segunda-feira, 29 de maio de 2023

Botafogo 2x0 América MG – o futuro já aqui?...

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

A nossa equipe está bem de saúde e recomenda-se. Mostrou ontem, uma vez mais, que sabe jogar com bola e sem bola conforme as situações, sabe criar e aproveitar boas ocasiões de gol (embora menos do seria desejável face a algumas claras oportunidades perdidas), sabe cobrar faltas e escanteios, sabe marcar de cabeça e também em boas jogadas de bola no solo, faz transições rápidas e contra ataques letais, explora as qualidades dos jogadores em momentos decisivos, troca bem passes e deixou de insistir em jogadas individuais excessivas trabalhando sobretudo em grupo com grande espírito de entreajuda.

Os momentos dos gols passaram a ser muito mais variados, quer no início da 1ª ou da 2ª parte, quer no final de ambas as partes, o que leva a perceber-se na arquibancada uma certa inquietude quando o gol não sai logo. E quando sai, aí temos a torcida dando verdadeiro show de entusiasmo clubista.

À sombra de um sistema de jogo que muitos classificavam de ‘engessado’ e sem variações, nascia uma equipe que utiliza sistemas variados durante um jogo e manipula bem as oportunidades com um know-how que parece já bem consolidado, permitindo muitos automatismos que anteriormente falhavam excessivamente.

O jogo de ontem foi totalmente dominado pelo Botafogo e jogado com intensidade, o que sugere, novamente, que o ‘cansaço’ frequentemente mencionado, devido a jogos de 3 em 3 dias (um ‘crime desportivo’…), justificativo de derrotas como as das viradas de Goiás e Athletico e o quase empate contra César Vallejo, não se deveram tanto a cansaço, mas ao facilitismo que se acomodou a placares favoráveis.

É muito importante que todos percebam isso dentro da equipe e não facilitem, mesmo que tivéssemos 10 pontos de vantagem no campeonato. Muitas equipes quase-campeãs não chegaram a sê-lo justamente por causa desse excesso de confiança.

Sobre o assunto acresce outro aspecto que importa mencionar: o que Castro faz com a rotatividade dos jogadores desde o início do ano mostra a sua grande capacidade de planejamento, sabendo a quantidade de jogos que existem ao longo do ano e que há a ambição de ganhar pelo menos uma competição e obter lugares de topo em todas. Castro não faz como a maioria dos treinadores no Brasil, que descansa jogadores conjunturalmente. Na verdade, ele prepara-os ‘estruturalmente’ para que todos estejam a postos a qualquer momento, no mínimo ‘razoavelmente’ descansados, porque sabe que a qualquer instante pode precisar de todos e de cada um em condições de rendimento adequado.

É isso a que se chama de PLANEJAMENTO, GESTÃO e VISÃO de médio-longo prazo!

Luís Castro, entenda-se, não é treinador de ‘tiro curto’, mas de ‘tiro longo’. Para ter sucesso ele não começa por edificar um prédio a partir do solo, não, ele precisa de tempo para escavar fundações profundas para que durante a construção não ocorra nenhum percalço inesperado e fatal. Quando o futebol brasileiro perceber que a relativa fragilidade dos seus técnicos e a ansiedade que leva a construir-se ‘em cima das pernas’ despedindo treinadores uns atrás dos outros prejudica irremediavelmente o regresso à cena mundial da Seleção nacional e dos Clubes, então teremos futuro… 

Uma nota que julgo interessante e que quero deixar refere-se a Eduardo. Sempre gostei de ver Tiquinho Soares e Eduardo jogarem, mas começa a ressaltar que Eduardo joga melhor quando Tiquinho está ausente do campo, provavelmente porque se movimenta de modo semelhante a Tiquinho e para o qual a equipe centraliza o jogo de ataque. Creio que Luís Castro sabe disso, porque treinou ambos há anos atrás e ontem tornou Eduardo o 9 substituto de Tiquinho. Como julgo que os dois são muito importantes, talvez fosse interessante que Castro afinasse melhor o entendimento entre ambos para que o jogo conjunto ainda fosse melhor e também fizesse Eduardo brilhar – beneficiando o conjunto da equipe.

