Dia
29 de dezembro de 1935. Botafogo x São Cristóvão. O Botafogo sagrar-se-ia
tetracampeão carioca de futebol (1932-33-34-35) já em janeiro de 1936. Foi um
campeonato muito duro decidido nos últimos 10 minutos, mas antes do derradeiro
jogo, cujo resultado nos foi favorável pelo esdrúxulo placar de 5x4, em
janeiro, o Botafogo efetuou jogos fantásticos e muito renhidos, entre setembro
e dezembro, com placares absolutamente ultraplanetários: 6x4 contra o Carioca;
6x4 contra o Bangu; 6x4 contra o São Cristóvão. É o último destes três 6x4 que ilustrará
“Um dia de 1935…”
A
descrição de Alceu Mendes de Oliveira Castro:
“Sempre
na ponta da tabela, o Glorioso, a 29 de dezembro, em São Januário, venceu com
intensa e brilhante luta, o forte esquadrão do São Cristovão por 6x4. Não
podendo ainda contar com Carvalho Leite, que continuava machucado, o grande
Carlito Rocha apelou para a dedicação de Nilo e o mesmo, que contraira
casamento um mês antes e não pensava em jogar mais foi para a cancha comandar o
quinteto da vitória, assinalando dois goals impressionantes, ambos com
magistrais cabeçadas. Leonidas, Martin, Alvaro e Russinho marcaram os pontos
restantes.”
A
excecional exibição do grande craque amador Nilo, uma das maiores figuras de
sempre do Glorioso e do futebol brasileiro, mereceu de ‘O Jornal’ os seguintes
comentários:
“A
classe de um jogador é qualidade que resiste à ação do tempo, sem que sofra
nunca solução de continuidade. Quando um jogador possui a fibra do verdadeiro
crack, em qualquer ocasião que se exiba, revela os seus conhecimentos,
conseguindo êxito mesmo entre os players mais novos e de vitalidade
consideràvelmente superior.
Êsse
é o caso de Nilo. O extraordinário jogador botafoguense aparece de quando em
quando nos gramados cariocas, sem que se prepare com antecedência e, sempre que
surge num gramado, colhe mais aplausos e novos louros.
Nilo,
o excepcional artista da pelota que já entusiasmou a tantas gerações, continua
revelando aquela estrela brilhante que o elevou ao nível dos mais famosos
jogadores da América do Sul. Mas Nilo possue classe. É o símbolo fiel do
verdadeiro crack.
Foi
o que observamos na tarde de domingo último, quando assistimos à exibição feita
pelo extraordinário footballer, no estádio de São Januário, como chefe da
artilharia botafoguense, que arrazou o reduto do São Cristovão. Entre Leonidas
e Russinho, Nilo não só não destoou, como conseguiu ser o elemento mais
destacado. Impressionou pela movimentação, pela firmeza dos passes, pela
colocação primorosa, pela perfeição dos driblings e pela certeza dos tiros que,
embora mais escassos, foram sempre perigosos.
Depois
do jôgo de domingo, como, aliás, depois de todos em que figure o excepcional
jogador, a torcida comentava com entusiasmo: “Nilo é sempre Nilo!” Essa frase
já se tornou familiar nos nossos meios esportivos. E quem poderá prever durante
quantos anos ainda se ouvirá essa expressão de entusiasmo?”
O
Botafogo alinhou com Alberto, Albino (Otacilio) e Nariz; Afonso, Martin e
Luciano; Álvaro, Leônidas da Silva, Nilo, Russinho e Patesko. Os gols foram assinalados
por Nilo (2), Leônidas da Silva, Martin, Alvaro e Russinho.
Pesquisa de Rui Moura (blogue Mundo
Botafogo); fontes: Alceu Mendes de
Oliveira Castro: O Futebol no Botafogo
(1904-1950), Rio de Janeiro, 1951; O Jornal.
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