domingo, 19 de outubro de 2014

Sporting 3x1 Porto

Imagem: jornal Record

No futebol como em tudo na vida o percurso explica os resultados, e estes são moldados pelos meios utilizados.

Porto há duas épocas: tricampeão português, mantendo e alargando a sua hegemonia no futebol português; Sporting há duas épocas: 7º classificado, pior resultado de sempre.

Há duas épocas o Porto dispensou o seu treinador, que conquistara os dois últimos campeonatos, porque o time ganhava sem praticar futebol bonito e a pressão dos adeptos ‘obrigou’ o presidente a mudar de treinador. Uma vez mais, foi o todo-poderoso presidente do Porto, no seu posto há mais de 30 anos e que obteve a hegemonia do futebol com os seus métodos esconsos e muitas vezes ilegítimos que escolheu o sucessor no comando da equipe (ilegítimos tal como se comprovou em escutas telefônicas, que entretanto o Tribunal Desportivo considerou que, apesar de válidas em tribunal regular, não contariam para punição ao presidente portista, à boa moda do STJD e dos seus capangas flamenguistas). Então, escolheu uma jovem revelação, que nunca se encaixou no clube nem deu confiança ao time, que jamais acreditou nele. Resultado: o Benfica foi campeão e o Porto amargou o 3º lugar – coisa que já não conhecia há muitos e muitos anos.

Quanto ao Sporting, após gestões completamente desastrosas e que subiram exponencialmente o passivo do clube, o seu presidente abdicou, deixando o time em 7º lugar, sem jogadores de grande nível, sem contratos suficientemente capazes de defender o clube de rescisões e os cofres exauridos. As eleições foram ganhas por Bruno de Carvalho, um jovem de 41 anos, que prometeu trazer de volta o grande Sporting de outrora. Começou por se bater com a banca, que queria obter do Sporting juros de ‘leão’ pelos empréstimos do passado, e venceu o seu primeiro combate, reestruturando a dívida e dando novo fôlego ao clube, mas reduzindo o orçamento a 1/6 dos orçamentos do Benfica e do Porto. Depois reestruturou a administração, despediu quem tinha que despedir, designadamente a ‘velharia’ que enxameava o clube, e formatou um modelo organizacional leve e ágil. Depois vendeu todos os jogadores que se cobravam mais caro e contratou outros, completamente desconhecidos, dos Estados Unidos da América ao Japão, mas que os ‘olheiros’ que o Sporting espalhou pelo mundo garantiam serem bons – e foram. Aumentou todas as cláusulas de rescisão/multa para valores altíssimos, defendendo o clube, e catapultou os mais jovens talentos da Academia do Sporting (a 2º melhor do mundo, atrás da do Barcelona) para o time principal. Resolveu favoravelmente os diferendos com Bruma e Elias, que queriam ‘mamar’ à custa do Sporting, mas cujo presidente não deixou e ganhou a parada. Depois contratou um diretor de futebol sportinguista (campeão pelo clube como jogador e mais tarde técnico) e um treinador revelação também sportinguista. De resultado em resultado, e apesar do Sporting não conquistar nenhum título (e ausente das competições da UEFA pela primeira vez em muitos anos), acabou por ficar em 2º lugar com seis pontos à frente do Porto e teve direito de entrar diretamente na Liga dos Campeões sem passar pelos play-off. E no final da temporada, pela primeira vez em muitos anos, o Sporting fechou o exercício financeiro com lucro!!! Porém, tais resultados foram acompanhados da ‘cobiça’ de clubes estrangeiros, que acabaram por levar o treinador (que tinha uma multa rescisória elevada que foi paga ao Sporting) e que queriam levar, principalmente, Marco Rojo, Slimani e Wiliam Carvalho. Os dois primeiros negaram-se a jogar, o Sporting abriu-lhes inquéritos disciplinares e ameaçou-os de os manter na prateleira se nenhum clube cobrisse a multa rescisória. Ambos cederam e pediram desculpas. Slimani foi incorporado e, Bruno de Carvalho, muito atento e com vontade de cumprir um desejo expresso anteriormente de tornar a ver jogar pelo Sporting o atleta Nani, cria da Academia e jogador do Manchester United, eis que vendeu Marcos Rojo por 20 milhões de euros ao Manchester e ainda recebeu Nani, em empréstimo de um ano, com salários pagos pelo clube inglês. Entretanto, foi contratada a mais jovem revelação entre treinadores portugueses – Marco Silva – que em três anos tirou um clube da 2ª divisão e levou-os pela primeira vez, por duas vezes, à Liga Europa. Sereno e humilde pôs-se a trabalhar duramente.

