por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Creio que analisar uma partida vulgaríssima em que o vencedor, em condições normais, faria um resultado entre 4x0 e 6x0, contra, provavelmente, o mais fraco clube do campeonato carioca, não anima ninguém – nem leitores, nem editor.
Talvez se possa desenhar apenas, e uma vez mais, a situação atual. Eis o que vejo:
O Botafogo teve dificuldades diversas em 2022, mas conseguiu progredir e animou a torcida para o ano de 2023, muito em razão das promessas de John Textor de pré-temporada e reforços em janeiro e da previsão de Luís Castro sobre a prontidão da equipe após a pré-temporada para poder realizar uma boa campanha.
Constatações:
I) John
Textor suprimiu a pré-temporada sob pretexto da posição da FERJ, gorando as
expectativas da comissão técnica e do plantel, quando deveria ter apenas
diminuído o período de preparação;
II) ainda
assim, Luís Castro prometeu um equipe preparada cerca do início da Copa do Brasil e do
final do campeonato carioca;
III) o Botafogo começou errando ao iniciar o Carioca com uma equipe totalmente B e
perdeu três pontos evitáveis;
IV)
recuperou-se a pegada utilizando os titulares e a equipe realizou uma sucessão
de jogos vitoriosos, apenas com um empate;
IV)
quando estávamos quase seguros que, apesar das dificuldades de início deste
ano, a equipe engrenara, eis que subitamente, e inexplicavelmente, a equipe
perde o norte, tem cinco expulsos em dois clássicos demonstrando falta de
profissionalismo e em seguida, talvez ainda em estado de choque, faz um dos
piores jogos pós-Textor e pós-Castro na Copa do Brasil, salvando-se da
eliminação mais uma vez com gol de um zagueiro no último lance da partida;
V) a
equipe recuperou-se desses três desastres vencendo o Resende e mantendo a
esperança no G4 do Carioca, de modo a classificar-se diretamente para a Copa do
Brasil 2024;
VI) mas
o Resende é o lanterna vermelha, joga zero x zero e ainda assim não foi
goleado;
VII) o
resultado é que o campeonato carioca não acrescentou nada à progressão da
equipe, tal como deveria ter acontecido usando o Carioca para substituir a
gorada pré-temporada e, pelo contrário, verificou-se uma clara involução.
VIII)
entretanto, as lesões recomeçaram e os reforços são absolutamente insuficientes,
tendo em consideração que não há nenhum verdadeiro criativo a meio campo e
nenhum verdadeiro matador no ataque;
IX) na
verdade, o Botafogo praticamente não tem ataque, mais a mais quando Tiquinho
Soares não apareceu este ano e, não tendo aparecido, acabou desaparecendo com a
cabeça perdida e provavelmente uma suspensão disciplinar rigorosa;
X) e
apesar da vitória sobre o Resende, o jogo foi mau, o Botafogo não dominou o
Resende até ao segundo gol, momento a partir do qual passou então a gerir o
jogo – mas sem criatividade nem alegria, acabando por ter sido o ‘desaparecido’
Matheus Nascimento a tornar-se o homem do jogo com uma assistência de craque e
um gol de oportunismo à ponta de lança;
XI) a
verdade é que as dificuldades surgidas nos últimos 12 meses não justificam uma
equipe que, chegada a esta parte do ano, não tem identidade/padrão de jogo, não
sabe atacar, não sabe rematar;
XII)
tem, assim, três problemas complicados:
a) Textor,
que claramente fez do Lyon a sua equipe preferida e recuou nos investimentos, e
ainda reclama publicamente da torcida;
b) Castro,
que não tem justificação para ter perdido o controlo emocional da equipe e ao mesmo
tempo o padrão de jogo que já se havia desenhado, embora ainda não consolidado;
c) a equipe/plantel, que por muitos erros que possam ter sido cometidos por Textor e Castro, consegue errar ainda mais do que eles pela sua falta de objetividade, eficiência e eficácia, resultantes de errarem os fundamentos mais básicos de um jogo de futebol, efetuando lançamentos para o vazio, endossando passes de proximidade completamente errados, tomando decisões totalmente contrárias às que deveria tomar, errando sucessivamente o alvo da baliza ou rematando à figura dos goleiros, mostrando alguma ineficiência dos laterais, uma absoluta falta de pensamento a meio campo e um discernimento nota zero no já famoso ‘último terço’ do campo.
Perder, empatar e ganhar faz parte de qualquer equipe, mas em um clube com ambições exige-se regularidade nos desempenhos de todos – em campo e fora dele.
Em suma: insuficiente gestão de topo; insuficiente esquema estratégico-tático da comissão técnica; insuficiente desempenho e profissionalismo dos atletas.
Estamos, assim, num ciclo vicioso em que as insuficiências de uns implicam as insuficiências de outros e um mau resultado de todos.
