domingo, 3 de setembro de 2023

Botafogo 1x2 Flamengo: "a vocação do erro" (Augusto Frederico Schmidt)

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Ontem tudo correu mal. Desde a escalação inicial, passando pelo bico dado por Marlon Freitas inaugurando o marcador para o Flamengo e por inúmeros remates falhados pelo Botafogo à boca da baliza, até ao segundo gol do Flamengo precedido de irregularidade e, por fim, a ridícula situação de Lucas Perri desesperadamente ao ataque com a baliza abandonada.

Foi uma derrota, feia, sentida, com contornos inesperados e que – como geralmente acontece para salvar um grupo – merecia bodes expiatórios para pagar as culpas de todos, não do gol contra de Marlon Freitas, não dos gols desperdiçados, não do árbitro, mas apenas de Bruno Lage e de JP Galvão.

Se os erros se pagam caros, tal como aconteceu ontem, também é certo que a linguagem e os comportamentos exacerbadamente críticos a que assisti no pós-jogo – incluindo de amigos que me deixaram perplexo pela violência da reação – poderão aumentar o risco de um custo elevado no futuro próximo.

A emocionalidade exacerbada faz-nos perder socialmente a razão, mesmo quando a temos.

A extrema violência verbal geralmente não conduz a boas soluções, e o Botafogo não é propriamente o Flamengo nos seus inqualificáveis comportamentos públicos, mas sim o ínclito Botafogo de Futebol e Regatas.

Criar uma crise artificial devido a uma derrota – difícil de digerir porque o adversário sempre foi um clube de comportamentos inéticos e desrespeitadores dos outros clubes – é oferecer o ‘ouro ao bandido’ (leia-se, oferecer à mídia o que a mídia deseja, isto é, abater o Botafogo do seu lugar de topo).

Compreendo o pavor que temos de perder o campeonato nacional de 2023 após 28 anos de seca, sobretudo depois de nós próprios nos termos tomado extemporaneamente por campeões brasileiros, apesar de estarmos ainda no início do segundo turno, mas urge que as nossas críticas sejam socialmente aceitáveis em prol do nosso maior desiderato atual, sob pena de contribuírem para inverter o ciclo que até agora foi realizado.

No ciclo sentir, pensar, falar e agir, o mais importante de todos é a última das coisas que decide o futuro de cada um de nós: o discernimento.

Independentemente dos erros de uns ou de outros, está em causa o aspecto fundamental da necessária paz para prosseguir uma campanha ótima e discernir bem o caminho da crítica.

O descontrolo na sequência de uma derrota faz-me sempre lembrar a cena do chororô de Bebeto de Freitas, Cuca e Túlio: tinham muitíssima razão em reclamar, mas o descontrolo emocional que emanou daquela cenografia teve como resultado o estigma de chororô inventado pelo ‘inimigo’ para nos abater publicamente. E conseguiu-se tal intento.

Nesta semana que entra, o que está em causa nos bastidores do Botafogo é, sobretudo, que a comissão técnica e o elenco reflitam sobre as várias ocorrências de ontem, corrijam as falhas (estou sempre falando disto porque os tipos de falhas são recorrentes) e deliberem focando-se em decisões que mantenham o equilíbrio e todas as virtudes que concorreram para estarmos no lugar de topo.

Que é o nosso lugar!

FICHA TÉCNICA

Botafogo 1x2 Flamengo

Gols:  Victor Sá, aos 18’ (Botafogo); Marlon Freitas, aos 2’ (contra), e Bruno Henrique, aos 72’ (Flamengo)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 02.09.2023

» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)

» Árbitro: Raphael Claus (SP); Assistentes: Neuza Ines Back (SP) e Marcelo Carvalho Van Gasse (SP); VAR: Daiane Muniz (SP)

» Público: 38.346 pagantes; 40.769 presentes

» Renda: R$ 1.512.570,00

» Disciplina: cartão amarelo – Victor Cuesta e Tchê Tchê (Botafogo); Ayrton Lucas, Bruno Henrique e Fabrício Bruno (Flamengo)

» Botafogo: Lucas Perri; JP Galvão, Adryelson, Victor Cuesta e Marçal; Marlon Freitas, Gabriel Pires (Tchê Tchê) e Eduardo (Janderson); Matías Segovia (Luís Henrique), Tiquinho Soares (Diego Costa) e Victor Sá (Júnior Santos). Técnico: Bruno Lage.

