é que vocês me entendem. Isso
fez falta, muita falta, ontem. O Loco tem tudo para ser para o Botafogo o que
Renato Gaúcho é para o Grêmio. E não iria assistir impassível, sem reagir, a
uma derrota como a que ocorreu nessa quarta-feira.
Nota de Mundo Botafogo: Há bastante tempo concordei que futuramente
valeria a pena testar Loco Abreu como treinador do Botafogo. Continuo
concordando.
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