por PEDRO ARÊAS, 25/08/2014
Número 6: ELE, um dos palhaços mais fascinantes que já pisou nos
picadeiros mais distintos desse planeta. Nílton dos Santos, ou Nílton Santos.
Fidelidade. Só Fogão e Seleção.
Entendia tanto da arte, possuía tanto conhecimento acerca do
entretenimento, que fora apelidado de ‘Enciclopédia do Futebol’. Uma espécie de
sigam o mestre. Pessoa
versada em muitos ramos do saber. Frases sensacionais marcaram sua obra, sua
trajetória:
Seja bem-vindo, mas não fale mal do Botafogo.
Tem gente que gosta de complicar, mas o futebol é simples, quem
não sabe jogar vai para o gol, e o dono da bola é o centroavante.
Não invejo os laterais de hoje pelo dinheiro que ganham, mas pela liberdade que tem para atacar.
Na minha época os dirigentes entravam no vestiário e diziam: já sei que vocês vão ganhar, eu
só quero saber de quanto.
Minha única cirurgia na vida foi de amígdalas, nunca machuquei os meniscos porque nunca
dei carrinho.
Eu não bico à bola.
Era hilariante o desmanche que o Mané fazia por ali, coitados dos
russos.
E inspirou muitos escritores, como Armando Nogueira, jornalista e
amigo: Tu, em campo, parecia tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos. Didi, craque citado anteriormente: Se eu e Nílton estivéssemos no Mundial da Inglaterra, não haveria aquele fiasco.
Aquela gente ia ver quem tinha gasolina no tanque.
E o Rei do Futebol, grande Pelé, ajoelhou-se: Eu tenho uma lembrança que jamais esquecerei: quando fui convocado para a Copa Roca em 1957,
eu tinha 16 anos. Depois dos conselhos do meu pai Dondinho, o Nílton Santos foi o jogador que,
com mais experiência, antes do treino me chamou e me encorajou para que eu não tivesse medo e
jogasse o meu futebol. Depois estivemos juntos por vários anos na seleção brasileira, e ele continuou
dando conselhos e eu no próximo ano acabei me tornando o mais jovem campeão do mundo. Além
dele ter sido um craque ele foi um grande exemplo e eu serei eternamente agradecido pelo
que ele fez por mim.
Foi eleito o maior lateral esquerdo de todos os tempos por quem
entende um bocado desta arte. Lateral esquerdo. Esse inovou de verdade. Em 1958
diante da Áustria, pelo mundial, pegou uma bola em sua defesa e saiu driblando
albinos adversários zonzos, contrariando inclusive seu treinador Feola.
Os laterais não passavam do meio de campo na época, faziam uma
linha de 4 fixa em sua defesa, e esse gênio da bola surpreendeu a todos até
estufar o filó austríaco e os europeus ficarem se olhando com o lábio inferior
caído, com ar de demência, com cara de ‘valeu esse gol? Isso pode na regra do
futebol?’. Pode sim, o Nílton acabou de inventar esse truque. E que truque!
Outra passagem fabulosa foi na copa de 1962 em um jogo duríssimo
contra a Espanha em que ele atinge um atacante espanhol dentro da área cometendo
uma penalidade máxima, repara o árbitro a quilômetros de distância, não reclama
nem levanta os braços acusando-se o autor do crime, apenas dá um passo discreto
e fugaz para frente e mostra que foi fora da área. Até os espanhóis quando
chegaram perto botaram fé que o lance aconteceu do outro lado da linha, que foi
apenas uma falta distante. Ludibriou a plateia e os artistas em campo como em
um passe de mágica. Ilusionista. Contava que ficava muito triste quando via um
companheiro de profissão tratar à bola por senhora, madame, vossa senhoria, vossa excelência, ela tinha que ser tratada carinhosamente por meu amor, minha vida, minha amada, meu
chuchu, deve-se ter sensibilidade e intimidade com a redonda!
Também foi o responsável pela contratação de um Mané pelo Botafogo, treinou uma
vez contra o jovem e sentenciou para a diretoria: Ele me deu um baile, escalem-no como titular do nosso time, não quero enfrentá-lo de novo.
E foi atendido, claro! Fantástico! Nílton Santos é Botafogo e Botafogo
é Nílton Santos.
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