por Mauro Beting
Blog do Mauro Beting –
Lancenet!
Jefferson,
não sei se
você acredita.
Mas eu juro.
Sou eu.
Nilton
Santos.
Eles me
chamavam de Enciclopédia. Apelido que o Waldir Amaral popularizou, lá por 1957.
(Sorte minha
que eu apareci pro futebol antes do Garrincha e do Pelé. Você vai dizer
que é falsa modéstia. Não é falsa. É apenas modéstia.)
Eu era assim
desde a Ilha do Governador. Pergunte aos meus amigos botafoguenses. O Sandro
Moreyra inventava e exagerava umas historinhas, é verdade – ou algumas
mentirinhas… O Maneco Muller também dourava a pílula e a bola.
Mas eles
sabem que sempre fui simples. Na minha. Tanto é que quase fui parar nas
Laranjeiras. Quer dizer, fui pra lá. Mas quando vi aquele sede toda iluminada,
os vitrais, toda aquela pompa, os sócios lá dentro dos salões, aquela gente
chique, grã-fina, e ainda vi da rua os craques do Fluminense passeando pela
sede, confesso que achei que ali não era meu lugar.
É verdade.
Fiquei com minha chuteira debaixo do braço, peguei uma condução de volta pra
Ilha do Governador e, naquele momento, desisti do meu sonho de ser profissional
do futebol. O Maneco contava muito bem essa história, e está aqui, do meu lado,
mandando um abração. Ele e o Sandro, que diz que você é um digno sucessor do
Manga.
E eu
concordo, Jefferson.
Naquela
noite em que eu não fui treinar nas Laranjeiras, meu jeito tímido e meu
espírito amador me deixaram longe do futebol. Mas eu, como nosso time, tenho
estrela. E ela, graças a Deus, foi brilhar comigo em General Severiano.
O nosso
Botafogo.
A nossa
camisa. Aliás, só para lembrar pra muita gente, eu só joguei pelo Botafogo e
com a camisa do Brasil [Nota do Mundo Botafogo: na verdade, três camisas –
Selefogo, Seleção Carioca e Seleção do Brasil]. E nunca beijei o escudo nem de uma e nem de outra. Não precisei.
Ninguém precisa.
Basta honrar
essa camisa. Basta dar tudo por ela. Basta jogar futebol.
Basta fazer
tudo que não tem sido feito no Botafogo.
Não pelos
seus companheiros, Jefferson. Alguns, de fato, não têm bola para jogar no meu
time. No máximo, jogariam lá no time do Flexeiras. E olhe lá. Mas como cobrar
deles se eles não são pagos?
Já os
dirigentes do nosso Botafogo…
Além dos
aviões, meus maiores adversários sempre foram os árbitros. Todos eles. Mas,
hoje em dia, e nas últimas administrações, acho que os cartolas do nosso clube
foram piores que os juízes.
Acredite.
E o pior é
que parece inacreditável o que fizeram e o que estão fazendo com o nosso
Botafogo.
Saudade do
Carlito Rocha e do Biriba, nosso cachorrinho campeão em 1948. Hoje só parecem
ter restado outros animais no clube. O seu Carlito que dava gemada pra nós
depois dos treinos. Hoje, os caras dão uma ova pros jogadores! O Carlito tinha
uma fábrica de tecido e ficou pobre de tanto dinheiro que deu pro Botafogo.
Quantos dirigentes ficaram sem grana como ele? E quantos saíram do futebol com
muito mais do que tinham?
É…
Como pode
não pagar? Como pode exigir de quem não recebe?
Já ganhamos
um Brasileirão com quase cinco meses de atraso. Mas não pode isso.
Aliás, eu
também sou um pouco responsável por esse estado lastimável de coisas. Eu
assinava contratos em branco com o clube. Falava que eles poderiam pagar o que
quisessem para mim que estaria bom. E estava mesmo ótimo. Me pagavam pra jogar
futebol no clube onde eu me sentia em casa!
Mas veja só
o que foram fazendo comigo e com nossos companheiros, com nossos torcedores…
Dá pra dizer
também com nosso país. Afinal, não pagamos para ninguém. Justo um clube com um
crédito imortal no nosso futebol. Como pode?
Como deve…
E como
devemos à nossa rica glória. E como estamos devendo Botafogo aos botafoguenses.
Não podemos
mais ficar assim. Tenho conversado com a turma aqui de cima. Tem muito
botafoguense nos céus. Muita gente boa. Mas sinto que a nossa galera vai ser
menor a cada dia por aqui. Vai ter muito mais botafoguense indo pra outro
lugar. Para o fogo eterno onde estão nos mandado mais uma vez.
Jefferson,
você é o número um da Seleção. Merecidamente. Todo grande time começa com um
grande goleiro. Uma pessoa honrada como você. Persista! Defenda a gente mais um
pouco dos adversários externos e, principalmente, dos internos. Justamente os
piores.
Sei que a
culpa de tudo que não tem em General Severiano não é só da turma que está lá
agora. Quem passou também arrasou a terra e os cofres. Derrubou o clube como
quase derrubaram o Engenhão! Sei que todo o futebol brasileiro tá uma draga.
Uma droga mesmo. Meus parceiros Djalma Santos e Julinho Botelho estão desesperados
com a Portuguesa. Não a da minha Ilha do Governador, mas a do Canindé.
O que
fizeram com ela?
O que estão
fazendo com a gente?
Sei que você
é profissional, Jefferson. Sei que você tem contas a pagar. Diferente do nosso
clube, você paga suas contas. Mas eu te peço, por favor: seja cada vez mais
amador e ame cada vez mais o Botafogo. Pelo menos alguém tem de amar esse clube
lá dentro. E jogar por ele. Não o jogar na vala comum. Na várzea na pior
acepção.
Eu sei que
fiz errado em dar um cheque em branco aos cartolas antigamente. Hoje não se
pode dar nem bom dia. Mas eu imploro: continue nos defendendo. Dê crédito a
quem só tem débito.
Dizem que da
nossa vida aí embaixo não se leva nada. Mas eu te digo, amigo: eu também estou
aqui entre tantos Santos não porque eu sou Nilton, mas porque eu sou Botafogo.
Amor e
dedicação não se cobram. Damos. Por isso estou aqui. Por isso consigo passar
esta mensagem. Os que não têm, os que não tiveram, esses vão pro lugar onde
estão nos mandando.
Só pra
terminar, mais uma historinha que aconteceu comigo: quando parei de jogar, em
1964, muita gente teve a ideia de fazer um jogo de despedida com a renda
inteira da partida sendo doada para mim. O que pensaram os dirigentes do clube
na época: “vai parecer que a gente não pagou direitinho a ele durante a
carreira…” E foi o que aconteceu. Eles não deram a renda para mim.
Como você
pode ver, Jefferson, o problema do nosso clube não é só da turma que está aí
agora. Vem de longe…
Enfim, o
pessoal do Botafogo tá mandando aquela força aqui de cima.
Deus mesmo
diz que está mexendo uns pauzinhos.
E Ele jura
por Ele mesmo que ainda acredita no Jobson.
Mas que Ele
não tem o que fazer com as postagens do Sheik no Instagram.
Saudações.
Nilton.
Sem comentários:
Enviar um comentário