» Flamengo: Matheus Cunha; Wesley, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas; Pulgar, Allan (Thiago Maia), Gerson (David Luiz) e Victor Hugo (Everton Ribeiro); Bruno Henrique (Everton Cebolinha) e Pedro. Técnico: Jorge Sampaoli.

10 comentários:

jornal da grande natal disse...

Exato. Corrigir. Focar. Ponto a ponto. Jogo a jogo.

Sergio disse...

Texto excelente que acalma o nosso ânimo. Foi uma derrota dura, infelizmente para o nosso maior inimigo, nunca adversário, que curiosamente sempre tem o dedo
da arbitragem, o péssimo árbitro de ontem (como toda a arbitragem amadora tupiniquim), não consegue ver uma falta escandalosa que gera o segundo gol deles, mas nem ele nam o var vêem as bolas em que são tiradas com a mão; a do final do segundo tempo foi escandalosa. Só par ilustrar com nossos árbitros são fracos, o segundo gol da França contra a Inglaterra nasce de uma falta clara do time francês, e curiosamente era um árbitro brasileiro, que confundem deixar o jogo fluir com fluir de qualquer jeito eito. Porém, isso já é desculpa para a derrota, pois o time foi mal escalado.
Há treinadores que ganham jogos e há aqueles que perdem; ontem o Bruno Lage perdeu o jogo.
Se a escalação inicial .minha avaliação foi equivocada - Segovinha não está pronto para iniciar partidas, e o JP não tem experiência necessária para um clássico da rivalidade que é a que acontece entre Botafogo
X Flamengo. Mas, o que mais me deixa perplexo é que todos viram que a jogada do adversário era sempre pelo lado direito do Botafogo, que estava mal tanto ofensivamente quanto defensivamente e o treinador nada fez para corrigir o problema, isso é o que mais me incomodou, não perceber que as jogadas de ataque do flamengo sempre exploravam a qualidade do Bruno Henrique. Isso prá foi inacreditável.
Sobre ofensas eu sou absolutamente contra, críticas construtivas são bem vindas. Eu em minha profissão sempre convivi e convivo com críticas, mas as críticas ofensivas, sem civilidade não levam a lugar nenhum, somente a discórdia e levam ao ambiente uma conturbação desnecessário.
Tenho que concordar que se o Botafogo fosse mais eficiente nas conclusões o resultado poderia ter sido outro. Outro detalhe que me chamou a atenção em relação aos dois últimos jogos, foram.os gols contra, ocasionados em parte pelo má posicionamento da zaga, pois não me recordo em nenhum fogo desse brasileiro uma bola cruzada em diagonal chegar perto da baliza do Botafogo.
Acho que o momento é de reflexão e.muita calma, pois ainda somos líderes com uma boa vantagem,.mesmo que o Palmeiras vença hoje. O que não pode é entrar em modo de desespero, pois é isso que os adversários querem, ou inimigos, que me parece ser um termo mais apropriado tal o ódio que nutrem ao Botafogo. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

É esse o caminho, Vanilson, não a desestabilização e a violência.
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Sim, Sergio, claramente o BL não esteve nos seus dias, mas também Marlon Freitas não esteve, assim como não esteve Gatito no primeiro jogo contra os argentinos, assim como qualquer jogador tem dias horríveis e outros brilhantes, incuindo o muitos gols perdidos à boca da baliza. Não é razão para a violência com que alguns destratam o BL. Aliás, devo dizer que a decisão de saída do ex-treinador não teve apenas o fator dinheiro, mas também os ataques continuados que lhe faziam; ontem, o BL colocar o lugar à disposição, na Europa é visto como um ato nobre de alguém que está desapegado do poder e facilita as decisões da hierarquia, e no entanto li - até de pessoas geralmente um pouco mais bem informadas - que o BL foi covarde. Covarde?!... Ele não queria fugir, ele queria clarificação e humildemente colocou lugar à disposição e, inclusivamente, dispensando uma pessoa fortuna salarial. Chamar-lhe o que chamaram em busca de um bode expiatório para o caso de não conquistarmos o título e salvarmos o elenco é que não é bonito. Nem construtivo. E pode ter resultados negativos para todos nós, para os jogadores e para o Clube. Mas, enfim, sempre se pode acusar o "português burro, FdP e narcisista" como o responsável eterno da perda de título, e assim esses corneteiros - para não dizer pior - ficarão cnfortáveis comnsigo próprios ecom a sua falta de discernimento.

