quinta-feira, 18 de maio de 2023

Botafogo 2x3 Athletico – forjar o futuro com foco em campo

Crédito: Samuel Bono.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Do Botafogo de há ano e meio à beira da falência até ao atual Botafogo em crescimento em diversas direções essenciais à sua reestruturação e implementação de um robusta linha de sustentabilidade, a distância é imensurável.

No entanto, parece que o velho Botafogo tem uma inerente cultura de lassidão em momentos cruciais e contagia os seus futebolistas – alguns dos quais, diga-se em abono da verdade, são tão lassos quanto a nossa cultura de facilitação quando algo melhora – e em contrapartida uma dramática cultura de exigência excessiva quando o contexto aconselha prudência para que não se queimem etapas de um percurso na ânsia do resultadismo.

Dito isto, parece não querermos sair das oscilações típicas das equipes do Botafogo, do seu ‘robinhoodismo’, dos seus casos e dramas. Retornamos sempre aos erros costumeiros: ou logo à partida por diretorias incompetentes que nos levaram praticamente à falência por três vezes; ou por diretores de futebol mais virados para os seus interesses pessoais do que para os interesses do Botafogo; ou comissões técnicas claramente frágeis no velho ciclo de domínio dos treinadores ´patrões’ da classe, agora claramente obrigados a progredirem face à entrada de estrangeiros; ou por jogadores que tanto jogam muito bem como falham clamorosamente em momentos cruciais.

Há um ano o Botafogo tinha um sistema defensivo frágil, reforçou-se e estruturou-se, encontrou um goleiro e uma dupla de zagueiros capazes, mas descuidou-se na contratação de laterais seguros. Uma fraca defesa foi trabalhada para se tornar forte, saber posicionar-se, sair bem em contra ataque. Tornou-se melhor.

O meio campo manteve-se oscilante com muita gente jogando com qualidade umas vezes acima outras abaixo do esperado, e só recentemente começou mostrando melhor articulação, embora ainda sem elos fortes entre si e pouca capacidade de criação.

O ataque perdia gols consecutivamente; trabalhou-se para um ataque menos chutador e mais assertivo no sentido de aproveitar bem poucas oportunidades, tornando-se eficaz em remates certos e aproveitando bem as bolas paradas e o jogo aéreo.

De repente somos líderes com bons jogos e duas excelentes atuações contra duas das melhores equipes brasileiras, e vencemos. Chegamos ao Céu. E, então, eis chegado o momento clássico botafoguense de descermos à Terra – não diria ao inferno porque temos um grande projeto em curso, mas ao solo ao nível do mar.

E subitamente o que aconteceu? Cansaço?... Pode ser, mas têm o mesmo cansaço o Flamengo, o Atlético, o Corinthians e o Athletico. Questões táticas e estratégicas?... Dificilmente, porque as opções estão praticamente definidas num modelo claro.

Faltam peças, é certo, mas aparentemente vêm aí novos reforços e as peças que existem são relativamente suficientes para se desempenhar bem o modelo de jogo a níveis semelhantes em cada jogo.

Abreviando: escrevi há pouco tempo que o lema de desempenho em campo é “mentalidade, foco, intensidade”.

Que se perca intensidade por via do cansaço de jogos de 3 em 3 dias, pode ser aceitável; perder mentalidade como se perdeu nos dois últimos jogos quando somos líderes do Brasileirão, não; perder o foco em campo, jamais – é INACEITÁVEL!

Nenhuma grande equipe funciona com sucesso sem concentração máxima – foco absoluto no jogo e no entendimento do jogo. E o Botafogo fez isso impecavelmente desde o início do Brasileirão. O ataque começou a acertar no fundo das redes quase em todas as oportunidades que criava; o meio campo articulava bem a junção das linhas; a defesa era segura e impermeável, apoiada também por um goleiro muito bom.

E o que vi nos dois últimos jogos? O Botafogo chegou a 1x0 e a 2x0 nas duas últimas partidas, sem fazer grandes exibições, mas concentrado, e após os gols a lassidão ‘mais tradicional’ regressou em pleno, como se, sendo líderes do Brasileirão, e ficando em vantagem, os jogos já estariam no papo.

