Extraído
de: Jbonline.terra.com.br
20 de janeiro de 2013
O craque nasceu em Pau Grande, distrito de
Magé, na Baixada Fluminense, em
28 de outubro de 1933. Criança levada, gostava de caçar passarinhos. O alvo
preferido eram as garrinchas, aves abundantes na região, que lhe renderam o
apelido.
O cronista do Jornal do Brasil, Sandro Moreyra, na época ainda
trabalhando para o ‘Diário da Noite’, decidiu batizá-lo de Gualicho, nome de um
famoso cavalo de corridas, que vencera o Grande Prêmio Brasil daquele ano, […] porém, não passou disso, uma
tentativa.
A trajetória futebolística de Garrincha até a
primeira oportunidade profissional, porém, teve muitas idas e vindas. O
ponta-direita atuou, como amador, por Pau Grande e Serrano, e foi rejeitado em
diversas ‘peneiras’. No Vasco da Gama (1950) nem chegou a treinar, pois
deixou a chuteira velha e rasgada em casa, com vergonha. Em 1951, não foi
aproveitado pelo São Cristóvão e desprezado pelo Fluminense.
Tudo mudou em março de 1952, quando o
lateral-direito Iraty, do Botafogo, foi convidado para apitar uma partida entre
o Pau Grande e a União dos Bancários de Cavalcante. Naquela ‘pelada’ o
futuro companheiro se encantou com o ponta franzino de pernas tortas que
marcara nada menos que cinco gols e desmoralizara a defesa rival com dribles
desconcertantes. Empolgado, mandou Garrincha procurá-lo no estádio do Botafogo. O então aspirante a jogador agradeceu e
prometeu ir, mas jamais cumpriu o combinado.
Contudo, o encanto do lateral alvinegro foi
suficiente para estimular Eurico Salgado, um sócio do clube, a ir conferir o
tal fenômeno de pernas tortas na Baixada meses depois. Após acompanhar três
partidas, não teve mais dúvidas e levou Garrincha consigo ao clube de General
Severiano. Após dois dias de treino – e não um, como convencionou a lenda –
ele foi contratado para o time profissional do Botafogo. Os jornais já
tratavam com alarde o ponta-direita, tido e havido no clube como futuro craque.
A partir daí, construiu nos campos a história
que o país inteiro conhece: driblador endemoniado, artilheiro - terceiro maior
goleador alvinegro em todos os tempos - e, ao mesmo tempo, solidário, sempre deixando os companheiros
na cara do gol. Mas, acima de tudo, era um artista, um comediante da bola. Ou
um enviado divino, como escreveu no JB Carlos Drummond de Andrade dois dias após sua morte, no
dia 22 de janeiro de 1983: "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e
farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e
de todos, nos estádios".
Garrincha não parava: conquistou títulos pelo Botafogo e brilhou com a camisa da Seleção. Em 1958,
foi engrenagem de uma das maiores equipes de todos os tempos. Mas sua
obra-prima foi escrita no Chile, em 1962.
Herdeiros da camisa 7 reverenciam Garrincha
A figura de Mané ficou de tal forma enraizada
no Botafogo que, até hoje, a camisa 7, e não a tradicional 10, é destinada ao
craque do time. A simbologia é resumida em uma famosa frase: "no Botafogo, 7 vale mais que 10".
Primeiro ídolo alvinegro a honrar essa
tradição, Jairzinho, ponta-direita como o antecessor, conta como era conviver
com o ídolo de infância:
"Para mim, Garrincha foi um dos maiores
presentes que recebi na vida, como homem e como atleta. Eu fui criado na Rua
General Severiano, a 100 metros do campo do Botafogo, e sempre ia ver o maior
jogador de todos os tempos da história do futebol brasileiro e mundial. Quis o destino que, na
sequência, eu também tivesse a oportunidade de jogar ao lado do meu ídolo. Eu
era ponta-direita por causa do Garrincha. Todos queriam ser, por causa dele. Era
um cara amigo, comunicativo e sem maldade. Ele tinha uma certa inocência do
profissionalismo que ainda não era totalmente enraizado no Brasil. Ele não teve nada de indisciplinado, e sim
inocência do compromisso do que era ser um jogador de futebol. E mesmo assim fazia a diferença. Chegava lá
no campo e botava 180 mil pessoas, inclusive torcedores do Vasco, Flamengo e Fluminense, para aplaudi-lo. Era diversão
garantida com Garrincha, a Alegria do Povo. Ele foi um mito, brasileiro e
mundial".
O ex-atacante Maurício, autor do gol que deu
fim ao jejum alvinegro de 21 anos sem títulos em 1989, não chegou a conviver
com Garrincha, mas, ainda sim, através de Nilton Santos, vivenciou na pele a importância do maior
ídolo alvinegro, de quem também era fã. A experiência se deu pouco antes de
entrar em campo para a célebre vitória contra o Flamengo, na final do Campeonato Carioca daquele ano:
"Garrincha foi muito importante na minha
vida, inclusive naquela famosa decisão de 1989. Eu estava febril, não estava
muito bem. Encontrei, no vestiário, o Nilton Santos, e ele falou pra mim: 'Eu sei que você está
febril, eu sei que você não está passando bem, mas fique tranquilo porque Mané
Garrincha vai estar com você'. E você viu o que que deu: 1 a 0, gol meu, fim de
21 anos sem título. Aquilo foi a alforria do Botafogo. Pra mim, isso ficou
marcado. Nilton Santos, um
mito do Futebol, dizendo que o meu ídolo estaria comigo. Foi sensacional."
Sem comentários:
Enviar um comentário