Não para aqueles que criticaram com justiça e elevação a nossa equipe (e que obviamente continuarão a criticar quando isso fizer sentido, tal como eu), mas sim para aqueles que percebem mais de violência verbal e ofensas gratuitas a técnicos e atletas do que de futebol, fica a pergunta: qual botafoguense diria, no início do ano, que a tal equipe técnica ‘pavorosa’ e o elenco ‘sofrível’ teria 21 pontos na tabela à 8ª rodada, 5 de vantagem sobre a atual campeão após vencer 3 dos 4 maiores favoritos, o 2º melhor ataque apenas a um gol do Palmeiras, a melhor defesa, o melhor saldo de gols e o artilheiro do campeonato?


Crédito: Twitter Brasileirão Assaí.

Não sei se ganharemos 0, 1, 2 ou 3 canecos em 2023 (tenho alguma esperança pelo menos em um), mas uma coisa sei: desde sempre tenho dito que é preciso visão, competência e capacidade de gestão visionária para que o Botafogo se tornasse, um dia, o gigante de outrora. E que “Roma e Pavia não nasceu num dia”.

Desde final do ano passado escrevi várias coisas que talvez pudessem ser polêmicas: que não queria que fossemos à Libertadores porque não tínhamos ainda consistência para isso e arriscávamos um vexame; que 2023 era para consolidar estratégias e concretizações apontadas ao médio prazo; que em 2023 a aposta deveria ser ganhar a CdB ou a Sula e ficar entre o 4º e o 6º lugar no Brasileirão

Talvez até possa vir a ser melhor, mas mantenho a posição de que necessitamos de nos defender e conter a nossa ansiedade, olhando sobretudo jogo a jogo, fruindo as vitórias e sorrindo para uma chama interior que nos sugere uma ‘terra prometida’…

Percebo a ansiedade, mas para quem espera há 28 anos por um título importante, também se pode esperar um pouco mais para ter uma equipe realmente consistente e sustentável para um futuro risonho duradouro.

É preciso abandonar as apostas de curto prazo para se ganhar apostas de longo prazo, e isso faz-se com muito trabalho de fundo, esforço e, quiçá, sacrifício. As grandes vitórias são acompanhadas geralmente de dedicação, esforço, ousadia e resiliência.

Estamos há vinte anos ao nível de competir para ganhar um campeonato carioca; eu quero uma equipe consolidada, unida, solidária, corajosa e generosa que compita na qualidade de uma das favoritas à conquista de Copas do Brasil, Brasileirões e Libertadores.

Acredito que a tão anunciada parceria John Textor / Luís Castro, anunciada pelo próprio acionista maioritário do Botafogo, devolva o prestígio e a glória do futebol botafoguense e seja o ponto de rutura para que o futebol brasileiro rejuvenesça nas suas várias dimensões.

Botafogo 2x0 América-MG

» Gols: Júnior Santos, aos 2’, e Luís Henrique, aos 59’

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 28.05.2023

» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, n Rio de janeiro (RJ)

» Público: 20.302 pagantes, 23.708 espectadores

» Renda: R$ 1.120.235,00

» Árbitro: Raphael Claus (SP): Assistentes: Marcelo Carvalho Van Gasse (SP) e Daniel Luís Marques (SP); VAR: Wagner Reway (PB)

» Disciplina: cartão amarelo – Victor Cuesta e Marçal (Botafogo); Renato Marques, Iago Maidana e Marcinho (América)

» Botafogo: Lucas Perri; Di Placido, Adryelson (Philipe Sampaio), Victor Cuesta e Marçal; Marlon Freitas, Tchê Tchê e Lucas Fernandes (Raí); Júnior Santos, Eduardo (Janderson) e Luís Henrique (Victor Sá). Técnico: Luís Castro.

