Depoimento de NILTON SANTOS
ao editor CELSO DARIO UNZELTE da revista Placar (1992)
Em vez de pensar em pegar para si o trono vago do rei do futebol [na Copa de 1962], preferiu fazer Amarildo brilhar. No jogo contra a Espanha, então, driblou quase todo o time inteiro do adversário e fez de Amarildo o herói do jogo.
Era um velho hábito. Já em 1955, Vinícius, ponta-de-lança do Botafogo, em uma excursão à Europa, pediu ao Mané para lhe dar umas bolas fáceis. Assim, fazendo alguns gols, atrairia a atenção dos empresários e poderia até ficar por lá, contratado por algum clube italiano. Mané então limpava todo mundo, olhava para a pequena área e entregava a bola ao Vinícius, que, graças àqueles gols, está por lá até hoje.
Na volta da viagem, no navio, Dino da Costa, outro que já estava contratado, trazia um bolo de dólares amarrado na camisa. O pessoal gozava: ”Puxa, dá um pouquinho para o Mané”. Mas para Garrincha o dinheiro não tinha o mesmo valor que a satisfação de ajudar um companheiro.
Por isso, sei que Garrincha nunca teve inveja de ninguém, nem mesmo do sucesso do Pelé. Aliás, não há como comparar os dois. Enquanto o Pelé foi todo equilíbrio, como homem e profissional, o Mané era um vai-da-valsa, um cômico com a bola nos pés. Capaz de criar os mais belos gestos de solidariedade da história do futebol. Como quando, em um jogo com o Fluminense, embota tivesse condições de marcar o gol, preferiu jogar a bola fora, para o adversário machucado ser atendido.
Ele também trouxe para cá o grito do “olé”, hoje comum nos estádios.
Foi no México, contra o River Plate. A vítima foi o Vairo, um jogador da
Seleção Argentina, que naquele dia tomou drible até ser substituído. Mané ouviu
o coro da torcida e gostou. Ainda mais sendo no México, onde a mulherada ficava
em cima dele o tempo todo… Para se mostrar a elas, era capaz de driblar até a
mãe dele.
4 comentários:
O Mané foi um jogador e um homem sui generis, não só sou fã do seu futebol mas do ser humano.incrivelmente simples, muito inteligente e uma pessoa boa. Acho que o Garrincha merecia um reconhecimento maior, principalmente no Brasil. ABS e SB!
Indiscutívelmente que sim! Basta como argumento ter sido o único jogador que conheço que levava ao estádio torcedores de todos os clubes para o ver jogar. Por isso foi a 'Alegria do Povo', o jogador que mais felicidade genuína produziu aos torcedores de todos os clubes. Mas a mídia foi e é vendida a destacar outros jogadores abaixo do seu verdadeiro estatuto e certos clubes com muito menos expressão nas conquistas da Seleção Brasileira.
Abraços Gloriosos.
Garrincha foi um dos primeiros a ter documentário - filme - sobre ele. Inclusive com o título mencionado pelo editor. A frase até se transformou em um segundo nome. Creio.
Vanilson, por mais que certos clubes queiram glorificar os seus ídolos a alturas impossíveis, não houve no Brasil, não há no Brasil, não sei se haverá no Brasil, alguém capaz de superar Garrincha e Pelé. Literatura, filmes, documentários, esculturas pinturas abundam sobre esses dois supersônicos futebolistas e evidenciam a sua ampla superioridade no futebol brasileiro.
A mídia devia ser justa com Garrincha, mas não é. Há que abater o Botafogo que tanto fez sofrer os seus adversários nas décadas de 1950-60 e, consequentemente, os seus ídolos, em especial o maior de todos, o da 'Alegria do Povo'. Estamos habituados... mas a história não, e por isso dará conta futura ds verdadeiros gênios do futebol brasileiro.
Abraços Gloriosos.
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