Nesta temporada, depois de despedir o treinador do clube, o presidente do Porto escolheu novamente o treinador – um espanhol que foi campeão do mundo com as equipas de base espanholas, mas que nunca dirigira um time de futebol. E pela primeira vez deu carta-branca ao treinador para contratar quem quisesse dentro de um dado orçamento – que foi o maior feito por um clube nos últimos anos. Eis que o espanhol contratou seis espanhóis, muda constantemente de titulares e de táticas, soma empates atrás de empates, em coletiva de imprensa culpa sempre os resultados pelos erros dos jogadores, e não pelos seus erros, e o presidente do Porto começou a estar em maus lençóis. Na verdade, com 76 anos e com a saúde menorizada por uma intervenção cirúrgica ao coração, já não é o mesmo rufia vigoroso do passado que não olhava a meios para obter os fins desejados. E, ademais, as arbitragens tiveram que começar a ser menos escandalosas face à pressão da opinião pública portuguesa. Ontem, a sua face durante o jogo evidenciava cansaço.

Entretanto, o presidente do Sporting colocou pressão na equipe, exigiu que em todos os jogos o objetivo era vencer e o empate indesejável, relançou o orgulho sportinguista e acabou com o relaxo que existia nas hostes futebolísticas. Marco Silva agarrou o discurso vitorioso, declarou o time candidato ao título nacional (o que o treinador anterior não chegara a fazer), trabalhou muito com os jovens vindos da Academia, numa equipe toda jovem, lançou novas ideias, adotou o 4x4x2 com variações ao 4x3x3, fez pressão e exigiu concentração total. Porém, como mais de metade dos titulares são oriundos da Academia e têm pouca experiência, é claro que os rivais desdenhavam do Sporting dizendo que os Leões seriam cilindrados pelo Chelsea, que a disputa do título nacional seria sol de pouca dura, que a Taça de Portugal jogada no Dragão eliminaria inexoravelmente o Sporting da disputa do troféu.

Às vezes a arrogância ridiculariza e paga-se caro (Imagem: jornal A Bola)

Eis que o Sporting resiste ao Chelsea perdendo pela margem mínima e fazendo uma boa exibição e, com alguma sorte, até poderia ter empatado. No campeonato está em ascensão e na Taça de Portugal pensava-se que não ganhando há oito anos no Dragão, o Sporting sucumbiria às inúmeras estrelas do Porto. Porém…

Porém, a Seleção de Portugal, mal dirigida pelo treinador anterior, foi derrotada frente à Albânia (!) em casa. O treinador demitiu-se e foi escolhido Fernando Santos – aquele que eu próprio considerava que seria a escolha racional se não houvesse ‘apadrinhamentos’. Foi ele o escolhido. Recuperou jogadores que o anterior treinador não convocava por birra pessoal e convocou jovens revelações até ali secundarizadas. Eis que, surpreendentemente, Portugal vai ganhar à favoritíssima Dinamarca, em casa deles, com um gol de Cristiano Ronaldo a um centro primoroso de Ricardo Quaresma (um dos que não eram convocados por birra) e comandado por um meio campo sportinguista. Na verdade, Fernando Santos entrou no jogo com seis titulares do Sporting! Portanto, os mais jovens.