E eis que uma nova realidade surge – tomar viradas passou a ser connosco, incluindo com gols de bola parada, que supostamente é uma das nossas armas de ataque.

Afinal, ao contrário do que eu pensava nos últimos tempos, parece que falta maturidade a esta equipe, falta mentalidade que conjugue vitória e humildade, falta sobretudo concentração (em especial na defesa) durante todos os 90 minutos de jogo e acréscimos!

Se a comissão técnica não conseguir quebrar certas ocorrências típicas do futebol brasileiro no campo de jogo, não teremos numa equipe regular, robusta e sustentável capaz de proporcionar aos torcedores a confiança que os torcedores não sentem com excessivas oscilações e muito ‘robinwoodismo’, pouco compatíveis com uma folha salarial generosa e crescentes infraestruturas de 1º mundo.

Inclino-me para que, no jogo de ontem, tenha havido falta de foco e de humildade que levou a uma virada de um Athletico confiante, focado e humilde, fazendo jus à vitória.

Temos um grande projeto em curso e devemos estar otimistas porque estamos forjando um futuro robusto e sustentável para o nosso futebol, mas, como sempre digo, temos que estar focados no essencial, e o essencial como torcedores é participar com cidadania, assertividade, exigência e educação para elevar o prestígio institucional do Botafogo e alcandorar o seu futebol ao lugar que a sua tradição e a do futebol brasileiro exigem.

Próximo objetivo – foco na liderança do Brasileirão!

FICHA TÉCNICA

Botafogo 2x3 Athletico

» Gols: Tiquinho Soares, aos 38’ e Luís Henrique, aos 40’ (Botafogo); Vítor Roque, aos 55’, Vítor Bueno, aos 61’, e Fernandinho, aos 81’ (Athletico)

» Competição: Copa do Brasil

» Data: 17.05.2023

» Local: Arena da Baixada, em Curitiba (PR)

» Público: 23.243 espectadores

» Renda: R$ 800.260,00

» Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS); Assistentes: Neuza Inês Back (SP) e Luanderson Lima dos Santos (BA); VAR: Daniel Nobre Bins (RS)

» Disciplina: cartão amarelo – Gabriel Pires e Victor Cuesta (Botafogo) e Fernandinho (Athletico)

» Botafogo: Lucas Perri; Di Placido, Adryelson, Victor Cuesta e Hugo; Tchê Tchê, Lucas Fernandes (Marlon Freitas) e Gabriel Pires (Eduardo); Júnior Santos, Tiquinho Soares e Luís Henrique (Victor Sá). Técnico: Luís Castro.

» Athletico: Bento; Khellven (Madson), Zé Ivaldo, Thiago Heleno e Fernando; Fernandinho, Erick (Alex Santana) e Christian (Vítor Bueno); Canobbio (Cuello), Vítor Roque e Pablo (Willian Bigode). Técnico: Paulo Turra.

2 comentários:

Sergio disse...

Não vi o jogo ontem, mas pelo que li em vários blogs e agora em seu comentário, parece que o que aconteceu ontem o foi o mesmo contra o Goiás falta de concentração na segunda etapa e erros primários, o que não houve em jogos anteriores.
Concordo amigo Ruy, essa cultura da derrota parece instalada há tempos no clube e debela-la será necessário tempo, inclusive na torcida que nunca confia no time e é extremamente pessimistas, pelo menos uma parte e expressiva dela. Pode parecer bobagem, mas esse pessimismo botafoguense parece ser contagiante. Ou nos livramos dessa cultura ou continuaremos nesse interminável jejum de títulos importantes. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Muito semelhante, ainda pior porque foi virada de 3 e não apenas de 2 gols. Temos que nos livrar dessa cultura a que o Sergio se refere e introduzir uma cultura positiva, forte, exigente e ganhadora. Acabar definitivamente com os déjà vu constantes e indesejáveis. Se o mundo está em aceleradas mudanças radicais em todos os seus domínios não deveríamos também mudar para acompanhar o devir?... Acompanhar o movimento é o segredo de nos mantermos criativos, atuais e socialmente úteis.

Abraços Gloriosos.

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