quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O craque disse e eu anotei – ROGÉRIO HETMANEK

Jairzinho, Rogério e Parreira com a Taça Jules Rimet conquistada no México em 1970

por MAURÍCIO SABARÁ MARKIEWICZ
blogue Futebol de Todos os Tempos
excerto da entrevista referente ao Botafogo

Obtive o contato do Rogério Hetmanek de uma forma bem curiosa. Recebi um e-mail da Helen, que faz parte da Fundação Mokiti Okada (M.O.A), pedindo o telefone do Leivinha, que eu já tinha entrevistado. Passei o contato dele, sendo que ela também havia passado o telefone do Rogério. Não perdi tempo e aproveitei pra me contatar com o ex-ponta na segunda-feira dia 10 e marcando a entrevista na quarta-feira dia 12. Foi uma matéria bem rápida, mas fiquei na Fundação durante três horas, pois conversar com o ex-jogador acabou sendo bem gratificante, porque é dotado de muita inteligência e sabedoria, qualidades essas adquiridas na Igreja Messiânica, da qual ele é o presidente. Confiram a matéria.

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu no dia 02 de Agosto de 1948 no Rio de Janeiro e me contava a pouco que começou como na várzea, mas não era propriamente um ponta-direita.

ROGÉRIO HETMANEK: O meu ídolo na época era o Pelé e eu jogava com a 10, começando na posição de meia-esquerda. Posteriormente, no Botafogo-RJ, também joguei como meia nas equipes de Base. Quando abriu uma brecha no time Profissional, foi justamente na ponta. Eu driblava muito, o treinador era o Zagallo e com o apoio do Neca, que também treinava  os times de cima, acabei me efetivando na ponta-direita e nunca mais deixei essa posição.

Rogério com a faixa de campeão  carioca juvenil de 1966

FTT: Jogando na ponta-direita no Botafogo, formou uma linha de ataque fantástica, ao lado de Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cézar ‘Caju’. Falei sobre essa linha.

ROGÉRIO: Essa linha de ataque realmente marcou época, pois ganhávamos tudo entre 1967 e 1969. Eu sempre cito que foi a única linha que fez parte de uma Copa do Mundo, algo que nem o Santos, na sua época áurea, conseguiu colocar os cinco. Muitos falam que o Gérson já era do São Paulo, mas conhecia a todos nós.

FTT: Por sinal o Gérson formava a ala-direita do Botafogo contigo. Comente sobre esse grande jogador.

ROGÉRIO: O Gérson foi um fora-de-série e era tido por todos nós como o maestro do time, ditando as jogadas, falava muito, ou seja, um treinador dentro do campo. Foi realmente um craque inigualável e não apareceu ninguém igual. Pensamos atualmente que o Ganso pode chegar perto, mas ainda está bem longe.

FTT: Rogério, no Botafogo você foi Bicampeão Carioca e venceu uma Taça Brasil, conquistas muito importantes. Vocês acham que eram tão badalados como o antigo ataque do time, formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.

ROGÉRIO: Foram duas épocas marcantes no Botafogo. O time sempre esteve presente nas Copas do Mundo, com os jogadores se destacando muito. Entre 1958 e 1962, havia uma Base muito boa do Botafogo e em 70 também, além da Comissão Técnica, oferecendo bastante à Seleção Brasileira.

Da esquerda para a direita: Rogério, Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo Cézar ‘Caju’

FTT: Qual era o lateral-esquerdo que te dava mais trabalho?

ROGÉRIO: Provavelmente o Marco Antônio, que jogava no Fluminense, pois foi quem mais enfrentei no Botafogo e Flamengo.

FTT: No final dos anos 60, o Botafogo estava numa grande fase, com praticamente todo o ataque na Copa do Mundo de 1970. Por sinal, você era o ponta-direita titular da Seleção, mas, pouco antes da Copa sofreu uma distensão muscular e acabou saindo do time do Brasil, sendo que continuou na Delegação. Conte sobre esse fato.

ROGÉRIO: Sempre digo que aquela Seleção foi uma das melhores em preparo físico para uma competição. Todos os jogadores que estavam naquela Delegação, viviam o seu auge em condição atlética. Eu já tinha certo reconhecimento no México, porque o Botafogo jogava todo o ano neste país, pois as excursões sempre passavam por lá. Realmente era uma Copa que tinha tudo pra chegar próximo ao Garrincha, revivendo-o, era uma esperança e estava no time ideal. Mas, infelizmente, devido a uma contusão fácil de ser resolvida, pois bastava fazer alongamento e eu não fiz, descobrindo isso somente quando jogava no Flamengo, o que acabou me tirando deste Mundial. Mas como estava entrosado em vários aspectos, houve um movimento do Zagallo e dos jogadores para eu ficasse na Delegação e pudesse atuar como espião junto com o Parreira, que na ocasião era o Preparador Físico. Nós observávamos todos os jogos dos possíveis adversários do Brasil, fazíamos relatórios, juntávamos os jogadores e percebemos que todas as informações que demos ao Zagallo foram aproveitadas, chegando a ganhar os jogos na véspera, neutralizando as jogadas táticas dos times que enfrentávamos  e criando as alternativas pra Seleção conquistar vitórias. Foi importante porque, de um certa forma, o que não pude fazer dentro do campo como gostaria, contribuí nessa condição de observador.

2 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Quem viu essa linha aí da foto não pode se conformar com o que fizeram e fazem com o Botafogo. Vi o time de 62 mas era muito garoto e pouco me lembro, mas esse time de 67 e 68 me lembro bem e, o Rogério era um ponta espetacular. Ter visto aquele time fez dos botafoguenses mais antigos super exigentes, pois quem se acostuma com filé mignon, nunca vai gostar de carne de pescoço, que é o Botafogo atual. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Às tantas, Sérgio, nem carne de pescoço é. São os ossos que normalmente revertem para os cachorros roerem.

Abraços Gloriosos.

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