Primeira Fila, coluna de Mário Filho publicada n’ O Globo de 12.08.1942, no 38º aniversário do Botafogo Football Club.
Um match Botafogo de Regatas e Fluminense, a primeira lição aprendida pelos Sodré e Flávio Ramos.
3. O match foi no campo do Paisandú, o único de grama, pois o do Fluminense era ainda de terra batida. Lá, Flávio Ramos e os Sodré viram as barras de goal. Viram a bola número cinco. Tudo lhes parecia um pouco fantástico, quase inverosímil. A impressão que eles tinham era a de que iam, finalmente, abrir os olhos, cegos até então, para o football, uma palavra que, sendo inglesa, lembrava uma fórmula mágica. Mais tarde, só mais tarde, eles souberam que a idéia daquele match partira de Carlos Freire, de Armando Leite Bastos, do Short, do Mello. Como uma bravata, o Clube de Regatas do Botafogo só tinha remo. E o ‘eleven’ que entrou em campo de camisa branca nunca jogara junto. “O do Fluminense - explicou Chico Loup - tem cara de team de football”. E Chico Loup, com ares de entendido, apontou para Victor Etchegaray. “Aquele ali, de bigodes compridos”. Flávio Ramos olhou, de cima abaixo. Victor Etchegaray. Descobrindo, sem que Chico Loup dissesse nada, que a camisa do Fluminense era de quadrados cinza e creme. “E o que está junto de Victor Etchegaray?” “Aquele ali? Aquele ali é o Emílio Etchegaray. Os Etchegaray são dois, Victor e Emilio. O que vem vindo é Costa Santos, o Horácio Costa Santos”. “Puxa! - foi o grito de admiração de Emanuel Sodré - Você conhece todo mundo!”. “Como não havia de conhecer? - perguntou Chico Loup, estufando o peito - Eu todos os dias venho bater bola aqui”. E os Sodré e Flávio Ramos resolveram bater bola também, fosse como fosse. Achando football muito fácil. Que dificuldade havia em correr atrás da bola e meter o pé?
Fonte secundária: Blogue Arquiba Botafogo, de Paulo Marcelo Sampaio.
2 comentários:
Um dos textos mais emocionantes que já li sobre o Botafogo...
Gabriel, eu adoro os textos do Mário Filho. Ao contrário, não gosto genericamente dos textos do Nelson Rodrigues. O MF tinha uma enorme capacidade de ver o lado mais precioso de todos os clubes. Até que poderia ter sido botafoguense em vez de fluminense...
Abraços Gloriosos.
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