sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sérgio Darcy e a Estrela Solitária

O texto que se apresenta baseia-se em duas fontes: Mundo Botafogo, nos quatro primeiros parágrafos; Blog Fernando Pinheiro, escritor, nos restantes parágrafos, devidamente citados.

O texto é uma síntese da saga desportiva de Sérgio Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas em 1937-1939 e 1963.

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Sérgio Darcy foi presidente do Botafogo Football Club em 1937-1939 e em 1963, sucedendo a Paulo Azeredo (presidente em 1926-1936 e 1954-1963) e precedendo Ney Cidade Palmeiro (presidente em 1964-1967).

Na sua juventude Sérgio Darcy participou nas competições de remo pelo Club de Regatas Guanabara e chegou a ser campeão da modalidade no Club de Regatas Botafogo, que mais tarde se fundiu com o Botafogo Football e originou o atual Botafogo de Futebol e Regatas.

Sérgio Darcy foi o 1º chefe de uma delegação do Botafogo Football Club em excursão ao exterior, que se realizou nas Américas Central e do Norte, especificamente no México (Cidade do México) e na América (Saint Louis).

A equipa do Botafogo embarcou no velho vapor ‘Laje’ e realizou 9 amistosos entre 1 de março e 16 de abril de 1936. O Botafogo obteve 6 vitórias, 1 empate ee 2 derrotas, apresentando um saldo de gols de 27-15 a favor. A equipa jogou fundamentalmente com Aymoré Moreira (Alberto), Octacílio (Lino) e Nariz; Affonso (Afonsinho), Martim (Luciano) e Canalli; Álvaro, Leônidas da Silva, Carvalho Leite, Russinho (Eurico Viveiros) e Tatesko. Os jogadores Lino (Carioca FC) e Afonsinho (São Cristóvão AC) reforçaram a equipa do Glorioso.


“Como presidente do Botafogo Football Club (1937/1939), empreendeu a vitoriosa campanha de 1 saco de cimento e com o dinheiro arrecadado, construiu a arquibancada de cimento que substituiu a de madeira. O engenheiro Rafael Galvão foi o autor do projeto executado pela firma Cavalcanti, Junqueira & Cia. Nessa época (1937/1941), João Havelange foi jogador de pólo aquático do Club. Em 1940/1941, João Lyra Filho está à frente dos destinos do Botafogo, sucedendo o presidente Sérgio Darcy.

“Ao ser reconduzido à Presidência do Botafogo, Sérgio Darcy, nos idos de 1963, contratou o técnico de futebol Danilo Alvim. O Jornal do Brasil (edição: 10/4/1963) fez a cobertura da contratação e publicou a foto do técnico, ladeado por Renato Estelita, diretor de futebol, e pelo nosso homenageado. Fazia parte da Comissão Técnica, o Dr. Lídio Toledo que, durante muitos anos, foi médico da seleção brasileira de futebol.

“Naquela época, como nos dias de hoje, o Botafogo de Futebol possuía jogadores de nível de seleção brasileira. Vale destacar a presença de craques, consagrados não apenas nos campeonatos cariocas e brasileiros, mas no futebol mundial: Manga (goleiro), Nilton Santos, Amoroso, Gérson, Didi, Amarildo, Zagalo, Quarentinha, Garrincha e Jairzinho.

“Ainda nos idos de 1963, precisamente no dia 21 de abril, foram abertos, na cidade de São Paulo, os IV Jogos Pan-Americanos, com a presença do governador Adhemar de Barros. É bom ressaltar a conquista da medalha de ouro pela tenista brasileira Maria Esther Bueno. Nesse Pan-Americano, o Botafogo emprestou à seleção brasileira os jogadores Hélio Dias de Oliveira (goleiro) e Jair Ventura Filho (ponta-direita), tri-campeão carioca de juvenis. Ambos foram consagrados campeões dos IV Jogos Pan-Americanos. O jornalista Júlio Delamare fez a cobertura dos jogos para o Jornal O Globo. (…)

“Vale continuar destacando a presença de Sérgio Darcy à frente dos destinos do Botafogo, no meio da turbulência de desastres aéreos, crise econômica, crise social e crise política, em que o País estava mergulhado.

“No dia 15 de junho de 1963, o Botafogo é manchete no Estado da Guanabara:

– Botafogo vence aqui e em Paris – Tricampeão de juvenis e campeão do Torneio de Paris.

“O Jornal do Commercio comenta ainda a atuação do time alvinegro, na vitória sobre o Racing (3x2), no Parc des Princes, consagrando-se campeão do Torneio de Paris, “em partida das mais sensacionais até hoje realizadas naquela cidade”.