» América-MG: Mateus Pasinato; Marcinho, Iago Maidana, Wanderson e Danilo Avelar; Lucas Kal, Breno (Juninho) e Martínez (Alê); Felipe Azevedo (Mastriani), Renato Marques (Aloísio) e Everaldo (Mateus Gonçalves). Técnico: Vagner Mancini.

9 comentários:

Anónimo disse...

Rui, concordo plenamente com suas observações.
Penso que agora atingimos um estilo de jogo. Bem plantados em nosso campo e rápidos e eficientes na retomada de bola e avanço à área adversária. Sei que mtos não gostam mas essa estratégia me lembra a do Jair Ventura.
Melhoramos também substancialmente os acertos em finalizações e temos bons números positivos em gols advindos de escanteios e faltas.
Eduardo é um senhor jogador e, à despeito de ter forma de jogo semelhante ao Tiquinho, resta ao LC tee a cabeça do Zagalo em 70 qdo colocou os melhoras em campo mesmo com estilos parecidos. Colocar os melhores, pois, craque sabe ze posicionar.
A gordura acumulada nessas 8 primeiras partidas é o distanciamiento de 5 pontos pro 2° colocado nos dá tranquilidade pra disputarmos os 3 torneios onde estamos muito bem.
Entendo que o LC é mais "pensador" que treinador de beira de gramado mas os resultados demonstram acertos, portanto, o saldo é positivo.
Entendo também que esse troca troca é dança das cadeiras entre técnicos com results de curto prazo já deu o que tinha que dar. Não digo com isso que de justifica a manutenção de u. Treinador ruim apenas pra ser coerente com o discurso de ",vida longa ao técnico".
Enfim somos o MELHOR time do brasil no momento, fato!
Abs, Jacob

Ruy Moura disse...

O estilo de jogo é bastante melhor que o do Jair, mas também creio que o Jair não tinha peças tão boas como as que temos agora. Em todo o caso há proximidade do Castro ao modelo de jogo do Jair no Botafogo, e que eu elogiei muito desde o início. No Jair só lamentei a sua saída infeliz, ao estilo de Túlio Maravilha. Foi uma pena o modo como ambos saíram.

Sobre o modo de estar do Castro à beira do gramado compreendo a tua posição e de muitos torcedores, mas eu não valorizo muito as indicações para dentro do campo porque o fundamental após se iniciar o jogo é o entendimento que os atletas fazem da partida. Li testemunhos sobre grandes treinadores e uma boa parte deles não gesticula como fazem tantos treinadores (tipo o exagerado do Abel) nem mudam muito o sentido do jogo porque o treino é que determina o que os jogadores podem autonomamente fazer em campo. A não ser em casos especiais de jogo ou por lesões/expulsões. Um grande treinador tem quase tudo previsto.

Ainda sobre treinadores, há duas coisas que eu nunca mencionei no nosso grupo, e julgo que no blogue também não o fiz: em certos casos considero que o treinador vale por meia equipe; e tenho um gosto especial por treinadores que ou não foram jogadores (e há poucos neste caso) ou tiveram carreira curta, assentando os seus conhecimentos mais no estudo e atualizações do que na mponente prática, que muitas vezes vicia comportamento enquanto treinador.

Concordo que Eduardo é muito bom jogador e que seria útil alinhar com Tiquinho, mas não à moda antiga de Saldanha e Zagallo que por vezes atiravam jogadores com as mesmas características para dentro do jogo e eles que se resolvessem entre si. Hoje, havendo predomínio das táticas, penso que é o treinador que tem que trabalhar cada jogador individualmente em treino para que as parcerias resultem em campo.

