segunda-feira, 17 de março de 2014

Saudades de um Mané

Em um 20 de janeiro, há 29 anos, o eterno ídolo do futebol brasileiro, Garrincha, nos deixava. Terminava para o homem simples, Manuel dos Santos, uma jornada feita de fama e tragédia. O alcoolismo acabou devastando a vida de mais um brasileiro.

Garrincha morreu quando tinha apenas 49 anos, em 1983. Na pequena série que o Literatura na Arquibancada vem apresentando sobre o jogador que era “a alegria do povo”, apresentamos agora uma crônica inédita de quem entende muito bem dos “Manés” que circularam pelo clube da “estrela solitária”.

O “Mané” de hoje soube como ninguém honrar e eternizar a camisa do Botafogo. E para aqueles que nasceram com o dom, ou ainda aprenderam a colocar no papel fatos dos quais foram testemunhas oculares, fica fácil recordar histórias de um homem que até hoje encanta pela sua simplicidade e genialidade.

Ele é o botafoguense que se pode chamar de “Phd” no clube da “estrela solitária”. E nada melhor do que um mestre da boa prosa para nos contar uma boa história sobre Mané Garrincha, até para “quebrar” um pouco o clima “pesado” sobre a doença que o vitimou, o alcoolismo.

Um bêbado no Electra da Varig

por Roberto Porto
Botafoguense, bacharel em Direito, jornalista e autor de três livros sobre o Botafogo

Fazia um calor infernal naquela noite de dezembro de 1981, quando decidi embarcar para São Paulo, onde tinha um encontro marcado com o amigo e publicitário Mauro Ivã Pereira de Mello. Assim, foi um alívio quando entrei no refrigerado Electra II da Varig à espera dos outros passageiros. O ambiente no avião – confortável como nenhum outro – e o silêncio a bordo me fizeram dormir, creio que por uns dez minutos.

Pouco antes, para minha surpresa, Mané Garrincha subiu a bordo, acompanhado de dois amigos. E ao passar por mim, tocou em meu braço e me cumprimentou a seu jeito e modo simples de se expressar:

– Fala, gente boa...

Minutos depois, acordei meio assustado e ao ver o avião estacionado, perguntei ao passageiro a meu lado:

– Já chegamos?

O cidadão, meio impaciente, foi curto e grosso:

– Ainda nem decolamos... O comandante disse que há um bêbado a bordo e que ele havia chamado a segurança do Santos Dumont para retirá-lo. Caso contrário, o vôo não se realizaria.

Confesso que fiquei assustado. Será que Garrincha entrou alcoolizado no Electra II? Será que testemunharia uma vergonha perpetrada pelo meu ídolo do Botafogo?

Assim, meio envergonhado, fiquei esperando pelos seguranças chamados pelo comandante.

E qual não foi minha surpresa, agradável até certo ponto, quando verifiquei que os seguranças foram lá atrás e trouxeram arrastado um senhor de cabelos brancos, de paletó e gravata, tentando resistir a ser expulso do avião. Em meio ao tumulto, o cidadão perdeu um sapato, que ficou preso embaixo de uma poltrona.

Senti um alívio sem igual. Garrincha estava sóbrio como nunca e sossegado em seu lugar. Eu teria ficado arrasado se fosse ele, Garrincha, a origem de tamanha confusão.

Manoel dos Santos, o Mané Garrincha (1933-1983), já havia abandonado o futebol. Mas era meu ídolo, minha referência ao grande Botafogo que ele ajudou a formar. Fiquei feliz com o desenlace. Garrincha fora aprovado com nota 10.

Por sinal, esta foi a última vez que vi Garrincha.


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