por Fausto Netto
O TIME NÃO PERDE HÁ 110 JOGOS
Quanto vale um técnico que forma
jogadores da categoria de Valtencir, Moreira, Nei, Carlos Roberto, Careca,
Nílson, Ferreti, Mura e outros titulares do Botafogo?
Quanto vale um técnico que transforma
meninos em craques? Pois é isso que Neca faz no Botafogo já vai para dez anos,
calado e sempre humilde.
Na arquibancada a torcida aguarda
alegre e confiante o momento de gritar ‘Gol!’, de deixar o estádio comentando mais
uma vitória – êste time está invicto há 110 jogos. A bola passa de pé em pé, as
jogadas são estudadas, tudo é feito com precisão – este time tem um técnico que
gosta de futebol certinho. Quando o jogo termina, um pretinho recebe mais
cumprimentos do que todos os demais – êste time tem até um ídolo.
É o time da Escolinha do
Botafogo, treinado por Neca, um técnico diferente. Futebol para êle não é o
grande estádio em dia de festa. Não são os títulos, os bichos, os bons
contratos.
- Futebol para mim é levar anos
vendo um garôto treinar e, um dia, descobrir que êle se transformou num craque.
Tudo começou há dez anos, quando
Neca sofreu um desastre de carro. Perde não perde a perna, Neca só se
preocupava com uma coisa: continuar dentro do futebol. Foi quando teve a idéia
da Escolinha. Ex-jogador do São Cristóvão, São Paulo, Botafogo, Flamengo e
América (Recife), Neca encontrou o apoio
que precisava junto a Ademar Bebiano, benemérito do Botafogo, que lhe
cedeu o campo da Fábrica Nova América para a peneira dos meninos. Já então Neca
esquecera o desastre.
Muito tempo passou e o trabalho
de Neca revelou alguns excelentes jogadores, como Moreira, Valtencir, Mura,
Carlos Roberto, Ferreti, Nílson, Humberto e Nei.
FALTA UM CRAQUE
- Só me falta uma coisa: revelar
um fora de série, um fenômeno que chegue bem lá em cima. Sei que é difícil, mas
não impossível. Garrinchas e Pelés não andam dando sopa por aí.
Calmo, perseverante, capaz de
esperar anos por um menino. Neca acha que seu Garrincha já está na Escolinha e
que daqui a cinco anos correrá com a camisa 7 do Botafogo.
- Só não digo o nome para evitar
complicações. Êle tem onze anos e está sendo preparado em segrêdo. Quando êle
mostrar o seu valor, eu posso parar. A Escolinha do Botafogo foi a grande
sensação da Taça Rio-São Paulo de Futebol Juvenil dêste ano. O time chegou à
final com o Fluminense, dando show de bola e fazendo muitos gols. A final,
depois de estar perdendo por 3x1, empatou e, na prorrogação, chegou a marcar 1
a 0. O Fluminense empatou e, na decisão por pênaltis, ganhou o título. Mas o
time que ficou na memória dos torcedores neutros foi o do Botafogo, principalmente
pela alta qualidade do futebol de Perácio e Luisinho.
SELEÇÃO DESFALCADA
China; Calibé, Pedro Paulo,
Maurício e Nei; Marco Aurélio e Edinho; Tuca, Perácio, Luisinho e Galdino –
esta a seleção da Escolinha, que disputou o Rio-São Paulo. Com idade média de
dezesseis anos, êles jogam um futebol de gente grande.
Pena que a seleção já esteja
desfalcada. Tuca, Perácio e Luisinho passaram para o time juvenil que, êste
ano, tenta recuperar o título que foi do Botafogo, pela última vez, em 1966.
Fonte:
Placar Magazine, nº 58, 23.04.1971.
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