Sobre ser a melhor equipe do país suponho que te referes ao futebol praticado, porque em valores individuais há equipes melhores. E há uma que eu não gosto: o tiki-taka do Fluminense. É imitação do Barcelona, sem os jogadores do Barcelona, e o tiki-taka fica improdutivo. Detesto esse tipo de jogo tendo como protagonistas jogadores apenas medianos ou medianos +. Quando assim é, o tiki-taka é fácil de anular. Escrevi isso na análise ao Bota 1x0 Fluminense mencinando que Castro conhecia bem o falhanço desse modelo no Botafogo (modelo do Castro que muito critiquei) e, logo, sabe como anular qualquer tiki-taka (o Fluminense não conseuiu fazer nenhum remate enquadrado na baliza). E agora vê-se como o tiki-taka do Fluminense não marca gols...

Bem, este meu comentário parece testamento... (rs)

VIVA A MELHOR EQUIPE DO BRASIL! (esperando que seja de sucesso duradouro)

Ruy Moura disse...

Acrescento: em todo o caso, Jacob, não concordo com algumas postagens tuas no nosso grupo quando escrevias que o Castro não fazia variações em campo. Houve casos concretos em que a sua intervenção após o intervalo foi muito visível. E mudou os esquemas na segunda parte, variando em 4-3-3, 4-4-2, 4-2-3-1, e até no fantasmagórico jogo com a Portuguesa lançou um 3-4-3 para o qual os jogadores não estavam suficientemente preparados, tendo mudado o esquema ao intervalo. Isso foi quando a equipe ainda estava sendo testada, porque quando engrenou a sua necessidade de intervenção necessariamente diminuiu porque a equipe leva a lição bem estudada. Quanto menos intervir em campo, melhor, porque é sinal de que tudo está correndo como previsto.

jornal da grande natal disse...

O comentário faz um raio X de dentro e do fora do campo. Exemplar. Como nunca vi. Me desculpe o confete, mas sou obrigado a dizer que, e eu fosse diretor do prêmio Esso de Jornalismo o primeiro caneco já estava nas mãos de Ruy Moura!

Ruy Moura disse...

Bondade a sua, meu amigo. Mas confesso que sugerir um prêmio desses constitui um sinal muito bom para cumprimento cabal da missão do blogue. E quem não gosta de ganhar prêmios? Muito obrigado por toda a sua gentileza e amizade, Vanilson!

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Texto irretocável! Não preciso escrever nada, apenas assinar esse texto, e como
Hoje estou sem inspiração, direi apenas que estou muito feliz e emocionado com esse Botafogo, livre dos amadores e rumo ao tão esperado profissionalismo. Vai ser campeão esse ano de algumas das competições? Não sei, mas gostaria muito, mas com certeza títulos virão em breve, é um projeto sólido e todos no clube estão empenhados nele, e mais importante, estão com os pés no chão sabendo das dificuldades que tem pela frente.
De fato impressiona a disposição e a automatização que o elenco vem demonstrando, o que prova que o Castro entendeu o elenco e o futebol que se joga por aqui.
E que torcida maravilhosa é essa do Botafogo, que festa linda. Percebe-se claramente que a torcida vai jogar junto com o time, e isso será fundamental para o sucesso da temporada. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Perfeito, Sergio! Estamos no caminho certo, o caminho de um futuro de solidez, esperando que Textor compreenda a importância de continuar a reforçar a equipe.

A torcida é maravilhosa, mas para a campanha que se está fazendo em campo, em minha opinião peca por escassa...

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Ruy amigo, o custo de vida aqui tá muito alto e o valor dos ingressos embora justo é
muito caro, fica puxado para a grande parte da torcida, por isso a torcida não é maior. Embora o sócio torcedor barateiro os valor dos ingressos, uma parte expressiva da torcida não tem condições de se tornar sócio.
ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Realmente já me tinham falado nesse aspecto, o que é uma pena. Mas tenho a sensação que se passa algo mais no espírito da torcida. E tenho visto que os sócios têm batido números recorde. Isso deveria melhorar a assistência ao jogo. O que vale é que a torcida que vai ao jogo é muito animada e faz a festa por todos.

Abraços Gloriosos.

O otorrino não me deu ouvidos

[Aos leitores interessados informa-se que as crônicas de Lúcia Senna no Mundo Botafogo foram publicadas em livro intitulado 'No embalo...