quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O contrato do Botafogo com a Rede Globo até 2024

por MARCELO GUIMARÃES
ex-Diretor de Marketing do Botafogo

Depois de passar o primeiro turno na zona de rebaixamento, oscilar entre o décimo e oitavo lugar é um verdadeiro êxtase, vencer é sempre bom. Mas o Grande Salto, se propôs a colaborar, trazendo para o conhecimento de todos, reflexões voltadas a todo o universo que envolve nosso Botafogo, vencendo ou perdendo.

O tema agora é a renovação do contrato com a Globo. Somos sempre a favor que entre dinheiro novo, ainda mais em grande escala. Mas a euforia dessa perspectiva não pode nos tirar a capacidade de refletir profissionalmente sobre o tema, com profundidade e disposição de colaborar, sempre.

Na reunião do Conselho Deliberativo, da terça dia 27 de setembro, um episódio lamentável encerrou prematuramente a reunião. Desacordos entre os interesses defendidos pelo grupo Mais Botafogo, as visões do Conselho Fiscal e a opinião do ex-Vice de Futebol do atual mandato, o benemérito Mantuano, provocaram mais um bate-boca que quase descambou para as vias de fato.

Ocorre que os atuais dirigentes do Botafogo estão assinando um contrato com a Rede Globo de Televisão até 2024, que pelo teor e prazo, segundo nosso entendimento, mereceria ser melhor avaliado. Destacamos, de imediato, uma inequívoca quebra de um dos compromissos assumidos pelo então candidato durante a campanha: o de não celebrar contratos que avançassem sobre outros mandatos, impossibilitando que futuros mandatários tivessem inteiro controle sobre dinâmicas como essa. Ainda mais se considerarmos que o mercado de transmissão de futebol no Brasil cresce de maneira irreversível e sem precedentes.

Nem vamos nos estender, ressaltando que uma negociação dessa natureza, com o cenário econômico que vivemos, impacta diretamente no processo de precificação. Preferimos destacar que a ampliação do sinal das TV por assinatura, via satélite e cabo, cresce a cada ano, dando musculatura e vigor ao segmento. Estima-se que, ao final de 2016, atinja a casa de quase 20 milhões de assinantes, fazendo com que esse mercado comporte investimentos cada vez maiores. Adiciona-se, a isso, o crescimento do número de assinantes de Banda Larga, que também beneficia o mercado de distribuição de conteúdo de vídeos e que chegará ao final do ano com quase 9 milhões de assinantes.

Por consequência, grandes grupos internacionais de comunicação (Turner, Fox, ESPN, dentre outros) investem em escalas cada vez mais relevantes no segmento da transmissão esportiva no Brasil. Novas empresas internacionais, fortemente capitalizadas, transformam o futuro do mercado de transmissão do futebol brasileiro, mesmo o de curto prazo, em um negócio crescente de proporções incalculáveis.

Para que se possa compreender integralmente a enorme dinâmica desse mercado, há poucos anos, Rede TV e Record, eram as entrantes que chegaram a oferecer valores expressivos pelos referidos direitos de transmissão. Uma faceta da história recente a ser considerada, pois ilustra a velocidade das mudanças no setor.

Acreditamos, também, que a decisão de celebrar contrato que avançará pelo menos sobre dois outros mandatos, caracteriza indiscutivelmente a quebra de um segundo compromisso: o de não antecipar valores relacionados a qualquer contrato. Existem impedimentos legais, via Profut, que não permitem essa antecipação, com duras penas previstas. Mas contra isso, ainda que não intencionalmente, os atuais gestores do Clube se beneficiarão de um artifício que driblará essa exigência.

Um dos atrativos mencionados em defesa do referido contrato, e que tornaria a proposta supostamente irrecusável, afirmação questionável pelo crescimento e imprevisibilidade desse segmento, são as luvas oferecidas, de grande valor, e, pelo que sabemos, pagas à vista. As luvas, item relativamente comum em contratos como esse, só se justificam como um antídoto contra a concorrência ou como uma espécie de bônus pelo prazo estendido. Mas, ao que nos consta, irá ser utilizado integralmente e apenas pelo atual mandatário, retirando, em grande parte, o valor futuro do contrato.

Temos dúvidas se hoje, no staff do clube, há executivos capazes de conduzir negociações dessa magnitude e tão específicas. Poucos clubes têm. E, diante dos fatos, nos alentaria ao menos saber se os atuais gestores do Clube sentaram-se à mesa com todos os players que disputam o direito de transmissão do futebol da nossa Série A, em busca de contrapropostas, pois consideramos que seria fundamental termos ouvido a todos os grandes grupos de comunicação antes de tomarmos quaisquer decisões.

Imbuído da responsabilidade com que se posiciona diante de fatos relevantes como esse, o Grande Salto evoca, ao menos, uma solução que amenize esse dilema específico. Considerando que a assinatura do contrato seja de fato irreversível, posto que será fácil ser aprovado por um Conselho Deliberativo que nunca questiona as decisões do Conselho Diretor, exigimos, pelo menos, que as referidas luvas sejam distribuídas proporcionalmente durante todos os anos do contrato, assegurando, minimamente, alguma proporcionalidade e vigor para o futuro próximo do nosso clube.

Aguardamos atentos as próximas cenas desse capítulo, sempre em busca do melhor para o nosso maior amor imaterial.

Juntos pelo Grande Salto
Por um Botafogo Gigante!

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