Imagem: Reprodução / Internet

A moral destes jogadores foi exponencializada, e como todos saíram da Academia, todos sentem o peso da camisa sportinguista. Ontem, o time do jovem presidente e do jovem treinador sereno e tranquilo entrou em campo com sete portugueses titulares (complementado por um argentino, um brasileiro, um colombiano e um espanhol), enquanto o time do velho presidente e do oscilante treinador entrou com cinco espanhóis, três brasileiros e três colombianos (e que, como se sabe, quando há grupos de atletas do mesmo país é muito mais difícil gerir o grupo – e no caso do Porto são, nada mais nada menos, que três sub-grupos de nacionalidades diferentes). Ora, enquanto os sete portugueses são sportinguistas de gema, os onze estrangeiros não sentem a camisa do Porto. Jogarem aqui ou jogarem ali, tanto faz, porque o que interessa é quem paga melhor e, diga-se, mal conhecem o Porto e o futebol português quando são contratados. Outrora, quando o Porto foi campeão europeu, o time tinha garra e apenas dois ou três estrangeiros; hoje, não há portugueses na titularidade. Além de todo um percurso que procurei explicitar anteriormente, o vigor e a garra de sportinguistas do Sporting contra os estrangeiros do Porto foi decisivo e teve o seu resultado visível: comandado por Nani – o excelente negócio feito pelo presidente do Sporting – os Leões abateram inexoravelmente os Dragões por 3x1 no dificílimo estádio do Porto. Enquanto a garra estava de um lado, do outro estavam meramente assalariados, que custaram um monte de dinheiro aos cofres do Porto e que ainda não obtiveram ligação entre si; enquanto de um lado estava um treinador com uma equipa estabilizada, que escalou bem e que substituiu ainda melhor, do outro lado estava o ‘treinador da rotatividade’ sem uma equipa estabilizada, necessitando de fazer duas substituições ao intervalo face à sua má escalação e as quais não surtiram efeito, porque Marco Silva soube responder à letra. O Sporting inaugurou o marcador e o Porto empatou em seguida. Há dois anos, seria o fim psicológico do Sporting; hoje, com a maior serenidade, minutos depois foi restabelecida a vantagem num  golaço de Nani. Na 2ª parte, Jackson Martinez recebeu a bola em impedimento não marcado pelo árbitro e, na sequência, sofreu pênalti. Novamente os fantasmas do passado assolaram a mente dos sportinguistas, mas Jeffesron, o goleiro da Seleção do Brasil, perdão!, Rui Patrício, o goleiro da Seleção de Portugal, estava lá: defendeu o pênalti e deixou o Porto desorientado. E o terceiro gol do Sporting acabaria sacramentando o resultado com a eliminação do Porto e a passagem dos Leões à fase seguinte da prestigiada Taça de Portugal.

Que os deuses do futebol acompanhem este Sporting vibrante em busca das suas tradições e da sua glória!

FICHA TÉCNICA
Sporting 3x1 Porto
» Gols: Marcano (c), aos 32’, Nani, aos 39’ e Carrillo, aos 83’ (Sporting); Jackson Martinez, aos 35’ (Porto)
» Competição: Campeonato Português
» Data: 18.10.2014
» Local: Estádio do Dragão, no Porto
» Árbitro: Jorge Sousa (Porto); Bertino Miranda e Álvaro Mesquita; 4º árbitro: Rui Oliveira
» Disciplina: cartão amarelo: Nani, Maurício, Jonathan Silva, Cédric e Adrien (Sporting); Casemiro e Danilo (Porto)
» Sporting: Rui Patrício; Cédric, Paulo Oliveira, Maurício e Jonathan Silva; Adrien Silva, William Carvalho e João Mário (Rosell); Nani, Capel (Carrillo) e Fredy Montero (Slimani). Técnico: Marco Silva.
» Porto: Andrés Fernández; Danilo, Maicon, Marcano e José Angél; Herrera, Casimiro (Rúben Neves) e Óliver (Tello); Quintero, Jackson Martinez e Adrián (Brahimi). Técnico; Julen Lopetegui.

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