por RUY MOURA | Editor
do Mundo Botafogo
Do Botafogo de há ano e meio à beira da falência até ao atual
Botafogo em crescimento em diversas direções essenciais à sua reestruturação e
implementação de um robusta linha de sustentabilidade, a distância é
imensurável.
No entanto, parece que o velho Botafogo tem uma inerente
cultura de lassidão em momentos cruciais e contagia os seus futebolistas –
alguns dos quais, diga-se em abono da verdade, são tão lassos quanto a nossa
cultura de facilitação quando algo melhora – e em contrapartida uma dramática
cultura de exigência excessiva quando o contexto aconselha prudência para que
não se queimem etapas de um percurso na ânsia do resultadismo.
Dito isto, parece não querermos sair das oscilações típicas
das equipes do Botafogo, do seu ‘robinhoodismo’, dos seus casos e dramas.
Retornamos sempre aos erros costumeiros: ou logo à partida por diretorias
incompetentes que nos levaram praticamente à falência por três vezes; ou por
diretores de futebol mais virados para os seus interesses pessoais do que para
os interesses do Botafogo; ou comissões técnicas claramente frágeis no velho
ciclo de domínio dos treinadores ´patrões’ da classe, agora claramente
obrigados a progredirem face à entrada de estrangeiros; ou por jogadores que
tanto jogam muito bem como falham clamorosamente em momentos cruciais.
Há um ano o Botafogo tinha um sistema defensivo frágil,
reforçou-se e estruturou-se, encontrou um goleiro e uma dupla de zagueiros
capazes, mas descuidou-se na contratação de laterais seguros. Uma fraca defesa
foi trabalhada para se tornar forte, saber posicionar-se, sair bem em contra
ataque. Tornou-se melhor.
O meio campo manteve-se oscilante com muita gente jogando com
qualidade umas vezes acima outras abaixo do esperado, e só recentemente começou
mostrando melhor articulação, embora ainda sem elos fortes entre si e pouca
capacidade de criação.
O ataque perdia gols consecutivamente; trabalhou-se para um
ataque menos chutador e mais assertivo no sentido de aproveitar bem poucas
oportunidades, tornando-se eficaz em remates certos e aproveitando bem as bolas
paradas e o jogo aéreo.
De repente somos líderes com bons jogos e duas excelentes
atuações contra duas das melhores equipes brasileiras, e vencemos. Chegamos ao
Céu. E, então, eis chegado o momento clássico botafoguense de descermos à Terra
– não diria ao inferno porque temos um grande projeto em curso, mas ao solo ao
nível do mar.
E subitamente o que aconteceu? Cansaço?... Pode ser, mas têm
o mesmo cansaço o Flamengo, o Atlético, o Corinthians e o Athletico. Questões
táticas e estratégicas?... Dificilmente, porque as opções estão praticamente
definidas num modelo claro.
Faltam peças, é certo, mas aparentemente vêm aí novos reforços
e as peças que existem são relativamente suficientes para se desempenhar bem o
modelo de jogo a níveis semelhantes em cada jogo.
Abreviando: escrevi há pouco tempo que o lema de desempenho
em campo é “mentalidade, foco, intensidade”.
Que se perca intensidade por via do cansaço de jogos de 3 em
3 dias, pode ser aceitável; perder mentalidade como se perdeu nos dois últimos
jogos quando somos líderes do Brasileirão, não; perder o foco em campo, jamais
– é INACEITÁVEL!
Nenhuma grande equipe funciona com sucesso sem concentração
máxima – foco absoluto no jogo e no entendimento do jogo. E o Botafogo fez isso
impecavelmente desde o início do Brasileirão. O ataque começou a acertar no fundo
das redes quase em todas as oportunidades que criava; o meio campo articulava
bem a junção das linhas; a defesa era segura e impermeável, apoiada também por
um goleiro muito bom.
E o que vi nos dois últimos jogos? O Botafogo chegou a 1x0 e
a 2x0 nas duas últimas partidas, sem fazer grandes exibições, mas concentrado,
e após os gols a lassidão ‘mais tradicional’ regressou em pleno, como se, sendo
líderes do Brasileirão, e ficando em vantagem, os jogos já estariam no papo.
