por Xico Sá, jornalista e
escritor
Coluna de Xico Sá
Folha de S. Paulo
06.04.2013
“Amigo torcedor,
amigo secador, com a sua devida licença, vou levar um lero aqui com o Mané,
sabe como é, tiraram o nome do homem de Pau Grande do estádio da Copa em
Brasília, coisa do terrorismo cultural da Fifa, a mesma que proíbe a venda de
acarajé nos jogos do Mundial na Bahia, tudo com a colonizada obediência
brasuca, só para lembrar o batismo da bola, só para saber como nos fazem de
tatus-pebas.
“É, Mané, teu nome
não é consistente, arrotaram os caras, teu nome é semanticamente complexo para
os gringos, seja lá que diabo signifique tal dito. Não rias, Mané, fala sério,
te ligas na fonética, a Fifa alega que, em matéria de pronúncia, tu darias um
trabalho medonho para os estrangeiros, entortaria a boca dos galegos de fora.
“Sei que esse negócio
de semântica e fonética lá em Magé não vale uma pinga, mas "business is
business", sabe como é, Mané, rifaram teu nome na bacia das almas
ludopédicas. Sabemos que nem ligas nada para essas ondas, mesmo tendo sido o
maior artista que já atuou em Copas, mesmo com as estrelas de 1958 e 62
tatuadas no peito --sim, sabemos que davas mais importância à estrela solitária
do Botafogo, deixa que faço aqui o adendo.
“É, Mané, será que é
uma vingança tardia pois sempre desprezaste os Mundiais? Lembremos o que
disseste logo depois que o Brasil perdeu seu complexo de vira-lata:
"Campeonatinho mixuruco, nem tem segundo turno."
“Será que é a tal
inveja do pênis da qual tratava Sigmund Freud, meu caro filho de Pau Grande?
Será tua vida de anjo torto que não combina com esse futebol-gourmet-coxinha de
hoje? Ninguém chama mais a seleção inglesa de São Cristóvão, Mané, é um
respeito medonho. Até os russos, desmembrados dos camaradas da CCCP, nos
assombram. Foi-se o tempo em que passávamos por cima das barbas de Rasputin!
“É, seu Manuel, como
te chamava respeitosamente o tio Nelson, chega de mascar o chiclete ploc da
nostalgia. Se tenho visto a Elza Soares? Fui a um showzaço dia desses. A mesma
dura na queda de sempre. Deve xingar até a mãe do guarda quando souber que
subtraíram o nome do homem dela da Copa.
“É, Mané, não precisa
ser nenhum Policarpo Quaresma, o malungo nacionalista do teu irmão de linhas
tortas, Lima Barreto, para blasfemar contra a feira de negócios da Fifa. O pior
são as desculpas foleiras, as lorotas, os agás, os caôs, as bazófias, as
gabolices, as mixórdias...
“Sei que não estás
nem ai para esta barafunda, mas o terrorismo cultural tem limites, meu 7. Não
seria caso para a ONU? No mínimo para o STF, seu Barbosa! Ir à Bahia e não
comer um acarajé na Fonte Nova é como ir a Roma e não ver o papa. E o tropeiro
no Mineirão, cuja pronúncia gringa foi aprovada pela Fifa e é mais difícil que
dizer Mané Garrincha?
Às favas, bando de
encafifados!”
2 comentários:
Há sempre alguém defendendo o nosso Garrincha. Não há FIFA que apague os feitos de Mané Garricha. Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Como o nome fica extenso, a abreviação é Estádio Nacional Mané Garrincha. Assim os brasilienses chamam o estádio. Como a língua é rapidamente abreviada pelo povo que a fala, logo será Estádio Mané Garrincha. E a voz do povo é a voz de Deus. E Deus adorava o Mané Garrincha. Loris
Deus adorava Mané?!?!?! - Ou era Mané o próprio Deus do futebol? - É uma boa via de pesquisa para uma tese de mestrado!
Abraços Gloriosos!
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