Paulo Cezar
Guimarães, editor do blogue PCGuima, acaba de editar o livro ‘Jogo do Senta – a
verdadeira origem do chororô’.
Em minha
opinião, o contexto do seu surgimento relaciona-se, em primeiro lugar, com
muitas referências publicadas nos últimos anos que popularizaram esse lendário
jogo em que o flamengo se sentou em campo para impedir uma goleada maior do
Botafogo quando o placar já registrava 5x2 a nosso favor. Em segundo lugar,
relaciona-se com a natureza do blogue editado por PC Guimarães. Efetivamente,
bem ao seu estilo, adjetivado por uns como estilo ‘boa praça’, por outros como
‘folclórico’ e outros ainda como ‘figuraça’, o autor tem por alvo, no seu
blogue, o flamengo e todas as mutretas que os de preto e vermelho inventam para
ganhar títulos no maior despudor que se possa imaginar. Então, juntando o útil
ao agradável, PC iluminou-se e decidiu produzir um livro que vai de encontro à
zoação típica do seu blogue e desmascara, uma vez mais, um clube que reúne as
piores façanhas de adeptos de desporto e é inacreditavelmente protegido por
meio mundo, desde a mídia, passsando por STJD e comissões de arbitragem, até à
Federação de Futebol do Rio de Janeiro e à Confederação Brasileira de Futebol.
Este
intróito ao livro em escrutínio é importante para se perceber o contexto de uma
obra que, à medida que fui lendo, se foi afigurando emocionalmente paradoxal.
Na verdade,
em minha opinião, não se trata propriamente de um livro sobre o Jogo do Senta
de 1944. Não sei exatamente como é que o autor pensou o livro inicialmente: se
estipulou desde logo as suas diretrizes
fundamentais ou se o livro foi tomando rumo à medida do decorrer da
pesquisa. Independentemente da resposta, trata-se de um livro que
fundamentalmente desmascara inúmeras burlas e patifarias desportivas favoráveis
ao flamengo ao longo de várias décadas – sem qualquer pudor.
Apresentado
livro ao público, constata-se que o Jogo do Senta não é o essencial da obra. O
Jogo do Senta é, digamos, uma chamada ao leitor, um motivo de alavancagem de
tantas e tantas atribulações maldosas dos de preto e vermelho e, finalmente, o
corolário revelador de um clube que ao longo de décadas choramingou,
choramingou, choramingou, sempre dentro de uma lógica que “quem não chora não
mama” e respaldado por gente sem decoro ocupando diversos cargos de influência,
sobretudo no âmbito do futebol carioca.
As mutretas dos
de preto e vermelho desmascaradas por PC Guimarães são tantas que o Jogo do
Senta propriamente dito só é apresentado após a página 110 e dura até à página
125. Antes e depois, PC descreve, sobretudo, inúmeros jogos em que o flamengo
foi escandalosamente beneficiado. E desmascara outros jogos, como o fla-flu da
Lagoa, história mal contada pelos órgãos de comunicação social pretos e
vermelhos, bem como a vergonhosa e violentíssima atuação de almir pernambuquinho
e dos dirigentes desse clube quando provocaram uma cena animalesca em campo, na
decisão de 1966 contra o Bangu, também para não serem impiedosamente goleados
após 3x0 no placar, forçando o fim da partida. Conseguiram-no. Tal como em
1944. Sem vergonha, sem pudor, sem uma réstia de dignidade.
Ao fim e ao
cabo, o livro ‘Jogo do Senta’ produzido por PC é multifacetado: marca, para
sempre, uma obra sobre o futebol brasileiro que mostra a todo mundo um clube
sentado em campo vergado a uma derrota limpa e mostrando não saber perder, pois
fundamentalmente o flamengo quis evitar outros 9x2 como já tomara do Botafogo
antes; por outro lado, o jogo em causa foi pretexto para registrar, também para
sempre, títulos indecorosos e ilícitos dos quais a sua torcida não tem nenhuma
vergonha em comemorar (aliás, acontece o contrário; recentemente, um jogador do
flamengo, após o título carioca roubado ao Vasco (mais um!), afirmou descarada
e maldosamente que título roubado era mais saboroso, mostrando a ‘massa’ de que
são feitos os protagonistas do clube preto e vermelho); noutra ótica ainda,
consegue, num livro sério, munir todos os opositores (gente de bem e com pudor)
de argumentos indestrutíveis que podem servir àqueles que mais rotineiramente
têm prazer em zoar os torcedores do clube do urubu; finalmente, o livro encerra
em si, quer o autor queira, quer não queira, um paradoxo angustiante no leitor –
pelo menos em mim – que vê o seu clube de coração retratado, ano após ano, como
vítima indefesa do algoz clube preto e vermelho. Dá raiva.