E eis que uma nova realidade surge – tomar viradas passou a
ser connosco, incluindo com gols de bola parada, que supostamente é uma das
nossas armas de ataque.
Afinal, ao contrário do que eu pensava nos últimos tempos,
parece que falta maturidade a esta equipe, falta mentalidade que conjugue
vitória e humildade, falta sobretudo concentração (em especial na defesa)
durante todos os 90 minutos de jogo e acréscimos!
Se a comissão técnica não conseguir quebrar certas
ocorrências típicas do futebol brasileiro no campo de jogo, não teremos numa
equipe regular, robusta e sustentável capaz de proporcionar aos torcedores a
confiança que os torcedores não sentem com excessivas oscilações e muito ‘robinwoodismo’,
pouco compatíveis com uma folha salarial generosa e crescentes infraestruturas
de 1º mundo.
Inclino-me
para que, no jogo de ontem, tenha havido falta de foco e de humildade que levou
a uma virada de um Athletico confiante, focado e humilde, fazendo jus à vitória.
Temos um grande projeto em curso e devemos estar
otimistas porque estamos forjando um futuro robusto e sustentável para o nosso futebol,
mas, como sempre digo, temos que estar focados no essencial, e o essencial como
torcedores é participar com cidadania, assertividade, exigência e educação para
elevar o prestígio institucional do Botafogo e alcandorar o seu futebol ao
lugar que a sua tradição e a do futebol brasileiro exigem.
Próximo objetivo – foco na liderança do Brasileirão!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x3 Athletico
» Gols: Tiquinho Soares, aos 38’ e Luís Henrique, aos 40’ (Botafogo); Vítor
Roque, aos 55’, Vítor Bueno, aos 61’, e Fernandinho, aos 81’ (Athletico)
» Competição: Copa do Brasil
» Data: 17.05.2023
» Local: Arena da Baixada, em Curitiba (PR)
» Público: 23.243 espectadores
» Renda: R$ 800.260,00
» Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS); Assistentes: Neuza Inês Back (SP) e Luanderson
Lima dos Santos (BA); VAR: Daniel Nobre Bins (RS)
» Disciplina: cartão amarelo – Gabriel Pires e Victor Cuesta (Botafogo) e
Fernandinho (Athletico)
» Botafogo: Lucas Perri; Di Placido, Adryelson, Victor Cuesta e Hugo; Tchê
Tchê, Lucas Fernandes (Marlon Freitas) e Gabriel Pires (Eduardo); Júnior
Santos, Tiquinho Soares e Luís Henrique (Victor Sá). Técnico: Luís Castro.
» Athletico: Bento; Khellven (Madson), Zé Ivaldo, Thiago Heleno e Fernando;
Fernandinho, Erick (Alex Santana) e Christian (Vítor Bueno); Canobbio (Cuello),
Vítor Roque e Pablo (Willian Bigode). Técnico: Paulo Turra.
2 comentários:
Não vi o jogo ontem, mas pelo que li em vários blogs e agora em seu comentário, parece que o que aconteceu ontem o foi o mesmo contra o Goiás falta de concentração na segunda etapa e erros primários, o que não houve em jogos anteriores.
Concordo amigo Ruy, essa cultura da derrota parece instalada há tempos no clube e debela-la será necessário tempo, inclusive na torcida que nunca confia no time e é extremamente pessimistas, pelo menos uma parte e expressiva dela. Pode parecer bobagem, mas esse pessimismo botafoguense parece ser contagiante. Ou nos livramos dessa cultura ou continuaremos nesse interminável jejum de títulos importantes. ABS e SB!
Muito semelhante, ainda pior porque foi virada de 3 e não apenas de 2 gols. Temos que nos livrar dessa cultura a que o Sergio se refere e introduzir uma cultura positiva, forte, exigente e ganhadora. Acabar definitivamente com os déjà vu constantes e indesejáveis. Se o mundo está em aceleradas mudanças radicais em todos os seus domínios não deveríamos também mudar para acompanhar o devir?... Acompanhar o movimento é o segredo de nos mantermos criativos, atuais e socialmente úteis.
Abraços Gloriosos.
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