Sergio, criar artificialmente uma crise com 11 ou 8 pontos de vantagem, em vez de se efetuar uma crítica racional e sensata e preferencialmenre reunir líderes de torcida e responsáveis do Clube, não é, decididamente, algo que nos favoreça.

Porém, como sabe, o modo de desespero é típico dos botafoguenses, em especial quando perder 3 pontos em 11 de vantagem já pareça que perdemos a liderança e o título, e até o Lucas Perri já interiorizou o desespero botafoguense descontrolando-se e marchando para o ataque, de onde não saiu mais, em vez de resilientemente a equipe se tentar organizar num ataque completo e frutuoso.

Quando nos descontrolamos, no futebol como na vida, é o início do fim. Espero que saibamos fazer o 'reset', como dizem os ingleses.

Abraços Gloriosos.

leymir disse...

Boa noite Ruy e amigos,

Esse jogo foi somente uma derrota num clássico, no jogo passado a vitória foi do BFR.

Achei um bom jogo, e como a maior parte dos confrontos entre os dois clubes, muito disputado.

Esse jogo em nada muda a figura do campeonato, ainda mais após empate do Palmeiras.

Esquecer esse confronto, ele não define a vida de nenhum dos dois clubes nesse campeonato, e que nessa altura não brigam pelo mesmo objetivo.

Um abração!




Ruy Moura disse...

Totalmente e absolutamente lúcido o seu comentário, Leymir, como não podia deixar de ser! Assino embaixo!

Grande Abraço, nobre flamenguista!

Luis Eduardo Carmo disse...

Rui, concordo plenamente.

Compreendo uma reação emotiva baseada nos sentimentos vindos da derrota, mas não concordo com o tom -- seja no momento que for -- e nem com as ponderações do "dia seguinte".

Uma dessas discordâncias é relativa a uma suposta "covardia" do Bruno Lage, por deixar o cargo à disposição da administração do clube. Ao contrário da maioria das reações, considero um gesto que revela, aí mesmo tempo, galhardia e despojamento, uma vez que a intenção seria evitar que as críticas direcionadas a ele se tornassem críticas à qualidade dos jogadores, justamente aqueles que não são responsáveis pela própria escalação ou decisões tomadas pela comissão técnica

Também considero estratégico que mantenhamos uma constante cautela em relação às narrativas que a grande mídia e os 'robôs infiltrados nas redes sociais produzem a nosso respeito.

Saudações botafoguenses!

Ruy Moura disse...

Perfeito, lúcido e brilhante, Luiz!

Como escrevi antes a propósito d eum teu comentário, parece que estamos realmente em universos diferentes onde até o conceito de 'covarde' é totalmente adulterado e deixa-se de perceber o que representa. E, sim, é uma crise artificial criada nas redes sociais por alguns botafoguenses num Clube com 10 pontos de vantagem. A mídia esfrega as mãos de contente e os 'robôs' infiltrados tolhem a razão de muitos botadoguenses que se deixam levar na sua emoção dramática de perder para o nosso maior rival quando uma boa parte da torcida já age como se fosse campeã, apesar de faltarem tantas rodadas para o fim. A união é fundamental, e o foco 'ponto a ponto', 'jogo a jogo', como realça o Vanilson, é o fulcro para a conquista. Serenamente equilibradamente, seremos campeões. Descontrolados emocionalmente seremos comidos pelos tubarões que espreitam esculhambar os nossos mares alvinegros.

Abraços Gloriosos.

Unknown disse...

Grande Ruy. só você acalma o coração.

Ruy Moura disse...

Caro Anônimo, não pode haver crise numa equipe que tem 10 pontos de vantagem sobre o segundo qualificado. É das "coisas que só acontecem ao Botafogo" e temos que nos livrar do nosso pessimismo e dramaticidade. Temos SAF e queremos ser protagonistas de topo no futebol do século XXI - devemos continuar a nossa profunda emocionalidade, que representa o nosso amor infindo ao Botafogo, mas temos que, simultanemente, pensar bem e discernir melhor. Os campeões precisam disso!

Abraços Gloriosos.

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