“No dia 30 de junho de 1963, sob a presidência do Dr. Sérgio Darcy, o Botafogo fez sua estreia na Taça Libertadores das Américas, derrotando o Alianza, campeão peruano, com o placar de 1x0, gol do médio-apoiador Elton, sob a arbitragem do juiz argentino José Luiz Pradante. O clube alvinegro atuou com a seguinte escalação: Manga, Paulistinha, Nagel, Nilton Santos e Rildo, Elton e Zagalo, Garrincha, Jair, Amarildo e Oton.

“No dia 04 de julho, o Botafogo alcançou outra vitória, em Lima, no Estádio Nacional, ganhando ao Sporting Cristal, dirigido pelo técnico Didi, campeão mundial de futebol, pela contagem de 3 a 1. Antes da partida, Didi queria jogar contra o Botafogo, e pediu autorização ao chefe da delegação alvinegra, Renato Estelita, que, por sua vez, telefonou ao presidente Sérgio Darcy a respeito da ideia. A resposta foi negativa. No entanto, o jogador Didi poderia atuar, se assim desejasse, na partida, como jogador do Botafogo. A realidade é que Didi entrou em campo na condição de técnico do time peruano.

“Mais uma vitória alvinegra pela Taça Libertadores da América derrotando o clube Milionários, em Lima, no dia 07 de julho de 1963, com o placar de 2x0.

“Na página esportiva de O Globo, edição de 16/7/1963 – Amarildo cedido afinal ao Milan – O Dr. Sérgio Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, em reunião com o representante do Milan, da Itália, Sr. Rodolfo Rechi e o procurador do jogador Amarildo, Sr. Noel Guimarães, concordou em ceder o passe do jogador alvinegro para o clube italiano, mediante o recebimento de 400.000 dólares, por um contrato de 3 anos.

“Na declaração aos jornalistas, Sérgio Darcy revelou que Botafogo não estava interessado em desfazer-se de nenhum de seus jogadores. Mas recebeu carta de Amarildo pedindo ao clube facilitar a ida dele para o Milan. Diante das circunstâncias, o Botafogo não poderia cobrir o que o jogador iria receber na Itália.

“A manchete do Jornal do Brasil de 1/8/1963 destaca: Amarildo embarca com o pedido de CL para não ensinar o pulo do gato. O JB comentou que o jogador do Botafogo, ao embarcar, no Aeroporto do Galeão, em companhia de suas irmãs Nicéia e Maria do Carmo, e de Rodolfo Rechi, encontrou-se com o governador Carlos Lacerda que estava aguardando a chegada da escritora francesa Suzanne Labin. E ouviu a recomendação de “mostrar todo seu futebol aos italianos, mas não ensinar-lhes o pulo do gato.”

“Amarildo estava muito satisfeito da vida porque, além do contrato assinado, recebeu do Botafogo 10 mil dólares extras, no almoço de despedida em que foi homenageado pelo clube. Muito emocionado, na homenagem, chorou e fez outros jogadores presentes chorarem. Neste gesto, o presidente Sérgio Darcy demonstrou, mais uma vez, o valor de ser justo para quem prestou relevantes serviços ao clube (Amarildo, campeão carioca 1961 e 1962). Quanta dignidade num homem só!

“Com bastante dinheiro adquirido pela venda do jogador Amarildo para o Milan, da Itália, o Botafogo de Futebol e Regatas adquire o passe do jogador Gérson comprado do Flamengo. A transação foi realizada, às 14:00 horas do dia 17 de setembro de 1963, dentro da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, onde o Consultor Jurídico Sérgio Darcy, na qualidade de presidente do Botafogo, assinou um cheque nominal no valor de Cr$ 150 milhões entregue a Fadel Fadel, presidente do Flamengo. Foi, sem dúvida, a maior negociação efetuada, até então, entre clubes brasileiros.

“No contrato assinado, conforme divulgado pela imprensa, foi estabelecido ao jogador Gérson o pagamento de Cr$ 10 milhões de luvas e Cr$ 150 mil mensais por 2 anos.

“Nesse mesmo dia (17/9/1963), dois fatos importantes aconteceram na Guanabara, Estado governado por Carlos Lacerda: a inauguração da primeira das duas pistas do aterro do Flamengo e a apresentação do cantor americano Ray Charles, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

“A atuação do Botafogo de Futebol e Regatas, que se desenrolava no meio do Campeonato Carioca do ano de 1963, foi comentada por Renato Estelita, diretor de Futebol, justificando “se o time ainda não tem um bom ataque é porque não foi possível, em curto prazo, preencher os lugares deixados pelos atacantes que foram, teoricamente, os melhores” (Jornal do Brasil – 1/11/1963). O dirigente botafoguense estava se referindo ao Didi que foi para o Peru e ao Amarildo para a Itália, e à contusão de Garrincha que vinha adiando sempre a sua volta aos gramados.

