por
PAULO MENDES CAMPOS
Da
Vinci mudou a ótica estética ao dizer que pintura é coisa mental. Didi, mais
que ninguém, introduziu no futebol o poder da inteligência. Não foi um
espontâneo, um inspirado, um romântico; foi o cerebral, o racionalista, o
clássico. (…)
Antes
da Copa de 1958, perguntei-lhe qual era a dificuldade principal do jogador
brasileiro na Europa. Respondeu-me que era a cancha pesada: os gramados de lá
são espessos e os terrenos estão quase sempre úmidos; depois de 20 minutos,
nossa moçada ficava sem perna. Pedi-lhe o remédio. Era simples: encharcar
bastante o campo fofo do Bangu e realizar ali os treinos da seleção. Transmiti
pelo jornal o recado; mas a comissão técnica não tomou conhecimento dele.
Nossos dirigentes não topam palpites de meros atletas.
De
volta da Suécia, Didi contou-me o que se passou na véspera da partida decisiva.
Chovia durante a noite, e ele não conseguia dormir, temendo, mais que tudo, a
cancha pesada. Acordou nervoso e cansado, mas decidido a transmitir uma
impressão de calma e confiança aos jogadores menos experientes. E teve a feliz
surpresa de saber que os amáveis suecos haviam estendido pedaços de lona sobre
o gramado.
Perguntei-lhe:
Que disse você aos jogadores, quando apanhou a bola no fundo das redes e veio
andando sem pressa, depois que os suecos fizeram, no início, aquele primeiro
gol?
–
Disse: não é nada, minha gente, nós vamos encher esses gringos.
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