Estamos assim… nem mais, nem menos…
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x0 Resende
» Gols: Carlos Alberto, aos 45+2’, e Matheus Nascimento,
aos 48’
» Competição: Campeonato
Carioca (Taça Guanabara)
» Data: 05.03.2023
» Local: Estádio Kleber Andrade, em Vitória (ES)
» Árbitro: Alex Gomes Stefano (RJ); Assistentes: Lilian da Silva Fernandes Bruno (RJ) e Fabiana
Nóbrega Pitta (RJ)
» Disciplina: cartão
amarelos – JP Galvão (Botafogo) e Balotelli,
Léo Pedro e Khevin Fraga (Resende)
» Botafogo: Lucas Perri; JP Galvão (Daniel Borges),
Adryelson, Victor Cuesta e Hugo; Tchê Tchê, Marlon Freitas e Gabriel Pires
(Lucas Fernandes); Carlos Alberto (Lucas Piazon, depois Luís Henrique), Matheus
Nascimento e Victor Sá (Raí). Técnico: Luís Castro.
» Resende: Jefferson Luís; Medina, Hiago, Rayne e Khevin
Fraga (William Bartholdy); Dener (Stefano), Kaique e Geovani (Zizou); Bismarck,
Balloteli (Léo Itaperuna) e Léo Pedro (Wallace). Técnico: Sandro Sargentim.
6 comentários:
Grande Rui,
Nem no carioquinha conseguimos mais disputar títulos. Daqui alguns anos nossos adversários terão o dobro dos nossos títulos.
Como você bem disse, a insuficiência gestão do topo e comissão técnica implica um mau desempenho de todos.
Não golear o Resende para ultrapassarmos o "poderosíssimo" Volta Redonda em saldo de gols é uma total falta de profissionalismo, vontade, liderança e ambição.
Se nos apequenamos no carioquinha, imaginando as outras competições com times mais aguerridos e competitivos.
Para finalizar, vi um pequeno trecho da coletiva do LC em um programa esportivo e, pelo semblante e uma frase "que Deus nos ajude", parece que jogou a toalha.
Abs e Sds, Botafoguenses!
Sintomático o terceiro item dos erros. Foi o que eu disse antes. Era para ter começado com força total com o elenco disponível. O time tomaria corpo na sequência. Time reserva ou misto, antigamente, era só em amistosos e e em algumas excursões. Basta ver as súmulas antigas para provar o que eu disse.
É, Gil. O que me preocupa não é o Carioquinha, completamente descaracterizado pela FERJ que não soube evoluir e chega ao cúmulo de passar a Taça Rio para uma espécie de 2ª divisão. O maior desastre gestionário de todas as federações de futebol brasileiras.
Preocupa mesmo é não ganharmos competições oficiais nacionais há 28 anos e competições oficiais internacionais há 30 anos.
Quanto ao LC, a sua postura mudou. Por exemplo, antes disse que jamais comentaria uma arbitragem, agora comenta; antes exigu publicamente reforços, agora diz que face aos insucessos não se refugia na falta de reforços. Chega ao cúmulo de -como dizes - clamar por Deus, o que sempre considerei uma heresia chamar Deus para os campos de futebol, porque se Ele ajudou uma equipe, então significa que prejudicou outra. Deus não seria jamais parcial e justiceiro de sucessos e insucessos desportivos. Enfim... se ajustando ao contexto...
Conheci uma ministra (2011-2015) que durante uma seca e questionada pelo jornalista sobre medidas de mitigação do problema, disse: "Eu sou uma pessoa de fé e esperarei sempre que chova..." Resultado: o seu governo acabou por ser derrotado, a sua área ideológica ainda não tornou a governar, foi para a oposição liderar o seu partido, perdeu metade dos votos em 2019 e abriu caminho para em 2021 o partido não ter elegido nenhum deputado.
Abraços Gloriosos.
A tal equipe B, que supostamente faria as primeiras rodadas do Carioca, vale quase nada. Pensei que seria melhor, mas viu-se que com com a equipe B perdemos para o Audax e com os reservas empatamos contra o Nova Iguaçu. Mostra bem quem Textor tem contratado. Ou como diz o Vanilson: "sintomático..."
Abraços Gloriosos.
Se o material humano do time de cima, em algumas posições, tem deficiências. Imagine na turma do "aspirante". Houve tempo que o time de baixo podia meter medo. Com peças de reposição a altura . Vide o recente biografado Edson. Uma das minhas figurinhas carimbadas da Revista do Esporte. Hoje quase todo mundo parece japonês. H excessoes. Poucas.
É verdade, Vanilson. Os Aspirantes foram uma decepção. Eliminados logo no início do campeonato em 2022. Depois houve mais contratações e pensei que a coisa tinha melhorado. Mas nada: perderem para o Audax daquela forma foi a prova de que os Aspirantes ficam simplesmente pelas aspirações. Ou como diríamos a um clube nosso bem conhecido: ficam pelo 'cheirinho'...
Abraços Gloriosos.
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