sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A escola mágica do Botafogo (II Parte)

por FAUSTO NETTO

SEM MISTÉRIO

Que mistério existe no trabalho de Neca? O que explica tantos sucessos? Aparentemente, todos os clubes fazem o mesmo. Mas só no Botafogo dá certo. (A maior prova: a invencibilidade de 110 jogos da Escolinha.)

- Não há mistério, apenas alguns princípios: seleção rígida, disciplina sem exageros, ensino dosado, preparação psicológica paralela.

O curso – vamos chamar assim o trabalho de Neca – começa numa divisão não-oficial: mini-dentes-de-leite.  Ideal seria que todos entrassem nela, mas muitos já chegam com idade para o dente-de-leite, outros diretamente para a Escolinha.

Tôdas as semanas aparecem meninos para treinar, mas só ficam os que revelam bom futebol.

- Mascarados, desobedientes, êstes eu corto logo nos primeiros dias, pois não quero elementos desagregadores no grupo. Selecionado, o menino passa por exames médicos de rotina e tem que provar estar estudando.

- Divido o trabalho em várias etapas. Dos seis aos dezoito anos (idade limite do juvenil) há tempo para ensinar muita coisa.

UMA BOA DISCUSSÃO

Os preparadores Álvaro Antônio, Paulistinha (ex-jogador) e o sargento Ari se encarregam da parte física. O médico José Mendel e o massagista Wallace são os encarregados da assistência médica.

- Logo que o menino chega aqui procuro ensinar a êle como deve andar dentro de campo, como deve se colocar. Depois vem o longo período de treinamento com bola. Êle tem que ser capaz de fazer tudo com a bola, com os dois pés, cabeça e peito.

Tuca, ponta-direita da Escolinha, dezesseis anos, 1,85m, passou por todos os estágios do curso:

- Cheguei com nove anos. Sabe o que Neca fazia comigo? Me segurava pela mão e me puxava pela ponta direita, me ensinando a correr direito. Depois me fazia ficar horas chutando uma bola. Depois tentando driblá-lo pelos dois lados. Aprendi tudo com o Neca.

- O pai do Ferreti está sempre discutindo comigo. Êle acha o Ferreti melhor do que o Tuca. Mas está errado. O Tuca tem mais futebol e disposição.

Depois de um curso completo de técnica, quando o menino conhece razoàvelmente todos os segredos da bola, é que êle começa a jogar. Aí principia o aprendizado da parte tática, do qual Neca não abre mão.

A GRANDE ESPERANÇA

- Futebol é jogado com onze. De que adianta um menino saber fazer tudo com a bola, se êle não pensa que joga com dez ao seu lado, se êle se julga capaz de vencer onze adversários?

Um dia chega a hora da separação. O menino já deu muitas vitórias ao time da Escolinha, já tem seus fãs – e passa para a categoria juvenil. A partir daí, Neca só o vê de vez em quando.

- Mas um dia eu descubro, um Pelé, um Garrincha e, aí, vou me sentar na arquibancada e poder contar para os meus amigos: “Quando aquele menino ali chegou no Botafogo nem sabia andar direito de chuteiras. Fui eu quem ensinei”. Pode demorar, mas êste dia chegará.

[Nota do Mundo Botafogo: O futebol brasileiro não gerou mais nenhum Pelé nem mais nenhum Garrincha até aos dias de hoje, e será muito difícil vir a gerar craques de tal nível, mas o trabalho de Neca foi simplesmente NOTÁVEL.]

Fonte: Placar Magazine, nº 58, 23.04.1971.

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