Evidentemente
que aconselho a leitura do livro, pelo menos, por três razões essenciais: (a) a
razão minimamente importante é o simpático preço de capa, muito acessível à
maioria do público que consome literatura futebolística; (b) a razão medianamente
importante é porque o livro é escrito por um botafoguense; (c) a razão maximamente
importante é o conteúdo do livro, porque põe a nu e grava para sempre, em
livro, todas as patifarias que têm contribuído decisivamente para o futebol
brasileiro chegar a uma semifinal da Copa do Mundo, em território nacional, sem
capacidade competitiva, e tomando uma goleada de 7x1, que não foi maior porque
os alemães desaceleraram a sua postura ofensiva e até permitiram um golzinho de
honra no final. Sim, meus amigos, o clube preto e vermelho é um dos maiores
responsáveis, respaldado outrora pela Ditadura e hodiernamente pela Rede Globo,
pelo desaparecimento do futebol brasileiro da cena mundial. Pelo futebol arte
de Garrincha, Pelé, Didi, Vavá, Gerson, Nilton Santos, Jairzinho, Sócrates,
Rivellino e tantos outros que não se reconhecem no que se passa no seu país ao nível do futebol.
Porém, a angústia
de lermos, linha após a linha, todos os títulos subtraídos aos valorosos
jogadores do/s nosso/s clube/s, que tanto trabalharam para os conquistar e os
perderam por absoluta ignomínia em favor do clube da burla desportiva, não permite,
minimamente, o prazer da zoação. Nascido pela mão de um ‘zoador nato’, o livro
é sério e de certa forma sisudo.
Cumpre-nos,
contudo, informarmo-nos e documentarmo-nos sobre as patifarias do futebol
brasileiro e apreciar a obra de PC Guimarães.
Duas notas finais menos
positivas, mas que de alguma forma são ´pé de página’, isto é, contam muito
pouco, ou nada, para o desenrolar da obra: (a) a certo trecho do livro o autor
chama ruy castro de mestre e autor da obra-prima ’Estrela Solitária – um
brasileiro chamado Garrincha’, a qual, em minha opinião, além de ter sido
publicada justamente no ano de 1995, não por acaso, é uma obra ressabiada que
coloca a nu a decadência de Garrincha, menorizando a sua genialidade
futebolística e ressarcindo a própria inveja de o seu clube vermelho e preto
jamais ter tido o brilho mundial dos grandes craques do Botafogo, comandados
pelo ‘Deus’ máximo do futebol – o próprio Garrincha; (b) o posfácio é assinado
por outro adepto do clube preto e vermelho, marcos eduardo neves, que, à falta de matéria-prima no seu clube
escreveu o livro sobre Heleno de Freitas, explorando também a vida privada do
craque, e que neste posfácio realça o flamengo, devolvendo, na ótica do editor
do livro, a zoação – porém, o ângulo de observação não é a zoação e o conteúdo
do posfácio escrito por um tal autor é, em minha opinião, despropositado.
Aliás, já péris ribeiro tinha feito o mesmo no prefácio ao livro ‘1992 o Ano
Mané’, também de outro autor dos pretos e vermelhos que não tem matéria-prima
capaz no seu clube, maurício neves de jesus, que termina o seu prefácio
exaltando uma vitória do flamengo quando realmente fora convidado para escrever
sobre o primeiro jogo em que viu Garrincha jogar, e no qual o seu clube perdeu.
Sinceramente, não compreendo o que é que um torcedor preto e vermelho faz num
prefácio ou num posfácio de livros da autoria de botafoguenses. Talvez eu seja
excessivamente inflexível, mas, bem vistas as coisas, tendo em consideração
serem campeões dos títulos surripiados a adversários limpos, os de preto e
vermelho merecem acaso menos inflexibilidade?
Duas notas finais
mais positivas: (a) trata-se de um livro realmente sério que se baseia em muita
pesquisa de hemeroteca e em entrevistas a inúmeras pessoas, evidenciando um
grande trabalho literário; (b) trata-se de um livro que escancara ao grande público
uma das maiores vergonhas, covardias e chororôs do futebol carioca e brasileiro
em que o ignominioso clube de cores preta e vermelha se mostra no seu mais
profundo DNA – o dos títulos da vigarice e do chororô permanente ao longo de
décadas, desde o Jogo do Senta de outrora aos Maracanazzos da atualidade.
Até podia
ter sido titulado ‘Do Jogo do Senta de outrora ao chororô dos Maracanazzos de
agora’. Seria um título comprido, pouco marketizado, mas que até rimava e não
ficava mal de todo, pois não, estimado leitor?
4 comentários:
Caro Rui, Até aprecio vez em quando algo que PC escreve. Sem dúvida vou ler o livro mas, elogiar quem mais denegriu Garrincha fez-me quase desistir de lê-lo. Minha pergunta é por quê Ruim Castro? Loris
Loris, eu até percebo o alcance da coisa, mas fazendo que não percebo gostaria de lhe perguntar, cara a cara, porquê escolher o homem que mais denegriu Garrincha em livro. A não ser que o considere, realmente, um 'mestre'. Mas certamente 'mestre' do recalcamento e da vingança mesquinha.
Abraços Gloriosos.
Rui,
Lendo as tuas palavras vejo que não estou só!
Não consigo ficar calado quando algum cathartiforme fala que tem história ou que os outros são invejosos dos títulos que possuem. Pior que acreditam nisso e não enxergam as ajudas.
Estou fazendo um esforço sobre-humano para não bater boca com cathartiformes, mas é algo muito difícil.
Essa semana tive uma discussão acalorada com um prestador de serviço da empresa que trabalho.
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Vira-lhes as costas, Gil! Faz algo que lhes mostre que não te misturas com pistoleiros e vagabundos do desporto.
Abraços Gloriosos.
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