Depoimento de NILTON SANTOS
ao editor CELSO DARIO UNZELTE da revista Placar (1992)
Logo no jogo de estréia, contra o Bonsucesso, Mané fez três gols na vitória do Botafogo por 6x3. Um deles de pênalti, batido com a tranqüilidade de um veterano, como se jogássemos juntos há anos.
Passei, por exemplo, a tentar entender porque o Mané driblava com tanta facilidade. Logo percebi que, quando ia para cima do marcador, o cara se afastava, apoiando-se no pé esquerdo. E era justamente para aquele lado que Mané sempre driblava, aproveitando que o marcador não podia tirar o pé de apoio do chão. Mas o verdadeiro segredo eu só descobri mesmo depois, quando viramos compadres e ele me levou para Pau Grande, sua cidade natal.
Mané resolveu que eu batizaria a sua sexta filha, Maria Cecília. Fui apresentado aos vizinhos todos de Pau Grande com um orgulho comovente por parte dele. Era como se só eu, ali, fosse um jogador famoso. A certa altura veio o convite: “Compadre, vem conhecer o nosso ‘Maracanã’ ”. Era um platô, um morrinho irregular perto da casa dele, onde a criançada fazia o seu campinho, botando dois tijolinhos de cada lado.
Tenho a
impressão de que foi lá que Mané, quando garoto, aprimorou sua principal
jogada, porque tinha que passar pelo adversário e, ao mesmo tempo, evitar que a
bola caísse em um barranco. Aquilo lhe deu uma noção de distância muito boa.
Por isso, era capaz de conseguir, mesmo a meio metro da linha de fundo, sempre
um drible a mais.
2 comentários:
Mané era um gênio do futebol. Só um gênio como ele aprenderia o que aprendeu sem rolar morro abaixo. ABS e SB!
Estou sorrindo... Imaginando o Mané rolando morro abaixo! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
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