por
RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
«Nós já
tínhamos dado sinais na época passada que eramos uma equipe a ter em conta ao
longo dos campeonatos. Só que o ser humano esquece muito rápido as coisas e
através de um estadual em que nem pré-epoca fizemos lançaram-nos ao lixo.
Mexeram com a dignidade de pessoas. Que são pessoas, que sentem e que se
sentiram muito agredidas em determinados momentos. […] Este momento diz-nos que o tempo é precioso, e é muito mais precioso do
que as palavras. E o tempo encarrega-se de pôr algumas pessoas no sítio
[leia-se: no seu lugar]. Não é preciso nós dizermos nada.» – Luís Castro, durante
a Coletiva de Botafogo x Corinthians, liquidando publicamente os maldosos da
comunicação social e de outros quadrantes com a mesma força tranquila com a
qual os jogadores abateram o Corinthians em campo.
Em primeiro lugar quero saudar a comissão
técnica e o plantel do Botafogo pela extraordinária campanha que realizam
mediante um processo evolutivo muito consistente, que já registra 15 jogos de
invencibilidade e vitória nos cinco jogos realizados pelo Brasileirão, ocupando
a liderança incontestada, somente seguida de perto pelo crônico campeão
Palmeiras.
Jogando contra o Corinthians o Botafogo
elevou as suas marcas históricas: maior média de gols marcados desde 2008 e recorde
de arranque de campeonato desde o início do Brasileirão (5 jogos).
Ontem o Botafogo tornou a surpreender,
calando a voz daqueles que na internet bradam aos 4 ventos que a equipe não tem
variações táticas nem jogadas ensaiadas, porque o treinador – como ainda ontem
de manhã li – é “burro”, seguido de um ‘Fora Luís Castro!”
A estratégia, o sistema tático, os ensaios
para gol, a escalação, mudam de jogo para jogo consoante o adversário e a
proposta que o Botafogo seleciona para ir a campo, além, evidentemente, de
considerar o patamar de evolução no qual se encontra a equipe em cada momento.
Os sistemas de jogo nos 3 primeiros jogos mantiveram o Botafogo recuado e com
menos posse de bola, mas buscando o contra ataque certo; o 4º jogo transformou
as dinâmicas anteriores numa dinâmica de verticalização com variações
constantes e pouca posse de bola, sempre em busca do gol em jogadas intensas; ontem,
a estratégia foi a posse de bola (54%, contrariando os percentuais baixos
anteriores), controlo e adormecimento do adversário e contra ataques rápidos
nas poucas vezes que o Corinthians se abeirava da área botafoguense, impondo-se
uma dinâmica de jogo que atordoou os gaviões.
Fui verificar as estatísticas da partida que
confirmaram a minha leitura do jogo: grandes oportunidades de gol para o
Corinthians, zero, grandes oportunidades desperdiçadas obviamente também zero;
grandes oportunidades de gol para o Botafogo, três, e grandes oportunidades desperdiçadas,
zero.
Quer dizer, o Botafogo busca a oportunidade
certa e acerta, coisa que nunca fez tão bem nos últimos anos. Em boa verdade,
quantas defesas difíceis executou Lucas Perri? – zero. E quantas defesas difíceis fez Cássio? –
zero. Em suma, a defesa do Botafogo
parece ser cada vez mais difícil de bater e de ser ‘agredida’ perigosamente
pelo adversário, enquanto no ataque não se chuta para proporcionar grandes
defesas, chuta-se para marcar. E isto é uma radical novidade no indicador de
aproveitamento de oportunidades e de gols marcados.
Jogando compactamente, com todos atacando e
todos defendendo, os 11 Mosqueteiros estão mostrando quanto saber de
modernidade futebolística está convergindo para o plantel, formado por
jogadores vindos de todas as partes do mundo com experiências diferentes e um
objetivo comum: erguerem troféus!
A variedade de jogadas prosseguiu, os gols
foram assinalados também em situações diversas: de escanteio e concluído de
cabeça (Cuesta) e de pé (Tiquinho Soares); de pênalti proveniente de um contra
ataque mortífero; de uma jogada de grupo fabulosa, com toques de bola de
primeira desde a nossa área até ao fundo da baliza do Corinthians.
Após ‘cozinhar’ o jogo na 1ª parte com muito
mais eficiência do que habitualmente faz o Botafogo quando opta pela posse de
bola (embora pessoalmente não goste deste tipo de tiki-taka), na 2ª parte o
Corinthians obrigava-se a buscar o empate, e o Botafogo, confiando na sua forte
defesa e aguardando a oportunidade de contra ataque, deu a bola ao Corinthians
até ao momento em que Junior Santos faz a espetacular arrancada para o pênalti
e o consequente 2x0 no placar por Tiquinho.
O Botafogo matou aí o Corinthians e o jogo.
