Paulo
Antônio Azeredo liderou o Botafogo desde 1954 a 1963. Deixou um clube bicampeão
carioca, vários campeões do mundo e um time juvenil tricampeão carioca que
seria a base do fabuloso time de 1967-1968. E tinha muitos e muitos dólares
fruto das excursões em que o Botafogo se fazia pagar a peso de ouro devido aos
seus vários campeões do mundo.
Ney Cidade
Palmeiro liderou o clube entre 1964 e 1967 e Althemar Dutra de Castilho entre
1968 e 1972. Gostaria de ter perguntado a ambos, e a Xisto Toniato, o todo
poderoso vice-presidente do futebol, o que fizeram aos dólares que enchiam os
cofres do Botafogo aos montes até 1963 e até mesmo depois, como se pode
depreender da reportagem que se segue, durante as lideranças referidas.
Porque
simplesmente não é normal que um clube com um time de futebol com as características
da época, entre os melhores do mundo, tenha sido destituído de fundos, vendido
os jogadores e uns anos depois vendido a sede. Quer dizer, Charles Borer selou
o que outros já tinham deixado em aberto. E foi preciso chegar um bicheiro, 20 anos
depois, com um profundo amor ao Botafogo, para montar novamente um time capaz
de ser campeão. Que se desfez a partir da liderança de Montenegro e dos
presidentes seguintes apoiados por Montenegro.
Ontem como
hoje, dirigentes que desbaratam o patrimônio do Botafogo; ontem como hoje,
jogadores que fazem o corpo mole faltando a treinos; ontem como hoje, uma
torcida sofrida, exausta e profundamente descontente. Não há Botafogo que possa
resistir sempre a administrações que inexplicavelmente atiram o nosso clube
para o rebotalho da história.
Leia-se o
que se segue, sob o título
POBRE
BOTAFOGO, VENDE TODO MUNDO
por Fausto Neto
Excertos de uma reportagem
Placar Magazine, 25 de Setembro de
1970, nº 28
Quando o Brasil ganhou a Copa do
México tudo parecia sorrir para o Botafogo: o clube tinha muitos tricampeões.
Mas hoje tudo mudou e o Botafogo e o Botafogo pôs à venda quase todo o time,
até dois tricampeões. Só não vende Jair e Paulo César
Quanto vale um campeão do mundo?
Um ponta-de-lança que fez gols e mais gols, que ainda tem muitos anos de
futebol pela frente, que sempre foi disciplinado? Quanto vale Roberto,
ponta-de-lança do Botafogo?
Ele está à venda desde que
apareça alguém em General Severiano disposto a comprá-lo com dinheiro na mão.
Quanto vale um quase campeão do
mundo? Um ponta que sabe jogar na posição, que dribla, passa bem e chuta
melhor? Que tem apenas 21 anos? Quanto vale Rogério, ponta-direita do Botafogo?
Ele está à venda (nas mesmas
condições de Roberto).
Apenas ele e Roberto? […]
O Botafogo só não vende Jairzinho
e Paulo César. […] Porque os dois pesam muito na hora de
assinar contratos para excursões. […]
O que falta ao Botafogo? Dinheiro
e um pouco de sorte: as contusões de jogadores-chave são seguidas.
Os jogadores já não escondem o
drama pelos salários atrasados. […] No treino do dia 14,
quase ninguém apareceu em General Severiano. Quando o presidente Althemar Dutra
de Castilho e o vice-presidente Xisto Toniato souberam do fato, agiram
politicamente: ignoraram as faltas.
Preparando o time, o Botafogo tem
três campeões mundiais: Zagalo, Chirol e Lídio Toledo. Tem excelentes
jogadores. Mesmo assim ficou fora da luta pelo título do Campeonato antes da
rodada final. […]
– Abram o guiché do caixa e paguem
os atrasados que tudo será resolvido. Ninguém desaprende a jogar bola de uma
hora para outra – disse Tarzan, chefe da torcida.
***
Somos um cachorro
triste que já não ladra… E que só poderá tornar a fazê-lo no dia em que a
torcida se reunir em torno de um pulso forte capaz de tomar as rédeas do Clube
e obrigar os dirigentes a um novo caminho. Ou então que o abandone. Porque continuarmos
aceitando a destruição sistemática do ex-Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas
impunemente, é puro masoquismo.
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