por MARCELO GUIMARÃES
ex-Diretor de
Marketing do Botafogo
Depois de passar o primeiro turno na zona de rebaixamento,
oscilar entre o décimo e oitavo lugar é um verdadeiro êxtase, vencer é sempre
bom. Mas o Grande Salto, se propôs a colaborar, trazendo para o conhecimento de
todos, reflexões voltadas a todo o universo que envolve nosso Botafogo,
vencendo ou perdendo.
O tema agora é a renovação do contrato com a Globo.
Somos sempre a favor que entre dinheiro novo, ainda mais em grande escala. Mas
a euforia dessa perspectiva não pode nos tirar a capacidade de refletir
profissionalmente sobre o tema, com profundidade e disposição de colaborar,
sempre.
Na reunião do Conselho Deliberativo, da terça dia 27
de setembro, um episódio lamentável encerrou prematuramente a reunião.
Desacordos entre os interesses defendidos pelo grupo Mais Botafogo, as visões
do Conselho Fiscal e a opinião do ex-Vice de Futebol do atual mandato, o
benemérito Mantuano, provocaram mais um bate-boca que quase descambou para as
vias de fato.
Ocorre que os atuais dirigentes do Botafogo estão
assinando um contrato com a Rede Globo de Televisão até 2024, que pelo teor e
prazo, segundo nosso entendimento, mereceria ser melhor avaliado. Destacamos,
de imediato, uma inequívoca quebra de um dos compromissos assumidos pelo então
candidato durante a campanha: o de não celebrar contratos que avançassem sobre
outros mandatos, impossibilitando que futuros mandatários tivessem inteiro
controle sobre dinâmicas como essa. Ainda mais se considerarmos que o mercado
de transmissão de futebol no Brasil cresce de maneira irreversível e sem
precedentes.
Nem vamos nos estender, ressaltando que uma negociação
dessa natureza, com o cenário econômico que vivemos, impacta diretamente no
processo de precificação. Preferimos destacar que a ampliação do sinal das TV
por assinatura, via satélite e cabo, cresce a cada ano, dando musculatura e
vigor ao segmento. Estima-se que, ao final de 2016, atinja a casa de quase 20
milhões de assinantes, fazendo com que esse mercado comporte investimentos cada
vez maiores. Adiciona-se, a isso, o crescimento do número de assinantes de Banda
Larga, que também beneficia o mercado de distribuição de conteúdo de vídeos e
que chegará ao final do ano com quase 9 milhões de assinantes.
Por consequência, grandes grupos internacionais de
comunicação (Turner, Fox, ESPN, dentre outros) investem em escalas cada vez
mais relevantes no segmento da transmissão esportiva no Brasil. Novas empresas
internacionais, fortemente capitalizadas, transformam o futuro do mercado de
transmissão do futebol brasileiro, mesmo o de curto prazo, em um negócio
crescente de proporções incalculáveis.
Para que se possa compreender integralmente a enorme
dinâmica desse mercado, há poucos anos, Rede TV e Record, eram as entrantes que
chegaram a oferecer valores expressivos pelos referidos direitos de
transmissão. Uma faceta da história recente a ser considerada, pois ilustra a
velocidade das mudanças no setor.
Acreditamos, também, que a decisão de celebrar
contrato que avançará pelo menos sobre dois outros mandatos, caracteriza
indiscutivelmente a quebra de um segundo compromisso: o de não antecipar
valores relacionados a qualquer contrato. Existem impedimentos legais, via
Profut, que não permitem essa antecipação, com duras penas previstas. Mas
contra isso, ainda que não intencionalmente, os atuais gestores do Clube se
beneficiarão de um artifício que driblará essa exigência.
Um dos atrativos mencionados em defesa do referido
contrato, e que tornaria a proposta supostamente irrecusável, afirmação
questionável pelo crescimento e imprevisibilidade desse segmento, são as luvas
oferecidas, de grande valor, e, pelo que sabemos, pagas à vista. As luvas, item
relativamente comum em contratos como esse, só se justificam como um antídoto
contra a concorrência ou como uma espécie de bônus pelo prazo estendido. Mas,
ao que nos consta, irá ser utilizado integralmente e apenas pelo atual
mandatário, retirando, em grande parte, o valor futuro do contrato.
Temos dúvidas se hoje, no staff do clube, há executivos
capazes de conduzir negociações dessa magnitude e tão específicas. Poucos
clubes têm. E, diante dos fatos, nos alentaria ao menos saber se os atuais
gestores do Clube sentaram-se à mesa com todos os players que disputam o direito de transmissão do futebol da nossa
Série A, em busca de contrapropostas, pois consideramos que seria fundamental
termos ouvido a todos os grandes grupos de comunicação antes de tomarmos
quaisquer decisões.
Imbuído da responsabilidade com que se posiciona
diante de fatos relevantes como esse, o Grande Salto evoca, ao menos, uma
solução que amenize esse dilema específico. Considerando que a assinatura do
contrato seja de fato irreversível, posto que será fácil ser aprovado por um
Conselho Deliberativo que nunca questiona as decisões do Conselho Diretor,
exigimos, pelo menos, que as referidas luvas sejam distribuídas
proporcionalmente durante todos os anos do contrato, assegurando, minimamente,
alguma proporcionalidade e vigor para o futuro próximo do nosso clube.
Aguardamos atentos as próximas cenas desse capítulo,
sempre em busca do melhor para o nosso maior amor imaterial.
Juntos pelo Grande Salto
Por um Botafogo Gigante!
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