Limitou-se então a controlar a bola, sempre esperando uma oportunidade de
desorganização da equipe paulista, até que apareceu o extraordinário contra
ataque que, com a bola de pé em pé ao primeiro toque, acabou selando o placar
em 3x0. Já próximo da área Tchê Tchê superou três adversários, tabelou com Matías
Segovia que, com um passe milimétrico, endossou a pelota para Eduardo rematar
frontalmente e estufar as redes de Cássio.
Uma verdadeira arte grupal a vários pés!
Falamos muito nas táticas e nas jogadas
ensaiadas, e o Botafogo faz delas diversidade, mas mais interessante e do qual
poucos falam, são as dinâmicas de jogo muito variadas pelo Botafogo em função
do adversário e do contexto do jogo.
Atuando com muita eficiência através de um
processo seguro e consistente, o Botafogo alcança a eficácia vitoriosa no
aproveitamento das grandes oportunidades criadas, jogando todos em grupo,
interiorizando a estratégia montada e respeitando as táticas flexíveis que
produzem variações durante o jogo.
Já vimos, em 2022, mas também ocasionalmente em
2023, vitórias ‘maiúsculas’ do Botafogo ‘devorando’ os adversários, quer pela
tática, ou pelo desempenho dos jogadores, ou pela ambição de ganhar, mas os
dois últimos jogos foram superiormente ganhos em versão Líder!
A partida de ontem merece a designação de vitória
com Nota Artística!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 3x0 Corinthians
» Gols: Tiquinho Soares, aos 11’ e 64’ (pen.),
e Eduardo, aos 80’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 11.05.2023
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no
Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 22.388 espectadores
» Renda: R$ 1.189.130
» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes:
Bruno Boschilia (PR) e Jorge Eduardo Bernardi (RS); VAR: Igor Junio Benevenuto
(MG)
» Disciplina: cartão amarelo – Victor Cuesta
(Botafogo) e Fábio Santos e Gil (Corinthians)
» Botafogo: Lucas Perri; Di Placido,
Adryelson, Victor Cuesta e Marçal; Marlon Freitas (Lucas Fernandes), Gabriel
Pires (Tchê Tchê) e Eduardo; Júnior Santos (Luís Henrique), Tiquinho Soares
(Janderson) e Victor Sá (Matías Segovia). Técnico: Luís Castro.
» Corinthians; Fagner, Gil, Murillo e Fábio
Santos (Bruno Mendes); Roni, Maycon (Crystian Barletta) e Matheus Araújo
(Giuliano); Adson (Wesley), Róger Guedes e Yuri Alberto. Técnico: Vanderlei
Luxemburgo.
7 comentários:
Artístico texto (rsrs). Agora vamos conquistar a 16a. Invencibilidade.
É o que mais desejo, Vanilson. E está ao nosso alcance! A equipe está forte e consistente, difícil de bater na defesa e são mortíferos no contra ataque.
Abraços Gloriosos.
Mais um texto excepcional com precisão o que é o Botafogo no momento, da comissão técnica e todo o elenco.
Fiquei extasiado com a qualidade apresentada pelos jogadores sejam os ditos titulares ou os ditos reservas, e isso pode colocar na conta do treinador e da sua comissão técnica que souberam compreender o nosso futebol e com muito trabalho potencializaram o grupo. Seria injusto destacar este ou aquele jogador, mas me chama a atenção o Segovinha, que pequeno notável é este jogador, creio que vai dar muitas alegrias ao Botafogo.
Também não podemos deixar de elogiar o scout, que muito criticado assim como o treinador, mostrou que é necessário tempo para se julgar jogadores e o trabalho da comissão técnica. Nada se constrói num piscar de olhos.
Eu de minha parte sempre acreditei no Luís Castro, gostei dele desde o começo, principalmente pelo seu caráter, elegância e inteligência, torci muito para que ele acertasse, e fico feliz pelo sucesso, mas há ainda muito trabalho e com certeza o time há de crescer mais.
Termino reduzindo o comentário do jogo de ontem com o seguinte: exibição primorosa. ABS e SB!
Ouvi o Castro pela 1ª vez há 9 anos e fiquei fã dele. Treinador simultaneamente culto, ético, educado, preocupado com a sociedade em geral, coisa rara em futebol. Trabalha muito, estuda as variantes do futebol moderno, é assertivo, frntal, transparente e leal às suas equipes.
No entanto, depois das expulsões contra Vasco e Flamengo e da pane que deu no desempenho de toda a equipe julguei que por alguma razão perdera o vestiário e ele próprio estaria perdido por não ter entendido o futebol brasileiro. Ledo engano. O homem é convicto, resiliente, inquebrantável nos seus objetivos. Capaz de alavancar a equipe à qual conseguiu instilar uma nova mentalidade, foco e intensidade no jogo. Introduziu a ousadia da luta, da criação e da vitória. Estou muito feliz porque sempre acreditei que sem a construção a partir de topo não há base capaz de gerar energia. Plantel sem liderança no banco e ou na direção do clube acaba por soçobrar por muito bom que seja.