“Observamos que, meses antes da declaração do Sr. Renato Estelita, realmente o Botafogo tinha o melhor ataque do mundo, com a presença de 3 bicampeões mundiais: Didi, Amarildo e Zagalo e, ainda, a participação de Quarentinha que jogou pela seleção brasileira.

“Dias depois da declaração do dirigente Renato Estelita, o Botafogo mudou de técnico. Saiu Danilo Alvim, mesmo prestigiado pela Diretoria, mas sem sorte nos últimos resultados dos jogos, e entrou Paraguaio.

“No dia 5/11/1963, o presidente Sérgio Darcy, sempre elegantemente trajando terno, apresenta aos jogadores, que estão de uniforme do clube, no meio do campo, o novo técnico de futebol. Suas palavras explicam porque o Botafogo trocou de técnico, permanecendo a mesma disposição para conquista do tricampeonato e pediu o máximo apoio ao Paraguaio.

“Dias depois, o time teve excelente atuação em campo e a imprensa comenta: Botafogo mostrou pela primeira vez astúcia e categoria de bicampeão (JB – 9/11/1963). Apesar do sucesso momentâneo, o time não conseguiu conquistar o campeonato carioca de 1963. O campeão foi o Flamengo.

“No dia 16/11/1963 houve eleição para a nova Diretoria do Botafogo. Nei Cidade Palmeiro, juiz de Direito e professor do Colégio D. Pedro II, foi eleito presidente.

“Na solenidade de transmissão de cargo ao novo presidente do Botafogo, Nei Cidade Palmeiro, realizada no dia 3/1/1964, o nosso homenageado se despedia, com um discurso bastante aplaudido, na presença de inúmeras autoridades ligadas ao mundo dos esportes, destacando-se João Havelange, presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos, Antônio do Passo, presidente da Federação Carioca de Futebol. (…)

“Retomando ao tema central, Sérgio Darcy, em 26/10/1969, partiu para o reino onde a sabedoria deslinda os enigmas do caminhar. Nesse mundo de sonhos, aureolado pela luz das estrelas, luz que se projeta dos feitos de grandeza que o nosso homenageado sempre buscou dignificar a vida, se destacam os versos da música de Lamartine Babo:

“Na estrada dos louros,
Um facho de luz
Tua estrela solitária
Te conduz.”


4 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

O Botafogo foi o que foi porque era dirigidos por grandes botafoguenses. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Isso mesmo, Sérgio. O sgrandes moment5os do Glorioso aconteceram com dirigentes capazes, e foi aí que ganhamos títulos. primeiro com a empenhada 1ª geração de dirigentes jovens (1907-10-12); depois com Paulo Azeredo (1930-32-33-34-25); a seguir com Carlito Rocha (1948); novamente com Paulo Azeredo (1957, 1961, 1962); finalmente com o embalo permitido pelas jovens revelações com o grande Neca e pela compra do Gerson; depois foi novamente o vazio até à chegada de Emil Pinheiro. Depois disos... bem... depois disso... dizer o quê? Muito pouco depois disso...

Abraços Gloriosos!

Émerson disse...

Rui, a Didi não permitido enfrentear o Botafogo por questões contratuais ou por outra questão?
Quanto a Sérgio Darcy, que não o conhecia, para mim foi uma grata surpresa saber que tivemos tão bons e abnegados dirigentes.
Eu disse "tivemos", porque, desde Bebeto, em minha opinião, estamos órfãos de gente desse estofo no comando do Glorioso.
O Botafogo do Pinóquio Assumpção é uma caricatura muito mal feita d'O Glorioso de Futebol e Regatas. Esse senhor Assumpção me dá nojo.
Saudações Gloriosas!

Ruy Moura disse...

Émerson, o Didi saiu para o Real Madrid, mas não se deu porque o Di Stéfano é que mandava na equipa e parece que nunca gosto do Didi. Ele regressou ao Botafogo e logo no ano a seguir, antes de regressar novamente ao Botafogo foi para o Sporting Cristal, e creio que foi nesse período que ele não podia jogar contra o Botafogo pelo Sporting Cristal.

Quantos às presidências, é certo: Os últimos dois presidentes que me deram alguma confiança foi o Bebeto de Freitas e o Emil Pinheiro - esses enfrentavam. Antes deles é preciso procurar nos anos sessenta...

Abraços Gloriosos!

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