por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo
O Museu do Douro, em Pesoa da Régua, conta a
história das vinhas e do vinho e possui zonas destinadas a artefactos regionais
e a exposições de artistas. Peso da Régua é a Capital Internacional da Vinha e
do Vinho. A origem do seu estranho nome é inconclusiva até hoje, havendo várias
hipóteses possíveis.
O nome da cidade nasceu da
fusão, no século XVIII, das aldeias de Peso e da Régua. A primeira era a mais
importante, mas entretanto foi criada a Companhia das Vinhas do Alto Douro e a
Régua começou a crescer e a desenvolver-se, tornando-se mais importante – ao
ponto de atualmente ser mais vulgar a expressão Régua em vez de Peso da Régua.
A origem da designação de
‘Peso’ deriva de ter sido o local onde as mercadorias eram pesadas e os
impostos eram cobrados. A origem da designação ‘Régua’ aponta várias hipóteses:
(a) a Régua terá sido habitada durante as invasões romanas e bárbaras, dando
origem ao nome de Vila Régula; (b) terá derivado de ‘récua’, devido aos ajuntamentos
de récuas (grupos de animais de carga) ou cavalgaduras (animais de sela) que
passavam o rio Douro; (c) terá derivado de ‘reguengo’, designação atribuída às
terras dos Reis; (d) terá derivado de ‘Régoa’, que se refere a uma ‘Regra’ de
direito de herança de ascendentes ou conferido a descendentes, através de um
foral, baseando-se em doação de terras.
Eis o Douro em traços largos
segundo a obra “Douro – Guia Turístico da Natureza”, coordenação de Samuel
Tapada e textos de Alberto Tapada (2012):
“O Douro é uma grande marca, económica, turística e cultural, no País e
no Mundo, ostentando uma justa visibilidade e notoriedade, graças aos seus
produtos emblemáticos e aos seus recursos primários, assentes na paisagem, na
natureza, nos vinhos, no rio e seus afluentes, na sua história e patrimónios da
Humanidade de que é fiel depositário e, na segurança, no bem-estar e na
tranquilidade que propicia.
A LENDA ‘EU SOU O DOURO, O RIO QUE TODAS AS ÁGUAS BEBO!’
Tudo o que no Mundo é grande começa em lenda. E o Douro, fadado pelas
divindades da criação, teve e tem uma origem, uma missão e um destino. E é de
facto lendário!
Dizia-se que a curiosidade lhe acentuou a vontade de ver o mar distante,
pois, ainda infante, perguntava às nuvens cansadas da serra de Urbion, donde
vinham e como era esse lugar misterioso e nessa busca tornou-se caminheiro. Mas
dado à preguiça, ora adormecia, ora vagueava pelas planícies de Castela,
enquanto os seus irmãos (Tejo e Guadiana) já entravam em Portugal.
Aflora-lhe então o mau feitio e a vontade de chegar primeiro. A fúria
evidencia o seu carácter tempestuoso abrindo o seu caminho por entre as
montanhas que, antes da fronteira, lhe barravam o caminho. Lança-se então como
um louco, em precipícios, em cachões e em quedas vertiginosas, descrevendo um
itinerário épico na rocha dura, afirmando-se como verdadeiro rio de montanha,
como tão bem descreveu Guerra Junqueiro:
‘Fez-se moço e grande pelas serras brutas,
As águias pairam, onde o roble medra,
E onde os fragaredos bárbaros, como grutas,
Se encastelam crespos, infernais, em lutas,
Tal como tormentas de trovões de pedra’
Desde Miranda até Barca D'Alva, antes de encontrar os xistos onde o
leito se abre em busca do deslumbramento, [são] 210 pontos difíceis e saltos do rio que o
tornavam imprevisível. Um ‘rio de mau navegar’, ao qual os homens se adaptaram,
bastando para isso um barco ágil, destemido e fugidio. Juntos escreveriam uma
história de gigantes.”
Segundo a obra “Património
Imaterial do Douro – narrações Orais”, de Alexandre Parafita (2007), Fundação
do Museu do Douro, a região de Peso da Régua tem mutas lendas, entre as quais
se narra a seguinte:
O CASTIGO DO SAPATEIRO
Ao lado do cabeço das Três Covinhas, há
um outro a que o povo chama o Cabeço do Sapateiro.
Diziam-nos os antigos que lá dentro
estava um sapateiro sempre a bater a sola, dia e noite, de castigo, porque,
enquanto vivo, não ia à missa ao Domingo, preferindo ficar a trabalhar.
Então nós íamos lá encostar o ouvido ao
cabeço para o ouvirmos bater na sola dos sapatos.
Mas quando dávamos conta, havia também
alguém que nos dava com a cabeça na fraga. Ainda hoje quando passo ali, recordo
as marradas que me deram.
Mas atualmente já só lá existe metade do
cabeço, pois o proprietário precisou da pedra e cortou-o.
Uma pena. Já as crianças hoje não podem ter
aquela ilusão do sapateiro lá dentro a bater a sola.”
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