Em suma, a visão e a estratégia de Textor são boas; o trabalho de comando do plantel é muito bom. E então os jogadores crescem. Neste caso tendo como âncora uma nova visão e filosofia futebolística que agrega o melhor do futebol europeu e o melhor do futebol sul-americano - que Castro e a sua equipe técnica começaram finalmente a compreender.
Abraços Gloriosos.
Caro Ruy, caros amigos do Mundo Botafogo, mais outra vitória inquestionável, segura, sem sustos, de um time consistente, que sabe o que faz e como se porta no jogo.
Estive no Nilton Santos nos três últimos confrontos (LDU, Atlético MG e Corínthians) e mesmo contra a LDU, que foi mais competente em atingir o objetivo a que se propusera, surpreendeu-me a forma com que jogamos.
Jogadores passando confiança e melhorando o desempenho individual - me vem à mente as melhoras do Di Plácido, Marlon Freitas, Gabriel Pires - e o conjunto funcionando com precisão.
Não temos passado mais sustos como aqueles diante de Sergipe e Portuguesa carioca e o ataque vem funcionando.
Não é obra do acaso termos o 2º melhor ataque e a 2ª melhor defesa do Brasileiro. Nem o incrível, e até mesmo inacreditável, aproveitamento de 100 %! Quem, em sã consciência, imaginaria que após enfrentarmos equipes do porte de um S. Paulo, Corínthians e os eternos favoritos Galo e o mais ajudado estaríamos no topo da tabela?
Ainda bem que aquele momento de tormenta, em que parecíamos estar à deriva, passou. Estão de parabéns os profissionais envolvidos no processo. Em especial a comissão técnica, Luis Castro à frente, e os jogadores.
Sérgio, também estou entre os que gostaram da postura do LC desde que foi apresentado. Uma coisa em especial me cativou: o profundo respeito e admiração que ele sempre fez questão de externar pela instituição Botafogo de Futebol e Regatas, clube mundialmente conhecido pelos gigantes do futebol mundial que por aqui atuaram. Também sempre respeitou a torcida, entendendo qual o papel de cada um desses atores no contexto do futebol. Ao contrário de outros treinadores que passaram, que optaram por afrontar a torcida, e me recordo do OdeOliveira, ou que deram declarações no mínimo infelizes que denotavam desprezo pelo Botafogo, e me recordo da fala acerca da conquista do Everest.
Critiquei o LC quando fez umas substituições ensandecidas no decurso de algumas partidas, ou quando quis jogar de peito aberto contra um poderosíssimo Palmeiras, ou quando inventou um esquema inédito contra a Portuguesa jogando fora um primeiro tempo inteiro. E elogio agora, quando vejo o Botafogo com o desempenho que vem tendo.
Aliás, para encerrar, chegando no Nilton Santos no domingo, jogo contra o Atlético, quando minha filha leu a escalação do time, eu quase caí duro! Hugo e M. Nascimento, meio campo com Marlon, Gabriel e Lucas Fernandes. Poupando Marçal, Eduardo e Tiquinho - entendo que há que poupar os jogadores, mas temi pelo pior. Pois foi a melhor partida do ano!
Que venha o Goiás, que continuemos em franco desenvolvimento. Há muito a fazer, mas muito já foi feito até aqui.
Abs.
Caro Eduardo,concordo integralmente com as suas considerações sobre o momento atual e também sobre o passado. Houve erros em alguns jogos, mas recordo especialmente a ideia abstrusa do LC em jogar em 3-4-3 (ou era 3-5-2?) contra a Portuguesa, completamente em desespero de causa e aparentemente perdido. As 5 expulsões nos dois clássicos pesaram muito, primeiro para mal porque fomos eliminados do Carioca, depois para o bem porque a Taça Rio foi o nosso melhor contexto de pré-época que nos relançou para esta campanha fabulosa do Brasileirão.
Como é que diz o povo botafoguense?... FOGO NELES! (rs)
Abraços Gloriosos.
Acréscimo, Eduardo: aquela referência ao Everest foi uma pena, porque o Jair Ventura fez uma campanha extraordinária e eu sempre o defendi contra os corneteiros que o perseguiram do início ao fim, independentemente das belas campanhas que fez em 2016 e 2017. Foi pena como saiu. Há gente que se perde como o poder subindo à cabeça...
E basicamente depois disso não fez mais nenhum brilharete. Há gente que avalia mal o Botafogo e depois o arrependimento tardio aparece. O maior exemplo penso que é o do Túlio Maravilha quando saiu e nunca mais brilhou realmente. Hoje diz-se arrependido. A torcida perdoou por causa do título conquistado, mal o mal não foi esquecido e acabou por não brilhar quando marcou o suposto gol mil porque o Botafogo cortou relações com ele à época. Por mais uma vez ser um falastrão.
Abraços Gloriosos.
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